Na manhã seguinte, Barbara achou mais coisas interessantes salvas no computador, como: fotos, vídeos e prints de mensagens bem comprometedoras para muitas pessoas. Entre as listas de milionários envolvidos, havia alguns sobrenomes que Barbara desconhecia. Ela consultou os sobrenomes no Google e qual não foi o tamanho da surpresa quando descobriu que o juiz, pai do estuprador Gustavo, era um dos dividendos do seu pai. Barbara chegou à conclusão que Cássio fazia em São Paulo, o mesmo que Carlos faz no Rio de Janeiro. E que a união de negócios que o seu pai queria promover, era uma união no tráfico entre os estados. A cada segundo que mexia ali, mais sujo o seu pai se tornava para ela.Assim que Matheus saiu do quarto para ir ver como a mãe estava, Barbara pegou o celular dele e ligou para delegacia onde o delegado havia dado a entrevista.— Polícia Federal. Como posso ajudar? — disse uma mulher ao atender.— Gostaria de falar com o delegado Henrique Siqueira. Ele está?— E quem gostaria
De acordo com o que Henrique ia lendo tudo aquilo, ele ia se chocando cada vez mais. Sempre soube que cada ser humano escondia sua podridão, mas aquela era a maior que vira em dez anos como delegado da polícia.— Meu Deus — disse baixinho, boquiaberto.Barbara fechou o laptop e o pegou para si outra vez.— Isso é só o começo. Esse era o computador dele. Talvez ache mais coisas, é só se dar o trabalho de procurar.— O que você quer por isso?— Minha liberdade!— Posso te oferecer uma identidade nova.— Não quero só isso! — Foi incisiva. Seu olhar era rude e duro e a postura, firme e imponente.— O que você quer, então?— Aquelas filmagens, no condomínio, vão desaparecer. Nenhuma daquelas pessoas, independente da ficha que elas tenham na polícia, vão ser procuradas ou presas. Elas não fizeram nada além de me salvar. Está vendo isso aqui? — Apontou para o hematoma em seu tornozelo. — Carlos fez isso comigo, me acorrentando no chão. E tem mais uma coisa... No meu dinheiro, vocês não mexem
Enquanto isso, na sala de embarque, Barbara olhava berços na internet enquanto esperava pelo seu voo. Matheus se levantou e foi até o bebedouro, pegando um copo d’água. Acima dele, havia uma TV. De repente, o canal interrompeu o programa da manhã para uma notícia urgente. Todos ali olharam para pequena televisão, em alerta.— A Polícia Federal do Rio de Janeiro acaba de efetuar uma prisão no Leblon. A família presa por tráfico de drogas e armas de fogo, foi detida agora pela manhã em uma operação apelidada como Falcon. O delegado da Polícia Federal, Henrique Siqueira, em entrevista, disse que essa é apenas a primeira prisão desta operação a ser efetuada hoje na cidade. Os presos foram identificados sendo Cássio Correa, CEO da Construtora Sollos na grande São Paulo, seu filho, Edgar Correa, e a esposa, Miranda Correa. Mais informações, hoje, às nove da noite, no Jornal Brasileiro. — Enquanto a jornalista falava, imagens da prisão de Edgar eram exibidas na TV. Barbara assistiu ao notici
Três anos e quatro meses depois...Aos pés da Barbara, caíam mechas de cabelo que estavam sendo cortadas por ela mesma no banheiro do seu quarto. Os cabelos longos já não mais a conquistava faz alguns anos. Depois que se mudou para Argentina, as madeixas não mais passaram da altura dos seus seios. Agora ela experimentava outro visual. Cortava as mechas um pouco baixo das orelhas. Barbara não era mais uma jovem mimada. Mas sim uma grande mulher, dona do seu próprio nariz, casada e mãe.Após limpar o chão, ela se vestiu e desceu para o andar de baixo da casa que morava em Bariloche. Lá fora, no jardim, uma festa estava sendo preparada. Nina Maria, a vida que gerou com Matheus, completava três anos naquele lindo dia.— Mami! — gritou Nina, correndo na sua direção e abraçando a cintura da mãe. — Estás muy linda, mami.— Obrigada, meu amor. — Acariciou os cachos da filha, que muito se parecia com o seu pai, com exceção dos olhos, é claro. Foi a única coisa que a bela Nina Maria herdou da b
