ISABELLA— Tá, agora me explica. O que você tá aprontando? — pergunto, cruzando os braços assim que Viktor se afasta.Alek suspira, cabisbaixo.— Cunhada… sua irmã é a melhor sniper, luta, mata, dança, canta, tem carisma, é linda… ela é simplesmente perfeita. E eu? Nem bom no meu trabalho eu sou. O pouco que melhorei foi graças ao Viktor, e ainda assim, ele tava fingindo quando me treinou em Nova York. Porque já era aliado de vocês. Eu realmente… não sei o que a Lívia viu em mim.Vejo a dor na voz dele, mas também a honestidade.— Alek, minha irmã nunca amou ninguém. Nunca se encantou por alguém de verdade. Essa é a primeira vez que vejo ela assim: vulnerável, apaixonada. Você fez minha irmã, Lívia Mancini, falar em casamento... sem ela vomitar, ter um surto, ou sair matando alguém. Isso é um milagre. Você é especial pra ela. Mesmo que não se sinta assim ainda.Ele sorri de canto, com os olhos marejando.— Eu só quero ser bom o suficiente pra protegê-la.Mesmo todos sabemos que ela não
VIKTOR Estamos há horas trancados nesse maldito escritório, tentando evitar mais uma guerra. Já vimos sangue demais, perdas demais. E agora, se essa merda realmente explodir, não será três máfias contra um homem. Será uma aliança sombria, liderada por um psicopata sanguinário, com outras facções se alinhando por medo ou ganância. As perdas seriam incalculáveis. A destruição... total. Rafael, Guilherme e nós... precisaríamos de cada aliado possível. E mesmo assim, não sei se seria suficiente.— Ronaldo, seu acordo foi com Petrov. Assim que assumi, qualquer trato com aquele desgraçado morreu junto com ele. — Ivan diz, sua voz fria, firme, olhando direto para o escroto da máfia escocesa pela videoconferência.— Então você está dizendo que não tem palavra, pequeno Ivan? — Ronaldo rebate com aquele olhar que congelaria qualquer um. Qualquer um, menos a mim. Em mim, ele desperta vontade de arrancar seus olhos com minhas próprias mãos. — Seu pai fez um acordo. Melissa me foi prometida. Ela
ISABELLA— Irmã, estamos indo. Mas pelo amor de Deus, me conta isso direito. Como assim meu cunhado mandou o pau no cu do Ronaldo pro inferno?! — Livi pergunta com uma animação que beira o entusiasmo. Nem parece que é da próxima guerra que estamos falando.É assim que conseguimos nos manter conectadas: chamadas de vídeo, todo santo dia.— Ele não falou exatamente com essas palavras, Livi — reviro os olhos, sabendo que não adianta brigar com ela por estar animada com mais uma confusão. — Mas, sério, deixa isso pra lá. A gente precisa se concentrar. O Alek, seu namorado, está longe,muito longe,de estar pronto pra isso.— Relaxa, irmã. Já pensei em tudo! — diz ela, como se estivesse planejando uma viagem de férias.— Pensou no que, Livia Mancini? — sempre que ela fala assim, meu coração dá um salto. É a voz da encrenca.— Simples. Vou prender ele num baú com ventilação, jogar dentro de um avião e mandar pra bem longe dessa merda toda! — ela fala pulando pela casa, como se fosse a ideia m
ISABELLATiros. Gritos. O cheiro de pólvora no ar.Estou agarrada à minha mãe, chorando desesperada. Meu coração bate tão forte que parece querer rasgar meu peito. Por que isso está acontecendo? Por que querem nos machucar?A porta é arrombada com um estrondo que ecoa por toda a sala. Um homem surge na entrada.— Te achei, sua desgraçada — ele rosna, o sotaque estranho tornando suas palavras ainda mais aterrorizantes.Ele aponta a arma para mim, um sorriso macabro no rosto. O som do disparo explode nos meus ouvidos.— ISABELLA! — O grito da minha mãe é a última coisa que escuto antes da escuridão me engolir.Acordo ofegante.O despertador toca ensurdecedor ao meu lado. Meu coração ainda está disparado, e a sensação horrível do sonho persiste. De novo, esse pesadelo. Se eu contar para minha mãe, ela vai dizer que minha imaginação é fértil demais. Mas por que isso parece tão real?Sacudo a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Hoje é o primeiro dia do último a
