CAPÍTULO 16: A ÁRVORE
O rei decide perder o medo e se adentrar de novo a descobrir mais sobre o que há na parte subterrânea do castelo. Ele sabia que havia deixado uma das portas abertas desde a última vez que lá entrara. E com aqueles ruídos estranhos e eventos inexplicáveis que lhe ocorreram, ele parecia ter encarado um lobo faminto numa mata fechada e tinha se amedrontado mesmo estando vestido com armaduras de cavaleiro.
Desta vez as vozes não haviam lhe chamado. Foi sua própria vontade que foi despertada para entender aquele enigma. Ele pensava: “Como pode um castelo desses ser amaldiçoado? Eu devo estar vendo coisas... Com certeza o homem não tem todas as explicações para aquilo que foge do entendimento natural das coisas”.
Felipe sabia que aquilo poderia lhe trazer complicações, por isso não revelava a ninguém o seu segredo para não sentir mais pânico. Não poderia confiar em ninguém, nem mesmo e
CAPÍTULO 17: A CATACUMBA O rei se via como um alvo do mundo depois da revolta do reino contra ele. Precisava se acertar consigo mesmo. Precisava enxergar a sua vitimização. Mas os sons que desta vez tinham cor não eram mais apenas sons, eram espécies de guias mentais, lhe pedindo para o conduzirem para um lugar onde ele já via como um refúgio. Para Felipe, viver na corte trazia uma ilusão maravilhosa, de que ele era feliz com quanto mais coisas palpáveis tinha, pois tinha tudo o que queria, mas ele também pagava um preço alto pelo que conquistava. Agia como uma criança mimada e egoísta que só queria todos os brinquedos do mundo para si, que ao invés de espírito de fraternidade com os demais, queria que os outros os servissem, ao invés de os outros servir, como o exemplo de Jesus. Acontece é que ele tinha uma grande sensação de vazio em sua vida e apesar de ter tudo e mais um pouco, nada o satisfazia. Ás vezes passava p
CAPÍTULO 18: A NAU Era outra tarde de primavera em que as flores pareciam estar implorando no jardim do castelo para serem beijadas pelos pequenos beija-flores. Algumas abelhinhas zanzavam por ali querendo provar do seu doce néctar. Os criadinhos faziam a jardinagem podando os galhinhos longos dos arbustinhos. A fonte parecia cantar um som sábio ao deixar escorrer suas águas. Os passarinhos entravam na melodia simpática da natureza e se alimentavam das sementes jogadas pelos servos do rei. Enquanto isso, Felipe cochilava em seu quarto. Sonhava com uma embarcação antiga em meio à uma mar bem cujas ondas eram tão avermelhadas que aquilo parecia até fogo debaixo de um céu bem acinzentado, ou lágrimas de sangue pinceladas pelas mãos de Deus naquela paisagem com tons sombrios. Ela estava envolta por rochas também carmesim e havia uma névoa. Havia uma sutil luz vinda do clarão dos céus, e havia uma luzinha vermelha vinda no
CAPÍTULO 19: A FLORESTA ESQUECIDA “Iudicii Signum” ... – uma voz bem clara é ouvida dentro da mente de Felipe, enquanto ele dorme. Era quase como um sussurro etéreo e pueril. Depois de ter a impressão de ter estado em outro lugar e não saber como havia parado lá, ele levanta da cama e pensa estar sonhando acordado. A primeiro pensamento que lhe vem à mente é que ele deve entrar na passagem secreta do castelo e desvendar o que há por detrás da última porta que ainda não havia sido aberta. Ao entrar naquele corredor todo escuro, vê aquela passagem com uma grade de ferro e um pesado cadeado a trancando. Ilumina com a sua lamparina melhor e vê um aviso dizendo nela “entrada proibida”. Logo seu coração palpita um pouco e ele sente um nervosismo. Um receio invade seu estado de espírit
CAPÍTULO 20: O DEMÔNIO No meio da escuridão do bosque espesso, onde acima o arco prateado da lua descansa, aparece um ser reluzente com uma capa preta longa que cobre seus braços, que saiu de um esconderijo atrás de uma árvore de caule grosso. Sua tez é esbranquiçada, tem olhos grandes que pareciam duas joias azuis de cristal brilhantes com uma beleza simétrica; lábios um tanto finos e corados, com um deslumbre modesto; um nariz pequeno e com linhas sutis e uniformes parecendo uma escultura de deus grego de marfim, raro de se ver; seu formato de crânio bem modelado, que traziam uma impressão de que ele era um ser tão delicado quanto um anjo. Seus cabelos eram brancos como a neve e lembravam a suavidade de uma pluma. Apesar de parecer algo completamente trivial para Felipe, lhe dava vontade de encostar nele para saber se ele era real. Só não o fez porque aquilo poderia lhe ser indecente demais, ainda mais porque se tratava de um homem e isso lhe seria um tant
