CAPÍTULO 6: A HERDEIRA
As folhas alaranjadas secas caíam das árvores com o sussurrar tímido do vento. O céu diante do Castelo de Fontainebleau estava levemente cinzento, as nuvens pareciam mais próximas do lugar, deixavam o ar de conto de fadas daquele lugar mais sombrio, parecia que algo se escondia por detrás das árvores. Alguns rumores diziam já terem enxergado até vultos saindo da casa nobre.
Não era de se impressionar que mais um dia daqueles levaria a corte ao seu auge, talvez, como alguns desejavam. O salão nobre aguardava pela presença dos seus reis. Joana Navarra sobe ao trono junto à Felipe, o Belo. Herda o trono de Navarra e o condado de Champagne. Naquele dia um sol suave irradiava pelas vidraças de cristal do Palácio dos novos reis da França. Uma pintura do casal é colocada nas paredes de seu suntuoso quarto, naquelas divisórias decoradas com esculturas de musas que pareciam tão reais que quase as co
CAPÍTULO 7: TEMPOS DE GUERRA Naquele dia, diante do castelo de Fontainebleau, se reúnem os principais servos da corte e seus cavaleiros para ouvir o discurso de Felipe IV. No céu cantavam apenas duas andorinhas. Parecia que estava tão nublado, que o dia se derramaria em chuvas. O vento soprava um pouco gélido e alguns servos mais pobres até se encolhiam de frio. Outros vinham de longe para ouvir o que o rei tinha a dizer, mas só por curiosidade. Uma pequena serração escondia os corpos do povo mais longínquos da sua entrada. A imagem de Felipe era muito respeitada. Ele se vestia com todo o luxo possível. Usava um medalhão no pescoço herdado do seu pai. Muitos não sabiam que ele tinha pertencido aos árabes muçulmanos e que havia boatos que ele poderia trazer confusão ao reino: mais precisamente tinha ligação com o acordar de bestas que até então povoavam o imaginário das mentes daquela multidão. Ele usava a joia
CAPÍTULO 8: LUTA SEM TRÉGUA Felipe acorda no túnel escuro, a lamparina havia apagado. Ele precisava sair dali para não ser descoberto por ninguém. Parece que tinha tido um sonho. Não conseguia se lembrar muito bem do que havia ocorrido. Só pensou que tinha visitado um lugar desconhecido e ao mesmo tempo, familiar. Mas algo ele pressentia: que qualquer coisa inexplicável havia acontecido. O que iriam dizer se eu lhes contasse a verdade? - pensou. Seria cruel se a Igreja lhe apontasse como herege ou algo do tipo. Seria fatal revelar a sua vivência para os demais. Ele tinha que esconder de tudo debaixo de sete chaves e de todos o que havia descoberto. Viu que precisava voltar a abrir a porta falsa do cômodo para sair dali e deixar o porão secreto sempre trancado para que ninguém movido por uma curiosidade atordoante, visitasse aquele lugar, que poderia ter belos tesouros. Sabia que constantemente, voltaria ao lug
CAPÍTULO 9: A REBELIÃO Não demora muito e diante da crise, a população fica descontente com o reinado de Felipe. Os impostos estavam muito altos. Havia fome e miséria pelas consequências da guerra. O povo age com sua rebelião e um camponês se levanta no meio da multidão: – O trabalho de nossas mãos nutrem os perversos e os preguiçosos! Os poderosos tiram proveito de nossas árduas conquistas e só nos deixam passar necessidade! Impostores! – ao seu redor estavam muitos outros observando a tudo, se unindo para um protesto na frente do Castelo Fontainebleau. Ouviam-se gritos de insatisfação contra Felipe e seus súditos. Os cavaleiros e escudeiros do rei se posicionam na frente da grande porta do castelo, impedindo a passagem dos revoltosos, que ameaçam atirar pedras naqueles soldados e incendiar objetos. Alguns dos trovadores fazem uma cantiga de maldizer ao rei: – Ah, você, seu rei danado! No inferno será condenado! Se aqu
CAPÍTULO 10: O HISTORIADORDepois que a situação de rebelião passou, Felipe IV é apresentado a um historiador e dramaturgo chamado Michelet. Este sujeito o aconselha a tomar uma decisão melhor para lidar com os problemas políticos.– Vossa Majestade! Com todo o respeito! Mas eu só trago boas novas em meio à tanta obscuridade... – disse o dramaturgo se curvando à imagem do soberano.– É mesmo, meu caro Michelet?– Isso mesmo, ó grande rei! Ao reunir alguns arquivos da minha existência, viajando por toda a França, me deparei com algo que deixaria qualquer um de queixo caído e de boca aberta! O teatro tem sido tão desvalorizado por muitos, que a vida e a morte nem mais fazem mais tanto sentido para mim... E pense bem, olhe para essas almas se vivem ou apenas existem? Mal s
