...
Contei sobre a visão que tive durante minha visita ao mausoléu. Meu pai disse que não sabia da ligação que isso poderia ter com a morte da minha mãe, e isso não me surpreendeu, pois eu já esperava por isso. Seja o que for, está se revelando aos poucos, como se fosse um enigma, mas a questão é: qual a finalidade disso? Talvez seja algo que eu não vou gostar de saber.
_____ Não vai tocar na comida? - Vanessa me olhava com reprovação.
Olhei para a cama ao lado da minha, onde minha amiga estava saboreando um pedaço generoso de bolo de chocolate. Por insistência de Lucinda, viemos jantar no quarto, pois nos sentiríamos mais à vontade depois da tarde difícil que todos passamos. Ela não errou na sugestão, mas a verdade é que meu apetite não havia aparecido ainda.
_____ Não estou com fome. - Respondi, olhando para o prato repleto de carne e legumes.
_____ Aurora.
Vanessa colocou o prato que segurava sobre o criado-mudo.
_____ Eu sei que está passando por um momento difícil, mas... você tem que reagir. - Disse ela, sentando ao meu lado na cama.
_____ Está acontecendo tantas coisas estranhas desde que minha mãe morreu. - Pausei para tirar a bandeja de cima de mim. - Eu só queria entender o motivo dela me mostrar essas visões ou...
_____ Você acha que ela é a responsável mesmo? - Os olhos de Vanessa estavam bem atentos a mim.
_____ Minha mãe...
Parei de falar quando pensei ter visto um vulto passando na varanda do meu quarto.
Franzi o cenho.
____ Sua mãe?
Voltei a olhar para Vanessa depois de me certificar que não havia ninguém ali.
____ Desculpe. - Disse.
____ Tudo bem. O que ia dizer?
_____ Bem... minha mãe tinha o dom de dominar mentes e sinceramente... Não me surpreenderia se ela estivesse por trás de tudo isso.
_____ Lamento por tudo. - seu olhar era pesaroso - Mas agora não é bom ficar remoendo isso, você precisa descansar. Amanhã será a cerimônia dos supremos, e confesso que estou bem curiosa para conhecer nossa luna suprema.
Senti uma pontada no peito ao ouvir aquilo.
____ Tem razão.- Forcei um sorriso.
____ Vou dormir aqui ao seu lado. - Ela me abraça.
_____ Uma ótima ideia, mas antes vou tomar um longo banho quente. - Fiz menção de levantar, mas uma forte dor na barriga me fez voltar para o lugar onde estava.
____ Que foi? - Vanessa saltou da cama e me olhou com desespero.
____ Nada, foi só uma... ai, ai!
A dor aumentou, fazendo-me fechar os olhos. O suor frio começou a escorrer pela minha testa, e um nó se formava em minha garganta.
_____ AURORA!- Vanessa gritou ao me ver tossir sangue.
A porta do quarto foi escancarada por meu pai. Depois disso, não vi mais nada, pois tudo escureceu.
(...)
Lucian...
Não consegui pregar o olho durante toda a noite; uma sensação de desespero e angústia me fez rolar na cama até o momento em que percebi que não dormiria de modo algum. Talvez o desgosto de ter que estar na cerimônia tenha contribuído para minha insônia.
Ouvi alguém bater na porta.
____ Entre.
Em segundos, a porta do quarto se abriu, dando visão a Lídia.
_____ Bom dia, chefia. - Ela entrou, carregando consigo um envelope.
____ O que quer, Lídia? - Perguntei enquanto arrumava o casaco.
____ Eita, que mal humor, hein.
Ergui os olhos para olhá-la novamente, e não precisou de mais nenhuma palavra minha para que ela entendesse que deveria continuar a falar o quanto antes melhor.
____ Descobri tudo a respeito da princesa de frozen.
____ Quem? - Arqueei uma sobrancelha.
Ela revirou os olhos.
____ Da mulher que você mandou que eu investigasse.
Suas palavras aqueceram meu coração.
