Aurora...
Abri os olhos quando senti algo frio em minha testa, minha visão estava embaçada e só consegui ver a silhueta de duas pessoas. Aos poucos, fui me recuperando e vi que ao meu lado estavam Vanessa e Lucinda vestidas formalmente.
"Já é dia?"
Olhei para fora e vi que o sol já raiava, e os pássaros cantavam animadamente entre os galhos das árvores.
__ Como se sente? - Vanessa sentou-se ao meu lado, deixando seus cabelos negros roçarem a pele do meu braço.
__ Está doendo alguma coisa, querida? - Perguntou Lucinda.
Demorei um pouco para respondê-las, estava tentando identificar qualquer incômodo em meu corpo, mas não encontrei. Pelo contrário, estava me sentindo muito bem; seria estranho se eu já não soubesse o motivo daquilo.
"Dom da cura"
__ Estou bem e não sinto nada. - Sentei na cama - Já estão de saída?
__ Que bom - Vanessa falou desconfiada, provavelmente pensou que eu estava omitindo o que sentia - e sim, estamos de saída. Mas, se quiser, fico aqui com você sem problema algum.
__ Não é necessário. - Digo, pois sabia bem que ela estava ansiosa para ir à cerimônia, e eu não poderia impedi-la de estar lá; não seria justo, embora eu soubesse que ela ficaria se eu pedisse.
__ Tem certeza?
__ Absoluta.
Ela suspirou e concordou com a cabeça por fim.
Olhei por cima dos ombros dela e vi Lucinda segurar um lindo vestido.
__ E esse vestido? - Apontei para as mãos de minha madrasta.
Ela olhou para as mãos e logo voltou a visão para mim.
__ É seu. - Ela se aproximou - foi um presente que comprei, achei sua cara.
Sorrio.
__ É lindo. Obrigada.
Seus olhos brilharam.
__ Mas imagino que não esteja em condições de usá-lo hoje. - Disse Vanessa.
Refleti se deveria ir ou não à tal cerimônia, porém nem eu sabia me responder.
__ Não sei. Talvez eu o use mais tarde... ou não, ainda não decidi. - Voltei a me deitar, dessa vez pegando um cobertor.
__ Eu ficaria aqui com você, mas como sou uma luna, minha presença é indispensável, assim como a do seu pai, que nos deu um trabalhão para afastá-lo de você. - Disse Lucinda com um certo humor.
Sorrio imaginando a cena.
__ Não precisam se incomodar comigo, eu sei o caminho, caso resolva ir, não terei problemas quanto a isso.
__ Bem, se é assim, então é melhor irmos para não nos atrasarmos mais ainda. - Ela diz.
__ Tem razão - disse Vanessa - quanto a você, Aurora. Não se esforce à toa. - Ela se levantou.
__ Não vou.
"Eu acho"
Ela semicerrou os olhos para mim, porque sabia que na primeira oportunidade faria o contrário do que falei.
__ Fiz aquele chá de ervas para você, beba- o, vai fazer bem. - Disse ela.
__ Tudo bem, obrigada.
Cobri a cabeça com o cobertor.
Poucos segundos depois ouvi a porta sendo fechada, e os passos das duas mulheres ficaram mais distantes até que não foram mais possíveis de se ouvir.
Voltei a me sentar e fiquei encarando o vestido sobre minha cama.
"Vou ou não vou?"
Sabia que deveria ir mesmo sem muita disposição.
Olhei para o lado, onde encontrei uma xícara com algo fumaçante saindo dela.
"O chá que Vanessa fez"
Me levantei da cama e peguei a xícara com o líquido esverdeado e cheiro desagradável.
Fiz cara feia antes de soprar e levá-lo até a boca.
__ Coisa horrível - sussurrei - porém com uma eficácia surpreendente.
Ouvi alguém bater na porta.
__ Pode entrar. - Me escorrei na parede e dei mais um gole no chá que segurava.
Em poucos segundos, uma das empregadas entrou, também vestida em um vestido de gala como o de Vanessa e Lucinda.
__ Posso ajudar em alguma coisa? - A questionei.
__ Na verdade, essa era a pergunta que iria fazer a senhora.
Sorrio.
__ Não preciso de nada no momento, obrigada pela preocupação. - Ergui um pouco a xícara como se estivesse fazendo um brinde.
__ Tudo bem. - Ela olhou para o vestido posto em minha cama - Esse é o seu vestido?
Faço que sim.
