Faziam apenas duas semanas que estava viajando e foi só quando deu de cara com a neve que sentiu falta de casa, do clima quente onde o frio era uma brisa calorosa e a bafada, da cama aconchegante e da comida de suas empregadas. Endy ainda se perguntava por que viera sozinha? Quando sua mãe insistiu pra que ao menos um serviçal a escolta-se. Um que certamente saberia o caminho e seria responsável o suficiente pra não usar o mapa pra iniciar uma fogueira. Talvez uma vez na vida ela quisesse desfrutar de sua independência e da liberdade dos olhos super protetores da mãe. Mas agora sentia o amargo arrependimento por não ter lhe dado ouvidos e sofria por não saber se virar por sua conta. Desorientada em uma montanha sem recurso algum se não algumas blusas e uns pedaços de carne seca.
Aquele era o segundo dia que estava perdida e por sorte encontrará uma trilha ate o topo da montanha. Só havia um problema não havia nada, apenas árvores e algumas poucas ravinas escondidas entre a neve que mais pareciam armadilhas que depressões naturais. A moça não tinha mais nada senão seu saco de dormir e a mochila praticamente vazia e torcia pra que a sorte lhe permitisse achar alguém que soube-se o caminho para onde iria. Ou então ficaria perdida pra sempre naquela paisagem gelada.
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A garota se pegou olhando pra cima em baixo do pinheiro enquanto os pensamento rondavam a mente.
"Como alguém poderia dormir em uma arvore? Ou será que havia uma casa escondida ali? "
Mas tudo que via eram galhos e folhas em uma arvore que escala o céu ano após ano.
-- Aonde ele foi? -- O vento arrastava as palavras pra longe e aos pés a neve suja manchava as botas. -- Qual o seu nome? -- Gritou ela.
-- Caçador. -- A voz parecia vir de todos os cantos carregando o mesmo tom indiferente. -- Agora me deixe dormir!
Endy olhou ao redor mais uma vez. Só haviam arvores e neve não importava para onde olhasse. Já esta entediada de ficar sentada com a bunda quase colada ao tronco, a frente a pequena fogueira não passava de brasas e do pequeno animal só restava uma perna queimada. Para ajudar estava apertada e fazia meia hora que estava se segurando. Ela não esperou muito mais só precisava achar uma moita e antes de erguer as calças ouviu vozes.
-- Eu vou encontrar alguém Surg. Posso sentir isso... Só tenha um pouco de calma. -- Pediu receoso ao outro.
-- Então encontre logo ou serão os seus ossos que eu vou quebrar hoje Verke. -- A voz era rouca e quase um rosnado entre a ameaça.
Eles surgiram no horizonte entre as árvores e vagamente seguiam na direção dela. Dois pontos que avançavam com pressa até ela. Endy subiu as calças fitando as próprias pegadas na neve e uma urgência mesclado ao perigo embalava, cada batida em, seu coração, anunciando que o encontro não seria nada promissor. Ao menos pra ela.
-- Telekinesis. -- Sussurrou ela mudando seu rastro de direção, com um truque a menos.
-- Para onde Verke? É melhor encontrar alguém se quiser viver ao menos por hoje! -- Rosnou Surg mais uma vez inflexível.
O outro matinha a cabeça baixa enquanto rastreava e quando as pegadas acabaram teve que apelar ao faro. Os dois estavam de costas fitando um barranco. Endy considerava se ficava escondida ou se saia em disparada sobre a neve macia, mas ao menor sinal de movimento os galhos, da moita, rangiam quando não derrubavam flocos congelados.
-- As costas... -- Informou o outro com um nó na garganta. A voz ansiosa e desesperada por sucesso.
Pela primeira vez ela pode fita-los. Verke era gordo com o rosto redondo, o nariz negro achatado e as bochechas caídas o faziam parecer um buldogue ao lado das orelhas pesadas. Por fim a pelagem malhada entre o branco e o amarelo queimado davam destaques aos olhos de um azul cristalino. A roupa dele sofria apertando o corpo opulento não passando de uma calça em farrapos e o casaco gasto que provavelmente não era do seu tamanho.
Já Surg era magro quase pele e osso. Os olhos de um verde lodoso chamavam atenção em meio a pelagem negra manchada com cinza, assim como o fucinho branco que alongava a boca expondo dois caninos amarelados, no rosto triangular. As costas uma foice ganhava forma, a lâmina velha tinha ranhuras e ferrugem por toda parte, e tudo que o canino usava era um casaco em frangalhos revelando o peito malhado e um retalho de calça.
-- AONDE VERKE? -- Gritou ansioso quase sentido o sabor do ar em cada respiração afobada.
Antes que pudesse correr o demi-humano deu seu veredito.
-- Na moita!
Endy saiu em disparada e no terceiro passo estava com o rosto na neve. As costa o ruído de madeira sendo golpeada ecoou quando uma adaga se cravou a arvore da frete que ficou pra trás a errando por pouco antes de escorregar do barranco.
-- Não corra ou sua morte será mais dolorosa. -- Ameaçou Verke pondo a lâmina no pescoço da moça.
Ela não soube de onde ele surgiu e como alcançará tão rápido. Tudo que tinha era a surpresa que ainda enchia seus olhos com uma nova emoção e um novo pavor percorria seu corpo.
Endy ficou de pé acompanhando a espada pressionando sua garganta. Ela olhou as costas por cima do ombro, observando Surg caminhando em sua direção sem pressa algum quase fazendo suspenso em cada passo.
-- Acidum ray. -- Escorreu em um murmurio tão baixo que nem ela ouviu. Os dedos da moça brilharam junto ao corpo despejando um filete de um líquido amarelo-esverdeado sobre a face do homem.
Verke urrou de dor assim que a solução tocou a pele saltando a espada que caiu no solo desolada e desesperado passava neve no rosto.
-- Então você vai lutar? -- Bradou Surg com um sorriso perverso no rosto pondo todos os dentes a mostra em um misto de prazer e raiva.
A moça tornou a correr, porém a neve passava dos calcanhares dificultando até uma caminhada e a situação piorava em uma corrida desesperada.
-- CAÇADOR! -- Gritou a garota fitando as copas das arvores esperando uma flecha ou um sinal, mas o única resposta foi a vento cruzando o seu rosto enquanto corria. - CAÇADOOOR!
-- Ele não virá se tiver um pouco de juízo. -- Surg golpeava o ar decidindo aonde seria o primeiro corte recordando que o fio da arma estava cego quebrando os ossos antes de qualquer coisa. Tornando o sorriso maior e feroz.
Endy esta sozinha e tudo que tinha era mais um truque. Os dedos da moça brilhavam esperando o momento certo. Ofegante parou de correr enquanto Surg se aproximava velozmente.
-- Ray glacies! -- A mana atravessou a palma condensando a umidade do ar. O raio seguiu em direção do demi-humano que usava a foice como escudo sem se dar ao trabalho de desviar.
A princípio nada acorreu enquanto Surg corria em sua direção. O peito largo subia e descia com a excitação da caçada enquanto avançava aparentemente sem impedimento algum. Após alguns segundos os dedos estavam grudados a arma e metade do corpo estava coberto por gelo, indo do peito as pernas. O sorriso no rosto do monstro se desfez restando os dentes atrozes a mostra, como um lembrete que ela ainda seria despedaçada por eles.
Vagarosamente ele avançava mais e o consumo de mana aumentava a cada segundo. Aquela magia não foi feita pra isso e o uso inadequado a esgotava ainda mais. Ele estava perto não mais que três passos dela. Endrelina podia escolher entre sustentar o truque e cair inconsciente ou virar as costas apostando na sorte que alguém a ajudaria.
Não foi seu coração batendo a flito com a possível morte que a impulsionou a sustentar a magia, mas a constatação que ninguém viria em seu socorro que estava sozinha deixada a própria sorte como tanto queria.
A visão ficou turva, as pernas cederam e a respiração falhava bruscamente. Todos os sintomas estavam lá dizendo que ela tinha feito a escolha errada que deveria parar ou morreria desmaiada.
Surg estava a uma mordida de distância. O raio azul atingia seu peito e a poucos centímetros tudo que podia fazer era erguer a lâmina em câmera lenta enquanto apreciava o momento. Ele gostava de vê-los lutando até o último instante e quando os acertava delirava observando a esperança morrer nas órbitas de suas vítimas e dessa vez não seria diferente.
A foice descia sem pressa ocupada demais degolando o ar em vez da menina. Não faltava muito não mais que quinze centímetros. Endy caiu sem mana com as mãos impedindo o corpo de alcançar o chão totalmente. Ela não queria olhar pra cima sabendo que a lâmina alcançaria e a morte vinha ao seu encontro. Ela não tinha força pra dar mais um passo o corpo estava no limite e tudo que tinha pra se orientar era a sombra da arma que a perseguia vagarosamente. Então fechou os olhos torcendo pra que sua morte fosse rápida e indolor.
