– Então? O que achou? – perguntei tentando segurar a empolgação enquanto Ted lia as cartas.
Esse assunto me consumiu o fim de semana inteiro, não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido com Claire, Ronald e seu filho. Já coloquei em minha cabeça que vou procurá-la e achá-la, e nada vai me fazer mudar de ideia.
– São muito boas Jessie. – Ted disse por fim e soltei o ar, me sentindo aliviada.– Eu sabia que você ia gostar! – puxei a cadeira e me sentei de frente pra ele. – Eu já tenho muitas ideias, podemos fazer uma matéria sensacional! Publicá-las, e...– Jessie...– Pode ser a matéria de capa!– Jessie...– Imagine o quanto essa história vai inspirar as pessoas!– Jessie, nós não podemos publicar essas cartas.– Por que não? – perguntei sentindo parte de minha euforia evaporar. – Porque precisamos de uma autorização por escrita do dono delas, se publicarmos sem essa autorização, nós podemos ser processados. – Eu já imaginava. – recostei na cadeira frustrada. – E também já tô pensando nisso, encontrar Claire Wright-Jones.Ted levantou e foi até a grande janela com vista para a ilha de Manhattan, ele adorava ficar olhando aquela parte da cidade. Seu sonho tinha sido abrir a editora lá, o centro financeiro da cidade, chamar atenção dos moradores ilustres e cheios de grana do Upper East Side, mas por algum motivo não deu certo, um motivo que eu desconhecia, mas imaginava que tinha a ver com a família dele.
Theodore Wintrop era mais um menino rico vindo da área nobre do Brooklyn. Filho mais novo dentre os quatro adoráveis filhos de um casal de médicos, donos de uma rede de clínicas particulares espalhadas pela costa leste do país. Ele era considerado a ovelha negra da família, já que os filhos mais velhos escolheram carreiras aprovadas pelos pais.
O mais velho seguiu o exemplo dos dois e se tornou um excelente cardiologista, fazia plantão no hospital público três vezes por semana, o segundo mais velho ingressou no exército e hoje é capitão da marinha americana, a única mulher administrava o império da família com mãos de ferro. Ted se voltou para o mundo das celebridades e é gay, por esses dois motivos é desprezado pelo pai, o que é uma injustiça, além de um exemplo perfeito de preconceito. Ele conseguiu construir a editora com o apoio da mãe que nunca o abandonou.
– Consiga uma autorização Jessie, e eu lhe dou a capa com essa história.Observei suas roupas caras e extravagantes, seu guarda-roupa estava sempre na última moda. Ted adorava ver e ser visto, e fazia questão de mostrar que é o dono e comanda o lugar.
– Ok, vou fazer isso.– A reportagem da capa de amanhã já está pronta?– Quase, vai estar até o final da tarde.– Ótimo, quero essas revistas em todas as bancas na quarta-feira.– Certo chefe.Ele continuou olhando pela janela e eu peguei as cartas e saí tentando não fazer muito barulho com aqueles sapatos. Fui para a minha sala e as guardei em uma pasta preta e joguei dentro da minha bolsa.
Bateram na porta e vi que era a Nora, fiz sinal pra ela entrar.
– Licença.– Pode entrar.– Vim te mostrar a arte da capa.Ela me entregou um papel com a capa impressa da revista, tinha ficado muito boa.
– Ficou ótima Nora, meus parabéns.– Ah imagina Jessie, eu não teria conseguido sem você, as dicas que você me deu foram preciosas.– Somos um bom time.Vi os olhinhos dela brilharem de felicidade e me senti bem com aquilo.
– Nora aproveitando que você ta aqui, quero te contar uma coisa.– Claro Jessie, pode falar. – ela puxou a cadeira e sentou me olhando.– Por enquanto ninguém mais sabe, só eu, o Ted e agora você.Ela assentiu balançando a cabeça.
– Eu estou com um material para uma capa incrível, mas por enquanto preciso de uns papeis antes de publicar, mas assim que tiver, eu vou mergulhar de cabeça. Quero saber se você gostaria de me ajudar.– Mas é claro Jessie, nem precisa perguntar. Eu vou adorar trabalhar com você.– Ótimo, eu aviso você. Mas lembre-se, por enquanto é segredo.– Claro, segredo, pode deixar.– Maravilha, agora vai lá mostrar essa capa pro Ted, ele vai adorar.– Sim senhora.Entreguei-lhe o papel e ela saiu praticamente saltitando da minha sala. Eu gostava dessa menina, ela merecia crescer e eu a ajudaria no que pudesse. É boa, verdadeira, honesta, qualidades difíceis de ver hoje em dia.