__ Vai ficar perfeito na senhora.
__ Agradeço.
____ Imagina, dê-me licença. - Ela fez uma reverência.
____ Toda.- Disse antes dela sair do quarto, deixando-me sozinha com a dúvida de comparecer ou não à cerimônia.
Deixei a xícara sobre o criado-mudo e peguei o vestido. Ergui-o no ar e admirei seu tecido fino.
"Lucinda tem bom gosto."
_____ Talvez eu deva ir. - Coloquei-o sobre meu corpo e virei-me para ver como ficava através do espelho.
"Perfeito."
_____ Sim, estarei presente para a apresentação da luna suprema.- Ignorei o pequeno mal-estar que começava a surgir, mas sabia que o chá que estava tomando o eliminaria em poucos minutos.
(...)
Caminhava pelos corredores do grande salão em passos lentos. Algumas pessoas passavam por mim e me cumprimentavam, podia ouvir os murmúrios vindo do lugar onde todos estavam reunidos.
Parei em frente às portas duplas.
Coloquei minha mão alva sobre a madeira escura, causando um certo destaque.
Hesitei em abri-la.
"Sinto que minha vida não será a mesma depois desse dia."
Ouvi uma voz fina e irritante se apresentando como Isabel, a luna suprema.
"Abro ou não abro?"
Do nada, meu coração acelerou; pensei que desmaiaria antes mesmo de conhecer de perto o famoso Lucian e sua destinada.
Soltei o ar que prendia nos pulmões e empurrei a porta; a luz do dia estava mais forte que o normal. Ninguém havia me percebido ainda, mas quando comecei a andar, as pessoas pararam o que estavam fazendo para me olhar.
__ Que linda.
__ Será que ela tem companheiro?
__ É a filha do Alfa?
Os comentários iam surgindo à medida que eu passava. Olhei para frente, onde os supremos estavam sentados sobre os tronos; pareciam ainda não ter me notado.
Estava me sentindo uma modelo na passarela, porém totalmente desconfortável com os olhares. O vento soprou, causando um assovio, meu cheiro se espalhou pelo lugar.
O supremo levantou a cabeça; por alguma razão, ele a mantinha abaixada. Quando ele me viu, seus olhos brilharam. Seu olhar tinha um certo fascínio; ele fez menção de se levantar, mas foi contido por uma moça de cabelos ruivos e cacheados que tocou em seu ombro para chamar sua atenção.
"Ele pretendia vir até mim?"
"Que loucura."
" Será que fiz algo errado?"
Senti algo crescer dentro do meu peito; por alguma razão, minha loba estava agitada, como se estivesse incomodada com alguma coisa. Os olhos amarelados e intensos do meu supremo não desviavam de mim nem por um momento; olhei para o trono ao seu lado e vi a luna me fuzilando com os olhos.
Desviei deles quando vi meu pai, Lucinda e Vanessa juntos em um canto dali.
Caminhava rápido em direção a eles.
__ Está linda, meu amor, mas não deveria estar descansando? - Meu pai me analisou de cima abaixo.
__ Estou bem. - Forcei um sorriso.
__ O que achou da luna? - Vanessa levou uma taça de vinho até a boca.
__ Eu não vi a apresentação dela. - Digo.
__ Parece que ninguém gostou dela - Disse Lucinda.
__ Ela me parece metida. - Vanessa, como sempre, sendo bem sincera em suas opiniões.
Fiz menção de falar, mas minha atenção foi roubada quando as portas do salão voltaram a se abrir. Senti as forças das pernas irem embora quando me dei conta de quem se tratava.
__ Aquele não é seu...
__ Ex-noivo? Sim.
__ O que ele faz aqui? - Questionou Lucinda.
__ Ele é um alfa e como essa cerimônia é para apresentação da luna suprema, sua presença é indispensável. - Respondeu meu pai.
__ Parece que o nosso supremo não ficou feliz com a vinda dele. - Disse Vanessa. - Essa cerimônia vai começar a ficar interessante.
Olhei para a direção dos tronos e vi Lucian a ponto de se transformar; os dois homens ao seu lado pareciam tentar acalmá-lo.
Santiago foi meu noivo há um tempo atrás, tudo armado por minha mãe. Tentei ter um relacionamento com ele. Fomos felizes durante os três anos juntos; lembro das risadas, das brincadeiras, das viagens, de tudo. No entanto, não consegui amá-lo como deveria e me vi na obrigação de romper o noivado, caso contrário, a vida seria infeliz para ambos. Como consequência, minha mãe passou a me rejeitar mais ainda. Não sei qual interesse ela tinha por trás desse noivado, mas foi atrapalhado quando botei um ponto final nele.
