CristinaAo sair do edifício, Cillian estava de pé ao lado do carro. — Senti saudade — disse, antes de selar os seus lábios rapidamente. Ele abriu a porta para mim e eu entrei. Logo que saímos pela rua, apanhou a minha mão, entrelaçando os nossos dedos. — Para onde vamos? — perguntei. — Para minha casa. — Olhou para mim, com um lindo sorriso. Gostei disso. A sua casa deve ser um ambiente seguro. Não é? Cillian entrou no estacionamento subterrâneo de um imenso prédio no Upper East Side. Eu nem sequer imaginava que ele morava no centro de Nova Iorque, no segundo bairro mais caro da cidade. Ele estacionou ao lado do SUV e descemos. Ali, naquele mesmo espaço, havia uma moto. — Você pilota? — Às vezes. Pegando a minha mão, guiou-me até o elevador. Começamos a subir e ele me abraçou, escorando-me contra o aço escovado. Esfregou a ponta do seu nariz no meu e beijou-me lentamente, enquanto passeava com as mãos pelas minhas cotas. Quando as portas se abriram no vigésimo oitavo a
CristinaCinco minutos depois o entregador chegou no andar. Cillian pegou as sacolas e agradeceu-o antes de fechar a porta. Ele colocou as sacolas sobre a mesa e olhou para mim. — Estamos bem? Assenti outra vez. Estávamos bem, em partes. Eu não ligava de não transarmos, mas ele não falar comigo estava me matando. — Pode arrumar a mesa para gente? A louça fica no armário acima da bancada. — Apontou. — Claro. — Eu já volto. Cillian atravessou o hall e se foi pelo corredor que ficava logo na entrada, a esquerda. Apanhei os pratos, copos e coloquei à mesa. Em uma das gavetas encontrei os guardanapos. Abri as sacolas e coloquei a comida sobre o tampo de vidro branco, sentando-me em seguida. Cillian logo apareceu e pegou na geladeira uma garrafa de vinho branco e trocou os nossos copos por duas taças. Ele se sentou ao meu lado e serviu-nos, enquanto eu colocava a comida no meu prato. O silêncio era um tanto chato. O clima estava pesado e eu sentia vontade de ir embora. — Como fo
Cristina— Então vocês vão passar o Natal juntos… — disse Anna, sentada na minha cama, enquanto eu preparava a pequena mala para a viagem de quatro dias. — Sim. E, apesar de ele não crer no espírito do Natal, eu acho que essa viagem vai ser maravilhosa — disse cheia de empolgação. — Se você está dizendo. — Anna… Preciso que você torsa por mim e não seja contra. — Não estou contra você, Cris. Eu só acho que podia ir com mais calma. Ele é mais velho. Nosso professor. Eu não quero ver você com o coração em frangalhos de novo. — Anna… — sentei-me à sua frente. — Sei o que estou fazendo. E estou preparada para caso isso dê errado. Mas espero que não, porque, apesar de um detalhe, ele é um cara incrível! Estou feliz! E ele não é tão mais velho. São só sete anos de diferença. — Que detalhe? — Ah… A gente meio que ainda não chegou nos finalmente. — O quê? — Arregalou os olhos. — Ele já fez gozar, mas… não tiramos a roupa ainda e nem fizemos a coisa toda. — Ah, meu Deus! Ela riu.