Matheus encarava a plaquinha de numeração 1103 no cemitério. Mal tinham tido dinheiro para enterrar o pai, quem diria fazer uma lápide para ele. Não que o homem merecesse, pois, nem de longe merecia. Ele machucava a sua mãe sempre que bebia, o que era com grande frequência. E o machucava mesmo que não estivesse alcoolizado, talvez por puro prazer. O pai odiava o fato do filho ser tão inteligente e querer estudar.Matheus estava no segundo ano do curso de Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, quando o pai teve um infarto na calçada do bar. Ele desejava uma vida melhor para si e a sua família, ansiando por sair da Comunidade da Rocinha e morar em um lugar onde, no meio da noite, não houvesse trocas de tiros. Matheus era uma vítima do sistema, e mesmo sendo tentado diversas vezes, não cedeu ao crime. Porém, ser resistente não seria mais possível. Ele precisava comer. Precisava alimentar a sua mãe e a irmã.Quando chegou em casa, olhou para o sofá e viu a mãe adormecida. C
— Matheusinho quer falar contigo — disse Rafa, saindo e os deixando a sós.— Como vai a sua irmã? — Bodão sorriu de maneira provocante.— Ela tá bem.— Diz ae? O que tu quer?Matheus abaixou a cabeça. Sentiu o corpo estremecer e as mãos suarem frio. Um grande nervoso o tomou. O coração batia rápido, deixando-o levemente ofegante. Esfregou as mãos uma na outra, umedeceu os lábios e engoliu em seco o pavor que causava um nó na sua garganta. Ergueu os olhos para o grande homem à sua frente e, com a voz entrecortada, começou a gaguejar:— Tô-tô-tô... — Parou e respirou fundo. — Tô precisando de emprego — conseguiu dizer por fim.Matheus ergueu novamente a cabeça em direção à figura tão peculiar à sua frente. Caio era grande, tinha quase dois metros de altura, e isso era bastante intimidador. Era preto, muito forte e tinha o seu corpo coberto por centenas de tatuagens. Algumas eram lembranças das suas passagens na prisão. Havia até desenhos indecifráveis no rosto, que também era adornado p
Barbara estava atrasada. Chegou ao evento estacionando a sua Lamborghini em frente ao hotel Copacabana Palace. Aquela seria mais uma noite glamorosa entre muitas das quais já estava de saco cheio. Vários fotógrafos na entrada a acertaram com uma chuva de flashes. Ela sorriu para alguns, mesmo sentindo-se plenamente incomodada, enquanto seguia para livrar-se deles. Mas antes de cruzar a porta, olhou desdenhosa para tudo aquilo. Ela não entendia o porquê precisava de tanto luxo para um simples encontro entre empresários. Eles não eram nenhum astro de cinema ou Dalai-lama, eram apenas pessoas com muito dinheiro conhecidas pela minoria do país a qual pertencem.Ela entrou e viu a quantidade de gente ali. Era um grande exagero. Duvidou que o seu pai conhecesse um terço daquelas pessoas. Embora gostasse do acesso fácil ao dinheiro e de poder ter todos os dias da semana livre, Barbara jamais se curvaria ao dinheiro como muitos naquela festa faziam, vendendo a sua dignidade e caráter. Como, n
Eles caminharam até o grupo com quem o seu pai conversava antes. A mulher diante dela a olhou dos pés à cabeça com desdém e uma pitada de inveja. Ela claramente também não havia gostado do vestido da Barbara, que pouco se importava com a opinião alheia.— Barbara, estes são Cássio e Miranda Correa, do Grupo Solos.— É um prazer conhecê-los. — Apertou as mãos de ambos com um mínimo sorriso forçado nos lábios.— O seu pai fala maravilhas sobre você. — Cássio sorriu simpático.A mulher nada lhe disse, ainda a avaliava com uma expressão que diria agora ser de nojo e estranheza.— E este é Edgar, o filho deles.Só então Barbara olhou para o lado. Ela não havia notado o homem à sua esquerda. Ele era alto, branco, cabelo castanho-claro e olhos amendoados. Tinha um belo sorriso que marcava o canto direito dos seus grossos lábios. Era um homem bonito, por assim dizer.— Muito prazer, Barbara. — Estendeu a mão para ela.— Olá, Edgar.Colocou a mão sobre a dele. Edgar a levou até os seus lábios