Minha primeira opção para encontrar Claire Wright-Jones era ligar na imobiliária, não sei se foi dela que eu comprei a casa, Dory Green, a corretora, manteve essa parte oculta. Decidi ligar pra ela na hora do almoço.
– Olá Dory, sou Jéssica Marshall.– Olá senhorita Marshall, como vai? – sua voz soou alegre.– Vou bem e você?– Muito bem. Aconteceu alguma coisa?– Ah não, não se preocupe. Na verdade, Dory, eu gostaria de um favor seu.– Em que eu posso ajudá-la? – Eu entrei no sótão da minha casa e encontrei umas cartas lá, acredito que sejam dos antigos donos.– Ah sim, a senhorita gostaria de devolvê-las? – Sim, mas também gostaria de falar com ele, ou ela a respeito das cartas.– Como a senhorita sabe, a pessoa que vendeu o imóvel pediu sigilo absoluto, não sei se vou poder ajudá-la.– Dory, por favor, é importante que eu consiga falar com a pessoa pra quem essas cartas foram enviadas.– Que nome está escrito no destinatário senhorita Marshall?– Claire Wright-Jones, e o remetente é Ronald Wright-Jones. Eles eram marido e mulher. E elas estão datadas da época da Segunda Guerra Mundial, o ano de mil novecentos e quarenta e quatro.– A senhorita leu... As cartas?! – ela parecia surpresa.– Sim, elas estavam no meu sótão e eu não sabia do que se tratava. – Tudo bem senhorita Marshall, eu vou ver o que posso fazer.– Certo, eu aguardo seu retorno, muito obrigada.Agora era só esperar, se não der certo, terei que pensar em outra coisa.
Quinta feira à tarde, um trânsito infernal. Um percurso que faço normalmente em quarenta minutos, levei mais de uma hora pra chegar a Bayside. Estacionei o carro na garagem e já ouvi os latidos de Chase dentro de casa. Entrei e foi aquela festa.– Oi meu amor. Deixei as compras em cima da mesa e ele pulou no meu colo.– Eu também tava com saudades de você. Coloquei comida e água pra ele e fui tomar banho. Respondi as mensagens que tinham no meu celular e deixe carregando. Até agora não tive nenhuma resposta de Dory Green sobre o antigo morador da casa. Ted já até me cobrou algum resultado, mas não tenho nada. Depois do banho, vesti meu pijama confortável de algodão e fui preparar algo pra comer. Optei por uma salada leve e um chá gelado pra acompanhar. Fiz meu prato e fui comer assistindo TV. Chase deitou no tapete me fazendo companhia. Estava assistindo ao noticiário quando bateram na porta e levei um susto. Estranhei o horário, pois já
– Eu vim pegar as cartas de minha avó, Claire Wright-Jones. Eu fiquei olhando pra cara dele, ainda sem acreditar direito.– Você... Você é neto dela! Da Claire! Eu li e reli aquelas cartas tantas vezes que me sentia próxima a eles, Claire e Ronald. Era como se eu participasse da história deles, um personagem que estava ali, um coadjuvante apenas observando. – Sim, Christian Wright-Jones. – disse sério estendendo a mão e eu aceitei.– Muito prazer. Seu aperto era firme e sua mão estava um pouco gelada. Era uma mão forte, de quem estava acostumado a trabalhar duro.– Ah, por favor, entre, fique a vontade. Dei passagem e ele entrou, Chase pulou em cima do homem e eu corri pra ti
O domingo tava tão lindo que liguei para as garotas e fomos ao Queens Botanical Garden, um jardim botânico no bairro de Flushing, há alguns minutos de distância daqui. – Até agora eu não acredito que ele foi tão grosso assim. – Becca comentou revoltada. Eu contava para elas sobre a visita não tão agradável de Christian Wright-Jones enquanto observávamos sentadas na grama Betty e Chase correndo e se divertindo.– Pois é, eu não sei como conseguir me controlar e não jogar algum objeto pesado nele.– Deveria ter jogado chica. – Gabby comentou aproveitando os raios de sol e acabamos rindo.– Aí eu seria processada amiga, ele já estava doido para fazer isso. Me ameaçou que faria caso visse alguma publicação sobre a sua família. – Eu avisei, não avisei? Que era melhor deixar isso quieto do que correr atrás.– Gabby!– Deixa Becca, ela tem razão. Eu deveria ter queimado aquelas cartas depois de ler. Mesmo não querendo admitir,
