Capítulo 03

Eles caminharam até o grupo com quem o seu pai conversava antes. A mulher diante dela a olhou dos pés à cabeça com desdém e uma pitada de inveja. Ela claramente também não havia gostado do vestido da Barbara, que pouco se importava com a opinião alheia.

— Barbara, estes são Cássio e Miranda Correa, do Grupo Solos.

— É um prazer conhecê-los. — Apertou as mãos de ambos com um mínimo sorriso forçado nos lábios.

— O seu pai fala maravilhas sobre você. — Cássio sorriu simpático.

A mulher nada lhe disse, ainda a avaliava com uma expressão que diria agora ser de nojo e estranheza.

— E este é Edgar, o filho deles.

Só então Barbara olhou para o lado. Ela não havia notado o homem à sua esquerda. Ele era alto, branco, cabelo castanho-claro e olhos amendoados. Tinha um belo sorriso que marcava o canto direito dos seus grossos lábios. Era um homem bonito, por assim dizer.

— Muito prazer, Barbara. — Estendeu a mão para ela.

— Olá, Edgar.

Colocou a mão sobre a dele. Edgar a levou até os seus lábios e beijou o dorso. Aquilo foi bastante galanteador, mas ele não chamaria a atenção de Barbara comportando-se como um homem em mil e oitocentos. Ela sabia que essa pompa era falsa. Nunca havia namorado e procurava mais em um homem do que apenas cortesia forçada e herança.

Ela puxou a sua mão de volta e o avaliou enquanto ele falava com os pais. Edgar tinha uma conversinha mansa e era sempre todo risonho e cordial. Barbara sorriu com desdém para aquilo. Ele até poderia enganar os pais com aquele corte de cabelo social alinhadinho, mas não a enganava. Podia até ser um bom moço diante de todos, mas ela conseguiu ver rapidamente quem ele era de verdade. Já havia conhecido um monte deles na alta sociedade. Mas Edgar tinha um cheiro diferente. Ele não cheirava apenas a burguês safado e garoto mulherengo. Cheirava a problema.

Carlos estava animado em ter apresentado eles um ao outro. Um casamento entre grandes fortunas era tudo o que ele queria. E aquele sem dúvida foi o melhor partido que conseguiu até o presente momento. Barbara viu a alegria e satisfação no fundo dos seus olhos. Sentiu-se observada e olhou novamente para Edgar, que a olhava distraído, percorrendo lentamente os olhos por ela. A sua língua rosada umedeceu os lábios quando fitou o decote. Os olhos dele encontraram os dela, que piscou para ele. Casamento, jamais. Encontros animados, talvez. Já que não podia lutar contra essa merda, ela sempre tentava tirar o melhor proveito de tudo.

— Por que não vão conversar? — sugeriu Carlos. — Aposto que vocês têm muito em comum. — Riu.

Só se for o fato de sermos herdeiros, pensou Barbara.

— Ótima ideia! — disse Edgar, animado. — Uma bebida? — perguntou-lhe, que deu de ombros virando-se em direção ao bar.

Ele repousou a mão na base da sua coluna e a guiou pelo caminho. Puxou o banco para que ela se sentasse e acomodou-se ao seu lado em seguida.

— Uma dose de uísque doze anos e uma água com limão para senhorita — pediu ele ao barman.

— Não! — disse Barbara em tom firme, fazendo o homem atrás do balcão parar. — Vou querer o mesmo que ele.

Edgar a olhou surpreso.

— Certo — respondeu o barman.

— Tudo bem — disse o seu acompanhante, sorrindo com sarcasmo. No fundo, ele duvidava de que ela daria conta de beber aquela dose.

Os copos foram colocados à frente deles. Edgar pegou o seu e o levantou em direção ao dela para um brinde. Sem saber ao que estavam brindando, Barbara tocou a borda do seu copo no dele antes de dar o primeiro gole.

— E então, Barbara... O que tem na cidade maravilhosa que não tem em São Paulo?

Ela deu-lhe um risinho arteiro.

— Muitas coisas. Tudo aqui é diferente. Eu adorava São Paulo, mas só até me mudar para cá. Prefiro o calor do Rio de Janeiro. Já esteve aqui antes?

— Já, mas só a negócios com o meu pai. O que tem de divertido para fazermos por aqui que não seja essas festas de milhões?

Ela encarou-o com um olhar divertido e sorriu de maneira sedutora.

— Quer mesmo saber?

Ele assentiu.

— Bailes em comunidades. Eu já fui a alguns com uma amiga. É sempre muito divertido.

Edgar arregalou os olhos para ela e riu espantado.

— Favelas? — Havia um tom desdenhoso na voz.

— Comunidades! — corrigiu-o.

— Já foi mesmo a festas nesse lugar? — perguntou incrédulo, duvidando que uma patricinha como ela tivesse mesmo ido.

— Por quê? Não posso? — Encarou-o.

Ele riu balançando a cabeça em negativa, como se tentasse colocar os pensamentos em ordem outra vez.

— Deixa eu ver se entendi. Filha única, princesinha do papai, rica e que adora uma favela?

— Comunidade! — corrigiu-o novamente.

— Não imaginei isso. Achei que fosse do tipo que preferia shopping e viagens para Paris.

— Eu amo ir ao shopping, mas só os visito apenas durante o dia. E detesto Paris. Só tem ratos e superlotação o ano todo.

Edgar deu mais um gole na bebida.

— Bom... Então me mostre a noite carioca. — Alisou o braço dela com as pontas dos dedos, que se remexeu para o lado, afastando do seu toque.

— Não abusa.

Ele ergueu a mão para o alto em sinal de redenção.

— Sim, senhora.

— Adoraria te enfiar em uma comunidade e ver você ficar apavorado com uma realidade bem distante da sua, mas não podemos sair da festa.

— Você é do tipo que segue as regras? Não parece. E se nós as quebrasse essa noite? — perguntou ele, olhando para onde estavam os seus pais.

Barbara olhou para ele e depois para Carlos. O pai estava de costas para eles, não os veria saindo se fossem agora. Ela adoraria quebrar as regras naquela noite entediante. Tinha ouvido falar de um baile que aconteceria na Rocinha. Ela nunca tinha ido lá, porque não era um morro pacificado. E como mulher e herdeira de uma grande fortuna, era preciso ter o mínimo de cuidado consigo. Mas talvez hoje fosse o dia, afinal, ela não estaria sozinha ou em outra companhia feminina. Homens costumam respeitar com grande facilidade a figura de outro homem. E, quem sabe, Edgar ao seu lado faria com que ela fosse minimamente respeitada naquele lugar e dessa forma a oferecesse um pouco de segurança.

— Eu topo! — respondeu animada.

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