Santiago caminhava sério ao lado de sua comitiva e não se dava o trabalho de cumprimentar ninguém; ele sempre foi assim. O lobo olhou de relance para minha direção; de início, pareceu não ter me percebido, mas logo sua visão parou em mim outra vez, e imediatamente ele cessou os passos.
Ele me encarou hipnotizado com seus olhos negros como a noite.
"Olhos negros e penetrantes"
"Tão intensos quanto aos daquele lobo sentado no trono."
__ Vou falar com os convidados. - Disse meu pai, saindo junto de Lucinda, o mesmo nunca tinha sido a favor do meu noivado.
Me virei para olhar Vanessa.
__ Que foi, amiga? Sentiu saudades de se aventurar naqueles maravilhosos músculos?
___ Vanessa. - A olhei incrédula.
Ela sorriu, quase engasgando com o vinho.
__ Não vai falar com ele? - Ela pergunta.
__ Não vejo necessidade.
__ Pois é melhor pensar em uma desculpa rápida, porque ele está vindo aí.
Vi seu olhar fitar algo atrás de mim.
__ Boa noite.
A voz rouca de Santiago me fez virar para encará-lo.
__ Boa noite - Respondi tentando não demonstrar o quanto estava desconfortável com aquela situação.
O homem com quase o dobro do meu tamanho ficou a centímetros de mim, não desviando nem por um instante seus olhos dos meus.
__ Como vai, Vanessa? - Suas palavras se dirigiam à minha amiga, que encarava o beta dele como se a qualquer momento fosse atacá-lo, mas seu olhar ainda estava sobre mim.
__ Melhor agora... quer dizer, vou bem.
Ele levantou a vista para olhá-la, mas logo abaixou a cabeça para voltar a me encarar.
__ Que bom - ele sorriu com o canto da boca - quanto tempo, Aurora.
__ Muito tempo.
Uma música lenta começou a tocar, e alguns casais foram para o meio do salão para dançarem. Santiago olhou ao redor, e aquilo pareceu uma oportunidade perfeita para ele.
__ Vamos dançar?
Eu queria dizer não, mas isso soaria um tanto indelicado; mesmo assim, não ficaríamos ali para sempre, então respondi apenas:
__ Sim.
Um sorriso vitorioso surgiu em seus lábios. Ele colocou a mão em minha cintura e a apertou, nos levando para um lugar onde não havia tantas pessoas.
Santiago parou em minha frente, passei os braços sobre seu pescoço, ficando quase nas pontas dos pés.
Suas mãos se firmaram em mim para me puxar para mais perto de si.
Começamos a seguir o ritmo lento da música.
Olhei para o outro lado da pista de dança e vi Vanessa aos beijos com Magnos, um dos betas de Santiago.
"Ela não perde tempo."
__ Continua linda.
__ Obrigada.
__ Não achei que encontraria você aqui.
__ Tenho que estar. As regras...
__ Você tem que segui-las - Ele sorriu abafado.
__ Por que está rindo? - Arqueei uma sobrancelha.
Seus olhos estavam atentos aos meus lábios.
__ Nada.
__ Hum.
__ Sabe de uma coisa - ele acariciou meu queixo - nessas últimas luas você tem atormentado meus pensamentos...
__ Santiago, não comece.
__ Eu não consigo esquecer o gosto de teus lábios, nem a maciez de tua pele. - Ele continuou a falar, ignorando totalmente meu pedido.
__ Não deveríamos estar remexendo no passado que já estava enterrado.
__ Para mim nunca esteve! Meu coração pertence a você, Aurora. E acho que sempre pertencerá, não importa o que venha a acontecer.
__ Mas o meu não! E eu já deixei isso bem claro a você.
__ Não diz isso, meu amor - Ele colou o rosto sobre o meu e me apertou mais ainda em seus braços.
__ Me solte.
Ele parecia não me ouvir, o que acho bem difícil, já que temos uma audição aguçada.
__ Eu só te peço uma coisa - Sua voz estava ofegante.
Olhei para os lados, me certificando que ninguém estava vendo aquela cena. Não vi ninguém, mas tive a impressão que no meio daquela multidão animada e distraída em suas próprias conversas, alguém nos observava.
__ O que quer? - Perguntei depois de ficar um tempo em silêncio.
__ Fica comigo uma última vez? - Ele sussurrou próximo ao meu ouvido, logo depois seu nariz passou a roçar o vão de meu pescoço.
Fiquei paralisada.
__ De forma alguma, eu...
Um estrondo vindo da entrada do salão principal chamou a atenção de todos.
__ O que é aquilo?
Olhei para o que parecia ser uma nuvem negra cobrindo todo o local. Santiago se posicionou à minha frente, mas eu me desvencilhei.
