Houve uma guerra, sempre há uma, você sabe disso e eu sei, e se não houve, vai haver. Sangrenta, cruel e apagada pelo tempo. Tão arcaica que seus velhos não recordam e nem consta nos registros de história. Não como de fato aconteceu.
Era uma manhã enfadonha, caótica e casual para aqueles guerreiros de orelhas pontuadas, com os cabelos longos e o corpo esguio. Eles não pensavam que aquela seria a última guerra da raça deles. Já faziam seis meses que estavam enfrentando a horda interminável de orcs, sozinhos. A pele vermelha, os olhos negros e os caninos proeminentes, quase na metade do crânio, diziam tudo o que precisavam saber sobre eles. Eram da ilha de Burning, onde o sol causticante e a constante falta de água não permitiam que nada crescesse, se não algumas poucas ervas venenosas, sustentando uma frágil cadeia de predadores.
A terra estéril e o orgulho infindável os trouxeram ali para morrer como homens, em conquista de sua própria terra, em vez de morrer pelas mãos da fome. Mais orcs sempre são uma praga e sempre serão uma epidemia, não importando o lugar. Se eram tantos com poucos recursos, imagine em uma terra verde, banhada por numerosos rios e com fauna abundante. Eles tomariam o continente mais uma vez. Afinal, essa terra sempre foi deles.
Foram os anões que os expulsaram de suas montanhas, os elfos de suas florestas e a humanidade os despojou de suas geleiras, jogando-os mais uma vez de onde saíram, da infernal Burning.
Nos olhos dos guerreiros caídos, a vergonha, o medo e a surpresa estavam estampados em suas órbitas, incrédulos diante da própria morte. Afinal, um orc só tem força e, normalmente, suas armas não passavam de clavas, algumas de madeira, e as mais rústicas eram feitas de pedra de sua ilha natal. As defesas não podiam ser mais precárias, apenas um couro denso, mas frágil, comparado às lâminas de seus adversários, que, para seu azar, ainda eram versados em magia. Mas a eles restava a selvageria e o profundo desejo de vingança. Contra quem havia tirado tudo, até a dignidade de se considerarem um povo forte que nunca se dobraria.
Quando um orc caía, outros dois surgiam com mais bravura, abrindo caminho onde um de seus irmãos descansava, alcançando o sonho de morrer no antigo lar. Era uma guerra de atrito, de constantes combates, onde os números pouco importavam para aqueles que estavam dispostos a morrer em batalha; já estavam destinados à morte pelo machado da fome.
Os elfos recuavam, não tendo escolha senão ceder espaço aos seus inimigos. Eles não tinham como segurar tantos bárbaros sozinhos. Demorou trezentos anos para expulsá-los das florestas e apenas cinco dias de guerra para tomarem metade de volta.
As flechas pareciam ricochetear na pele grossa, acostumada aos duros espinhos e às feras de sua terra natal. As espadas, com dificuldade, atravessavam a segunda camada do couro, adaptadas contra as garras de predadores tão ferozes quanto eles. Esses eram novos orcs oriundos da ilha dos sobreviventes, onde a reclusão os tornou mais fortes e selvagens.
Não demorou para que os anões entrassem na luta, ainda ressentidos por sofrer com o costumeiro terror orcânico pairando sobre suas cabeças. E, para variar, os humanos foram os últimos a tomar partido na guerra, se sentindo seguros quase no fim do continente, mas sua ajuda não veio de graça; afinal, eles vagamente encontraram um verdadeiro exército orcânico. Acostumados a espantar e a flagelar crianças do tamanho de seus adultos.
A guerra se estendeu por dois anos: intensa, brutal e fatídica. As pequenas vitórias das três nações aos poucos foram virando a maré para o seu lado e, pouco a pouco, o inimigo imbatível recuava de volta a Burning. Mas mal eles sabiam que vencer nunca foi o objetivo deles, apenas ganhar mais tempo.
Eles venceram, porém, sem ter para onde recuar, os elfos... todos morreram. Foi a ajuda tardia da humanidade que concedeu a vitória. Caso contrário, só haveria mais corpos nas florestas e nas montanhas, condenando a todos à completa extinção. Os anões sobreviveram por pouco, se refugiando nas cidades humanas com o custo de trabalhos forçados, enquanto seus guerreiros de armaduras pesadas marchavam em direção ao massacre.
