Perspectiva

-- Qual o seu nome? -- Assim que os olhos foram ofuscados uma pergunta já escorria aos lábios. O cansaço já não exista mais e pela segunda vez naquele dia ela sentia como se fosse ela mesma não uma outra pessoa tímida e quieta. 

-- Orion. -- O garoto trazia uma lebre em baixo do braço que se debatia dentro da gaiola improvisada. O animal era lindo de um amarelo queimado adornado com um fucinho negro e os olhos inteligentes buscavam uma fuga prevendo seu próprio fim.

-- O meu é Endrelina mais pode me chamar de Endy. -- Ela não esperava que ele perguntasse de qualquer maneira queria quebrar o silêncio e fazer todas as perguntas que não conseguiu fazer no outro dia. Os olhos dela escorriam por ele sentindo a ausência de algo e ainda acordando do sonho do qual não se lembrava de nada, tornou a perguntar recordando do que faltava. -- O que fez com a tala?

Ela gastou tempo e esforço fazendo o curativo. Ele teria que ter um bom motivo ou pagaria pra ver. O sangue fervia sem ao menos ouvir a respostas e duvidando que haveria uma canalizava mana as mãos enquanto mentalmente balbuciava o feitiço. 

-- Eu tirei. -- Informou degolando o pobre animal de cabeça pra baixo e  rapidamente separava a pele da carne sentado em uma pedra próximo a fogueira.  Atravessou um graveto na lebre morta que serviria de alimento. Ela passou horas conversando com o coelho antes de mata-lo mais ele o fazia de forma tão natural com a lembre que um sentimento de urgência embalado com medo esfriou seu sangue no mesmo instante. -- Suba na árvore não podemos perder mais tempo. -- Ordenou com a faca nas mãos e um brilho frígido nos olhos. 

Ele não pediu por favor e muito menos houve um bom dia, mas obedeceu mesmo assim se perguntando o que ocorreria se não fizesse e algo nela desejou não saber nem agora e nem nunca. Ela ainda tinha muitas perguntas mais permitiu que o silêncio os abraçasse como um grande escudo que certamente não serviria pra nada, porém o usaria mesmo assim. Na esperança que de alguma maneira isso funciona-se.

Ela demorou pra conseguir subir. Os galhos eram lisos, não tinha apoio e as folhas dificultavam a visão sem contar que o tronco desmanchava soltando pequenas lascas. Talvez fosse por isso que escolherá ela. Por ser uma missão quase impossível de escala-lá. 

-- O que fez com eles? -- Os olhos dele encontraram os dela quando se virou para perguntar. A camisa branca estava com alguns respingos de sangue fresco, nos labios era sombra de um sorriso cruel ou sua imaginação brincava com ela, porém o que mais assustava era a pequena faça em seus dedos. Ele faria algo horrível ela tinha certeza disso, mas não tinha o coragem de perguntar.

Ela não precisou se questionar duas vezes pra saber de quem ele estava se referindo e naquele instante agradeceu por estar ali em cima longe de seu alcance, mas em algum momento ela teria que descer. 

-- Eu os enterrei na neve naquele monte. -- Apontou pesarosa enquanto uma pergunta rodava a mente e rapidamente questionava a si mesma.

"Eu terei utilidade depois que descer tudo isso? Eu serei a próxima? Posso confiar nele?  Ele confia em mim?"

Só o tempo darias as respostas pras suas perguntas e sem escolha Endy desceu peles, o saco de dormir,  uma aljava completa,  um arco,  algumas tochas e sacos de carne. Ela pode vislumbra ali encima um esconderijo perfeito ela mesma nunca notaria se não tivesse subido. 

A dúvida ainda pairava sobe a sua mente a instigando e a curiosidade foi crescendo recuando o medo até que teve ousadia de perguntar. Não conseguindo evitar que seus pensamentos se transformassem em palavras.

-- Em quanto tempo você caçou tudo isso? - Essa não era pergunta mais parte dela estava feliz por ao menos ter falado algo e paciente aguardou uma resposta que nunca poderia vir. 

-- Em onze dias. -- Respondeu ele sem olhar para ela compenetrado no que fazia. 

Ele a fitou por cima do ombro e um arrepio desceu a espinha dela congelando o ar de seus pulmões quando os olhos se encontraram de novo. Mais uma vez ela pensou em fugir, mas a paisagem mostrou sua triste realidade. Ela não sabia o caminho de volta e só com toda sorte do mundo sobreviveria aquele deserto gelado sem nada, cercada por inúmeras árvores e afundado na neve.

Contra a sua vontade desceu do pinheiro com um salto. Era uma boa queda mais aos seus olhos não tinha outro jeito a não ser se agarrar-se ao tronco e deslizar ao chão,  mas isso certamente não acabaria bem de nem um jeito ela sentia isso em cada fibra de seu corpo por isso pulo desejando que a neve absorvesse o máximo da queda. Mesmo querendo ficar mais um pouco na segurança da árvore seu estômago roncava e o cheiro de carne assada a instigava mais e mais.

Por sorte não torceu os tornozelos embora os joelhos ainda doenssem um pouco. O impacto foi surdo mais nem por isso deixou de chamar atenção de Orion que a fitou por poucos segundos ate se voltar pra frente. Do lado direito da planta a pequena pilha de coisas estava espalhada em completa desordem sobre a neve branca e tudo que podia fazer referente aquilo foi virar as costas decidindo que depois arranjaria tempo agora estaria ocupada enchendo a barriga. 

Conforme foi se aproximando da fogueira o vento morno foi atingindo seu rosto aquecendo as bochechas geladas. As pedras estavam levemente vermelhas e o crepitar das chamas a fez recordar de casa. Agora o calor que ela tanto repudiava lhe fazia falta e os dedos frígidos eram um lembrete que o frio estava a matando aos poucos. Diante dos seus olhos gotas de gordura escorriam da carne e ao atingir as brasas o chiado preenchia o espaço entre eles. 

Endrelina não se sentia tão faminta fazia anos e procurando em sua mente recordou que nunca sentirá tanta fome. Ela desejou cortar uma lasca da pequena lembre, porém isso foi parecendo pouco comparada a sua fome. O único problema era que não tinha como cortar o assado ou um meio de fazer a comida chegar a sua barriga fazia sem queimar os dedos. 

Ela observou ele encostado em uma arvore não muito longe e se não fosse a camisa em péssimo estado e os arranhões em seu corpo. Ela não poderia dizer que uma luta selvagem havia ocorrido a poucas horas atrás e sem perceber o movimento conseguiu ver apenas uma pequena adaga não muito longe de suas pernas cruzadas. Enchendo seus olhos com supresa e algum agradecimento. 

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