CAPÍTULO 21: A CANÇÃO ETERNA O rei se encontra dormindo em seus aposentos. Tem um sono profundo acompanhado por uma música já ouvida aparentemente somente por ele mesmo antes em algum outro momento. Enquanto está de olhos fechados, em seu sonho, aparece um anjo. Ele veste uma roupa branca cheia de esplendor. Suas asas de querubim são brancas como a neve, seus cabelos são tão finos, macios e brilhantes quanto teias de aranha. De seu corpo aparece uma luz tão luminosa que chegava quase a cegar suas vistas. O anjo benevolente fala com ele com uma musicalidade tão notória, com palavras tão tenras que aquilo lha trazia uma sensação de conforto, paz e harmonia. Chegava a sentir uma energia morninha em seu corpo, de uma maneira inexplicável. Era como se sua sensibilidade tivesse aumentado e ele sentisse uma presença protetora do bem de verdade que o animava, que o deixava alegre. Quando Felipe toma consciência do sonho e enxerga a imagem níti
CAPÍTULO 22: A POESIA DOS SONHOS O rei Felipe IV, o Belo, depois de ter tido uma experiência transcendental onírica e uma semente de uma flor plantada em sua consciência ao ter encontrado o antigo testamento da sibila Tiburtina em seu castelo, tomado por um orgulho de ser considerado um defensor da fé que aumentou as peregrinações em seu reino, agora podia renunciar a sua condição de miserável. O sujeito procura o monge que tinha encontrado no templo em ruínas para tentar desvendar o enigma do seu sonho. – O que eu tenho para lhe contar, meu senhor, por favor, que não seja desprezado. Pelo contrário, merece muita atenção. Eu com medo de me dizerem eu ser supersticioso, me deixou muito aflito.... Acontece que eu penso ter sido amaldiçoado, mas por um outro lado, abençoado: já vi anjos dentro de uma igreja e esses dias, sonhei com um deles. Eu o vi cantando uma canção chamada “Iudicii Signum” ... Ele dizia esta canção ser imo
CAPÍTULO 23: NO CEMITÉRIO Aquela manhã que derramava a sua singeleza tinha o esplendor da luz dourada do sol raiando, como uma promessa de um novo dia. O cemitério onde o corpo de Joana de Navarra descansava em paz recebia a visita de Felipe, que queria lhe deixar flores em seu túmulo. Observando aquele gramado, viu um esquilo com o rabinho se mexendo, comendo uma pequena noz e correndo feliz. Ele percebeu que não ficaria ali muito tempo sozinho.Via aquelas estátuas de pedra de anjos e figuras de Cristo e a Virgem Maria, em um lugar contornado pela graciosa longevidade dos carvalhos, trepadeiras e acantos da imortalidade, além de palmeiras. Do lado da urna funerária da rainha falecida, havia um salgueiro, cujas folhas pareciam derramar suas lágrimas de choro pelas almas que partiram. Ali havia inscrito na lápide o dese
NOTA DA AUTORA Para esta obra de ficção de subgênero folk gótico, contei com a inspiração provinda de um conto folclórico da era medieval, chamado “Os três vivos e os três mortos”. Logo que ouvi uma música medieval chamada Iudicii Signum: L’eterno canto della Sibilla, o que é trazido ao português como “Sinal de Julgamento: O canto eterno da Sibila”, já comecei a imaginar a história. Como eu havia escrito uma peça chamada “As sibilas do destino”, imaginei que ela serviria de influência como se fosse parte do meu universo já imaginado, criando uma extensão para ele, assim como um aprofundamento para a minha peça “A ninfa do lago”. Logo após me inclinei à uma busca pela vida de Felipe IV, o Belo e Joana de Navarra e me baseei em também fatos para criar esta história com a bibliografia “Homens e Mulheres na Idade Média”, de Jacques Le Goff (2013). Para a construção desta contei com a inspiração de obras de