Uma curiosidade e ao mesmo tempo ansiedade invadiam meu peito, como se minha vida dependesse das próximas palavras que sairiam de sua boca.
____ Lucian? - Lídia estalou os dedos próximo aos meus olhos.
____ Sim, prossiga.
Ela olhou para o envelope antes de me entregá-lo.
_____ A mulher se chama Aurora Elisabeth Havelle....
____ Havelle ? Ela é...
_____ Filha do Alfa Eric, sim! Não me desconcentre.
Fiquei em silêncio para que ela continuasse.
_____ É uma híbrida, médica, mora entre os humanos junto da melhor amiga que atende pelo nome de Vanessa, e...
Abri o envelope que me foi entregue e vi várias fotos da bela dama vestida como médica, outras montada no cavalo que eu a vi ontem e outras com a amiga em várias ocasiões diferentes.
____ Continue. - Disse.
____ Ela é filha de Cristal Havelle, a bruxa assassinada.
Olhei rápido para a mulher à minha frente.
____ Ela perdeu a mãe recentemente?
____ É o que parece.
____ Ela deve estar sofrendo muito.- Sussurrei, lembrando de algumas coisas dolorosas do passado. - O que mais descobriu, Lídia?
A vi hesitar para falar.
_____ Bem... ela...
_____ Ela?
Deixei as fotos que segurava sobre a escrivaninha e cruzei os braços, esperando sua resposta.
_____ Lembra de Santiago?
_____ O que esse ser desprezível tem a ver com isso aqui?
_____ Bem... ele...
_____ O quê, Lídia? - Deixei minha impaciência bem visível.
_____ Ele e Aurora já foram noivos.
Fechei a cara.
_____ Tudo bem?
____ Se retire.
_____ Mas...
_____Vá. - Rosnei.
_____ Sim, supremo. - Ela se inclinou para uma reverência.
Ouvi a porta ser fechada.
Uma fúria crescia dentro de mim ao imaginar Santiago junto a Aurora. Somos inimigos mortais há séculos, nunca tivemos um motivo aparentemente plausível para isso, mas só o fato dele ainda respirar me tira do sério, e agora parece que ganhei mais um motivo para essa desavença continuar.
Fechei as mãos com força sem saber ao certo o porquê disso me incomodar.
Deixarei isso de lado, pelo menos agora que tenho que ir para o salão de reunião da alcateia onde acontecerá a apresentação da minha indesejada luna.
"Que ótimo"
...
Quando cheguei nas escadas, vi pelo reflexo dos vidros das janelas que meus olhos haviam mudado de cor. Respirei fundo, fazendo-os voltar ao normal.
Notei que todos já estavam reunidos na sala me esperando. Todos, exceto Isabel, estavam com cara de poucos amigos.
_____ Vamos.
Tentei passar por eles, mas fui impedido por Isabel.
_____ Espere, meu lobo. Os tronos ainda vão estar lá quando chegarmos.- Ela se aproximou, tocando seus lábios nos meus.
Fiquei parado sem demonstrar reação.
_____ Não vai dizer nada?
_____ Eu já disse.
_____ Eu não ouvi.
_____ Eu disse, vamos!
Passei por ela.
Ouvi Romeu e Felipe sorrir. Lídia, por sua vez, ignorou totalmente a presença de Isabel, enquanto Alma tentava acompanhar meus passos a todo custo.
(...)
