Capítulo Sete

– Eu vim pegar as cartas de minha avó, Claire Wright-Jones.

            Eu fiquei olhando pra cara dele, ainda sem acreditar direito.

– Você... Você é neto dela! Da Claire!

            Eu li e reli aquelas cartas tantas vezes que me sentia próxima a eles, Claire e Ronald. Era como se eu participasse da história deles, um personagem que estava ali, um coadjuvante apenas observando.

– Sim, Christian Wright-Jones. – disse sério estendendo a mão e eu aceitei.

– Muito prazer.

            Seu aperto era firme e sua mão estava um pouco gelada. Era uma mão forte, de quem estava acostumado a trabalhar duro.

– Ah, por favor, entre, fique a vontade.

            Dei passagem e ele entrou, Chase pulou em cima do homem e eu corri pra tirá-lo.

– Ah me desculpa! Chase sai! Ele é sociável, às vezes até demais. Chase!

– Tudo bem, eu gosto de cães.

            Então ele sorriu, um sorriso que iluminou sua face enquanto brincava com o meu cachorro. Não podia imaginar uma cena mais encantadora, um homem daquele tamanho, com aquele jeito intimidador se derretendo por um cão.

– Me desculpe. – pediu sem graça ao ver que eu o observava.

– Tudo bem, não tem problema. Vamos até a sala.

            Christian me seguiu e quando me virei, ele estava olhando ao redor.

– Fazia tempo que eu não vinha aqui.

– Não foi de vocês que eu comprei ela? – perguntei interessada e indicando o sofá para ele sentar.

– Obrigado. Não, nós a vendemos há dois anos mais ou menos, quando minha avó precisou de cuidados especiais. Meu pai ficou surpreso quando a corretora da imobiliária entrou em contato com ele falando a respeito de cartas antigas.

– Seu pai, o filho de Claire e Ronald. Então o sonho dele estava certo, foi um menino.

– Como?

– Na última carta enviada por seu avô, ele dizia que havia sonhado que o filho era um menino, e ele acertou.

– A senhorita leu as cartas? – sua pergunta me pareceu ao mesmo tempo uma reprimenda.

– Sim, eu não sabia do que se tratava e acabei lendo uma delas. Fiquei apaixonada pela história deles e não pude resistir em continuar.

– Está com elas agora? As cartas?

– Sim, é claro. Eu vou pegá-las. Espere um momento.

            Subi a escada correndo pra ir pegá-las na minha bolsa. Eu mal podia acreditar que isso estava acontecendo! Eu tinha tantas perguntas a fazer! Betthany já tinha levantado e usava o banheiro no final do corredor.          

            Desci devagar e o vi mais uma vez brincando com Chase. Ele era um homem bonito, pra ser sincera, lindo. Difícil encontrar um cara como esse por aí. 

– Pronto, estão aqui.

            Entreguei-lhe as cartas e ele ficou olhando com veneração, como se fosse um tesouro.

– Minha avó achou que as tinha perdido na mudança. – a voz dele estava um pouco emocionada.

– Desculpe, mas não posso resistir em fazer essa pergunta, como ela está? A Claire.

            Ele ergueu o olhar me encarando e por um segundo pude ver uma centelha de dor em suas íris azuis.   

– Minha avó morreu senhorita Marshall, há quase um ano.

            Foi difícil descrever o que eu senti naquele momento, mas a primeira sensação que me tomou foi a da perda. Ela estava... Morta? Eu imaginei tantas vezes em conhecê-la, falar sobre a sua história, mas isso agora é impossível porque ela está morta.

            Meus olhos ficaram marejados e uma imensa vontade de chorar me tomou.

– A senhorita está bem? – Christian perguntou preocupado e eu assenti.

– Sim... Só preciso de... Um minuto... – levantei e fui até a cozinha inspirando fundo várias vezes. 

            Eu fiquei tão envolvida na história que é como se eu a conhecesse pessoalmente. É doloroso pra mim saber que esse encontro nunca vai acontecer.

– Se eu puder ajudá-la em algo...

            Virei-me e ele estava em pé à porta da cozinha me olhando.

– Você deve estar me achando uma louca, pra dizer o mínimo.

            Ele sorriu de canto e se aproximou apoiando as mãos na mesa.

– Na verdade não, minha avó costumava causar esse efeito nas pessoas.

– Pode me falar um pouco mais dela? – pedi com simplicidade e ele levou a mão à nuca coçando os cabelos. 

– Na verdade senhorita Marshall, eu preciso ir buscar minha filha.

– É claro, eu não quero atrapalhar. – falei tentando disfarçar a pitada de desapontamento na voz, ele era casado. Apesar de não usar uma aliança, constatei isso observando suas mãos enquanto seguravam o encosto da cadeira.

– Bom dia. – Betty apareceu na porta olhando de um para o outro com uma expressão curiosa.

– Bom dia querida, esse é Christian Wright-Jones, ele é neto da dona das cartas.

– Ah sim. – minha irmã sorriu simpática e se aproximou dele estendendo a mão. – Eu sou Betthany, irmã da Jessie, muito prazer.

– Olá.

Ele sorriu encantador e minha irmã só faltou se derreter por aquele sorriso, por que pra mim ele não sorriu assim quando se apresentou? 

– Foi um prazer conhecê-las, mas eu preciso ir.

– Não quer tomar um café? Eu faço rapidinho. – ofereci.

– Não é necessário.

– Por favor, só uma xícara. – Betty pediu sorrindo meiga. – O café que a Jessie faz é uma delícia.

Ele olhou pra mim e depois pra minha irmã e sorriu.

– Nesse caso, eu aceito sim.

