Matheus desviou o olhar e engoliu em seco. O que dizer?, se perguntou.— Tava trabalhando.— Com o que trabalha? — perguntou, séria.Olhou-a, nervoso. — A gente num tem que falar disso agora. — Apanhou uma mecha do cabelo dela e o colocou atrás da orelha.Barbara sentiu que ele estava nervoso. Sem querer julgar, mas já fazendo isso, ela temia que Matheus fosse um homem envolvido com o crime. Afinal, ele morava em uma comunidade comandada por criminosos. E não que todos que morassem ali fossem pessoas que mexiam com o errado, mas ele tinha uma moto que devia custar mais de cem mil. E pela casa em que vivia, ela entendia que ele não tinha condições para aquilo. Por um momento, se perguntou se ele poderia ter algo a ver com aquela festa regada de cocaína. Ele disse estar trabalhando lá. Será que poderia representar perigo para ela?— Você está bem? — Tocou o rosto dela com carícias.— Tudo bem. Podemos falar sobre isso depois.Respirando fundo, chegou mais perto dele e segur
Barbara estava suada. O cabelo já não estava mais bonito. Ela e Matheus dançavam em meio à multidão depois de algumas cervejas. Sempre sorrindo um para o outro, sempre se beijando. O dia estava prestes a amanhecer. O céu já não era mais tão escuro. Ela apanhou o celular na pequena bolsinha que carregava atravessada ao corpo e viu que passava das cinco da manhã. Precisava ir embora. Era domingo e em algumas horas devia estar na casa dos pais e bem apresentável para um almoço em família.— Eu preciso ir — disse no ouvido de Matheus.— Posso te levar em casa?Ela sorriu, assentindo.— Adoraria.Os dois subiram na moto e Matheus fez o caminho mais longo que poderia até o apartamento da Barbara, passando pela orla de Copacabana. Quando estacionou junto ao meio-fio, em frente ao prédio de luxo, ele ajudou-a descer. Matheus retirou o capacete dela e riu baixinho ao ver a confusão que estava o seu cabelo.— Eu sei do que está rindo, não faça isso — disse ela em um tom divertido.Ele colou os
Logo que se aproximou, escutou a gargalhada do pai e em seguida, a voz do Edgar.— Olha ela aí — disse a sua mãe, levantando-se e indo ao seu encontro. — Estávamos apenas esperando você para servir o almoço.— Bom dia, Barbara — cumprimentou Edgar.— Bom dia a todos — disse ela sem dirigir o olhar a ele, que se sentiu ofendido.Edgar levantou-se e foi até ela com uma taça de champanhe na mão, oferecendo-a com um gesto.— Não, obrigada.— Ouvi dizer que mais álcool ajuda a curar a ressaca.Ela olhou-o, finalmente.— E quem disse que estou de ressaca? — Forçou um sorriso.— Como foi a festa na favela? Se divertiu com o neguinho? — O seu tom era de pura provocação.Barbara fechou o semblante para ele e cruzou os braços à frente, o encarando com firmeza.— Você não tem o direito de falar assim dele, ou de qualquer outra pessoa de pele preta!Ele riu com deboche, antes de dar um gole no champanhe.— Imagina se o seu pai soubesse por onde andou na noite passada. Sabe, eu não gostei de ter s
Barbara estava deitada sobre uma toalha na faixa de areia da praia de Copacabana. Estava sozinha, mas aguardava por alguém quando uma sombra pairou sobre ela. Olhou para o lado e viu um homem vestindo uma sunga azul e usando óculos escuros.— Foi aqui que pediram alguém para passar protetor solar em uma linda moça?Ela franziu o cenho e conteve o riso.— Essa é a sua melhor cantada? — Sentou-se.Ele deu de ombros e sorriu, retirando os óculos.— É o que tem para hoje, gata. Vai querer? — O seu tom soou um tanto arrogante.Ela riu e sentiu uma aproximação na sua direção. Olhou sobre o ombro e lá estava Matheus, caminhando pela areia em direção dela. Ele estava lindo com aquele abdômen à mostra. Não era definido como o de alguém que frequentava fielmente uma academia, mas era de dar água na boca, principalmente quando mostrava aquelas longas cavas que desciam para virilha. Ela mordeu o lábio inferior com desejo dele e pensou que adoraria poder o lamber ali mesmo.— É, eu vou querer. —
