ISABELLA
Chegamos à imprensa junto com meus irmãos. Papai, vovô e tio Lucas sempre chegavam mais cedo. Assim que entramos, Otto se virou para mim, os olhos carregados de reprovação. — Onde você estava, irmã? Mamãe ficou louca por não te achar no quarto. Revirei os olhos, já esperando essa cobrança. — Mamãe tem que aprender que somos maiores de idade e não precisamos dar satisfação de cada passo que damos. Avisei a Gianna que estava saindo e pedi para ela contar à mamãe quando acordasse. Meu tom era firme, intransigente. Minha relação com dona Melissa nunca mais foi a mesma desde que descobri toda a verdade. — Ela só quer ter certeza de que você está bem — Otto rebateu, com a paciência de quem sempre tenta defender o indefensável. — Não é porque você é o puxa-saco dela, Otávio, que eu também devo ser — respondi, cruzando os braços. — Eu estava segura com meu armário particular. Ela sabe disso, e não precisa de mais informações. Apontei para Marcello, que nos acompanhava de perto. — Verdade — Livia concordou, suspirando. — Mamãe está cada vez mais controladora comigo e com Isabella. Ela acha que não somos capazes de lidar com o nosso trabalho e a vida que escolhemos. Isso está começando a ser sufocante. — Sei bem como é... — Owen murmurou, achando que não ouviríamos. — Dona Melissa que se vire com seus medos. Eu vou viver minha vida do jeito que acho certo. Se não for do agrado dela, paciência — finalizei, encerrando o assunto e entrando no elevador. A reunião durou exatas duas horas. Traçamos a estratégia para transportar nosso carregamento de armas de Chicago para Nova York. Definimos quando seria enviado soldados extras para fortalecer nosso exército no combate contra os russos. Meu treinamento com os novos recrutas foi discutido e, claro, começamos a planejar o momento certo para o primeiro ataque. — Nosso infiltrado disse que Petrov ainda não investiu contra nós porque não teve a confirmação de que dona Melissa está sob nossa proteção — Owen informou. — E nem terá. Nossa mãe não sai do condomínio — Oliver garantiu. Meu pai permaneceu em silêncio por um instante, depois disse: — Mas seu avô não vai esperar para sempre. Precisamos atacar primeiro. Soltei uma risada sarcástica. — Quanta honra ter um avô desses. O primeiro presente de Natal que ele nos dá é uma tentativa de ataque. Uhul! Valeu, vovô. Todos riram, e Livia completou: — Pelo menos não são meias. Depois da reunião, fui para minha sala. Meu escritório ficava de frente para o Central Park, e eu passei um tempo observando as pessoas. Algumas corriam apressadas, outras aproveitavam o dia, indiferentes ao caos que se desenrolava em nosso mundo. Era estranho pensar em como tudo havia mudado tão rápido. Mas observar a vida lá embaixo, fluindo normalmente, me acalmava. Às vezes, tudo que precisamos é parar, respirar fundo e clarear a mente. Uma batida na porta me tirou dos pensamentos. — Filha, posso entrar? — Era meu pai. — Claro, pai. Me afastei da janela e sorri ao vê-lo entrar segurando dois saquinhos. — Meu amor, você saiu tão cedo que nem tomou café da manhã, garanto. — Ele colocou os pacotes sobre a mesa. — Trouxe chocolate quente e nosso croissant favorito. Meu coração se aqueceu com o gesto. — Obrigada, pai. — O abracei apertado. — Você é o melhor pai do mundo, sabia? — Tento fazer o meu melhor para minha princesinha — ele disse, orgulhoso. Sentamos e tomamos café da manhã juntos, conversando sobre coisas leves. Eu contei como queria decorar meu escritório, e ele adorou minhas ideias. Quando terminou, papai saiu, e eu fui me trocar para o treino com os novos recrutas. Ser capo da máfia exigia responsabilidade. Não era como ser o Don, o subchefe ou o conselheiro, mas ter a confiança deles para