Fazia quase dois meses que eu e Owen vínhamos passando nossos finais de semana juntos. Em alguns dias ele também passava para me buscar depois do expediente com o meu pai, e ter sua presença começou a se tor- nar uma deliciosa rotina.Duas ou três vezes ele foi me buscar na faculdade, que tinha finalmente começado, passando rápido só para que almoçássemos juntos, porque precisou fazer algo para o meu pai lá nas redondezas.Em nenhum dos nossos encontros se- quer chegamos perto de um restaurante caro, mas em compensação fizemos todos os pro- gramas mais legais, aos quais qualquer um dos almofadinhas que eu conhecia jamais pensa- ria em me levar.Caminhamos muito pelo Central Park, comendo cachorro-quente e tomando sorvete. Fizemos um piquenique, fomos ao Metro- graph, no Lower East Side de Manhattan - um cinema em Nova Iorque onde eram exibidos filmes clássicos, em sessões mais baratas. Eu conheci a mãe dele - que cozinhava como uma profissional e que me contou mil histórias de seu fil
Toquei a campainha pela terceira vez, enquanto observava a tela do celular, espe- rando pela resposta de Willow.Aquilo tudo era muito estranho. A ga- rota me convidara para passar a noite com ela, mas simplesmente não me atendia. Eu tinha demorado um pouco mais do que o previsto para retornar, porque a entrega do que Regi- nald me pediu também levou mais tempo do que imaginei. Ainda assim não explicava, a não ser que Willow tivesse pegado no sono.Já estava prestes a desistir quando a governanta da casa, Lisa, surgiu correndo, fe- chando um robe ao redor do corpo.Sr. Parker? O que está fazendo aqui a esta hora? Perdão pela demora, eu... ela co- meçou a falar sem parar, depois de abrir, pas- sando a mão pelos cabelos que estavam se sol- tando do coque.Eu que te peço perdão, Lisa. É que eu tinha combinado com a Willow que viria, mas não sei o que aconteceu.Ela chegou e subiu. Deve ter dormido. Eu estava no meu quarto vendo televisão, não ouvi muita coisa.- Então acho melhor eu volt
Depois de dormir com Willow nos meus braços, só esperei que amanhecesse, troquei minha roupa e deixei um bilhete para ela, em cima da almofada. Eu ainda me sentia com o cheiro dela enquanto dirigia, e era exatamente isso que me deixava mais alucinado com a missão que pretendia dar cabo. Eu não curtia violência. Fui criado em um bairro onde ela era gratuita, já tinha visto amigos meus apanharem na rua por causa de sua cor, por puro racismo, então sempre tentei me afastar ao máximo de qualquer coisa que pudesse ser mal interpretada. Ainda assim, comecei a praticar boxe desde muito cedo, porque não queria ficar indefeso, caso algo inesperado acontecesse. Nunca imaginei que fosse precisar usar os meus punhos para atacar e não me defender. Só que quando eu cheguei no aparta- mento de Taylor Bones, e tive a entrada liberada, fiquei até surpreso, mas estava disposto a ir até o fim e enfiar a porrada naquele filho da puta, mesmo que isso me rendesse compli- cações. O que ele tinha fe
— Senador Walker? Uma palavrinha, por favor.Passei pelos repórteres como um furacão, sendo seguido pordois seguranças, que tentavam afastá-los a todo custo.De outro lado, meu assessor, Kenneth Bridges, surgiu, depoisde saltar do carro correndo, como se precisasse me resgatar nomeio de um furacão.Mas era mais ou menos isso.— Senador? Por favor, gostaríamos de uma posição sua arespeito da Sra. Walker.O uso do meu sobrenome em referência à minha ex-esposame fez parar no meio do caminho e me girar na direção do repórtercom o cenho franzido, quase transtornado.— Ela não é a Sra. Walker há mais de um ano — joguei commuito pouca paciência, porque eles sabiam disso. O que queriamera a minha reação. As câmeras apontadas na minha direçãoestavam prontas para pegar qualquer deslize que pudesse mecomprometer.Tiana, minha ex-esposa, escolhera a pior hora para anunciarseu casamento exatamente com o homem com quem me traíra.De fato, ela provavelmente tinha feito tudo de caso pensad
