— Senador Walker? Uma palavrinha, por favor.Passei pelos repórteres como um furacão, sendo seguido pordois seguranças, que tentavam afastá-los a todo custo.De outro lado, meu assessor, Kenneth Bridges, surgiu, depoisde saltar do carro correndo, como se precisasse me resgatar nomeio de um furacão.Mas era mais ou menos isso.— Senador? Por favor, gostaríamos de uma posição sua arespeito da Sra. Walker.O uso do meu sobrenome em referência à minha ex-esposame fez parar no meio do caminho e me girar na direção do repórtercom o cenho franzido, quase transtornado.— Ela não é a Sra. Walker há mais de um ano — joguei commuito pouca paciência, porque eles sabiam disso. O que queriamera a minha reação. As câmeras apontadas na minha direçãoestavam prontas para pegar qualquer deslize que pudesse mecomprometer.Tiana, minha ex-esposa, escolhera a pior hora para anunciarseu casamento exatamente com o homem com quem me traíra.De fato, ela provavelmente tinha feito tudo de caso pensad
— Belle, pode pegar a mesa oito para mim? Preciso comeralguma coisa, estou passando mal aqui!Minha gerente pediu, e eu só assenti. Como já tinha acabadode almoçar – só um sanduíche de frango, aliás –, não teria problemanenhum rendê-la. Claro que eu tinha direito a mais minutos dealmoço, e queria ligar para casa para saber de Aurora, que estavaum pouquinho febril quando eu saí, mas isso poderia esperar umpouco.Não era como se eu não precisasse desesperadamente domeu emprego.Ajeitando meus cabelos castanhos para dentro do rabo decavalo, coloquei de volta o avental, peguei o bloquinho, um lápis epassei do balcão em direção à mesa oito.Claramente não eram os clientes usuais. Eram duas pessoas:um homem de meia idade e uma mulher de uns trinta anos, ambosmuito elegantes.Definitivamente, o restaurante onde eu trabalhava não era dotipo que recebia pessoas como eles.Claro que Nova Iorque era diversificada o suficiente para quehouvesse mil explicações plausíveis para o fato,
A televisão proporcionava um som ambiente, dentro do meugabinete. Ela só estava ligada, porque eu gostava de ficar a par dasnotícias, mas não tinha muito tempo para ler jornais.Ainda assim, era de manhã, e sem dúvidas o telejornalmatinal não era a melhor fonte, mas o dia estava repleto de reuniõese eu ainda precisaria viajar para Washington para uma Comissão deParlamento, da qual eu precisaria participar.— E não se fala de outra coisa no momento! — a vozanimada da âncora exclamou. Não importava que tivesse acabadode conversar com um correspondente que anunciara um assalto aum banco no Brooklyn, seu humor mudava conforme o tom danotícia. Naquele momento, eles iam entrar na rodada de fofocassem relevância.Comecei a procurar o controle remoto, mas o nome faladome impediu.— A bela Tiana Hilton, ex-senhora Walker, como vocês bemsabem, está compartilhando cada detalhe da preparação de seucasamento. Nós estamos encantados com o bom gosto, nãoestamos, Werner?Ela jogou a dei
Eu precisava colocar meus pés em uma bacia de águaquente.Tinha dias em que eu chegava em casa cansada, mas emoutros eu simplesmente queria me arrastar pelas escadas até osótão, onde era o quarto que dividia com Aurora.As gorjetas tinham sido ótimas, e eu nem poderia reclamar.Era com esses poucos dólares que mantinha a doença de Auroracontrolada, com a compra de remédios.Minha irmãzinha possuía uma condição congênita chamadaSíndrome de Wolff-Parkinson-White, ou WPW. Basicamente, ocoraçãozinho dela tinha uma pecinha faltando, algo que deveriaestar lá, mas não está. Isso faz com que o sangue não circule tãobem como deveria. E, por causa disso, ela fica cansada mais rápidodo que outras crianças da idade dela. Às vezes, parece que ela estáfazendo um esforço extra só para brincar ou correr um pouquinho.Ela tem que tomar remédios todos os dias para ajudar ocoração a funcionar melhor. Mas, apesar disso, ela é uma garotinhacorajosa. Passa por exames e consultas médicas como um