Não demorou muito para que as cidades élficas e enamicas fossem tomadas por um novo exército, desta vez por um novo rival, surgindo nas entranhas de seus aliados.
Os humanos tomaram Duargom, a capital anã, e Sariston, do antigo conglomerado élfico, passando a ter o domínio sobre as outras raças, argumentando que iriam protegê-las em vez de tomá-las.
O sol ainda não havia nascido e, no horizonte, uma pequena linha vermelha surgia, tingindo de vida o céu negro. Porém, ele estava ali, parado, encarando o futuro jantar. A flecha tremia diante dos olhos enquanto calculava a força do vento. Respirou fundo, esperando o momento certo, ajustou o foco e, sem perceber, a haste escorregou dos dedos, fazendo o alvo cair. Rapidamente, saiu da ravina, sacando a faca de esfolamento, desejando terminar o serviço o quanto antes. Sentindo os passos descompassados e à beira do colapso, continuou correndo para finalizar o pobre animal caído, abandonando os arbustos cobertos de neve onde se escondia.– Uma morte limpa e um tiro perfeito – disse a si mesmo, entre seus pensamentos, conforme removia a haste do flanco do pequeno chacal. – Raydon iria se orgulhar!Ele seria lindo um dia e um perigoso rival em qualquer outra noite, mas agora não passaria de um bom jantar e um futuro casaco. Pensou ele, separando a carne da pelagem que futuramente lhe renderi
Faziam apenas duas semanas que estava viajando e foi só quando deu de cara com a neve que sentiu falta de casa, do clima quente onde o frio era uma brisa calorosa e a bafada, da cama aconchegante e da comida de suas empregadas. Endy ainda se perguntava por que viera sozinha? Quando sua mãe insistiu pra que ao menos um serviçal a escolta-se. Um que certamente saberia o caminho e seria responsável o suficiente pra não usar o mapa pra iniciar uma fogueira. Talvez uma vez na vida ela quisesse desfrutar de sua independência e da liberdade dos olhos super protetores da mãe. Mas agora sentia o amargo arrependimento por não ter lhe dado ouvidos e sofria por não saber se virar por sua conta. Desorientada em uma montanha sem recurso algum se não algumas blusas e uns pedaços de carne seca.Aquele era o segundo dia que estava perdida e por sorte encontrará uma trilha ate o topo da montanha. Só havia um problema não havia nada, apenas árvores e algumas
Foram duas horas de sono talvez três calculava ele que com mais uma estaria novo em folha. O Orion olhou para baixo observando a garota brincando com alguns galhos. Ele resgatou o arco e a aljava a cabeceira de seu saco de dormir e mais acima o par de adagas. Antes de dormir mais um pouco faria uma ronda mantendo o velho hábito, enquanto repassava uma lista como um mantra contra sua má sorte."Um nunca durma no solo, dois monte armadilhas e terceiro sempre tenha uma isca ou um bom alarme."Não demorou muito pra que avistasse duas sombras sobre a neve caminhando sem deixar rastro e sem dificuldade alguma. Aquela era a marca registrada dos mercenários de Falcon. Criaturas sanguinárias, animalescas e cruéis."Se encontrar um deles fuja, não se esconda. Nunca pela neve ela não é um empecilho para eles que são ótimos rastreadores. Deixe tudo pra trás, nada é mais importante que sua vida."Orion estava a fav
Assim que abriu os olhos a cabeça doía, com o sangue fluindo para o único lugar possível, e por um momento parecia que seus tímpanos iriam explodir ouvindo o coração descompassado, tentando bombear o líquido ferroso por todo o corpo.A visão estava turva com o sangue latejando a cabeça e por pouco tudo não ficava escuro e sem foco. Endy não sabia quanto tempo estava, ali, de cabeça pra baixo pendurada por uma única perna na armadilha, que ativava por puro azar e seu próprio desprezo.Não demorou mais que alguns segundos pra recordar o que estava acontecendo, ela não precisou de muito apenas vislumbrar uma árvore desgalhada e dois vultos caídos na neve, como se recebessem um forte abraço dos pequenos flocos e sem forças pra lutar permaneciam estáticos esperando que algo acontecesse por si só.Endrelina reunia cada grama de magia restante para produzir pequenas chamas, mas tudo que conseguia eram inconstantes f