— Belle, pode pegar a mesa oito para mim? Preciso comeralguma coisa, estou passando mal aqui!Minha gerente pediu, e eu só assenti. Como já tinha acabadode almoçar – só um sanduíche de frango, aliás –, não teria problemanenhum rendê-la. Claro que eu tinha direito a mais minutos dealmoço, e queria ligar para casa para saber de Aurora, que estavaum pouquinho febril quando eu saí, mas isso poderia esperar umpouco.Não era como se eu não precisasse desesperadamente domeu emprego.Ajeitando meus cabelos castanhos para dentro do rabo decavalo, coloquei de volta o avental, peguei o bloquinho, um lápis epassei do balcão em direção à mesa oito.Claramente não eram os clientes usuais. Eram duas pessoas:um homem de meia idade e uma mulher de uns trinta anos, ambosmuito elegantes.Definitivamente, o restaurante onde eu trabalhava não era dotipo que recebia pessoas como eles.Claro que Nova Iorque era diversificada o suficiente para quehouvesse mil explicações plausíveis para o fato,
A televisão proporcionava um som ambiente, dentro do meugabinete. Ela só estava ligada, porque eu gostava de ficar a par dasnotícias, mas não tinha muito tempo para ler jornais.Ainda assim, era de manhã, e sem dúvidas o telejornalmatinal não era a melhor fonte, mas o dia estava repleto de reuniõese eu ainda precisaria viajar para Washington para uma Comissão deParlamento, da qual eu precisaria participar.— E não se fala de outra coisa no momento! — a vozanimada da âncora exclamou. Não importava que tivesse acabadode conversar com um correspondente que anunciara um assalto aum banco no Brooklyn, seu humor mudava conforme o tom danotícia. Naquele momento, eles iam entrar na rodada de fofocassem relevância.Comecei a procurar o controle remoto, mas o nome faladome impediu.— A bela Tiana Hilton, ex-senhora Walker, como vocês bemsabem, está compartilhando cada detalhe da preparação de seucasamento. Nós estamos encantados com o bom gosto, nãoestamos, Werner?Ela jogou a dei
Eu precisava colocar meus pés em uma bacia de águaquente.Tinha dias em que eu chegava em casa cansada, mas emoutros eu simplesmente queria me arrastar pelas escadas até osótão, onde era o quarto que dividia com Aurora.As gorjetas tinham sido ótimas, e eu nem poderia reclamar.Era com esses poucos dólares que mantinha a doença de Auroracontrolada, com a compra de remédios.Minha irmãzinha possuía uma condição congênita chamadaSíndrome de Wolff-Parkinson-White, ou WPW. Basicamente, ocoraçãozinho dela tinha uma pecinha faltando, algo que deveriaestar lá, mas não está. Isso faz com que o sangue não circule tãobem como deveria. E, por causa disso, ela fica cansada mais rápidodo que outras crianças da idade dela. Às vezes, parece que ela estáfazendo um esforço extra só para brincar ou correr um pouquinho.Ela tem que tomar remédios todos os dias para ajudar ocoração a funcionar melhor. Mas, apesar disso, ela é uma garotinhacorajosa. Passa por exames e consultas médicas como um
Eu dificilmente adiava compromissos, muito menos umaviagem a Washington. Por mais que eu não tivesse sido oficialmenterequisitado no Congresso, a votação daquele projeto de lei queestava em curso, de acesso a moradias gratuitas para veteranos deguerra, muito me interessava. E, claro, Stephen Lewis, um dossenadores de Seattle, e meu maior concorrente no caminho àpresidência, estaria lá.Ainda assim, a missão que me fez não comparecer eraigualmente importante. Eu iria conhecer a mulher com quem mecasaria em uma semana.Kenneth faria a ponte entre nós, e o jantar seria na casa dafamília dela. Partimos para lá, aliás, da forma mais secreta possível,sem uma grande comitiva, apenas com dois seguranças e um únicocarro. Não queria me sentir nervoso, mas toda a perspectiva dasituação era absurda. Tentei me distrair usando o celular, fuçandomeu e-mail pessoal, embora não houvesse nada lá de urgente, maispara me manter alheio à possibilidade de uma conversa com Ken.Ele entendia es