Foi de súbito que saiu da escuridão à luz. No começo não havia nada, apenas um ruído baixo, suave e melancólico que dizia tudo que poderia saber. Se não era o vento era o som de algum inimigo, predador ou forasteiro. E o que essas possiblidades tinham em comum? Senão a morte e a luta pela sobrevivência. E com essa ideia ela foi arrancada dos sonhos, da vastidão do breu do qual não se lembrava de nada. Ofegante, com um grito atado a garganta, e com o coração cavalgando no peito ela acordou.
No horizonte o cinza e o branco se fundiam de uma forma única em que alguns momentos pareciam uma só coisa, devorando a cordilheira, apagando as montanhas e disfarçando as nuvens sobre sua cabeça. As costas as rochas cresciam como densas muralhas a protegendo do frio e no largo círculo havia ele é suas coisas do outro lado.
Ela ergueu a cabeça esgueirando os olhos ao lado de fora das pedras, em busca de alguma resposta, porém, só houve o vento penetrando os os
O corpo tremeu e os olhos não acreditaram no que estavam vendo. Restava uma flecha, o único problema era onde estava e como faria para tira-la. Como um rato em busca de comida Endrelina se aproximou, o gelo ruía feito vidro quebradiço embaixo dos seus pés, um sorriso tenso desenhava o rosto enquanto rugas delineavam a testa e tingiam as sobrancelhas, curvas, de inquietação. Havia algo de gostoso na tensão que vergava os lábios feito um arco, no perigo e claramente no risco de ser pega. Talvez não fosse isso mais não podia negar que gostava daquilo, da sensação e de como a fazia lembrar da infância, de quando fugia de noite pra ir, voltar, as festas, de roubar pêssegos no pomar do senhor Keller e de tentar domar os cavalos selvagens.Era estranho vê-lo dormindo tão inofensivo quando qualquer criança, parecia outro e não Orion, quase, frágil e dócil. Essas duas características pareciam tão estranhas a ele que hesitou em se agachar e em resgatar a flecha.
Tudo era escuro, o negro repousava sobre o mundo como uma camada intrínseca embrenhado em tudo. Assim era a escuridão, sólida e de uma sensatez nata que mantinha tudo em seus braços, feito qualquer egoísta. Tudo era seu e ninguém tinha o direito de tomar nada, de trazer luz para o que era seu por direito, por latrocínio ou mérito de pilhagem. Assim estava Orion fitando o nada que mais parecia o fim do mundo. Não havia céu e tão pouco chão, só a escuridão que escondia o mundo sobre sua face.Era estranho não ter pra onde ir, não saber aonde poderia parar e tão pouco não ter um objetivo. Pra onde olhasse só havia as trevas, não tinha porque andar e tão pouco motivação pra continuar. O escuro era tão sombrio que engolia tudo até mesmo a vontade de ser e de estar aonde quer que fosse. Aos poucos se sentia diminuto, minimizado e pequeno de maneira que se curvava a ideia de ficar ali, como água parada se embrenhando a terra, dando origem a lama e
Toda vez que a fitava ele podia ver o próprio reflexo nas ires manchadas pelo cinza, pela neve e pela própria desconfiança. Podia ser confundido com qualquer outra coisa mais não parecia rancor, era mais um ódio incontido, uma raiva por não poder negar uma pequena verdade. Ele a teria matado se não tivesse visto a escuridão dentro de si, seria tão fácil e rápido que quando desse conta Endrelina já estaria no chão entregue a morte. Uma parte dele faria sem pensar duas vezes, sem questionar e de fato teria aquilo como certo. Mas para não dar o braço torcer manteve a lâmina enquanto ela afastava a garganta o mais rápido que pode. Orion não queria ceder ao que havia dentro si, não queria ter medo mais tinha.As dúvidas invadiam a mente sem pressa, c
A pressa aliada da ansiedade a impediram de se afastar como queria, de maneira rápida e concisa. Endrelina não se deu conta quando escorregou no gelo caindo de costas de tanta surpresa, ou como o medo a conduziu de forma tão espalhafatosa ao seu canto. Tropeçou duas vezes em uma pedra que só estaria em sua mente e não entre seus passos, rolou no gelo se cobrindo de neve lamacenta e quando finalmente chegou da onde nunca deveria ter saído o encarou. Isso não importava contanto que estivesse viva e algo dentro dela jurava, a si mesma, que nunca mais faria aquilo, exceto se fosse preciso. “Alguns riscos sempre seriam menores que suas recompensas.” Era o que argumentava enquanto tentava suprir a falta de ar, o peito subia e descia de pressa que não percebia o coração martelando as costelas. Ela jurava, sentia os braços da morte em volta de si e toda vez que o fitava não via mais a indiferença estampadas naqueles olhos, apenas o ódio e a raiva que a perseguiam