As pessoas estavam correndo para o lado de fora; seja o que for, veio para uma guerra.
__ Fique atrás de mim. - Santiago se transformou em um grande lobo de pelos amarelados e olhos castanhos.
"Ficar atrás?"
"Sinto muito, mas não sou uma mulher indefesa."
__ Eu vou lutar. - Rosnei.
__ Aurora, volte aqui!
(...)
Lucian...Cumprimentava todas as comitivas presentes; alguns olhavam torto para Isabel, talvez pela forma vulgar dela andar e se vestir.___ Poderia melhorar essa sua carranca? - Ela estava irritada.Ignorei totalmente e me sentei em um dos tronos. Romeu, Felipe e Lídia ficaram de pé ao meu lado, Alma se misturou entre os convidados, e Isabel sentou-se no trono ao meu lado. Ainda estava fumegante pela informação que Lídia me deu mais cedo.____ Supremo, já faz um tempo que os convidados chegaram, não seria melhor dar início à apresentação de sua luna? Você sabe, todas as alcateias reunidas, um assassino à solta, pode ser arriscado.____ Comece.____ Sim, senhor.O ancião começou a falar e ganhou a atenção de todos, ou quase todos, já que alguns estavam totalmente indiferentes e concentrados em suas próprias conversas.____ Não deveríamos estar nos apresentando ao nosso povo? - Questionou Isabel.____ Eles já me conhecem.Ela revirou os olhos e se levantou, pegando o microfone da mão do
Lucian...___ Essa mulher me tira do sério!___ Calma, filho. - Alma tentava me acalmar, porém suas tentativas eram falhas.Ao sair daquele lugar, tive que me conter para não matar Isabel. Quando chegamos em casa, ela agiu como se nada tivesse acontecido e foi para seus aposentos. Pro seu bem, foi o melhor que ela fez.____ Ela chamar todo mundo de imprestável foi o cúmulo do absurdo. - Felipe se jogou no sofá rindo feito uma hiena.____ Ela é muito sem noção. - Lídia revirou os olhos, mostrando seu descontentamento com Isabel.____ O dia hoje foi muito estressante e agora temos um problema muito mais importante para resolver do que ficar falando de Isabel. - Digo.____ Qual é mesmo?- Perguntou Felipe.Lídia deu um tapa em sua cabeça.___ Ai, ruiva. - Ele resmunga.Alma sorri dos dois.____ O problema é a volta do assassino; algo me diz que dessa vez ele tem um alvo específico. - Ela diz.___ Acho que ele sempre teve. - Diz Felipe...Ouço a conversa em silêncio até sentir falta de uma
Lucian...Depois de sair daquele hospital, retornei a minha casa e fui confrontado com milhares de perguntas, às quais nem me dei ao trabalho de responder. Dirigi-me diretamente ao meu escritório e apanhei uma garrafa de uísque, virando-a de uma vez na boca.A bebida descia como um calmante cuja validade expirara; de nada adiantou, eu me encontrava na mesma situação ou até pior do que antes.Joguei-me no sofá do escritório, que ficava de frente para a grande janela de vidro. As luzes estavam apagadas; a única iluminação provinha da enorme lua cheia. Coloquei o braço sob a testa e fechei os olhos, imaginando Aurora em meus braços."Essa mulher me faz perder o controle com uma facilidade surpreendente.""Por que ela atrai tanto a minha atenção?"Seu jeito de andar e falar me deixa rendido aos seus pés, pronto para servi-la. Nunca me senti tão atraído por ninguém, mas Aurora, apenas com um olhar, despertou em mim o sentimento mais possessivo que um lobo poderia ter. Ela entrou em meu cami
Lucian...Sentia meu corpo com uma dormência terrível; pensei que estivesse em uma masmorra, preso por correntes, mas não, aquilo era só uma sensação horrível. Me dei conta disso quando acordei com os raios de sol que penetravam as cortinas escuras do meu quarto, refletindo sobre meu rosto.Demorei um pouco para perceber que não estava sozinho. Olhei um pouco para baixo e vi Isabel abraçada em mim.____ Mas o quê? .... Isabel?... Sai.A tirei de cima de mim.____ Ai meu amor, isso é jeito de acordar sua companheira? - Ela resmungou, ainda de olhos fechados.Levantei rápido da cama.____ O que aconteceu aqui?Ela abriu os olhos para me analisar.____ Não se faça de desentendido, não depois da noite maravilhosa que tivemos. - Havia malícia em sua voz.Olhei sério para ela.Ela bufou.___ Você não se lembra?___ Não! Fale de uma vez. O que aconteceu aqui?____ Você foi no meu quarto, nos beijamos, e você me trouxe pra cá, fazendo juras de amor, depois me fez completamente sua como nunca a
