O garoto sabia que as colunas e as runas faziam parte de algo maior, porém o resto da construção não existia mais, reduzido apenas a uma montoeira de destroços e neve. As inscrições por todos os lados se perdiam em uma confusão de traços, linhas e desenhos que Orion nunca compreenderia, pelo menos não agora e muito menos com o escasso tempo, só serviam pra confirmar que de fato existiam mais segredos do que ele poderia descobrir no momento. Tudo que precisava estava ali. A lua cheia, o vento vindo dos quatro cantos, a runa brilhando constantemente e as pilastras canalizando a magia. A sua única função era fluir água e um pouco de mana para que todo o conjunto fizesse o resto. O caçador não passava de uma peça improvisada que uma hora ou outra quebraria durante o processo, mas ele não podia se dar o luxo de pensar nisso, não agora.
Infelizmente era um trabalho demorado e que lentamente fazia as palmas ganharem um tom azulado a cada flecha encantada, sendo um sucesso
Ela não percebeu quando o caçador se levantou, resgatou sua flecha ou a fitava um andar acima. Tudo que se dava conta era que estava mais perto da parede verde e que linhas surgiam, dela, rasgando o musgo criando símbolos, palavras e desenhos complexos, transbordando algo das rochas a sala. Havia alguma coisa no ar, era mágico, quente e a atraia tanto que não se deu conta que ele a chamava.- Endrelina. - Era um ruído fraco, distante como se, a voz, atravessasse a água, parecia abafada e embargada. – Endrelina.Ela podia sentir os esporos tocando a pele, a temperatura do corpo aumentar e todos os músculos vibrarem felizes para realizar o desejo que se repetia cada vez mais forte, mais importante e mais crucial do que nunca. Tudo girava em torno do pensamento que parecia mais seu, não era uma ambição utópica bastava andar e estender o braço para tocar a rocha e estaria feito, realizada, feliz e satisfeita como nunca. Como poderia ficar extasiada com tão pouco ou com um si
Parte dele não queria acordar, levantar ou continuar andando, só queria ficar aonde estava aproveitando a sensação do calor invadindo o corpo, como uma corrente de ondas umas após a outra, aquecendo a pele, relaxando os músculos e descongelando os ossos, dormentes. Mas ele se recordou da dívida que tinham com ela, de onde estava e da situação que se tornava cada vez mais preocupante e foi isso que o fez abrir os olhos. Antes mesmo que as pálpebras revelassem a noite, ou a luz do luar fizesse as pupilas se dilatarem, a dor o acolheu em seus braços cobertos de pregos e com prazer o apertava com força, o sufocando e o torturando aos poucos. Ela era uma sádica que adorava espezinhar as pessoas, mas tinha um prazer mais sórdido quando a vítima era Orion que a encarava com sangue nos olhos prometendo não se curvar as suas vontades e essa valentia a cativava.A escuridão se revelou em um emaranhado de fios sobre os seus olhos. Os rosto estavam quase colados e como uma voz distante, e
Não demorou muito pra que Endrelina dormisse, fosse o cansaço ou a culpa os dois a esgotaram tão rápido que quando seu deu conta já estava agarrada no pelame de Surg. Era macio, confortável, quente e sem perceber um dos sacos de pele passava de travesseiro a um pequeno corpo que abraçava com força e afinco, em busca de algo familiar. Ainda que percebesse e não quisesse notar ela sentia saudade de casa, de ter a barriga cheia de qualquer iguaria do reino, das roupas leves que só o calor permitia usar e claramente da expressão compassiva da mãe na qual um sorriso descansava com calma, como se fosse natural a todas as mulheres, e entregando uma mensagem silenciosa que ela sabia de cor: “Eu te avisei”Orion ainda lutava contra o que sentia, porém seu maior inimigo não era a escolha e tão pouco ele mesmo, era a dor que agredia seu corpo enquanto removia a camisa para se dar conta da proporção do novo estrago. Se o gelo fez algo de bom foi coagular o sangue de suas ferida
