CristinaAtravessei a sala e subi as escadas, indo direto para o último quarto no corredor. Cillian estava sentado sobre uma pequena poltrona rosa, enquanto as meninas apresentavam um teatrinho qualquer com os seus fantoches feitos à mão, atrás de um palco de papelão. — Meus parabéns. Você foi o premiado da vez para esse belíssimo show — disse para ele ao me aproximar. — Meninas, hora de descer. Tem chocolate quente. — Chocolate! — disse uma delas, saindo de trás do pequeno palco. As duas desceram correndo, fazendo muito barulho. — Vem. Cillian se levantou e parou diante de mim. Os seus olhos pararam nos meus e um passo para mais perto foi dado, deixando os nossos corpos a centímetros de distância. — Obrigado pelo convite. Está sendo um dia e tanto. — Jura que já não está com a cabeça doendo? Ele sorriu. — Gosto da agitação. A minha casa sempre foi quieta demais. O rosto dele começou a se aproximar do meu, lentamente. O meu coração acelerou e as minhas palmas suaram frias.
CristinaApós um ou dois minutos, soltei-o, enxugando o rosto. Ele acariciou as minhas bochechas com os polegares e olhou-me com firmeza. — Como o seu mentor, preciso dizer que, embora esteja fazendo um bom trabalho, a sua tese pode não ser bem quista e ter chances quase nulas de ser publicada. Mas como o seu… amigo, eu digo para você continuar com o que está fazendo. — Sorriu docemente. — Obrigada. Ter o apoio dele significava muito para mim. — Está pronta para descer? — perguntou. — Estou. De mãos dadas, fomos para a sala, mas logo que chegamos lá, soltei a sua mão. Sentei-me na poltrona e Cillian acomodou-se no canto do sofá, perto de mim. A minha mãe serviu bebidas quentes e biscoitos amanteigados. Ele amou, disse a ela que era os melhores que já havia comido. Rosalia ficou muito satisfeita com o elogio, é claro. Às seis, os vizinhos foram embora. Eu e a mamãe fomos para a cozinha preparar o jantar. Cillian ficou na sala, brincando de adivinhação com as meninas e o nosso p
CristinaNa cama, encarei o teto escuro esperando pelo sono que não vinha. Apanhei o celular sobre a mesinha entre as camas de solteiro e olhei as horas. Passava das dez e meia. Era difícil dormir sentindo o desejo queimar dentro de mim e saber que o motivo estava tão perto. Vagarosamente, levantei-me saindo do quarto. Pé por pé, desci os degraus. Aproximei do sofá e olhei para baixo. Cillian estava deitado e de olhos fechados. A sua respiração era lenta. Ela já havia dormido. Ainda na ponta dos pés, caminhei para a cozinha. Na geladeira, apanhei uma garrafa com água e servi um copo. Um pequeno susto me fez dar um pulinho quando uma mão tocou as minhas costas. — Você quase me matou de susto — disse para o Cillian. — Não consegue dormir? Neguei com a cabeça. — E você? Também negou em resposta. Ele se aproximou e repousou as mãos na minha cintura. Coloquei o copo sobre o balcão e deslizei as palmas por seus braços torneados, indo até o ombro. — O jeito que você me atrai é um
Cristina Na manhã seguinte, às sete horas, já estávamos na estrada. Eu ainda estava com sono, demorei muito para dormir. O meu corpo parecia não querer desligar. O caminho estava sendo feito em um silêncio confortável. Às vezes, nos entreolhávamos e sorriamos de um jeito… sei lá. Apaixonado? Cedo demais? — Por que você não dirige? Vi a licença na sua carteira aquela vez. Olhei para ele. — Na tarde após o enterro do Thomaz, os meus pais me pediram para levar as meninas para casa enquanto eles recebiam alguns cumprimentos no cemitério. Próximo de casa, eu parei no sinal vermelho e me distraí por alguns segundos. O carro de trás buzinou enfurecidamente, me assustando. Achei que era porque o sinal estivesse livre e acelerei o carro. Mas não estava. Um ônibus atravessou o cruzamento e pegou o meu carro em cheio. Capotamos três vezes. Por sorte, estávamos todas usando cinto de segurança. No hospital, eu fiquei na sala de espera com a Sol quanto as gêmeas eram atendidas. Os meus pais c