Eu dificilmente adiava compromissos, muito menos umaviagem a Washington. Por mais que eu não tivesse sido oficialmenterequisitado no Congresso, a votação daquele projeto de lei queestava em curso, de acesso a moradias gratuitas para veteranos deguerra, muito me interessava. E, claro, Stephen Lewis, um dossenadores de Seattle, e meu maior concorrente no caminho àpresidência, estaria lá.Ainda assim, a missão que me fez não comparecer eraigualmente importante. Eu iria conhecer a mulher com quem mecasaria em uma semana.Kenneth faria a ponte entre nós, e o jantar seria na casa dafamília dela. Partimos para lá, aliás, da forma mais secreta possível,sem uma grande comitiva, apenas com dois seguranças e um únicocarro. Não queria me sentir nervoso, mas toda a perspectiva dasituação era absurda. Tentei me distrair usando o celular, fuçandomeu e-mail pessoal, embora não houvesse nada lá de urgente, maispara me manter alheio à possibilidade de uma conversa com Ken.Ele entendia es
Eu quase não tinha ouvido a voz dela até aquele momento. Agovernanta nos indicara a mesa, porque o jantar fora servido, nósnos sentamos, mas Isabelle continuava calada, muito séria, em totalformalidade.Queria um tempo a sós com ela, para que pudéssemosalinhar nosso acordo só entre nós, de fato. Eu sabia que Kensempre ficava um pouco frustrado, porque eu não permitia que memanipulasse, mas aquela ideia de casamento estava fortemente nasmãos dele.Isso me incomodava.— Em uma semana, o casamento estará sendo veiculado emtodos os tipos de mídias. Vou me certificar de que a história quecontarão, de que vocês vinham se encontrando em segredo, que setratava de um relacionamento discreto, seja contada de um jeitoromântico. — Kenneth tinha realmente tomado as rédeas dasituação, e eu não gostava nada disso, por mais que o tivesse comoum pai.— Então acho que seria prudente marcar uma coletiva paraque eu e Isabelle possamos anunciar isso. Nada de terceirosfalando em nosso nome.
O jantar foi incômodo o suficiente para que eu precisasse deuns bons drinques depois. Para a minha sorte, Owen estavadisponível. Tudo o que precisei fazer foi ligar para ele e chamá-lopara um bar bem discreto perto da minha casa, onde eu sabia quenão seríamos importunados pelos paparazzi.Nós nos encontramos lá quando já passava das dez, etrocamos um abraço amigável, com tapa nas costas. Fazia algumassemanas que não nos víamos, o que não era muito comum.— Que cara péssima, Senador. O jantar com a noivinha foium desastre? — Ele sabia de tudo, o que também era um alívio. Terque explicar o motivo da minha insatisfação ou ter que fingir queestava tudo bem seria um esforço para o qual eu não estava muitopreparado.Apesar de tudo, aquele era um território seguro. Owen Parkerera o meu melhor amigo.E olha que eu tinha poucos, mas a verdade era que, dentrode um mesmo partido político, desafetos eram comuns, masalgumas pessoas acabavam se tornando de confiança.Aproximei-me do ba
Uma semana depoisMeu pai estava diante de mim, e ele mal conseguia meencarar. Kenneth, é claro, estava do lado dele, como uma sombra, eeu sabia que passaria a ser assim a partir daquele momento, eprovavelmente pioraria depois que eu me tornasse esposa deRichard, já que ele tinha planos... Já que me queria ao lado dosenador por motivos obscuros.— Pronta, querida? — Kenneth perguntou, me olhando decima a baixo.O vestido que conseguimos com o pouco tempo que nosrestou foi algo simples, uma peça de seda, off-white, emprestado daminha madrasta e customizado por uma costureira de confiançadela. Algumas rendas foram colocadas, além de pequenas pérolas.Uma faixa do mesmo tom para alinhar em minha cintura, porque euera um pouco mais magra; uma mudança nas alças para ficaremmais elegantes.Ele era longo, mais bonito do que qualquer coisa que já useidesde que minha mãe morrera, mas ainda não era um vestido denoiva dos sonhos.No entanto, também não era o meu casamento dos sonhos