Só quando a última gota de sangue escorreu que removeu as entranhas do animal, rasgando o peito enquanto tudo despencava pra fora e então as jogou o mais longe do acampamento, servindo de iscas para suas armadilhas. Ele fez pequenos furos na carne, colocou no espeto e antes de por sobre as brasas salgou o animal e despejou um líquido aquoso e opaco finalizando o tempero. Com o dejejum assando ele teria tempo para os negócios, não poupando nem um instante para que lucro algum fosse perdido.
Não demorou muito pra encontrar Surg no fundo da vala. Tendo seu único interesse no pelame negro que poderia valer alguma fortuna devido a qualidade e o tamanho da peça. Já Verke não valeria nem uns poucos trocadas com o couro aspero e corroído por ácido em todas as partes.
-- Por que está fazendo isso? -- Era nítido a curiosidade embebida em um tom de nojo na voz de Endrelina e nos olhos uma expressão de espanto com puro desgosto.
Ela não entendia como não conseguia acompanhá-lo, ele estava ferido e carregando mais peso e mesmo assim sempre ficava muitos passos á atrás. Nem parecia que o garoto era humano, mas um monstro vestido em pele de homem e isso explicaria tudo, como sobreviveu aquela altura, até por que escondia sua aptidão á magia. Naquele intervalo de tempo algo fazia sentido, Orion era um elfo não importava que o último deles estivesse morto a quase meio milênio. Fitando as costas do garoto toda a teoria fazia sentido, inclusive por que escalava tão bem e por que conhecia tantas ervas, nada tinha haver com preparo ou a busca incessante por conhecimento era apenas as características elficas embutidas nele.Ela respirou fundo sabendo que toda aquela linha de pensamento fritaria seu cérebro em algum momento e com o ar gélido percorrendo o corpo Endrelina só podia almejar por um breve descanso, que não viria ao menos naquele dia. A energia se esgotava rápido de seus músculos
O "Óleo verá" tinha acabado, ainda faltavam dois dias de caminhada, a água abençoada estava na metade e pra ajudar já começará a sentir as dores na perna.- É hora de descansar. - Anunciou ele jogando a mochila a esmo no chão enquanto o corpo despencava em outro canto.- Mais esse ainda é o segundo dia! - Retrucou ela com mais energia do que deveria. Talvez tivesse bebido franboia demias, o que explicava por que ela não parava quieta e o tremor na sobrancelha esquerda da garota, o que a fazia parecer uma inquisidora louca e raivosa.Ele ainda não sabia o que o surpreendia mais, se era por ela estar errada ou por ter alguma disposição pra falar depois de andar tantas horas sem descanso.- O que você comeu ontem? - Perguntou impassível formulando um argumento, não erguendo os olhos do acampamento que levantava. Ele não podia perder tempo, quanto mais enrolasse menos poderia descansar e
Quando acordou ele não estava lá. A fogueira não passava de brasas que por muito pouco o vento gélido não transformava em cinzas. No chão um pequeno rastro, mas a falta de luz era seu maior empecilho, embora houvesse uma lua na ausência de estrelas e, ela não seria o suficiente pra iluminar a porção de passos sobre o gelo trincado. As tochas haviam acabado e a único recurso era usar um pequeno truque, que nunca poderia ser chamado de magia pela simplicidade de fazê-lo, mas a necessidade o tornava tão útil quanto qualquer outro encanto complexo. Esse truque usaria o escasso recurso de mana, algo tão simples mais no momento tão útil quanto subir em uma cadeira pra alcançar o topo da prateleira. Tinha sua utilidade.- Globo de luz. - Convocou ela da ponta dos dedos onde a mana fluía trazendo da palma um pequeno c&iac
O garoto sabia que as colunas e as runas faziam parte de algo maior, porém o resto da construção não existia mais, reduzido apenas a uma montoeira de destroços e neve. As inscrições por todos os lados se perdiam em uma confusão de traços, linhas e desenhos que Orion nunca compreenderia, pelo menos não agora e muito menos com o escasso tempo, só serviam pra confirmar que de fato existiam mais segredos do que ele poderia descobrir no momento. Tudo que precisava estava ali. A lua cheia, o vento vindo dos quatro cantos, a runa brilhando constantemente e as pilastras canalizando a magia. A sua única função era fluir água e um pouco de mana para que todo o conjunto fizesse o resto. O caçador não passava de uma peça improvisada que uma hora ou outra quebraria durante o processo, mas ele não podia se dar o luxo de pensar nisso, não agora.Infelizmente era um trabalho demorado e que lentamente fazia as palmas ganharem um tom azulado a cada flecha encantada, sendo um sucesso