Essa semana foi infernal. Não tive tempo para nada, mal chegava em casa e tomava um banho e me jogava na cama, adormecendo imediatamente. Gabby e Becca tanto insistiram que conseguiram me convencer a ficar no Brooklyn e ir para uma balada com elas na sexta à noite. Já trouxe Chase quando vim trabalhar e deixei na casa dos meus pais, não podia deixá-lo sozinho em casa, não sei que horas chegaria no sábado. Minha mãe não gostou muito, mas ela era voto vencido. No final do expediente, Ted chamou a todos nós para brindar ao excelente trabalho da semana, os resultados foram satisfatórios. Nora teve uma ideia sensacional para a edição de sexta, o que nos salvou, e é claro que ela teve o reconhecimento merecido. Depois do brinde, fui embora e quando entrei no carro, meu celular tocou, era a Becca. Atendi e manobrei pra sair do estacionamento.– Oi doutora.– Já saiu da editora?– Saindo agora. – Ótimo, meu plantão acaba daqui a pouco também
Tentei trabalhar o resto da manhã, mas aquele assunto não saía do meu pensamento, e volta e meia meu olhar caía sobre o buquê vermelho. Fui almoçar e quando voltei, ele ainda estava lá, me deixando inquieta. Já impaciente, decidi pedir uma opinião confiável e liguei para a Becca, talvez ela me ajudasse a resolver esse conflito interno em que eu me encontro nesse momento. Quando eu estava quase desistindo, ela atendeu.– Oi amiga, tudo bem? – sua voz soou alegre.– Oi, tudo ótimo e você? Ta ocupada?– Tudo bem também, tava em uma consulta, mas posso falar agora. – Becca eu preciso de sua opinião.– Se eu puder ajudar, o que houve?– Nesse momento eu estou olhando para um enorme buquê de rosas vermelhas em cima da minha mesa de trabalho.– Quem te deu flores Jessie?! – Becca perguntou surpresa. – Christian Wright-Jones.– Oi? Espera, eu acho que nã
Christian me olhava e então ele sorriu de leve, eu não entendi qual era o motivo da graça.– Me desculpe senhorita Marshall, não pense que estou rindo de você, mas de mim mesmo. A garçonete trouxe meu cappuccino e bebi um pouco, estava uma delícia. – Eu não deveria tê-la julgado do jeito que fiz, as pessoas não são iguais. Eu estava um pouco nervoso naquela manhã e acabei descontando na senhorita, foi muito errado, e sim, eu me arrependi do que lhe disse. Fiquei surpresa em vê-lo admitindo que estava errado, homens machistas e preconceituosos dificilmente o fazem, mas eu não o elogiaria por isso.– O fato do senhor estar nervoso não significa que pode sair descontando em qualquer um. – alfinetei sorvendo minha bebida.– Eu sei disso, mas quando ouvi a senhorita falar que era jornalista e queria publicar as cartas, eu... Podemos por favor, parar com essa formalidade toda? Eu gosto muito de chamá-la de Jessie. Fiquei surpresa nova
A semana passou tranquila, sem grandes problemas. E finalmente chegou a tão sonhada sexta feira. Bateram na porta e levantei o olhar, era Grey.– Oi, entra.– Oi Jessie, eu queria sua ajuda.– Pra que quer minha ajuda?– Eu queria dar um presente pra Gabby, mas não faço ideia do que dar. Parei de arrumar minha bolsa e olhei pra ele completamente surpresa. Eu sabia que eles tavam saindo, mas já estava tão sério assim? Ela não comentou nada. – Ah a Gabby gosta de flores, chocolates.– Eu queria algo mais simbólico sabe, algo que marcasse. Quanto mais eu ouvia, mais surpresa eu ficava. Desde quando Elliot Greyson é romântico?! – Ela gosta de velas aromáticas, com cheiros marcantes. É algo que ela herdou da avó.– Velas aromáticas, legal. Valeu Jessie, te devo uma. E saiu da minha sala em esperar por resposta. Eu fiquei parada tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Peguei minha bolsa e
Forcei-me a dar um sorriso simpático, quando na verdade queria correr dali.– Boa tarde senhoritas. – Christian disse gentil.– Olá, como vai? – Betthany cumprimentou estendendo a mão. Eu me limite a sorrir e apertar a mão dele também.– Eu estou bem e vocês?– Estamos bem. – Vocês vão almoçar? – Não, nós vamos...– Vamos almoçar sim. – Betthany me interrompeu e tive vontade de lhe dar um puxão de orelha. – Mas a praça de alimentação ta lotada.– Não seja por isso, podem sentar comigo e a minha filha.– Nós adoraríamos não é Jessie? Betty se virou pra mim sorrindo e tive vontade de gritar, mas não ia adiantar. – Sim, adoraríamos. – respondi por fim e Christian abriu um sorriso lindo. Nós o seguimos até a mesa onde a menina tava sentada tomando um sorvete. – Querida essas são as amigas do papai