ISABELLA Entramos no avião. Minha irmã se senta ao meu lado, os olhos fixos em nosso pai, esperando,não exigindo,uma explicação. Quando percebe que ele não diz nada, ela explode: — E então? Vai explicar que merda está acontecendo ou temos que implorar? — Livi nunca teve paciência para rodeios. Nosso pai solta um suspiro pesado. Seu olhar carrega um peso sombrio, como se estivesse prestes a abrir uma ferida que nunca cicatrizou. — Eu vou contar tudo. Vocês merecem saber a verdade. O silêncio que se segue é ensurdecedor. — Há vinte e dois anos, sua mãe fugiu do país onde morava, Rússia.Seu avô… — ele hesita, escolhendo as palavras com cuidado — é um homem cruel e detestável. Ele queria obrigá-la a se casar com um velho de setenta e cinco anos, ainda mais asqueroso que ele. Meu estômago revira. — A única alternativa dela foi fugir. Um soldado infiltrado do meu pai, que é o chefe da máfia nova iorquina, a ajudou a escapar. Trouxeram Melissa para a América, onde ela ficou s
ISABELLA Pousamos no Queens no meio da madrugada. O sono pesava, mas o frio na barriga falava mais alto. No momento em que descemos do avião, carros enormes e blindados já nos esperavam. Meu pai e meu tio saíram cumprimentando aqueles homens com tanta empolgação que até parecia reencontro de novela mexicana. Assim que entro no carro, faço questão de me certificar de que estou em um diferente de dona Melissa. Ainda não estou pronta para falar com ela. E se eu entrar no mesmo carro, vai que ela tenta puxar assunto? Prefiro evitar o risco. Nem percebo o tempo passar, só noto que chegamos quando os carros param. Olho pela janela e me deparo com um condomínio imenso: quatro mansões enormes e várias casas germinadas ao redor. O carro estaciona em frente à maior delas. Parece coisa de filme. Antes mesmo de absorver a grandiosidade do lugar, noto uma movimentação na porta da casa. Uma senhora sorridente surge acompanhada de um senhor elegante. — Vovó! Vovô! — Eu e meus irmãos gritam
ISABELLA Acordo me sentindo mais leve. Depois de uma noite bem dormida em uma cama digna de princesa, boa parte da angústia se dissipou. Ainda estou magoada com minha mãe, mas sei que não posso ficar sem falar com ela para sempre,especialmente agora, com essa guerra contra a família dela prestes a explodir. Me levanto e pego o celular: 15 chamadas perdidas e 50 mensagens não lidas. Josh. Meu melhor amigo desde os seis anos. Conheci ele no primeiro dia de aula, quando o encontrei apanhando de um valentão. Sem pensar, me joguei no meio da briga e gritei o mais alto que pude para chamar a atenção da diretora. Funcionou. Desde então, nunca mais nos desgrudamos. Hoje, ele é o capitão do time de hóquei e conseguiu uma bolsa para estudar engenharia em Nova York. O plano sempre foi irmos juntos,ele engenharia e eu artes,mas parece que a vida tinha outros planos. Sento na cama e ligo para ele antes que o senhor do drama decida sequestrar um helicóptero para me encontrar. — ALÔ,
ISABELLA Hoje é o nosso primeiro dia na imprensa. Logo pela manhã, teremos uma reunião por vídeo chamada com Nathanael, o chefe da máfia de Chicago. Ele é nosso aliado e guarda nossos melhores armamentos sem levantar suspeitas. Em troca, ajudamos a construir um dos maiores bunkers da região, com o acordo de usá-lo como bem quisermos. Além disso, Nathanael é pai de Romeu,marido da minha tia Emília e melhor amigo do meu avô. Desde as quatro da manhã, estou dentro do meu closet, revirando cada peça de roupa na tentativa frustrada de encontrar algo perfeito para vestir. Nada parece bom o suficiente. Pedir ajuda para minha mãe está fora de questão. Ela ainda não superou o fato de que eu e minha irmã escolhemos "essa vida", como ela sempre diz. As discussões intermináveis entre ela e meu pai são a prova de que, no fundo, seu problema não é a escolha em si, mas o medo de nos perder. Quando o relógio marca seis horas, desisto. Pego qualquer roupa, minha bolsa, escondo a arma na cintura e s