exercer esse papel era gratificante. Fui até a sala de treinamento e encarei os recrutas. — Bom dia — comecei, firme. — Me chamo Isabella e serei responsável por treinar vocês para se tornarem verdadeiros soldados da máfia de Nova York. Eles me cumprimentaram em uníssono. — Agora, se alguém aqui nesta sala acha que, pelo meu tamanho, aparência ou pior, por eu ser mulher, não sou capaz de ensinar vocês... — Apontei para a porta. — A saída é bem ali. Silêncio absoluto. — Aqui dentro e, principalmente, lá fora, eu exijo respeito, igualdade, dedicação e lealdade. Se alguém não for capaz de cumprir esses requisitos, pode ir embora agora. Ninguém se moveu. — Ótimo. Façam duplas. O treino começou, mas o desempenho deles era ridículo. Na hora do almoço, um recruta chamado Vinícius teve a ousadia de interromper. — Senhora, já está na hora do almoço. Caminhei lentamente até ele, parando a poucos centímetros de seu rosto. — É mesmo, Vinícius? — Inclinei a cabeça. — Então é por isso que você está errando esse ataque de forma tão grotesca? Sua cabeça está no almoço? O rapaz engoliu seco. — Vocês só sairão daqui quando me mostrarem esforço. Quero ver o motivo pelo qual foram selecionados para este trabalho. Alguns pareciam assustados, outros determinados. — Marcello, vem aqui — chamei meu segurança. — Posição de defesa. Ele se posicionou, e me virei para Vinícius. — Olhe bem, porque depois quero você fazendo exatamente igual. Ataquei Marcello com precisão. Ele tentou me conter, mas encaixei os golpes perfeitamente, usando o próprio peso dele contra si. Em segundos, ele estava no chão. Os recrutas me olharam espantados. — Usem a cabeça nas lutas corporais — ordenei. — Analise seu adversário. Antecipe os golpes. Não confiem apenas nos músculos, ou não durarão contra um inimigo mais forte. Depois disso, o treino melhorou. Eles ouviram, perguntaram, se dedicaram. — Tá bom por hoje — anunciei. — Vão almoçar. Mas depois, serão avaliados nos tiros. Se acham que sou brava, é porque ainda não conheceram Livia. Saí da sala sorrindo e fui até minha sala, com Marcello me seguindo. — Caralho, Izzy! — Ele riu. — Você foi perfeita. Imponente, mandona... até eu fiquei com medo. — Eles são todos julgadores, Cello. Só me respeitaram quando provei o que eu dizia. — Acham que, por serem filhos de soldados, já têm tudo garantido. — Ele balançou a cabeça. — Você era igualzinho a eles, não era? — Perguntei, saindo do banheiro já vestida. Marcello sorriu de canto. — Eu e Maurício achávamos que ser filhos do grande capitão Murillo Williams nos ajudaria. Mas foi o contrário. Tivemos que provar em dobro que estávamos ali por mérito, não por nome. — Deve ter sido difícil... Mas que bom que você provou ser o melhor. Agora, com 20 anos, é o segurança particular de uma das capitãs mais maravilhosas da família Mancini. — E mais convencida também! — Ele riu. Revirei os olhos e bati no braço dele. — Vai se ferrar, Marcello. Vamos almoçar antes que minha barriga faça um motim. — Melhor mesmo, ou o monstro falante dentro de você vai assustar a empresa inteira. Ri, porque realmente minha barriga roncava muito alto quando estava com fome. seguimos para o almoço onde íamos encontrar minha família no restaurante próximo dali.VIKTOREstou em Nova York há um mês com uma única missão: encontrar Melissa Petrov.Fui designado para isso por um motivo simples,ninguém percebe detalhes como eu. No exército russo, minha especialidade sempre foi a infiltração. Meu trabalho? Me tornar invisível entre os inimigos mais perigosos da Rússia. Fui treinado desde os três anos. Aos nove, executei minha primeira missão e me tornei o melhor executor da Rússia. Aos quinze, aprendi a torturar, sempre consegui as melhores respostas. Aos dezoito, me tornei um sniper letal. Hoje, aos vinte e três, sou o melhor capitão da máfia russa. E não tenho paciência para ensinar idiotas inúteis.É por isso que aceitei essa missão. Eu caço. Eu descubro. Eu encontro.Mas dessa vez, é como caçar um fantasma.Melissa Petrov simplesmente não existe. Rafael e Lucas, os supostos amantes, levam vidas comuns na máfia. Bento, o chefe, segue uma rotina entediante entre casa e empresa. Passei semanas observando cada movimento, cada detalhe. E nada.Sou f
