Cristina Na manhã seguinte, às sete horas, já estávamos na estrada. Eu ainda estava com sono, demorei muito para dormir. O meu corpo parecia não querer desligar. O caminho estava sendo feito em um silêncio confortável. Às vezes, nos entreolhávamos e sorriamos de um jeito… sei lá. Apaixonado? Cedo demais? — Por que você não dirige? Vi a licença na sua carteira aquela vez. Olhei para ele. — Na tarde após o enterro do Thomaz, os meus pais me pediram para levar as meninas para casa enquanto eles recebiam alguns cumprimentos no cemitério. Próximo de casa, eu parei no sinal vermelho e me distraí por alguns segundos. O carro de trás buzinou enfurecidamente, me assustando. Achei que era porque o sinal estivesse livre e acelerei o carro. Mas não estava. Um ônibus atravessou o cruzamento e pegou o meu carro em cheio. Capotamos três vezes. Por sorte, estávamos todas usando cinto de segurança. No hospital, eu fiquei na sala de espera com a Sol quanto as gêmeas eram atendidas. Os meus pais c
CristinaCheguei meia hora antes do meu horário habitual na faculdade. Subi para o sexto andar, indo até a antiga sala do senhor Roy. Bati na porta e logo ouvi a voz do Cillian dizendo para eu entrar. Ao passar pelo batente, ele ergueu a cabeça e se colocou de pé, saindo de trás da mesa. Fechei a porta e aproximei-me dele, que tinha um pequeno sorriso no rosto. — Hora ruim? — perguntei — Não, claro que não. — Vim só trazer isso. — Retirei da bolsa o cinto que havia ficado sobre a cama. — Espero que não tenha chegado atrasado no seu compromisso. Ele apanhou o cinto e cruzou os braços à frente. Os ombros inflaram, tensos. — Não me atrasei. Engoliu em seco e o cenho franziu de um jeito diferente. Eu não sei, mas… parecia que ele estava mentindo. Encaramo-nos por alguns segundos em um silêncio estranho. — Eu já vou indo. Movi o meu corpo, mas antes que nem sequer pudesse dar um passo para longe, ele segurou o meu braço com certa firmeza. — Está tudo bem? — ele perguntou. — E
Cristina Entrei em casa e Anna estava no sofá, com seus livros e inúmeras anotações, estudando. — Oi. Tem comida chinesa na geladeira. — Eu já comi. — Não vai dizer que você comeu um pacote de salgadinhos, não é? — Não. Eu… saí para jantar. Com Cillian. Ela olhou-me surpresa. — Está bem. Colocou os papéis para o lado e levantou-se. — Vocês dois estão saindo agora? — Pode dizer que sim. — Cris… Pode ser expulsa. Perder a bolsa não está nos planos. — Eu sei. — E ele pode perder o emprego e ser processado pela faculdade. — A gente sabe. Caminhei para cozinha, apanhando um copo d’água. Anna veio atrás de mim. — E você acha que o risco vale a pena? Virei-me para ela. — Acho que… estou apaixonada. — Okay. — Anna cruzou os braços e suspirou fundo. — E qual é o plano de vocês? — Entender melhor o que sentimos e depois veremos o que fazer com o empecilho. — Só… cuidado. Não fique andando com ele por aí. Se alguém da faculdade vê vocês juntos e considerar o momento ínti
CristinaAo sair do edifício, Cillian estava de pé ao lado do carro. — Senti saudade — disse, antes de selar os seus lábios rapidamente. Ele abriu a porta para mim e eu entrei. Logo que saímos pela rua, apanhou a minha mão, entrelaçando os nossos dedos. — Para onde vamos? — perguntei. — Para minha casa. — Olhou para mim, com um lindo sorriso. Gostei disso. A sua casa deve ser um ambiente seguro. Não é? Cillian entrou no estacionamento subterrâneo de um imenso prédio no Upper East Side. Eu nem sequer imaginava que ele morava no centro de Nova Iorque, no segundo bairro mais caro da cidade. Ele estacionou ao lado do SUV e descemos. Ali, naquele mesmo espaço, havia uma moto. — Você pilota? — Às vezes. Pegando a minha mão, guiou-me até o elevador. Começamos a subir e ele me abraçou, escorando-me contra o aço escovado. Esfregou a ponta do seu nariz no meu e beijou-me lentamente, enquanto passeava com as mãos pelas minhas cotas. Quando as portas se abriram no vigésimo oitavo a