– Eu vou a padaria comprar pãezinhos de queijo bem quentinhos, eu já volto.

– Não precisa... – Christian ia dizendo, mas ela o interrompeu sorrindo.

– Ah eu faço questão, o senhor tem que provar os pães de queijo da melhor padaria de Bayside, eu não demoro.

– Leva o Chase com você. – falei me segurando pra não rir, e ela me respondeu já fechando a porta.

– Pode deixar!

Voltei a olhar para o meu visitante que parecia encabulado.

– Vai ser rápido. Fique a vontade.

Ele assentiu com um sorriso e puxou uma cadeira pra sentar enquanto eu fui até o armário pegar o pó de café. Vi meu reflexo na porta de vidro e só então me toquei que ainda estava de robe e com os cabelos levemente bagunçados, agora já foi.  

Virei-me e ele estava lendo uma das cartas, parecia concentrado. Então como se sentisse que eu o estava observando, ele ergueu o olhar e seus olhos azuis me encararam com intensidade.

– Senhor Wright-Jones, eu...

– Por favor, me chame de Christian. – ele pediu gentilmente e eu assenti sorrindo.

– Claro, me chame de Jessie.

– Certo, Jessie.

Ouvir aquela voz rouca chamando meu nome me parecia quase uma carícia. Foquei no que interessava e empurrei esses pensamentos para o fundo da minha mente.

– Christian, eu gostaria de fazer uma proposta a sua família.

– Proposta? – ele arqueou uma sobrancelha ainda me encarando e assenti me aproximando da mesa.

– Sim, eu acho que a história de amor dos seus avôs merece ser contada. Um amor tão puro, tão forte que sobreviveu aquela época, as pessoas precisam conhecer essa história e se encantar, exatamente como eu me encantei.

– Onde exatamente você quer chegar?     

– Eu sou jornalista, trabalho na editora Wintrop que fica no Brooklyn e...

– Eu sei onde fica. – ele me interrompeu levantando. – E conheço também a fama que ela tem, por gostar de escândalos.

– Sim, nós temos uma revista voltada para a vida das celebridades, mas eu trabalho em outro setor, na revista Woman Entertainment. Voltada para o público feminino, suas opiniões, seus sonhos.

– Não são do mesmo dono?

– Sim, pertence ao mesmo dono, mas tem conteúdos completamente diferentes. 

Senti nele uma leve exaltação e cruzei os braços empinando o nariz demonstrando que ele não me intimidava.

– O que você quer Jessie? Seja sincera.

– Quero a autorização de sua família para publicar as cartas de sua avó.

Mandei na lata e seus olhos me encaravam, logo depois ele sorriu sarcástico e me senti ofendida com aquela atitude.

– Eu devia ter adivinhado, você é mais um daqueles urubus.

– Urubus? – repeti chocada com aquele adjetivo.    

– Malditos repórteres que vivem de escândalos, espionando as pessoas e publicando sobre elas em suas malditas revistas!

– Você está me ofendendo. – falei me segurando para não expulsá-lo da minha casa.

– Sabe quando vai ter essa autorização Jéssica Marshall? Nunca. A história da minha família não é mais um dos seus casos que você quer expor para o mundo, procure outra carniça.

Fechei as mãos com força cravando as unhas na carne.

– Saia da minha casa, agora!

Surpreendi-me por minha voz estar calma, quando na verdade queria estar gritando e jogando alguma coisa em sua cabeça dura e preconceituosa.

– Com prazer.

Ele foi para a porta e eu fui atrás, com a mão na maçaneta, se virou e me encarou novamente, o olhar sério e as feições duras.

– Se eu ver essa história publicada em algum lugar, eu processo você sem pensar duas vezes.

– Fora! – ordenei apontando para a rua e ele virou as costas saindo.

Bati a porta com força e encostei à parede esfregando as mãos no rosto. Lágrimas de ódio me vieram aos olhos, não sei o que doía mais, os insultos que aquele arrogante me fez, ele ter negado a autorização ou saber que Claire estava morta. Acho que era uma mistura de tudo isso.

Voltei para a cozinha secando o rosto com a manga do robe e terminando meu café. Quando Betty e Chase chegaram minutos depois, eu estava sentada na cozinha tomando uma xícara.

– Desculpem a demora, a padaria tava cheia e... – ela olhou ao redor notando que eu estava sozinha. – Cadê ele? 

– Foi embora. – respondi simplesmente e ela se aproximou.

– Como foi embora Jessie? O que houve?

– Ele me chamou de urubu.

– O que?!

– Disse que todos os repórteres são urubus atrás da próxima carniça.

– Que cara grosso! Não creio nisso!

– E por último, que a história da família dele não é um caso para eu expor ao mundo, e que se visse qualquer coisa publicada relacionada ao clã Wright-Jones, eu seria processada.

– Nossa irmã, sinto muito. Você queria tanto publicar essa história.

– Pois é, mas a vida é assim. – levantei deixando a xícara na pia. – A gente tem que aprender a lidar com derrotas. Toma seu café que eu vou me arrumar, nós vamos ao mercado.

Enquanto tomava banho, me permiti lembrar seu rosto quando ele se virou ainda parado a porta. Apesar de ser tão arrogante e preconceituoso, ele é um homem muito bonito. Talvez se não fosse casado, eu...

Não! Pare com isso Jessie! O homem pode ser lindo como um deus grego, mas é um grosso, um estúpido. Coisas que você abomina. E ter uma boa aparência não é suficiente, apesar daqueles olhos maravilhosamente azuis.

Saí do chuveiro tentando afastar esses pensamentos, tudo que eu não quero é me envolver com um homem desses. Espero nunca mais ver Christian Wright-Jones na minha frente de novo.

           

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo