CAPÍTULO 23: NO CEMITÉRIO
Aquela manhã que derramava a sua singeleza tinha o esplendor da luz dourada do sol raiando, como uma promessa de um novo dia. O cemitério onde o corpo de Joana de Navarra descansava em paz recebia a visita de Felipe, que queria lhe deixar flores em seu túmulo. Observando aquele gramado, viu um esquilo com o rabinho se mexendo, comendo uma pequena noz e correndo feliz. Ele percebeu que não ficaria ali muito tempo sozinho.Via aquelas estátuas de pedra de anjos e figuras de Cristo e a Virgem Maria, em um lugar contornado pela graciosa longevidade dos carvalhos, trepadeiras e acantos da imortalidade, além de palmeiras.
Do lado da urna funerária da rainha falecida, havia um salgueiro, cujas folhas pareciam derramar suas lágrimas de choro pelas almas que partiram. Ali havia inscrito na lápide o dese
NOTA DA AUTORA Para esta obra de ficção de subgênero folk gótico, contei com a inspiração provinda de um conto folclórico da era medieval, chamado “Os três vivos e os três mortos”. Logo que ouvi uma música medieval chamada Iudicii Signum: L’eterno canto della Sibilla, o que é trazido ao português como “Sinal de Julgamento: O canto eterno da Sibila”, já comecei a imaginar a história. Como eu havia escrito uma peça chamada “As sibilas do destino”, imaginei que ela serviria de influência como se fosse parte do meu universo já imaginado, criando uma extensão para ele, assim como um aprofundamento para a minha peça “A ninfa do lago”. Logo após me inclinei à uma busca pela vida de Felipe IV, o Belo e Joana de Navarra e me baseei em também fatos para criar esta história com a bibliografia “Homens e Mulheres na Idade Média”, de Jacques Le Goff (2013). Para a construção desta contei com a inspiração de obras de
PRÓLOGO: No princípio, Deus criou o Cosmos. Deus deu vida à uma criatura como à sua imagem e semelhança. Ela tinha olhos azuis como cristal da cor dos céus. Seu corpo era branco como uma estátua de mármore. Seus cabelos eram negros como ébano. Ela tinha duas asas gêmeas de pássaro cintilantes em suas costas que reluziam como o brilho do sol. Ela era sublime para servi-lo. Feita para ser imortal, pura e irradiar luz. Ela era o maestro das orquestras celestiais. Seus cânticos eram feitos para agradar o coração do Senhor. Foi um dia que ela se rebelou contra o Altíssimo e ao invés de louvá-lo, exaltá-lo e glorificá-lo, desejou ser mais que o Todo-Poderoso. E aí a História começa. Que queime em teus lábios um hino, Que purifica o espírito sem fim Pois o homem nasceu para lutar contra as Treva
CAPÍTULO 1: FELIPE IV, O BELO “Sempre quis ouvir uma música que extasiasse meus sentidos e me conduzisse a um lugar encantado.... Imagino que lá as corujas com um par de olhos tão reluzentes quanto as clareiras noturnas cantem, e, criaturas inimagináveis dancem e sussurrem palavras em nossos ouvidos, até alguém ousar pressagiar aquilo que elas querem dizer. Já sonhei com uma que só pode estar pintada em livros raros: ela parecia um animalzinho de corpo magro com uma longa cauda como a de um marsupial; lembrava um pouco um felino, uma espécie de lobo-da-tasmânia, porém com olhos grandes e bem arredondados como os de jaguatirica, mas os dedinhos de suas patas eram mais alongados.... Não sei dizer o que era, só sei que é tão curiosa a sua beleza, que temo que ela não venha a existir mais.” “De repente, a fantasia se torna um pesadelo quando aquele bichinho desconhecido abre um sorriso e sua boca mostra milhares de dentes
CAPÍTULO 2: A NOTÍCIA No palácio do capetiano monarca, estavam alguns servos da corte cantando uma música chamada Olim Sudor Herculis. As melodias eram singelas e quando tocadas, faziam com que o ritmo acelerasse com aquela letra que retratava a mitologia grega. Os compositores queriam agradar as figuras poderosas com suas obras primas. Ela falava da força de Hércules, de como o seu esforço fora estrondoso para enfrentar tantos monstros, - obstáculos que arruinavam o reino e deixavam vidas em desespero - e falava da perseverança que o trono deveria ter para agir da mesma forma, ao inspirar-se no semideus. Ela dizia: Era uma vez a força de Hércules, Que feriu a cabeça da Hidra temida As pragas invadiram os templos Decepando os mortais. Os brilhos se resplandecem, Quando ele vence a bat