Aurora...Abri os olhos quando senti algo frio em minha testa, minha visão estava embaçada e só consegui ver a silhueta de duas pessoas. Aos poucos, fui me recuperando e vi que ao meu lado estavam Vanessa e Lucinda vestidas formalmente."Já é dia?"Olhei para fora e vi que o sol já raiava, e os pássaros cantavam animadamente entre os galhos das árvores.__ Como se sente? - Vanessa sentou-se ao meu lado, deixando seus cabelos negros roçarem a pele do meu braço.__ Está doendo alguma coisa, querida? - Perguntou Lucinda.Demorei um pouco para respondê-las, estava tentando identificar qualquer incômodo em meu corpo, mas não encontrei. Pelo contrário, estava me sentindo muito bem; seria estranho se eu já não soubesse o motivo daquilo."Dom da cura"__ Estou bem e não sinto nada. - Sentei na cama - Já estão de saída?__ Que bom - Vanessa falou desconfiada, provavelmente pensou que eu estava omitindo o que sentia - e sim, estamos de saída. Mas, se quiser, fico aqui com você sem problema algum
Lucian...Cumprimentava todas as comitivas presentes; alguns olhavam torto para Isabel, talvez pela forma vulgar dela andar e se vestir.___ Poderia melhorar essa sua carranca? - Ela estava irritada.Ignorei totalmente e me sentei em um dos tronos. Romeu, Felipe e Lídia ficaram de pé ao meu lado, Alma se misturou entre os convidados, e Isabel sentou-se no trono ao meu lado. Ainda estava fumegante pela informação que Lídia me deu mais cedo.____ Supremo, já faz um tempo que os convidados chegaram, não seria melhor dar início à apresentação de sua luna? Você sabe, todas as alcateias reunidas, um assassino à solta, pode ser arriscado.____ Comece.____ Sim, senhor.O ancião começou a falar e ganhou a atenção de todos, ou quase todos, já que alguns estavam totalmente indiferentes e concentrados em suas próprias conversas.____ Não deveríamos estar nos apresentando ao nosso povo? - Questionou Isabel.____ Eles já me conhecem.Ela revirou os olhos e se levantou, pegando o microfone da mão do
Lucian...___ Essa mulher me tira do sério!___ Calma, filho. - Alma tentava me acalmar, porém suas tentativas eram falhas.Ao sair daquele lugar, tive que me conter para não matar Isabel. Quando chegamos em casa, ela agiu como se nada tivesse acontecido e foi para seus aposentos. Pro seu bem, foi o melhor que ela fez.____ Ela chamar todo mundo de imprestável foi o cúmulo do absurdo. - Felipe se jogou no sofá rindo feito uma hiena.____ Ela é muito sem noção. - Lídia revirou os olhos, mostrando seu descontentamento com Isabel.____ O dia hoje foi muito estressante e agora temos um problema muito mais importante para resolver do que ficar falando de Isabel. - Digo.____ Qual é mesmo?- Perguntou Felipe.Lídia deu um tapa em sua cabeça.___ Ai, ruiva. - Ele resmunga.Alma sorri dos dois.____ O problema é a volta do assassino; algo me diz que dessa vez ele tem um alvo específico. - Ela diz.___ Acho que ele sempre teve. - Diz Felipe...Ouço a conversa em silêncio até sentir falta de uma
Lucian...Depois de sair daquele hospital, retornei a minha casa e fui confrontado com milhares de perguntas, às quais nem me dei ao trabalho de responder. Dirigi-me diretamente ao meu escritório e apanhei uma garrafa de uísque, virando-a de uma vez na boca.A bebida descia como um calmante cuja validade expirara; de nada adiantou, eu me encontrava na mesma situação ou até pior do que antes.Joguei-me no sofá do escritório, que ficava de frente para a grande janela de vidro. As luzes estavam apagadas; a única iluminação provinha da enorme lua cheia. Coloquei o braço sob a testa e fechei os olhos, imaginando Aurora em meus braços."Essa mulher me faz perder o controle com uma facilidade surpreendente.""Por que ela atrai tanto a minha atenção?"Seu jeito de andar e falar me deixa rendido aos seus pés, pronto para servi-la. Nunca me senti tão atraído por ninguém, mas Aurora, apenas com um olhar, despertou em mim o sentimento mais possessivo que um lobo poderia ter. Ela entrou em meu cami
