Capítulo Cinco

– Então? O que achou? – perguntei tentando segurar a empolgação enquanto Ted lia as cartas.    

            Esse assunto me consumiu o fim de semana inteiro, não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido com Claire, Ronald e seu filho. Já coloquei em minha cabeça que vou procurá-la e achá-la, e nada vai me fazer mudar de ideia.

– São muito boas Jessie. – Ted disse por fim e soltei o ar, me sentindo aliviada.

– Eu sabia que você ia gostar! – puxei a cadeira e me sentei de frente pra ele. – Eu já tenho muitas ideias, podemos fazer uma matéria sensacional! Publicá-las, e...

– Jessie...

– Pode ser a matéria de capa!

– Jessie...

– Imagine o quanto essa história vai inspirar as pessoas!

– Jessie, nós não podemos publicar essas cartas.

– Por que não? – perguntei sentindo parte de minha euforia evaporar.  

– Porque precisamos de uma autorização por escrita do dono delas, se publicarmos sem essa autorização, nós podemos ser processados. 

– Eu já imaginava. – recostei na cadeira frustrada. – E também já tô pensando nisso, encontrar Claire Wright-Jones.

            Ted levantou e foi até a grande janela com vista para a ilha de Manhattan, ele adorava ficar olhando aquela parte da cidade. Seu sonho tinha sido abrir a editora lá, o centro financeiro da cidade, chamar atenção dos moradores ilustres e cheios de grana do Upper East Side, mas por algum motivo não deu certo, um motivo que eu desconhecia, mas imaginava que tinha a ver com a família dele.

Theodore Wintrop era mais um menino rico vindo da área nobre do Brooklyn. Filho mais novo dentre os quatro adoráveis filhos de um casal de médicos, donos de uma rede de clínicas particulares espalhadas pela costa leste do país. Ele era considerado a ovelha negra da família, já que os filhos mais velhos escolheram carreiras aprovadas pelos pais.

O mais velho seguiu o exemplo dos dois e se tornou um excelente cardiologista, fazia plantão no hospital público três vezes por semana, o segundo mais velho ingressou no exército e hoje é capitão da marinha americana, a única mulher administrava o império da família com mãos de ferro. Ted se voltou para o mundo das celebridades e é gay, por esses dois motivos é desprezado pelo pai, o que é uma injustiça, além de um exemplo perfeito de preconceito. Ele conseguiu construir a editora com o apoio da mãe que nunca o abandonou.

– Consiga uma autorização Jessie, e eu lhe dou a capa com essa história.

Observei suas roupas caras e extravagantes, seu guarda-roupa estava sempre na última moda. Ted adorava ver e ser visto, e fazia questão de mostrar que é o dono e comanda o lugar.

– Ok, vou fazer isso.

– A reportagem da capa de amanhã já está pronta?

– Quase, vai estar até o final da tarde.

– Ótimo, quero essas revistas em todas as bancas na quarta-feira.

– Certo chefe.

Ele continuou olhando pela janela e eu peguei as cartas e saí tentando não fazer muito barulho com aqueles sapatos. Fui para a minha sala e as guardei em uma pasta preta e joguei dentro da minha bolsa.

Bateram na porta e vi que era a Nora, fiz sinal pra ela entrar.

– Licença.

– Pode entrar.

– Vim te mostrar a arte da capa.

Ela me entregou um papel com a capa impressa da revista, tinha ficado muito boa.

– Ficou ótima Nora, meus parabéns.

– Ah imagina Jessie, eu não teria conseguido sem você, as dicas que você me deu foram preciosas.

– Somos um bom time.

Vi os olhinhos dela brilharem de felicidade e me senti bem com aquilo.

– Nora aproveitando que você ta aqui, quero te contar uma coisa.

– Claro Jessie, pode falar. – ela puxou a cadeira e sentou me olhando.

– Por enquanto ninguém mais sabe, só eu, o Ted e agora você.

Ela assentiu balançando a cabeça.

– Eu estou com um material para uma capa incrível, mas por enquanto preciso de uns papeis antes de publicar, mas assim que tiver, eu vou mergulhar de cabeça. Quero saber se você gostaria de me ajudar.

– Mas é claro Jessie, nem precisa perguntar. Eu vou adorar trabalhar com você.

– Ótimo, eu aviso você. Mas lembre-se, por enquanto é segredo.

– Claro, segredo, pode deixar.

– Maravilha, agora vai lá mostrar essa capa pro Ted, ele vai adorar.

– Sim senhora.

Entreguei-lhe o papel e ela saiu praticamente saltitando da minha sala. Eu gostava dessa menina, ela merecia crescer e eu a ajudaria no que pudesse. É boa, verdadeira, honesta, qualidades difíceis de ver hoje em dia.

Minha primeira opção para encontrar Claire Wright-Jones era ligar na imobiliária, não sei se foi dela que eu comprei a casa, Dory Green, a corretora, manteve essa parte oculta. Decidi ligar pra ela na hora do almoço.

– Olá Dory, sou Jéssica Marshall.

– Olá senhorita Marshall, como vai? – sua voz soou alegre.

– Vou bem e você?

– Muito bem. Aconteceu alguma coisa?

– Ah não, não se preocupe. Na verdade, Dory, eu gostaria de um favor seu.

– Em que eu posso ajudá-la?  

– Eu entrei no sótão da minha casa e encontrei umas cartas lá, acredito que sejam dos antigos donos.

– Ah sim, a senhorita gostaria de devolvê-las?        

– Sim, mas também gostaria de falar com ele, ou ela a respeito das cartas.

– Como a senhorita sabe, a pessoa que vendeu o imóvel pediu sigilo absoluto, não sei se vou poder ajudá-la.

– Dory, por favor, é importante que eu consiga falar com a pessoa pra quem essas cartas foram enviadas.

– Que nome está escrito no destinatário senhorita Marshall?

– Claire Wright-Jones, e o remetente é Ronald Wright-Jones. Eles eram marido e mulher. E elas estão datadas da época da Segunda Guerra Mundial, o ano de mil novecentos e quarenta e quatro.

– A senhorita leu... As cartas?! – ela parecia surpresa.

– Sim, elas estavam no meu sótão e eu não sabia do que se tratava. 

– Tudo bem senhorita Marshall, eu vou ver o que posso fazer.

– Certo, eu aguardo seu retorno, muito obrigada.

Agora era só esperar, se não der certo, terei que pensar em outra coisa.

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