CristinaCinco minutos depois o entregador chegou no andar. Cillian pegou as sacolas e agradeceu-o antes de fechar a porta. Ele colocou as sacolas sobre a mesa e olhou para mim. — Estamos bem? Assenti outra vez. Estávamos bem, em partes. Eu não ligava de não transarmos, mas ele não falar comigo estava me matando. — Pode arrumar a mesa para gente? A louça fica no armário acima da bancada. — Apontou. — Claro. — Eu já volto. Cillian atravessou o hall e se foi pelo corredor que ficava logo na entrada, a esquerda. Apanhei os pratos, copos e coloquei à mesa. Em uma das gavetas encontrei os guardanapos. Abri as sacolas e coloquei a comida sobre o tampo de vidro branco, sentando-me em seguida. Cillian logo apareceu e pegou na geladeira uma garrafa de vinho branco e trocou os nossos copos por duas taças. Ele se sentou ao meu lado e serviu-nos, enquanto eu colocava a comida no meu prato. O silêncio era um tanto chato. O clima estava pesado e eu sentia vontade de ir embora. — Como fo
Cristina— Então vocês vão passar o Natal juntos… — disse Anna, sentada na minha cama, enquanto eu preparava a pequena mala para a viagem de quatro dias. — Sim. E, apesar de ele não crer no espírito do Natal, eu acho que essa viagem vai ser maravilhosa — disse cheia de empolgação. — Se você está dizendo. — Anna… Preciso que você torsa por mim e não seja contra. — Não estou contra você, Cris. Eu só acho que podia ir com mais calma. Ele é mais velho. Nosso professor. Eu não quero ver você com o coração em frangalhos de novo. — Anna… — sentei-me à sua frente. — Sei o que estou fazendo. E estou preparada para caso isso dê errado. Mas espero que não, porque, apesar de um detalhe, ele é um cara incrível! Estou feliz! E ele não é tão mais velho. São só sete anos de diferença. — Que detalhe? — Ah… A gente meio que ainda não chegou nos finalmente. — O quê? — Arregalou os olhos. — Ele já fez gozar, mas… não tiramos a roupa ainda e nem fizemos a coisa toda. — Ah, meu Deus! Ela riu.
CristinaCillian retirou o tênis esportivo e se deitou ao meu lado, de barriga para cima. Eu me deitei no seu peito, juntando o meu corpo a lateral do seu. Ele estava tenso e parecia paralisado, mal respirava, e o seu coração batia muito acelerado. — Você está muito tenso. Prefere dormir sozinho? — Faz muito tempo que não durmo com alguém. — Tudo bem se quiser ir embora. Não quero que fique só para me agradar. — Sentei-me na cama, fechando o robe. Cillian fechou os olhos e respirou fundo. — Quero ficar, mas… — interrompeu-se. — Está com medo de que eu toque em lugares desconfortáveis para você? Ele se sentou, escorando-se na cabeceira. — Sim. — Quando vamos falar sobre isso? Os seus olhos vieram até os meus e se encheram com tamanho sofrimento. O meu peito se afundou, quase se quebrando. O que lhe causava isso? Ele abaixou a cabeça, tentando esconder o semblante caído e terrivelmente triste. — Tenho a sensação de que estou me tornando um cara frustrante para você. — Talv
CristinaDepois de um almoço regado de comida brasileira, fomos todos juntos comprar o pinheiro de Natal. As gêmeas estavam muito empolgadas. Marisol e o meu pai queriam levar o pinheiro de um metro e oitenta de altura. Já a minha mãe dizia que o de um metro e meio era o que caberia na sala. Todo ano, a mesma discussão, para no fim uma árvore natalina de um metro e oitenta ocupar boa parte do cômodo. — Então vamos ter duas ceias de Natal? — perguntou Cillian. — Sim — responderam as gêmeas em uníssono, enquanto me ajudam a decorar a árvore. — E por quê? — Porque no Brasil a ceia é feita da meia-noite do dia vinte quatro para o dia vinte cinco. E aqui, é comemorado no jantar do dia vinte e cinco — explicou Sol. — Entendi. Quando acabamos, ligamos as luzes e nos sentamos no sofá admirando o trabalho bem-feito. A minha mãe se aproximou da árvore com um pequeno grampo e prendeu em um dos galhos a foto de Thomaz. Cillian pegou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos. Um pequeno sin