CristinaCheguei meia hora antes do meu horário habitual na faculdade. Subi para o sexto andar, indo até a antiga sala do senhor Roy. Bati na porta e logo ouvi a voz do Cillian dizendo para eu entrar. Ao passar pelo batente, ele ergueu a cabeça e se colocou de pé, saindo de trás da mesa. Fechei a porta e aproximei-me dele, que tinha um pequeno sorriso no rosto. — Hora ruim? — perguntei — Não, claro que não. — Vim só trazer isso. — Retirei da bolsa o cinto que havia ficado sobre a cama. — Espero que não tenha chegado atrasado no seu compromisso. Ele apanhou o cinto e cruzou os braços à frente. Os ombros inflaram, tensos. — Não me atrasei. Engoliu em seco e o cenho franziu de um jeito diferente. Eu não sei, mas… parecia que ele estava mentindo. Encaramo-nos por alguns segundos em um silêncio estranho. — Eu já vou indo. Movi o meu corpo, mas antes que nem sequer pudesse dar um passo para longe, ele segurou o meu braço com certa firmeza. — Está tudo bem? — ele perguntou. — E
Cristina Entrei em casa e Anna estava no sofá, com seus livros e inúmeras anotações, estudando. — Oi. Tem comida chinesa na geladeira. — Eu já comi. — Não vai dizer que você comeu um pacote de salgadinhos, não é? — Não. Eu… saí para jantar. Com Cillian. Ela olhou-me surpresa. — Está bem. Colocou os papéis para o lado e levantou-se. — Vocês dois estão saindo agora? — Pode dizer que sim. — Cris… Pode ser expulsa. Perder a bolsa não está nos planos. — Eu sei. — E ele pode perder o emprego e ser processado pela faculdade. — A gente sabe. Caminhei para cozinha, apanhando um copo d’água. Anna veio atrás de mim. — E você acha que o risco vale a pena? Virei-me para ela. — Acho que… estou apaixonada. — Okay. — Anna cruzou os braços e suspirou fundo. — E qual é o plano de vocês? — Entender melhor o que sentimos e depois veremos o que fazer com o empecilho. — Só… cuidado. Não fique andando com ele por aí. Se alguém da faculdade vê vocês juntos e considerar o momento ínti
CristinaAo sair do edifício, Cillian estava de pé ao lado do carro. — Senti saudade — disse, antes de selar os seus lábios rapidamente. Ele abriu a porta para mim e eu entrei. Logo que saímos pela rua, apanhou a minha mão, entrelaçando os nossos dedos. — Para onde vamos? — perguntei. — Para minha casa. — Olhou para mim, com um lindo sorriso. Gostei disso. A sua casa deve ser um ambiente seguro. Não é? Cillian entrou no estacionamento subterrâneo de um imenso prédio no Upper East Side. Eu nem sequer imaginava que ele morava no centro de Nova Iorque, no segundo bairro mais caro da cidade. Ele estacionou ao lado do SUV e descemos. Ali, naquele mesmo espaço, havia uma moto. — Você pilota? — Às vezes. Pegando a minha mão, guiou-me até o elevador. Começamos a subir e ele me abraçou, escorando-me contra o aço escovado. Esfregou a ponta do seu nariz no meu e beijou-me lentamente, enquanto passeava com as mãos pelas minhas cotas. Quando as portas se abriram no vigésimo oitavo a
CristinaCinco minutos depois o entregador chegou no andar. Cillian pegou as sacolas e agradeceu-o antes de fechar a porta. Ele colocou as sacolas sobre a mesa e olhou para mim. — Estamos bem? Assenti outra vez. Estávamos bem, em partes. Eu não ligava de não transarmos, mas ele não falar comigo estava me matando. — Pode arrumar a mesa para gente? A louça fica no armário acima da bancada. — Apontou. — Claro. — Eu já volto. Cillian atravessou o hall e se foi pelo corredor que ficava logo na entrada, a esquerda. Apanhei os pratos, copos e coloquei à mesa. Em uma das gavetas encontrei os guardanapos. Abri as sacolas e coloquei a comida sobre o tampo de vidro branco, sentando-me em seguida. Cillian logo apareceu e pegou na geladeira uma garrafa de vinho branco e trocou os nossos copos por duas taças. Ele se sentou ao meu lado e serviu-nos, enquanto eu colocava a comida no meu prato. O silêncio era um tanto chato. O clima estava pesado e eu sentia vontade de ir embora. — Como fo