CAPÍTULO 3: O LUTO Só de imaginar o sangue do meu pai derramado.... Isso me corrói por dentro.... Isso inunda a minha alma de repúdio e ira - como um leão que ruge de ódio pelo inimigo e só pensa em destroçá-lo com pura vingança.... Esses malfeitores ainda pagarão pelo que fizeram a ele! – dizia Felipe IV encarando a si mesmo, com tanta fúria que quase deixara seu espelho partido em pedaços. Não pode ser que tenham feito mal a meu pai.... Meu querido pai... Ele se fora... Quinze anos após a morte do meu avô... A partir de hoje me vestirei de negro, ficarei de luto, para indicar que não me esqueci do que aconteceu com ele. Farei o possível para vingar a sua morte! Aqueles infelizes ainda terão o que merecem! Bem que minha me mãe dizia para me acalmar, que o pior poderia vir a qualquer momento, que nunca sabemos do futuro. Ela sempre me dizia que em momentos difíceis, não se deve manter a cabeça quente, deve-se respirar fundo e seguir em frente
CAPÍTULO 4: JOANA DE NAVARRA Queria ver aquela donzela de olhos azuis irradiantes de novo. Queria vê-la de perto. Desde que a vi, minha alma ficou tão petrificada, que eu sentia um delicado desejo que eu alimentava de querer conhecê-la. Mesmo que eu a tenha visto de longe, sua beleza parecia sem igual. Ainda lembro do seu olhar meigo, olhando para o horizonte. Havia um semblante que me gerava tanta curiosidade, que eu me sentia atraído só no meu primeiro olhar. Eu imaginava o seu perfume e desde então, sua imagem aparecia em meus sonhos. Eu sentia que queria tocá-la, sentir o seu beijo doce, de mel, mas eu temia que ela pudesse escapar de mim. Eu a via em minhas fantasias com aqueles olhos de cristal da cor dos céus olhando em minha direção: era quase como se ela esperasse por um sinal, que eu fosse conhecê-la, que eu a agradasse com minha amizade sincera. Minhas manhãs já pareciam mais coloridas ao lembrar daq
CAPÍTULO 5: O CASAMENTO Era o final do ano de 1284. Joana de Navarra havia recebido a declaração de amor de Felipe IV. Eles pretendiam se casar com todo o requinte e aparatos possíveis, afinal ela era herdeira do trono de Navarra e ele estaria no trono no ano seguinte. A igreja escolhida foi a de Saint-Denis para a cerimônia de casamento. Joana de Navarra vestia um vestido branco de casamento, símbolo de castidade. Suas mangas longas quase se arrastavam pelo chão. Usava sua coroa de ouro e pedras preciosas, joias em torno do pescoço e um véu escuro transparente de seda pura, além de um cinturão decorado com ornamentos em forma de flores de pérolas. Os músicos se amontoavam tocando belas melodias para o grande momento, enquanto havia um burburinho do povo que queria assistir curioso ao evento. A igreja estava repleta de decorações riquíssimas exalando o cheiro suave das jasmins brancas. Felipe, o Belo, vestia-se
CAPÍTULO 6: A HERDEIRA As folhas alaranjadas secas caíam das árvores com o sussurrar tímido do vento. O céu diante do Castelo de Fontainebleau estava levemente cinzento, as nuvens pareciam mais próximas do lugar, deixavam o ar de conto de fadas daquele lugar mais sombrio, parecia que algo se escondia por detrás das árvores. Alguns rumores diziam já terem enxergado até vultos saindo da casa nobre. Não era de se impressionar que mais um dia daqueles levaria a corte ao seu auge, talvez, como alguns desejavam. O salão nobre aguardava pela presença dos seus reis. Joana Navarra sobe ao trono junto à Felipe, o Belo. Herda o trono de Navarra e o condado de Champagne. Naquele dia um sol suave irradiava pelas vidraças de cristal do Palácio dos novos reis da França. Uma pintura do casal é colocada nas paredes de seu suntuoso quarto, naquelas divisórias decoradas com esculturas de musas que pareciam tão reais que quase as co