Capítulo 02

Barbara estava atrasada. Chegou ao evento estacionando a sua Lamborghini em frente ao hotel Copacabana Palace. Aquela seria mais uma noite glamorosa entre muitas das quais já estava de saco cheio. Vários fotógrafos na entrada a acertaram com uma chuva de flashes. Ela sorriu para alguns, mesmo sentindo-se plenamente incomodada, enquanto seguia para livrar-se deles. Mas antes de cruzar a porta, olhou desdenhosa para tudo aquilo. Ela não entendia o porquê precisava de tanto luxo para um simples encontro entre empresários. Eles não eram nenhum astro de cinema ou Dalai-lama, eram apenas pessoas com muito dinheiro conhecidas pela minoria do país a qual pertencem.

Ela entrou e viu a quantidade de gente ali. Era um grande exagero. Duvidou que o seu pai conhecesse um terço daquelas pessoas. Embora gostasse do acesso fácil ao dinheiro e de poder ter todos os dias da semana livre, Barbara jamais se curvaria ao dinheiro como muitos naquela festa faziam, vendendo a sua dignidade e caráter. Como, na verdade, até mesmo a sua mãe fazia. Ângela aceitava socos e traições somente para ainda ser a esposa de um milionário. Quanto vale a sua alma? A da Ângela vale variadas bolsas de trinta mil reais.

— Só quero que essa noite termine rápido — disse baixinho para si mesma.

— Senhorita Barbara! — chamou uma mulher vindo ao seu encontro. — O seu pai a aguarda ansioso.

— Preciso de uma bebida antes.

A mulher assentiu com um sorriso congelado no rosto. A sua face era irritante.

— Claro. Só não demore — pediu a assistente do seu pai, antes de se virar indo embora.

Barbara revirou os olhos. Nunca iria conhecer alguém tão puxa saco como aquela mulher. Tinha certeza de que o pai a comia no final do expediente, todos os dias. Suspirou fundo a sua frustração e tédio, e caminhou até o bar.

— Um Martini, por favor. Com duas azeitonas.

O barman sorriu carismático e um tanto sedutor para ela.

— É pra já, senhorita.

Ele se afastou e com muita agilidade e exibicionismo, preparou o seu drinque. Quando o colocou à sua frente, piscou para ela. Barbara mordeu o lábio e sorriu com divertimento. Bebeu do doce Martini sem a menor pressa, enquanto trocava olhares com o homem atrás do balcão. Pensou que deveria ser crime alguém tão gostoso como ele usar uma camisa branca tão justa ao corpo. Quando terminou, acenou em despedida e seguiu para onde o seu pai devia estar, cercado por gente fútil e interesseira.

Por onde ela pisava, as pessoas a olharam: mulheres com inveja e homens com desejo. Ela estava arrasando com aquele vestido longo. A fenda era pura sedução, indo da barra até o quadril, expondo a sua coxa torneada. Adorava exibir a sua dedicação na academia. A cor vinho destacava-se muito bem na sua pele branca. Os seus longos cabelos loiros desciam em ondas macias e fluidas pelas costas nuas, em um decote que ia até quase a base da coluna. O pai, com certeza, não gostaria nada daquele visual. Ele sentia ciúmes e um pouco de vergonha. Queria que a filha se vestisse de modo que julgava mais elegante e correto, como uma moça de família, ele costumava dizer. Barbara levantou um pouco do vestido e subiu os degraus. De longe, o pai a avistou e logo ela viu o seu semblante mudar,  ficando um pouco enfurecido.

— Deveria ter vindo mais composta, Barbara — disse ele, que a encontrou no meio do caminho, impedindo que ela chegasse até o seu círculo de amigos. — Como uma moça de família! — Foi um tanto ríspido.

Ela sorriu e revirou os olhos, desgostosa com a pose de família tradicional brasileira que esconde a infidelidade e violência doméstica.

— Ora, não gostou? — perguntou com deboche, colocando as mãos na fina cintura.

— É claro que não! — disse baixo, porém, muito irritado agora.

— Você pagou uma grana por ele, devia gostar. — Sorriu provocante.

O pai contraiu a mandíbula e rosnou raivoso, contendo a fúria dentro de si. Ele não gostava e procurava não brigar com ela, nem mesmo quando o provocava. Ela era a sua única filhinha, uma bela aliança. O ciúmes que Carlos – seu pai – sentia, não era um ciúme bobo que os pais sentem para com suas meninas, mas um sentimento de pura posse. Barbara era sua para negociar da forma que fosse preciso fazer.

— Vem. Não temos como resolver isso agora. Quero te apresentar alguém. Ele é da família Correa e é um ótimo partido, eu diria. — Sorriu convencido.

Ela o encarou com a sobrancelha esquerda arqueada e um olhar duro. Desde os seus vinte anos isso acontecia em todos os eventos, sejam eles íntimos ou não. Carlos sempre tinha alguém para lhe apresentar. Eram sempre mauricinhos que a tratavam como um objeto de ostentação e olhava para outras bundas na sua frente. Ela estava cansada disso e do fato de Carlos estar sempre tentando casá-la com um babaca rico.

— Não quero conhecer ninguém hoje. — Foi incisiva.

— Querida, sabe que isso faz parte da nossa rotina. — Acariciou a sua face com o dorso dos dedos. — Além disso, eles vão transferir a matriz de São Paulo para o Rio de Janeiro. É uma ótima oportunidade para parcerias de negócios. Ajude o seu pai. Apenas seja gentil e faça companhia ao filho dos Correa essa noite.

Barbara sentiu-se mais uma vez como um objeto nas mãos do seu pai. Respirou fundo vendo que não tinha opção.

— Parcerias, é claro. — Revirou os olhos e respirou fundo. Precisava de fôlego para sorrir e bancar gentileza para com pessoas esnobes.

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