Ela pode sentir nas costas entre as costelas a ponta sem fio atingir o casaco lutando pra perfurar os poucos músculos e corta até mesmo os ossos. Mas a foice parou arranhando apenas o couro de sua veste.
-- Não pense que isso vai me impedir de te Matar! Conjuradores melhores já tentaram e eu devorei todos. -- Surg rugiu frustrado percebendo que naquele momento não conseguiria mata-la.
Os braços estavam congelados e um bloco de gelo tão sólido quanto concreto fundiam o corpo do monstro em uma só coisa. Não foi só frustração mais ódio, desgosto e raiva foram emitidos em um suspiro tão longo que se fundiam em um uivo desolador.
Ela queria cair a li mesmo, face à face com seu algoz. Mas a força surgia de seu âmago alimentando por um desejo insano por vida e não sabendo como ela engatilhou até que pudesse ficar de em pé indo ao seu acampamento não muito distante.
Foram duas horas de sono talvez três calculava ele que com mais uma estaria novo em folha. O Orion olhou para baixo observando a garota brincando com alguns galhos. Ele resgatou o arco e a aljava a cabeceira de seu saco de dormir e mais acima o par de adagas. Antes de dormir mais um pouco faria uma ronda mantendo o velho hábito, enquanto repassava uma lista como um mantra contra sua má sorte."Um nunca durma no solo, dois monte armadilhas e terceiro sempre tenha uma isca ou um bom alarme."Não demorou muito pra que avistasse duas sombras sobre a neve caminhando sem deixar rastro e sem dificuldade alguma. Aquela era a marca registrada dos mercenários de Falcon. Criaturas sanguinárias, animalescas e cruéis."Se encontrar um deles fuja, não se esconda. Nunca pela neve ela não é um empecilho para eles que são ótimos rastreadores. Deixe tudo pra trás, nada é mais importante que sua vida."Orion estava a fav
Assim que abriu os olhos a cabeça doía, com o sangue fluindo para o único lugar possível, e por um momento parecia que seus tímpanos iriam explodir ouvindo o coração descompassado, tentando bombear o líquido ferroso por todo o corpo.A visão estava turva com o sangue latejando a cabeça e por pouco tudo não ficava escuro e sem foco. Endy não sabia quanto tempo estava, ali, de cabeça pra baixo pendurada por uma única perna na armadilha, que ativava por puro azar e seu próprio desprezo.Não demorou mais que alguns segundos pra recordar o que estava acontecendo, ela não precisou de muito apenas vislumbrar uma árvore desgalhada e dois vultos caídos na neve, como se recebessem um forte abraço dos pequenos flocos e sem forças pra lutar permaneciam estáticos esperando que algo acontecesse por si só.Endrelina reunia cada grama de magia restante para produzir pequenas chamas, mas tudo que conseguia eram inconstantes f
Quando acordou tudo doía e vagarosamente abandonava o embaçado para ganhar cor e alguma profundidade. O céu era de uma vastidão profunda perdida em um manto negro que engolia tudo, as estrelas e até mesmo as nuvens tempestuosas carregadas de neve. O vento gelado açoitava seus braços desprotegidos e por isso acordará em plena madrugada. Se não fosse por isso dormiria mais quem sabe muito além do amanhecer. Afinal ele precisava dormir.-- Que bom que acordou! - Disse ela com o rosto tingido pela luz vermelha - amarelado.Assim que a fitou perguntas rapidamente surgiam em sua mente e conforme acordava eram respondidas com uma sessão de flashs. Ela era uma estranha que conhecerá a pouco na estrada. Ela era a isca que não sabia o caminho para onde ia e mesmo assim salvará sua vida. Ele não admitiria tal fracasso e a levaria a seu destino mesmo que isso custasse a sua vida e a deixaria segura na porta de casa e iria embora. Por que senti
-- Qual o seu nome? -- Assim que os olhos foram ofuscados uma pergunta já escorria aos lábios. O cansaço já não exista mais e pela segunda vez naquele dia ela sentia como se fosse ela mesma não uma outra pessoa tímida e quieta.-- Orion. -- O garoto trazia uma lebre em baixo do braço que se debatia dentro da gaiola improvisada. O animal era lindo de um amarelo queimado adornado com um fucinho negro e os olhos inteligentes buscavam uma fuga prevendo seu próprio fim.-- O meu é Endrelina mais pode me chamar de Endy. -- Ela não esperava que ele perguntasse de qualquer maneira queria quebrar o silêncio e fazer todas as perguntas que não conseguiu fazer no outro dia. Os olhos dela escorriam por ele sentindo a ausência de algo e ainda acordando do sonho do qual não se lembrava de nada, tornou a perguntar recordando do que faltava. -- O que fez com a tala?Ela gastou tempo e esforço fazendo o curativo. Ele teria que ter um bom motivo
Só quando a última gota de sangue escorreu que removeu as entranhas do animal, rasgando o peito enquanto tudo despencava pra fora e então as jogou o mais longe do acampamento, servindo de iscas para suas armadilhas. Ele fez pequenos furos na carne, colocou no espeto e antes de por sobre as brasas salgou o animal e despejou um líquido aquoso e opaco finalizando o tempero. Com o dejejum assando ele teria tempo para os negócios, não poupando nem um instante para que lucro algum fosse perdido.Não demorou muito pra encontrar Surg no fundo da vala. Tendo seu único interesse no pelame negro que poderia valer alguma fortuna devido a qualidade e o tamanho da peça. Já Verke não valeria nem uns poucos trocadas com o couro aspero e corroído por ácido em todas as partes.-- Por que está fazendo isso? -- Era nítido a curiosidade embebida em um tom de nojo na voz de Endrelina e nos olhos uma expressão de espanto com puro desgosto.
Ela não entendia como não conseguia acompanhá-lo, ele estava ferido e carregando mais peso e mesmo assim sempre ficava muitos passos á atrás. Nem parecia que o garoto era humano, mas um monstro vestido em pele de homem e isso explicaria tudo, como sobreviveu aquela altura, até por que escondia sua aptidão á magia. Naquele intervalo de tempo algo fazia sentido, Orion era um elfo não importava que o último deles estivesse morto a quase meio milênio. Fitando as costas do garoto toda a teoria fazia sentido, inclusive por que escalava tão bem e por que conhecia tantas ervas, nada tinha haver com preparo ou a busca incessante por conhecimento era apenas as características elficas embutidas nele.Ela respirou fundo sabendo que toda aquela linha de pensamento fritaria seu cérebro em algum momento e com o ar gélido percorrendo o corpo Endrelina só podia almejar por um breve descanso, que não viria ao menos naquele dia. A energia se esgotava rápido de seus músculos
O "Óleo verá" tinha acabado, ainda faltavam dois dias de caminhada, a água abençoada estava na metade e pra ajudar já começará a sentir as dores na perna.- É hora de descansar. - Anunciou ele jogando a mochila a esmo no chão enquanto o corpo despencava em outro canto.- Mais esse ainda é o segundo dia! - Retrucou ela com mais energia do que deveria. Talvez tivesse bebido franboia demias, o que explicava por que ela não parava quieta e o tremor na sobrancelha esquerda da garota, o que a fazia parecer uma inquisidora louca e raivosa.Ele ainda não sabia o que o surpreendia mais, se era por ela estar errada ou por ter alguma disposição pra falar depois de andar tantas horas sem descanso.- O que você comeu ontem? - Perguntou impassível formulando um argumento, não erguendo os olhos do acampamento que levantava. Ele não podia perder tempo, quanto mais enrolasse menos poderia descansar e
Quando acordou ele não estava lá. A fogueira não passava de brasas que por muito pouco o vento gélido não transformava em cinzas. No chão um pequeno rastro, mas a falta de luz era seu maior empecilho, embora houvesse uma lua na ausência de estrelas e, ela não seria o suficiente pra iluminar a porção de passos sobre o gelo trincado. As tochas haviam acabado e a único recurso era usar um pequeno truque, que nunca poderia ser chamado de magia pela simplicidade de fazê-lo, mas a necessidade o tornava tão útil quanto qualquer outro encanto complexo. Esse truque usaria o escasso recurso de mana, algo tão simples mais no momento tão útil quanto subir em uma cadeira pra alcançar o topo da prateleira. Tinha sua utilidade.- Globo de luz. - Convocou ela da ponta dos dedos onde a mana fluía trazendo da palma um pequeno c&iac