Aurora...Quando chegamos em casa, já era quase duas da tarde. O táxi teve um problema no caminho, mas o tempo de espera foi suficiente para contar à minha amiga o que ela já sabia sobre o adormecer da minha loba. Ela disse que conseguiria uma forma de me ajudar, o que foi gentil, porém, ninguém poderia fazer nada por mim. Já sei como fazer isso; só preciso encontrar meu companheiro. Até lá, só posso usar meus dons de bruxa e algumas vantagens da loba. Essa é minha realidade no momento.____ Aurora, enquanto estive em sua casa na alcatéia, observei umas coisas. - Disse Vanessa, chegando na cozinha onde eu estava preparando algo para comermos.____ Que coisas?. - Questionei, observando-a secar os cabelos com uma toalha, suas mãos fazendo movimentos frenéticos.Cortava algumas batatas sobre a tábua, o barulho da faca as dilacerando ecoava por toda a cozinha.Virei de costas para pegar alguns temperos especiais dentro do armário.____ Fiquei observando aquelas fotos nos corredores e vi
...O sol já havia nascido há um bom tempo, e eu permanecia imóvel desde que Lucian saiu. Comecei a sentir uma dor no pescoço antes de me obrigar a levantar. Corri até o banheiro para tomar uma ducha fria, sentindo a necessidade de ter as mãos daquele lobisomem em meu corpo novamente."Eu o quê?""Eu não disse isso.""Lucian é seu supremo, Aurora, e nada mais."Respirei fundo, tentando fazer o sentimento desaparecer, mas foi tão inútil quanto enxugar água com uma toalha. Ao perceber que não haveria jeito para o que estava sentindo, fechei os olhos e passei a pensar em outro assunto que me tirava a paz."Meus irmãos."Ainda tentava me acostumar com a ideia. Eles não têm culpa das irresponsabilidades de nossa mãe."Deveria eu escutar Vanessa e deixar o clã cuidar deles?""Ou deveria eu mesma protegê-los?"No fundo, eu sabia que estariam mais seguros junto à nossa família, mas dentro de mim, quero tê-los por perto, afinal, são meus irmãos.____ O que eu faço? O que faço?- Perguntava para
____ Você teve alguma visita? - Vanessa perguntou enquanto dava inúmeras voltas no macarrão com o garfo.Fiquei paralisada com a pergunta, pois sabia que se contasse que nosso supremo havia entrado aqui, sem que ninguém o notasse, ela iria embora sem pensar duas vezes. Eu não estava afim de falar no assunto, pois, por alguma razão, ele mexe muito comigo.___ Não. - respondi, mas não a olhei nos olhos- Por quê?___ Bem, eu vi uma camisola sua rasgada. Achei que tivesse recebido alguém.Gelei, mas minha amiga estava concentrada demais na comida para perceber meu nervosismo.____ Eu a rasguei de propósito, tentando me transformar.- Menti.___ Você encontrou seu companheiro?____ Não.____ Então como pretendia se transformar?___ Havia um pouco de esperança dentro de mim.Ela balançou a cabeça como se o que eu tivesse falado fosse um absurdo, o que era, de certa forma.____ Já decidiu o filme?- Tentei mudar o foco do assunto.____ Não. - ela pausou para lamber os dedos- Vou deixar você faz
Forçava minha mente a pensar no que fazer, até que comecei a caminhar sobre os vidros quebrados em direção à varanda. Meus movimentos eram tão rápidos que duvidei se estava no controle. Olhei ao redor em busca de ajuda, mas diante dos inúmeros edifícios e do barulho de pessoas conversando, nada era possível.Uma movimentação estranha no beco escuro ao lado do prédio chamou minha atenção.Farejei o ar e identifiquei o cheiro da minha amiga, misturado com ervas. Sabendo que descer pelo elevador poderia ser tarde demais, arrisquei e saltei. Senti a brisa fria da noite cobrir-me como lençóis invisíveis.Aterrissei de pé na calçada, olhando ao redor para garantir que ninguém tivesse visto. As pessoas agiam estranhamente iguais. Corri em direção ao beco e deparei-me com homens de preto, rostos cobertos por máscaras de palhaço. Senti o cheiro deles."Humanos."Ajoelhei-me atrás de uma lata de lixo, observando-os colocar algo em uma van preta com um símbolo de cobra vermelha e o número dez des