Lucian...Sentia meu corpo com uma dormência terrível; pensei que estivesse em uma masmorra, preso por correntes, mas não, aquilo era só uma sensação horrível. Me dei conta disso quando acordei com os raios de sol que penetravam as cortinas escuras do meu quarto, refletindo sobre meu rosto.Demorei um pouco para perceber que não estava sozinho. Olhei um pouco para baixo e vi Isabel abraçada em mim.____ Mas o quê? .... Isabel?... Sai.A tirei de cima de mim.____ Ai meu amor, isso é jeito de acordar sua companheira? - Ela resmungou, ainda de olhos fechados.Levantei rápido da cama.____ O que aconteceu aqui?Ela abriu os olhos para me analisar.____ Não se faça de desentendido, não depois da noite maravilhosa que tivemos. - Havia malícia em sua voz.Olhei sério para ela.Ela bufou.___ Você não se lembra?___ Não! Fale de uma vez. O que aconteceu aqui?____ Você foi no meu quarto, nos beijamos, e você me trouxe pra cá, fazendo juras de amor, depois me fez completamente sua como nunca a
Aurora...Quando chegamos em casa, já era quase duas da tarde. O táxi teve um problema no caminho, mas o tempo de espera foi suficiente para contar à minha amiga o que ela já sabia sobre o adormecer da minha loba. Ela disse que conseguiria uma forma de me ajudar, o que foi gentil, porém, ninguém poderia fazer nada por mim. Já sei como fazer isso; só preciso encontrar meu companheiro. Até lá, só posso usar meus dons de bruxa e algumas vantagens da loba. Essa é minha realidade no momento.____ Aurora, enquanto estive em sua casa na alcatéia, observei umas coisas. - Disse Vanessa, chegando na cozinha onde eu estava preparando algo para comermos.____ Que coisas?. - Questionei, observando-a secar os cabelos com uma toalha, suas mãos fazendo movimentos frenéticos.Cortava algumas batatas sobre a tábua, o barulho da faca as dilacerando ecoava por toda a cozinha.Virei de costas para pegar alguns temperos especiais dentro do armário.____ Fiquei observando aquelas fotos nos corredores e vi
...O sol já havia nascido há um bom tempo, e eu permanecia imóvel desde que Lucian saiu. Comecei a sentir uma dor no pescoço antes de me obrigar a levantar. Corri até o banheiro para tomar uma ducha fria, sentindo a necessidade de ter as mãos daquele lobisomem em meu corpo novamente."Eu o quê?""Eu não disse isso.""Lucian é seu supremo, Aurora, e nada mais."Respirei fundo, tentando fazer o sentimento desaparecer, mas foi tão inútil quanto enxugar água com uma toalha. Ao perceber que não haveria jeito para o que estava sentindo, fechei os olhos e passei a pensar em outro assunto que me tirava a paz."Meus irmãos."Ainda tentava me acostumar com a ideia. Eles não têm culpa das irresponsabilidades de nossa mãe."Deveria eu escutar Vanessa e deixar o clã cuidar deles?""Ou deveria eu mesma protegê-los?"No fundo, eu sabia que estariam mais seguros junto à nossa família, mas dentro de mim, quero tê-los por perto, afinal, são meus irmãos.____ O que eu faço? O que faço?- Perguntava para
____ Você teve alguma visita? - Vanessa perguntou enquanto dava inúmeras voltas no macarrão com o garfo.Fiquei paralisada com a pergunta, pois sabia que se contasse que nosso supremo havia entrado aqui, sem que ninguém o notasse, ela iria embora sem pensar duas vezes. Eu não estava afim de falar no assunto, pois, por alguma razão, ele mexe muito comigo.___ Não. - respondi, mas não a olhei nos olhos- Por quê?___ Bem, eu vi uma camisola sua rasgada. Achei que tivesse recebido alguém.Gelei, mas minha amiga estava concentrada demais na comida para perceber meu nervosismo.____ Eu a rasguei de propósito, tentando me transformar.- Menti.___ Você encontrou seu companheiro?____ Não.____ Então como pretendia se transformar?___ Havia um pouco de esperança dentro de mim.Ela balançou a cabeça como se o que eu tivesse falado fosse um absurdo, o que era, de certa forma.____ Já decidiu o filme?- Tentei mudar o foco do assunto.____ Não. - ela pausou para lamber os dedos- Vou deixar você faz