CristinaNo dia vinte e cinco, acordamos e a cidade lá fora estava coberta por neve. Logo depois do café da manhã eu e as meninas saímos para brincar naquilo que parecia magico para as pequenas. Construímos um grande boneco de neve com nariz de cenoura, uma cartola de mágico na cabeça e braços de gravetos secos. Tiramos algumas fotos e logo uma bola de neve voou diretamente até mim, enchendo o meu cabelo de gelo. Olhei para o lado e lá estava Marisol, escondendo-se atrás da oliveira. Uma pequena e divertida guerra de neve começou. Cillian estava na varanda, de pé, nos assistindo enquanto ria de tudo aquilo. Bela pegou uma bola de neve e arremessou nele, o convidando para aquela maluquice que possivelmente nos daria um resfriado. Cillian aceitou o convite. Ele desceu e se juntou a nós. Um movimento na calçada, chamou a minha atenção. Por ela, vinha um rapaz com roupa camuflada, carregando uma enorme mochila nos ombros, usando um casaco de neve e boné. Ele caminhava devagar e de cab
CristinaSentada na biblioteca, eu encarava a imagem na tela do celular sobre a mesa. Era uma foto minha com o Cillian e o boneco de neve. — Está tudo bem? — perguntou Anna, sentada à minha frente. — Uhum. — Parece triste. — Sei lá… eu só acordei com um sentimento ruim. — Tipo o quê? — Como se uma nuvem negra estivesse prestes a chegar. — Às vezes, a mente tende a fazer isso quando você está muito feliz. Se você é uma pessoa com tendência de autossabotagem, é claro. Está querendo se autossabotar, Cristina? — Encarou-me com olhos estreitos. — Não, que eu esteja percebendo. Talvez seja só intuição. — Talvez. — Vou devolver esses livros. Levantei-me, seguindo para a ala de psicologia ao fundo da grande biblioteca. Guardava o primeiro livro quando mãos na minha cintura me assustaram. — Sou eu — Cillian sussurrou no meu ouvido. Virei-me para ele e sorri. — A gente não devia estar fazendo isso aqui. — Eu me certifiquei de que não tem ninguém por perto. — Aproximou-se mais,
CristinaNo dia seguinte, cheguei ao trabalho, às onze. Miller estava na sua sala, muito irritado com o processo que não se encaminhava muito bem. Passar o dia perto dele foi bem difícil. Ainda eram sete e meia da noite e já não aguentava mais tanto chilique e ameaças de demissão. — Parece que a esposa apresentou provas junto a denúncia que fez contra ele — sussurrou Beth. — Questão de tempo para isso estar na mídia. A porta da sala dele foi aberta e a sua figura brotou a nossa frente. — Vocês duas! Não pago para ficarem de fofoquinha. Venham até aqui. — Entrou novamente na sua sala. Eu me levantei e juntas, fomos até lá. — Você! — Apontou para Beth. — Limpe o chão. — Sim, senhor. Ele apertou um botão no seu ramal sobre a mesa e mandou que o pessoal do marketing fosse até a sua sala. Logo cinco pessoas apareceram ali. — A vadia da minha ex-esposa está forjando provas contra mim para levar ao tribunal. Ela já apresentou isso na polícia, então amanhã de manhã estarei em tod
Cristina— Ou! Olá — disse uma mulher sorridente, parada perto da entrada. Eu a reconheci imediatamente. Era a mãe dele. Por que ele mentiu para esconder a mãe? — Você deve ser a Cristina. Eu ouvi falar muito de você. — Ela surpreendeu-me com um abraço rápido. — Sou a Sheryl, mãe do Cillian. Muito prazer. — O prazer é meu. Ainda me sentia confusa com tudo aquilo, também um pouco envergonhada. Cillian entrou e fechou a porta. — Venha. — Puxou-me pela mão. — Vou colocar mais um prato à mesa. Pedimos comida mexicana. Eu adoro! — falou com empolgação. Olhei para ele, que estava de pé ao nosso lado. Cillian olhava para a mãe, muito nervoso, nem sequer piscava. Senti que eu não era bem-vinda ali naquele momento. — Acho melhor não. Tenho que ir para casa. — Ah, é uma pena. Eu queria poder conhecer melhor você. — Talvez outro dia. — Forcei um sorriso. — Por que não no fim de semana? — Mãe! — Cillian tentou chamar a sua atenção. — Fim de semana? — Você poderia vir com a gente. —