CAPÍTULO 11: O FESTIM Era um grande feriado após o Natal. Uma multidão se reúne na frente da Catedral de Notre-Dame de Paris, toda enfeitada de guirlandas de flores e faixas coloridas, repleta de velas acesas para uma comemoração. Estavam presentes todas as classes do reino, junto com o rei e seus conselheiros. Mendigos vinham de longe espiar para ver se não conseguiriam algumas sobras do banquete. Os eclesiásticos vestiam seus trajes vermelhos. – Respeitáveis senhores que me dão ouvidos, é com alegria que neste dia faremos uma homenagem ao jumentinho que carregou Jesus na sua entrada em Jerusalém! Vamos celebrar! Sejam bem-vindos à festa dos bobos! – diz o padre. Havia um coro cantando em júbilo cantos gregorianos para a encenação teatral. Apareceu um jumento carregando um sujeito representando Jesus. – Eis que Deus derruba os poderosos de seus tronos para coroar os humildes de coração! – disse u
CAPÍTULO 12: O TEMPLO A guerra havia dizimado muitos, fez derramar sangue inocente. Foi cruel a ponto de devastar cidades e deixá-las na miséria. Uma das catedrais francesas havia sido alvo de conflitos. Ela tinha sido incendiada como uma forma de repúdio dos inimigos. Só sobraram suas ruínas. Suas pedras destruídas indicavam que aquele templo havia sido um palco de massacre. As cores do local antes intensas e vibrantes agora estavam pálidas e cinzentas. O grande vitral, fruto de tanto esforço, sensibilidade e imaginação estava em pedaços. Em seu belo desenho cheio de imagens religiosas havia uma enorme ruptura que deixaria cicatrizes profundas na memória do povo. Aquele ambiente destruído afetaria o bem-estar mental de muitos. Um símbolo fora perdido no tempo, só restaria sua imagem fantasmagórica. Suas canções seriam lembradas caso os monges conseguissem recuperar os livros de hinos. Até algumas estátuas ainda estavam de pé. Algumas cruzes estavam ainda ali do lado de fora
CAPÍTULO 13: BATALHA DAS ESPORAS DE OURO O Rei de Ferro realmente ainda possuía um coração duro como metal. A vida realmente não lhe era um conto de fadas. Surge a batalha das esporas de ouro por um motivo simples: a propagação da fé católica. Felipe queria conquistar novos territórios alheios para ter seus tesouros usando a fé cristã como desculpa. Queria acumular mais riquezas e espalhar novas Igrejas pelos territórios para aumentar o seu poder. Ele agia sem escrúpulos, como se fosse invencível e acreditava que tinha que deixar muito sangue derramado pelas suas ambições. Realmente, aqui uma sabedoria é pregada: se existisse um bicho de sete cabeças, um monstro tenebroso que guardasse um reino repleto de tesouros brilhantes, o homem se reuniria com outros de seu mesmo nível de pensamento para fazer a carnificina da besta e comemoraria ao cortar a sua cabeça. O ser pecaminoso se volta para a cobiça e não há quem o poss
CAPÍTULO 14: EM AGNANI Era já o início da primavera. Mas aquele dia não era um dia de muitas cores muito vibrante, mas de tons empalidecidos. Estava até agradável a atmosfera, tranquila e calma naquela cidade silenciosa, que mal fazia parte do mapa, de tão vazia que parecia. Uma carruagem de homens armados se adentra no condado de Anagni, sigilosamente. Não havia movimento, mal se ouvi o chilrear dos pássaros naquele lugar. Era como se uma lenda sobre uma maldição tivesse se firmado naquele local. As árvores estavam com caules tão desgastados, que aparentemente o local envelhecia. Poderia ter sido auge de muitas guerras passadas ou de pestilências e muito terror. Uma senhoria de aparência humilde observa tudo de dentro de sua casa do povoado através de uma janelinha. Ela fica paralisada de curiosidade ao se deparar com aqueles cavalos de pelagem negra cintilante, tão belos e bem cuidados, cheios de ornamentos. Aquilo e