CristinaCinco minutos depois o entregador chegou no andar. Cillian pegou as sacolas e agradeceu-o antes de fechar a porta. Ele colocou as sacolas sobre a mesa e olhou para mim. — Estamos bem? Assenti outra vez. Estávamos bem, em partes. Eu não ligava de não transarmos, mas ele não falar comigo estava me matando. — Pode arrumar a mesa para gente? A louça fica no armário acima da bancada. — Apontou. — Claro. — Eu já volto. Cillian atravessou o hall e se foi pelo corredor que ficava logo na entrada, a esquerda. Apanhei os pratos, copos e coloquei à mesa. Em uma das gavetas encontrei os guardanapos. Abri as sacolas e coloquei a comida sobre o tampo de vidro branco, sentando-me em seguida. Cillian logo apareceu e pegou na geladeira uma garrafa de vinho branco e trocou os nossos copos por duas taças. Ele se sentou ao meu lado e serviu-nos, enquanto eu colocava a comida no meu prato. O silêncio era um tanto chato. O clima estava pesado e eu sentia vontade de ir embora. — Como fo
Cristina— Então vocês vão passar o Natal juntos… — disse Anna, sentada na minha cama, enquanto eu preparava a pequena mala para a viagem de quatro dias. — Sim. E, apesar de ele não crer no espírito do Natal, eu acho que essa viagem vai ser maravilhosa — disse cheia de empolgação. — Se você está dizendo. — Anna… Preciso que você torsa por mim e não seja contra. — Não estou contra você, Cris. Eu só acho que podia ir com mais calma. Ele é mais velho. Nosso professor. Eu não quero ver você com o coração em frangalhos de novo. — Anna… — sentei-me à sua frente. — Sei o que estou fazendo. E estou preparada para caso isso dê errado. Mas espero que não, porque, apesar de um detalhe, ele é um cara incrível! Estou feliz! E ele não é tão mais velho. São só sete anos de diferença. — Que detalhe? — Ah… A gente meio que ainda não chegou nos finalmente. — O quê? — Arregalou os olhos. — Ele já fez gozar, mas… não tiramos a roupa ainda e nem fizemos a coisa toda. — Ah, meu Deus! Ela riu.
CristinaCillian retirou o tênis esportivo e se deitou ao meu lado, de barriga para cima. Eu me deitei no seu peito, juntando o meu corpo a lateral do seu. Ele estava tenso e parecia paralisado, mal respirava, e o seu coração batia muito acelerado. — Você está muito tenso. Prefere dormir sozinho? — Faz muito tempo que não durmo com alguém. — Tudo bem se quiser ir embora. Não quero que fique só para me agradar. — Sentei-me na cama, fechando o robe. Cillian fechou os olhos e respirou fundo. — Quero ficar, mas… — interrompeu-se. — Está com medo de que eu toque em lugares desconfortáveis para você? Ele se sentou, escorando-se na cabeceira. — Sim. — Quando vamos falar sobre isso? Os seus olhos vieram até os meus e se encheram com tamanho sofrimento. O meu peito se afundou, quase se quebrando. O que lhe causava isso? Ele abaixou a cabeça, tentando esconder o semblante caído e terrivelmente triste. — Tenho a sensação de que estou me tornando um cara frustrante para você. — Talv
CristinaDepois de um almoço regado de comida brasileira, fomos todos juntos comprar o pinheiro de Natal. As gêmeas estavam muito empolgadas. Marisol e o meu pai queriam levar o pinheiro de um metro e oitenta de altura. Já a minha mãe dizia que o de um metro e meio era o que caberia na sala. Todo ano, a mesma discussão, para no fim uma árvore natalina de um metro e oitenta ocupar boa parte do cômodo. — Então vamos ter duas ceias de Natal? — perguntou Cillian. — Sim — responderam as gêmeas em uníssono, enquanto me ajudam a decorar a árvore. — E por quê? — Porque no Brasil a ceia é feita da meia-noite do dia vinte quatro para o dia vinte cinco. E aqui, é comemorado no jantar do dia vinte e cinco — explicou Sol. — Entendi. Quando acabamos, ligamos as luzes e nos sentamos no sofá admirando o trabalho bem-feito. A minha mãe se aproximou da árvore com um pequeno grampo e prendeu em um dos galhos a foto de Thomaz. Cillian pegou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos. Um pequeno sin