Quando acordou tudo doía e vagarosamente abandonava o embaçado para ganhar cor e alguma profundidade. O céu era de uma vastidão profunda perdida em um manto negro que engolia tudo, as estrelas e até mesmo as nuvens tempestuosas carregadas de neve. O vento gelado açoitava seus braços desprotegidos e por isso acordará em plena madrugada. Se não fosse por isso dormiria mais quem sabe muito além do amanhecer. Afinal ele precisava dormir.-- Que bom que acordou! - Disse ela com o rosto tingido pela luz vermelha - amarelado.Assim que a fitou perguntas rapidamente surgiam em sua mente e conforme acordava eram respondidas com uma sessão de flashs. Ela era uma estranha que conhecerá a pouco na estrada. Ela era a isca que não sabia o caminho para onde ia e mesmo assim salvará sua vida. Ele não admitiria tal fracasso e a levaria a seu destino mesmo que isso custasse a sua vida e a deixaria segura na porta de casa e iria embora. Por que senti
-- Qual o seu nome? -- Assim que os olhos foram ofuscados uma pergunta já escorria aos lábios. O cansaço já não exista mais e pela segunda vez naquele dia ela sentia como se fosse ela mesma não uma outra pessoa tímida e quieta.-- Orion. -- O garoto trazia uma lebre em baixo do braço que se debatia dentro da gaiola improvisada. O animal era lindo de um amarelo queimado adornado com um fucinho negro e os olhos inteligentes buscavam uma fuga prevendo seu próprio fim.-- O meu é Endrelina mais pode me chamar de Endy. -- Ela não esperava que ele perguntasse de qualquer maneira queria quebrar o silêncio e fazer todas as perguntas que não conseguiu fazer no outro dia. Os olhos dela escorriam por ele sentindo a ausência de algo e ainda acordando do sonho do qual não se lembrava de nada, tornou a perguntar recordando do que faltava. -- O que fez com a tala?Ela gastou tempo e esforço fazendo o curativo. Ele teria que ter um bom motivo
Só quando a última gota de sangue escorreu que removeu as entranhas do animal, rasgando o peito enquanto tudo despencava pra fora e então as jogou o mais longe do acampamento, servindo de iscas para suas armadilhas. Ele fez pequenos furos na carne, colocou no espeto e antes de por sobre as brasas salgou o animal e despejou um líquido aquoso e opaco finalizando o tempero. Com o dejejum assando ele teria tempo para os negócios, não poupando nem um instante para que lucro algum fosse perdido.Não demorou muito pra encontrar Surg no fundo da vala. Tendo seu único interesse no pelame negro que poderia valer alguma fortuna devido a qualidade e o tamanho da peça. Já Verke não valeria nem uns poucos trocadas com o couro aspero e corroído por ácido em todas as partes.-- Por que está fazendo isso? -- Era nítido a curiosidade embebida em um tom de nojo na voz de Endrelina e nos olhos uma expressão de espanto com puro desgosto.
Ela não entendia como não conseguia acompanhá-lo, ele estava ferido e carregando mais peso e mesmo assim sempre ficava muitos passos á atrás. Nem parecia que o garoto era humano, mas um monstro vestido em pele de homem e isso explicaria tudo, como sobreviveu aquela altura, até por que escondia sua aptidão á magia. Naquele intervalo de tempo algo fazia sentido, Orion era um elfo não importava que o último deles estivesse morto a quase meio milênio. Fitando as costas do garoto toda a teoria fazia sentido, inclusive por que escalava tão bem e por que conhecia tantas ervas, nada tinha haver com preparo ou a busca incessante por conhecimento era apenas as características elficas embutidas nele.Ela respirou fundo sabendo que toda aquela linha de pensamento fritaria seu cérebro em algum momento e com o ar gélido percorrendo o corpo Endrelina só podia almejar por um breve descanso, que não viria ao menos naquele dia. A energia se esgotava rápido de seus músculos