CristinaCillian retirou o tênis esportivo e se deitou ao meu lado, de barriga para cima. Eu me deitei no seu peito, juntando o meu corpo a lateral do seu. Ele estava tenso e parecia paralisado, mal respirava, e o seu coração batia muito acelerado. — Você está muito tenso. Prefere dormir sozinho? — Faz muito tempo que não durmo com alguém. — Tudo bem se quiser ir embora. Não quero que fique só para me agradar. — Sentei-me na cama, fechando o robe. Cillian fechou os olhos e respirou fundo. — Quero ficar, mas… — interrompeu-se. — Está com medo de que eu toque em lugares desconfortáveis para você? Ele se sentou, escorando-se na cabeceira. — Sim. — Quando vamos falar sobre isso? Os seus olhos vieram até os meus e se encheram com tamanho sofrimento. O meu peito se afundou, quase se quebrando. O que lhe causava isso? Ele abaixou a cabeça, tentando esconder o semblante caído e terrivelmente triste. — Tenho a sensação de que estou me tornando um cara frustrante para você. — Talv
CristinaDepois de um almoço regado de comida brasileira, fomos todos juntos comprar o pinheiro de Natal. As gêmeas estavam muito empolgadas. Marisol e o meu pai queriam levar o pinheiro de um metro e oitenta de altura. Já a minha mãe dizia que o de um metro e meio era o que caberia na sala. Todo ano, a mesma discussão, para no fim uma árvore natalina de um metro e oitenta ocupar boa parte do cômodo. — Então vamos ter duas ceias de Natal? — perguntou Cillian. — Sim — responderam as gêmeas em uníssono, enquanto me ajudam a decorar a árvore. — E por quê? — Porque no Brasil a ceia é feita da meia-noite do dia vinte quatro para o dia vinte cinco. E aqui, é comemorado no jantar do dia vinte e cinco — explicou Sol. — Entendi. Quando acabamos, ligamos as luzes e nos sentamos no sofá admirando o trabalho bem-feito. A minha mãe se aproximou da árvore com um pequeno grampo e prendeu em um dos galhos a foto de Thomaz. Cillian pegou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos. Um pequeno sin
CristinaNo dia vinte e cinco, acordamos e a cidade lá fora estava coberta por neve. Logo depois do café da manhã eu e as meninas saímos para brincar naquilo que parecia magico para as pequenas. Construímos um grande boneco de neve com nariz de cenoura, uma cartola de mágico na cabeça e braços de gravetos secos. Tiramos algumas fotos e logo uma bola de neve voou diretamente até mim, enchendo o meu cabelo de gelo. Olhei para o lado e lá estava Marisol, escondendo-se atrás da oliveira. Uma pequena e divertida guerra de neve começou. Cillian estava na varanda, de pé, nos assistindo enquanto ria de tudo aquilo. Bela pegou uma bola de neve e arremessou nele, o convidando para aquela maluquice que possivelmente nos daria um resfriado. Cillian aceitou o convite. Ele desceu e se juntou a nós. Um movimento na calçada, chamou a minha atenção. Por ela, vinha um rapaz com roupa camuflada, carregando uma enorme mochila nos ombros, usando um casaco de neve e boné. Ele caminhava devagar e de cab
CristinaSentada na biblioteca, eu encarava a imagem na tela do celular sobre a mesa. Era uma foto minha com o Cillian e o boneco de neve. — Está tudo bem? — perguntou Anna, sentada à minha frente. — Uhum. — Parece triste. — Sei lá… eu só acordei com um sentimento ruim. — Tipo o quê? — Como se uma nuvem negra estivesse prestes a chegar. — Às vezes, a mente tende a fazer isso quando você está muito feliz. Se você é uma pessoa com tendência de autossabotagem, é claro. Está querendo se autossabotar, Cristina? — Encarou-me com olhos estreitos. — Não, que eu esteja percebendo. Talvez seja só intuição. — Talvez. — Vou devolver esses livros. Levantei-me, seguindo para a ala de psicologia ao fundo da grande biblioteca. Guardava o primeiro livro quando mãos na minha cintura me assustaram. — Sou eu — Cillian sussurrou no meu ouvido. Virei-me para ele e sorri. — A gente não devia estar fazendo isso aqui. — Eu me certifiquei de que não tem ninguém por perto. — Aproximou-se mais,
CristinaNo dia seguinte, cheguei ao trabalho, às onze. Miller estava na sua sala, muito irritado com o processo que não se encaminhava muito bem. Passar o dia perto dele foi bem difícil. Ainda eram sete e meia da noite e já não aguentava mais tanto chilique e ameaças de demissão. — Parece que a esposa apresentou provas junto a denúncia que fez contra ele — sussurrou Beth. — Questão de tempo para isso estar na mídia. A porta da sala dele foi aberta e a sua figura brotou a nossa frente. — Vocês duas! Não pago para ficarem de fofoquinha. Venham até aqui. — Entrou novamente na sua sala. Eu me levantei e juntas, fomos até lá. — Você! — Apontou para Beth. — Limpe o chão. — Sim, senhor. Ele apertou um botão no seu ramal sobre a mesa e mandou que o pessoal do marketing fosse até a sua sala. Logo cinco pessoas apareceram ali. — A vadia da minha ex-esposa está forjando provas contra mim para levar ao tribunal. Ela já apresentou isso na polícia, então amanhã de manhã estarei em tod