Faltava mais um dia, o céu estava povoado de nuvens densas tingidas de um negro rubro, profano e intenso, que estava pronto pra cobrir tudo com gelo e neve sem se importar com o que ou quem morreria. A tempestade não ligava pra isso, apenas em cumprir seu desejo de pintar a terra de branco e perseguir aqueles que ousavam contrariar suas vontades. Todos eles morreriam congelados, mereciam isso. Era o que pensava se de fato tivesse algum pensamento.Orion podia sentir o gosto ferroso no fundo da boca, e algo nele tinha plena certeza que era sangue mais não estava sangrando. Não demorou muito pra que o sabor se transformasse em muco e isso mesclado a saliva se tornou um líquido negro que tingia os dentes e escorria no canto dos lábios os deixando rubros. “Quanto maior o alívio mais perto da morte” o aviso nunca parecia ter mais sentido do que naquele instante. Ele podia sentir os ossos doendo, se esfarelando a cada passo, o sangue fervendo
Era estranho o se calar, o fato de ficar em silêncio, erapor si só tão avassalador que a fazia pensar não no mundo, não no problema, masno que havia dentro de si. E por isso encontrava os erros por trás dasperguntas, as falhas da armadura e por fim o vão devaneio de achar que tudoestava certo. Parte dela queria saber aonde estava ele? O que o fez partir?E por fim porquê nunca voltou pra casa? Era raramente que admitia que havia umproblema, que sentia falta ou que queria saber dele. Já que a maior partesempre assumia que um pai nunca faria falta, fazia falta ou fez falta. Nãoprecisava dele. Não queria pensar nele, só precisava perguntar por qualquer coisa,deixar outra questão no ar enquanto essa ainda pairava sobre ela.Era assim que o a céu era pra Endy, uma massa cinza,
Não podia ser verdade. Não era real. Não podia ser?! Era o que Endy pensava tão alto que ouvia as perguntas se transformando em palavras perdidas em duvidas. Era dessa maneira que os olhos cheio de incertezas se enchiam de algo novo e assustador. Uma surpresa tirânica que arrancava todas as outras dúvidas, perguntas ou fosse o que fosse dos pensamentos. Não havia espaço pra tudo apenas para aquela questão, que os olhos impunham a mente. “Aquilo é real?”No gelo um corpo quase sem pele, uma caveira mal coberta por roupas velhas, perfeitos trapos surrados pelo tempo. Uma pobre alma vítima da má sorte ou do insano desejo de atravessar a grande armadilha, mas não podia fazer nada já estava presa tempo demais pra poder ajudar. Os ossos brancos se destacavam no gelo azulado, as costelas a mostra protegiam um coração pútrido, decadente e que sem sombra de dúvida estava parado do mesmo jeito que aquele ser estava morto. Foi quando ele se mexeu, a mandíbula desceu e su
Não era doloroso perceber que estava morrendo, sentir ar queimando os pulmões ou notar o quão difícil era dar o próximo passo. Estranho mesmo era a leveza que Orion aceitava aquilo. Não havia por que lutar, só restava ceder aos braços da morte que envolvia seu corpo da mesma maneira que não estava preso... a nada. Era um toque suave e caloroso, como o de uma mãe segurando seu filho. Era assim que se sentia mesmo não sabendo o que era isso. Ele podia notar que o desespero não batia a sua porta, não havia medo apenas uma questão: “O tinha do outro lado?”Não seria um devaneio bobo que o manteria acorrentado ao mundo, um desejo fosco e sem vida de ajudar alguém, ou de ser útil, e nem sua dívida o prenderia. Não tinha um porquê, um pra que na verdade de ainda estar ali. Só queria continuar, ir ao limite do máximo, dobrar o infinito era tão impossível quanto se manter vivo. Por isso se concentraria no próximo passo. Não era algo grandioso, inalcançável ou utópico, mas