ISABELLA— Irmã, você não vai acreditar! — Lívia chega eufórica, os olhos brilhando de animação.Estamos todos sentados à mesa, esperando pela atrasada da minha irmã. Otto e Owen já bufam de fome, impacientes.— O que você aprontou dessa vez, Lívia? — pergunta Otávio, cruzando os braços.— Cala a boca, moleque, isso é entre mim e minha cópia — ela rebate, jogando os cabelos para trás e se inclinando na minha direção, mal conseguindo conter a empolgação.— Irmã, quase fui atropelada pelo homem da minha vida! — ela bate as palmas, os olhos brilhando de excitação.— O quê?! — minha preocupação dispara. — Como assim "quase atropelada", Lívia?— Izzy, você não tá focando na parte mais importante! — Ela revira os olhos, segurando meu rosto com as mãos. — Eu conheci o homem da minha vida. Lindo, alto, forte, tatuado… ai, Dio mio, que homem! — Ela se abana dramaticamente.Solto um suspiro, já esperando essa reação.— Lívia, esse é o terceiro "homem da sua vida" só essa semana!— Qual é, Isabe
VIKTOREu fui para aquela boate por um único motivo: encontrar uma pista que me leve a Melissa Petrov. Mas, assim que entrei, tudo o que consegui focar foi naquela visão. Ela, a minha pequena, dançando com tanta liberdade e graça, a mesma menina meiga e encantadora que eu adorei conhecer e que não saiu dos meus pensamentos o dia inteiro,mas que agora estava sendo tocada por aquele filho da puta. Algo dentro de mim ferveu instantaneamente, mas, ao invés de perder o controle e acabar assustando minha garota, usei toda minhas forças para não matar aquele verme ali, prometendo para mim mesmo que iria resolver isso mais tarde.Quando voltei os olhos para ela, tudo o que vi foi a sua beleza. Seus olhos, aquele brilho inconfundível, seu rosto angelical e seu jeitinho tímido que me deixava maluco. Mas algo estava diferente, uma dúvida começou a tomar conta de mim: como ela mudou de novo? Como a selvagem e intensa mulher que conheci se transformou nessa versão mais delicada e serena? Essa era
ISABELLAPassei a noite inteira conversando com Viktor. Descobri que está aqui a trabalho, ele é um investigador particular, pelo que entendi. E eu, como não podia contar toda a verdade, escolhi apenas uma parte dela: sou apenas uma garota italiana que se mudou com a família para ficar perto dos avós. Nada mais.Na manhã seguinte, tomo um banho rápido, visto uma calça jeans, uma camisa branca e meu salto favorito. Desço correndo as escadas, já atrasada, mas antes que possa sair pela porta da frente, a voz firme da minha mãe me paralisa.— Isabella, aonde você pensa que vai?Fecho os olhos, respiro fundo e viro para encará-la.— Trabalhar, mamãe. Aonde mais eu iria?Ela me encara com aquele olhar de autoridade que já não lhe cabe mais.— Você está de castigo, mocinha. Não me obedeceu ontem, me desrespeitou e chegou sabe-se lá que horas!Seguro um riso debochado.— Engraçado, porque não me sinto nem um pouco de castigo. — Ergo a sobrancelha. — Mamãe, você precisa de ajuda. Está começand
