O homem subiu para parte alta da quadra. Ela entendeu que ali era o camarote e suspeitou que ele devia ser o dono do morro, ou chefe. Não tinha certeza de como o chamavam. Os grandes braços tatuados apoiaram-se na grade do parapeito. Ele não conseguia parar de encará-la com uma feição séria e mandíbula contraída. Barbara desviou os olhos e puxou os braços do Edgar, virando-o para ela.— Vamos embora, está na hora! — gritou no seu ouvido.Ele continuou a dançar e negou com a cabeça a sua intimação.— Nem pensar — gritou de volta.— Edgar, por favor. Nós temos que ir!Negou com um aceno mais uma vez.— E ae, branquinha — disse um homem ao chegar por detrás dela. Barbara virou-se rápido e assustada. — O chefe mandou tu subir.Edgar parou e colocou-se à frente dela.— O que foi, irmão? Ela está comigo. — Puxou Barbara para ele, agarrando-a pela cintura.— Irmão é o caralho! — gritou, empurrando Edgar, que quase foi ao chão. — Vê se não fica no caminho! — Aquilo foi uma ameaça.Segurou fir
— Vai com calma, Fred! — disse Matheus, segurando-o pelo ombro.O homem o respeitou, o que fez Barbara entender que ele não era apenas mais um morador dali. Ele tinha sua hierarquia naquele comando. Talvez isso explicasse o motivo pelo qual eles foram autorizados a entrar com a aprovação dele. Ela puxou Edgar da multidão e escada abaixo, mas ele era teimoso e queria voltar.— Pare! Se voltar para lá, vai sair daqui em um caixão!Edgar parou e a olhou sério. Viu que Barbara não estava brincando e estava brava. Colocou as mãos para cima, rendendo-se, e passou por ela, descendo o morro. Logo eles chegaram à avenida, mas demorou para que passasse um táxi que os levassem de volta para festa onde estavam os pais. Assim que chegaram ao estacionamento, Edgar começou a vomitar, tinha bebido demais. Um homem apareceu e perguntou se estavam bem. Ela pediu que chamassem a secretária do seu pai.— Por que você tinha que beber tanto?Edgar sentou-se no chão, escorando-se a um carro alheio. Barbara
Já fazia dois dias que Barbara ignorava as ligações do Edgar. Ela havia ficado muito brava quando descobriu que o seu pai lhe deu o seu número de telefone. Sentada à mesa de jantar na casa dos pais, com os pés apoiados sobre o tablado de madeira, ela rejeitava mais uma chamada dele, quando Ângela entrou.— Tire os pés da mesa! — ordenou a sua mãe.Ela sorriu e os colocou de volta ao chão, corrigindo sua postura na cadeira. Enfiou mais uma uva na boca e observou a mulher loira à sua frente exigir dos empregados o máximo de cuidado na hora de limpar a prataria.— Quer ir ao shopping? — Barbara perguntou-lhe.— Só se pudermos passar na Chanel. Quero uma bolsa nova.Roubou-lhe uma uva do cacho que tinha nas mãos e foi-se para cozinha.— Vou te esperar no carro — Barbara gritou para que ela pudesse ouvir.Levantou-se e saiu. Lá fora, se acomodou no banco passageiro do carro da sua mãe. Se teve algo que ela aprendeu muito cedo, foi ler o comportamento daquela mulher. Ângela havia se casado
Edgar ofereceu o seu braço a ela com tamanho cavalheirismo. Os dois caminhavam à frente conversando como velhos amigos, enquanto Barbara ia atrás a uns dois passos de distância. Ela não estava nem um pouco a fim da companhia dele e odiava que a sua mãe tivesse aceitado. Sentaram-se no melhor restaurante e tomaram champanhe até que fizessem os seus pedidos. Edgar quis pedir para Barbara, que deixou claro que ela tinha capacidade mental de escolher a própria comida. Ele ficou um pouco constrangido, é claro. Barbara não era fácil como as garotas que conhecia. Um tempo depois, Ângela levantou-se, indo ao banheiro. Os dois ficaram a sós e esse momento era tudo o que ele queria.— Eu lhe devo um pedido de desculpas, não é?— Deve? — Encarou-o.Ele riu um pouco sem graça.— Sim. Não imaginei que eu ia ficar tão louco. É que faz muito tempo que eu não ia a uma boa festa.— Boa festa, ela só foi para você. Eu tive que ficar te cercando e cuidando para que não arranjasse uma confusão onde nós s