Foi de súbito que saiu da escuridão à luz. No começo não havia nada, apenas um ruído baixo, suave e melancólico que dizia tudo que poderia saber. Se não era o vento era o som de algum inimigo, predador ou forasteiro. E o que essas possiblidades tinham em comum? Senão a morte e a luta pela sobrevivência. E com essa ideia ela foi arrancada dos sonhos, da vastidão do breu do qual não se lembrava de nada. Ofegante, com um grito atado a garganta, e com o coração cavalgando no peito ela acordou.No horizonte o cinza e o branco se fundiam de uma forma única em que alguns momentos pareciam uma só coisa, devorando a cordilheira, apagando as montanhas e disfarçando as nuvens sobre sua cabeça. As costas as rochas cresciam como densas muralhas a protegendo do frio e no largo círculo havia ele é suas coisas do outro lado.Ela ergueu a cabeça esgueirando os olhos ao lado de fora das pedras, em busca de alguma resposta, porém, só houve o vento penetrando os os
O corpo tremeu e os olhos não acreditaram no que estavam vendo. Restava uma flecha, o único problema era onde estava e como faria para tira-la. Como um rato em busca de comida Endrelina se aproximou, o gelo ruía feito vidro quebradiço embaixo dos seus pés, um sorriso tenso desenhava o rosto enquanto rugas delineavam a testa e tingiam as sobrancelhas, curvas, de inquietação. Havia algo de gostoso na tensão que vergava os lábios feito um arco, no perigo e claramente no risco de ser pega. Talvez não fosse isso mais não podia negar que gostava daquilo, da sensação e de como a fazia lembrar da infância, de quando fugia de noite pra ir, voltar, as festas, de roubar pêssegos no pomar do senhor Keller e de tentar domar os cavalos selvagens.Era estranho vê-lo dormindo tão inofensivo quando qualquer criança, parecia outro e não Orion, quase, frágil e dócil. Essas duas características pareciam tão estranhas a ele que hesitou em se agachar e em resgatar a flecha.
Tudo era escuro, o negro repousava sobre o mundo como uma camada intrínseca embrenhado em tudo. Assim era a escuridão, sólida e de uma sensatez nata que mantinha tudo em seus braços, feito qualquer egoísta. Tudo era seu e ninguém tinha o direito de tomar nada, de trazer luz para o que era seu por direito, por latrocínio ou mérito de pilhagem. Assim estava Orion fitando o nada que mais parecia o fim do mundo. Não havia céu e tão pouco chão, só a escuridão que escondia o mundo sobre sua face.Era estranho não ter pra onde ir, não saber aonde poderia parar e tão pouco não ter um objetivo. Pra onde olhasse só havia as trevas, não tinha porque andar e tão pouco motivação pra continuar. O escuro era tão sombrio que engolia tudo até mesmo a vontade de ser e de estar aonde quer que fosse. Aos poucos se sentia diminuto, minimizado e pequeno de maneira que se curvava a ideia de ficar ali, como água parada se embrenhando a terra, dando origem a lama e
Toda vez que a fitava ele podia ver o próprio reflexo nas ires manchadas pelo cinza, pela neve e pela própria desconfiança. Podia ser confundido com qualquer outra coisa mais não parecia rancor, era mais um ódio incontido, uma raiva por não poder negar uma pequena verdade. Ele a teria matado se não tivesse visto a escuridão dentro de si, seria tão fácil e rápido que quando desse conta Endrelina já estaria no chão entregue a morte. Uma parte dele faria sem pensar duas vezes, sem questionar e de fato teria aquilo como certo. Mas para não dar o braço torcer manteve a lâmina enquanto ela afastava a garganta o mais rápido que pode. Orion não queria ceder ao que havia dentro si, não queria ter medo mais tinha.As dúvidas invadiam a mente sem pressa, c
A pressa aliada da ansiedade a impediram de se afastar como queria, de maneira rápida e concisa. Endrelina não se deu conta quando escorregou no gelo caindo de costas de tanta surpresa, ou como o medo a conduziu de forma tão espalhafatosa ao seu canto. Tropeçou duas vezes em uma pedra que só estaria em sua mente e não entre seus passos, rolou no gelo se cobrindo de neve lamacenta e quando finalmente chegou da onde nunca deveria ter saído o encarou. Isso não importava contanto que estivesse viva e algo dentro dela jurava, a si mesma, que nunca mais faria aquilo, exceto se fosse preciso. “Alguns riscos sempre seriam menores que suas recompensas.” Era o que argumentava enquanto tentava suprir a falta de ar, o peito subia e descia de pressa que não percebia o coração martelando as costelas. Ela jurava, sentia os braços da morte em volta de si e toda vez que o fitava não via mais a indiferença estampadas naqueles olhos, apenas o ódio e a raiva que a perseguiam