VIKTOR— NÃO ME INTERESSA, NIKITA! — grito, sentindo o desespero subir como uma maré violenta. — Eu só preciso encontrar ela!Meu peito está em chamas, a angústia me consumindo por inteiro. Isabella disse que ia trabalhar e, depois disso, silêncio total. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Celular desligado o dia inteiro. Isso não é normal.Se algo aconteceu com ela… não quero nem pensar nessa possibilidade.— Irmão, você nem conhece ela direito. E se ela estiver com o namorado? — A voz de Nikita carrega um tom despreocupado que me irrita além do limite.Meu sangue ferve. Como ele ousa?— Isabella é minha. — Rosno, sentindo cada músculo do meu corpo se tensionar.— Cara, são duas da manhã. Se ela não apareceu, deve ter um motivo.Ele não percebeu minha fúria ou simplesmente não se importa. Antes que eu possa mandá-lo para o inferno, meu celular vibra em minha mão. Meu coração quase para.Bella.Atendo sem hesitar.— Isabella?O som do seu choro atinge meu peito como um soco. O alívio q
VIKTORTer Isabella tão perto de mim me deixa à beira da loucura. Meu desejo é beijá-la até apagar toda a tristeza que ainda vejo em seus olhos. O que diabos está acontecendo comigo?Ela se afasta rapidamente, as bochechas coradas de uma forma que a deixa ainda mais bonita.— Vamos terminar logo antes que meus irmãos venham atrás de mim — diz, mudando de assunto apressadamente.Sorrio, achando adorável a forma como tenta disfarçar sua vergonha.— Quantos irmãos você tem? — pergunto, tentando aliviar o clima.Os olhos dela brilham quando fala:— Cinco. Meu irmão mais velho, Owen; os gêmeos Otto e Ollie; a Livi e a bebê Ayla.É evidente o amor que sente por eles, e isso só a torna ainda mais encantadora.— E você? Tem irmãos?Gosto da forma como ela quer saber mais sobre mim.— Não, mas tenho dois melhores amigos que são como irmãos, Ivan e Nik. Foram eles que passaram o dia me ajudando a te procurar.Ela sorri, observando meu rosto atentamente, como se algo ali a deixasse satisfeita.C
VIKTORPassei a manhã inteira tentando encontrar qualquer ligação entre Isabella e os Mancini, mas não achei nada. Não posso ser tão azarado a ponto de me apaixonar por uma inimiga. Os Mancini são cruéis, impiedosos, manipulam e sequestram sem hesitação. Foram eles que levaram a filha do meu chefe. Petrov é um cretino desprezível, mas ainda assim, é o chefe da máfia russa. Minha lealdade pertence a Russia.A tarde segue como qualquer outra: caçando pistas sobre Melissa Petrov. Só que agora não posso mais ficar à espreita na frente da empresa. Se Isabella me ver, estou fodido. Como vou explicar que sou um mafioso? Que mato e torturo pessoas? Ela nunca me aceitaria.Meu celular toca. Atendo no segundo toque.— Irmão, sai da frente da empresa. — A voz de Nikita está tensa. — Petrov ordenou um ataque contra os Mancini.Meu estômago afunda.— O quê? Por quê? — Minha mente imediatamente pensa nela. Isabella está no fogo cruzado.— Ele está cansado de esperar. Quer começar a guerra logo. Enc
ISABELLANão. Isso não pode ser verdade.Meu peito aperta, e a dor da traição rasga minha alma como uma lâmina fria. Viktor. O homem que tomou meu coração, que me fez acreditar no impossível… Ele não pode estar aqui para matar minha mãe.As armas estão apontadas para ele. O ar ao meu redor pesa, cada segundo parece uma eternidade. Eu deveria odiá-lo.Mas o pensamento de vê-lo morto é insuportável.Sem pensar, corro para frente dele, protegendo-o com meu próprio corpo.— Não, por favor, não! — Minha voz é um grito de desespero, sufocada pelas lágrimas que escorrem sem controle.Viktor me encara, seus olhos castanhos queimando com algo entre angústia e amor.— Isabella, não se ponha em perigo, meu amor! — Sua voz treme, tomada de agonia.Mas agora eu vejo.Tudo foi uma mentira. Cada toque. Cada beijo. Cada promessa.Mentira.Meu coração se parte de um jeito irreversível. O amor se converte em ódio puro. Eu me viro para ele, o sangue latejando em minhas veias.— Não me chama assim! — meu