O caminho foi feito com pouca conversa resumida em ele fazer perguntas tolas e ela dar respostas curtas e diretas. Até Edgar estava se questionando se deveria mesmo lhe ter convidado para sair. Quando chegaram à festa, desceram juntos do carro. Mais uma vez ela não esperou pela gentileza dele, o que o fez revirar os olhos, descontentes.— Posso pegar na sua mão? — perguntou ele.— Não! — Barbara passou rente a ele indo em direção à entrada da casa noturna, onde acontecia uma festa privada a qual Edgar garantiu que eles tinham nomes na lista.— Edgar Correa e acompanhante — anunciou ele ao homem na entrada, parando atrás da Barbara. Lentamente ela virou a cabeça em direção dele, que forçou um grande sorriso.— Acompanhante, seu cretino? — ela perguntou.— Ué?! Você está me acompanhando essa noite, não está?Ela estreitou os olhos para ele.— Aqui está. Achei. Divirtam-se — disse o homem, que retirou o cordão azul de veludo liberando a passagem.Quando entraram, logo deram de cara com u
— Eu esperei muito que a gente se encontrasse de novo — disse Barbara, o fazendo rir. Ela já gostava muito de ouvir aquilo.— É mesmo? E por quê?— Eu quero te conhecer melhor. Sou Barbara. — Estendeu a mão para ele.— Matheus. — Apertou a mão dela. Ela sabia, pois naquela noite ouviu pessoas o chamarem pelo nome duas vezes.Ele olhou para as palmas unidas, sentindo com apreço a pele da Barbara, que era extremamente macia, enquanto a dele, não. Matheus considerava as suas mãos verdadeiras lixas em comparação com a dela. Sentiu-se envergonhado e isso o fez soltar rapidamente a sua mão.— Eu te devo uma bebida, Matheus.— Era apenas água com gelo e boa parte dela está nas suas costas agora. Vem, deixa eu secar você.Ele caminhou até o bar e ela seguiu-o.— Guardanapo, por favor.O barman entrou um suporte cheio deles para Matheus, que pegou alguns.— Vire-se.Barbara virou-se e ele começou a secar as suas costas com delicadeza. O passar leve do papel a fez arrepiar. Ficou envergonhada,
Edgar o encarou pronto para uma briga. Barbara ficou nervosa, não queria que isso acontecesse. Não queria que Edgar tivesse a oportunidade de machucar Matheus com as suas mãos, além das palavras grotescas. Ela puxou Matheus pelo braço e enfiou-se entre os dois homens, que eram muito maiores do que ela.— Quer saber, Edgar? Por que não corre para contar ao meu pai agora mesmo? Quer um telefone emprestado?Ela escutou Matheus rir baixinho atrás dela, o que deixou Edgar ainda mais furioso.— Conte a ele que estou indo curtir a noite toda com este preto aqui. — Abraçou Matheus, sorrindo para Edgar. — Ah, mas não se esqueça de dizer para que tipo de lugar me trouxe.Eles viraram-se e saíram sem olhar para trás. Edgar olhou para os lados, constrangido. Passou as mãos pelos cabelos e caminhou para o bar. Olhou para porta a tempo de ver o casal sair. Quando chegaram à calçada, Matheus a soltou. Instantaneamente, Barbara lamentou por dentro. Ele era cheiroso, mais que a sua primeira companhia
Matheus desviou o olhar e engoliu em seco. O que dizer?, se perguntou.— Tava trabalhando.— Com o que trabalha? — perguntou, séria.Olhou-a, nervoso. — A gente num tem que falar disso agora. — Apanhou uma mecha do cabelo dela e o colocou atrás da orelha.Barbara sentiu que ele estava nervoso. Sem querer julgar, mas já fazendo isso, ela temia que Matheus fosse um homem envolvido com o crime. Afinal, ele morava em uma comunidade comandada por criminosos. E não que todos que morassem ali fossem pessoas que mexiam com o errado, mas ele tinha uma moto que devia custar mais de cem mil. E pela casa em que vivia, ela entendia que ele não tinha condições para aquilo. Por um momento, se perguntou se ele poderia ter algo a ver com aquela festa regada de cocaína. Ele disse estar trabalhando lá. Será que poderia representar perigo para ela?— Você está bem? — Tocou o rosto dela com carícias.— Tudo bem. Podemos falar sobre isso depois.Respirando fundo, chegou mais perto dele e segur