Ela não percebeu quando o caçador se levantou, resgatou sua flecha ou a fitava um andar acima. Tudo que se dava conta era que estava mais perto da parede verde e que linhas surgiam, dela, rasgando o musgo criando símbolos, palavras e desenhos complexos, transbordando algo das rochas a sala. Havia alguma coisa no ar, era mágico, quente e a atraia tanto que não se deu conta que ele a chamava.- Endrelina. - Era um ruído fraco, distante como se, a voz, atravessasse a água, parecia abafada e embargada. – Endrelina.Ela podia sentir os esporos tocando a pele, a temperatura do corpo aumentar e todos os músculos vibrarem felizes para realizar o desejo que se repetia cada vez mais forte, mais importante e mais crucial do que nunca. Tudo girava em torno do pensamento que parecia mais seu, não era uma ambição utópica bastava andar e estender o braço para tocar a rocha e estaria feito, realizada, feliz e satisfeita como nunca. Como poderia ficar extasiada com tão pouco ou com um si
Parte dele não queria acordar, levantar ou continuar andando, só queria ficar aonde estava aproveitando a sensação do calor invadindo o corpo, como uma corrente de ondas umas após a outra, aquecendo a pele, relaxando os músculos e descongelando os ossos, dormentes. Mas ele se recordou da dívida que tinham com ela, de onde estava e da situação que se tornava cada vez mais preocupante e foi isso que o fez abrir os olhos. Antes mesmo que as pálpebras revelassem a noite, ou a luz do luar fizesse as pupilas se dilatarem, a dor o acolheu em seus braços cobertos de pregos e com prazer o apertava com força, o sufocando e o torturando aos poucos. Ela era uma sádica que adorava espezinhar as pessoas, mas tinha um prazer mais sórdido quando a vítima era Orion que a encarava com sangue nos olhos prometendo não se curvar as suas vontades e essa valentia a cativava.A escuridão se revelou em um emaranhado de fios sobre os seus olhos. Os rosto estavam quase colados e como uma voz distante, e
Não demorou muito pra que Endrelina dormisse, fosse o cansaço ou a culpa os dois a esgotaram tão rápido que quando seu deu conta já estava agarrada no pelame de Surg. Era macio, confortável, quente e sem perceber um dos sacos de pele passava de travesseiro a um pequeno corpo que abraçava com força e afinco, em busca de algo familiar. Ainda que percebesse e não quisesse notar ela sentia saudade de casa, de ter a barriga cheia de qualquer iguaria do reino, das roupas leves que só o calor permitia usar e claramente da expressão compassiva da mãe na qual um sorriso descansava com calma, como se fosse natural a todas as mulheres, e entregando uma mensagem silenciosa que ela sabia de cor: “Eu te avisei”Orion ainda lutava contra o que sentia, porém seu maior inimigo não era a escolha e tão pouco ele mesmo, era a dor que agredia seu corpo enquanto removia a camisa para se dar conta da proporção do novo estrago. Se o gelo fez algo de bom foi coagular o sangue de suas ferida
Foi de súbito que saiu da escuridão à luz. No começo não havia nada, apenas um ruído baixo, suave e melancólico que dizia tudo que poderia saber. Se não era o vento era o som de algum inimigo, predador ou forasteiro. E o que essas possiblidades tinham em comum? Senão a morte e a luta pela sobrevivência. E com essa ideia ela foi arrancada dos sonhos, da vastidão do breu do qual não se lembrava de nada. Ofegante, com um grito atado a garganta, e com o coração cavalgando no peito ela acordou.No horizonte o cinza e o branco se fundiam de uma forma única em que alguns momentos pareciam uma só coisa, devorando a cordilheira, apagando as montanhas e disfarçando as nuvens sobre sua cabeça. As costas as rochas cresciam como densas muralhas a protegendo do frio e no largo círculo havia ele é suas coisas do outro lado.Ela ergueu a cabeça esgueirando os olhos ao lado de fora das pedras, em busca de alguma resposta, porém, só houve o vento penetrando os os