Matheus saiu da água e correu até ela, ajoelhando à sua frente e lhe selando os lábios.— A água tá ótima!— Daqui a pouco eu entro. Sente aqui. — Indicou-lhe o espaço à sua frente, entre as pernas.Ele acomodou-se ali, de costas para ela. Barbara aplicou protetor nas costas dele e espalhou-o por toda a pele, incluindo ombros, braços e pescoço. Matheus tinha uma tatuagem ali na parte de trás. Uma cruz com um manto enroscado nela e uma coroa de espinhos dependurada sobre a ponta no topo.— Você é religioso?— Não frequento uma igreja ou me identifico com uma religião. Apenas tenho fé nas coisas, por mais que às vezes eu não tenha comigo mesmo.— Por quê? Não faz sentido ter fé nos outros, mas não em si mesmo.Ele olhou-a por cima do ombro. Matheus abriu a boca para lhe dizer algo, mas nada disse. A fechou e olhou para frente outra vez.— Tudo bem, Matheus. Pode falar — tentou o encorajar, mas nada saiu da boca dele.Ela terminou de aplicar o protetor e depois o abraçou por trás, deitan
Matheus estacionou a moto junto ao meio-fio, em frente a uma praça. Barbara desceu e ajeitou o vestido que usava, antes de tirar o capacete.— Obrigada por me trazer até aqui — agradeceu-lhe.— Quando vou te ver de novo? — Ele retirou o próprio capacete.— Fim de semana.— Domingo vai ter uma festa no morro. Eu posso te buscar na sua casa.— Que tipo de festa? Um baile.Ele sorriu.— Não. É uma feijoada. Você gosta?— Eu nunca comi. — Ela sorriu envergonhada com essa revelação, enquanto Matheus gargalhou.— Tá certo, princesinha. Vai comer pela primeira vez, então.— Okay.— Eu te busco às onze.Barbara tocou o seu rosto e acariciou suavemente a sua face com o polegar. Sorriu e beijou os lábios dele com lentidão.— Até domingo — disse baixinho.Ela virou-se e caminhou em direção ao prédio ao lado da praça. Era ali que a empresa do seu pai se abrigava há nove anos. Barbara havia combinado com Carlos que eles iriam almoçar juntos, por isso estava ali, embora não estivesse nem um pouco e
Barbara contou os segundos para aquele almoço se encerrar. Ela não aguentava mais ouvir o pai falar do Edgar e das riquezas que a família dele detinha. Carlos expressava com ânimo como seria incrível juntar as fortunas uma vez que as duas empresas trabalham no ramo da construção civil. Ela perguntou-lhe sobre o porquê de precisar de um casamento entre as famílias para isso, quando era apenas um tornar-se sócio do outro.— Porque um casamento manteria mais firme uma sociedade. Não seria apenas um contrato, haveria uma união de sangue! — afirmou Carlos, como se dissesse o óbvio para Barbara. Ela torcia para que, assim como das outras quatro vezes, o seu pai logo se desentendesse com alguém e essa empolgação morresse levando com ela esse papo de casamento e união de sangue.Após a sobremesa, ela mal se despediu dele e pegou um táxi para casa. Ao chegar, suspirou com alívio. Depois de um banho, se sentou na frente do laptop pensando em lugares para onde poderia fugir caso esse assunto de
Matheus estava deitado na cama, quando chegou uma mensagem da Barbara.Eu quero te ver. Não quero aguardar até o domingo.Ele sorriu satisfeito em saber que ela tinha ansiedade em vê-lo. Teve receio de que com o passar dos dias, Barbara percebesse que ele é um marginal envolvido no alto crime e se afastasse dele. E, no fundo, Matheus queria isso. Sabia que era o certo, mas não conseguia tomar essa atitude, então era mais fácil ser covarde e deixar para ela a responsabilidade de ir embora. No fim, temia que a sua vida acabaria trazendo problemas e perigos para alguém como ela: uma mulher muito rica.Teria de pedir que Barbara não falasse muito sobre ela e nem que se vestisse como uma garota rica no domingo. Apesar de vir de uma família bastante conhecida e influente, era certeza quase todos na comunidade não sabia quem era ela. Afinal, na bolha em que Barbara vive os periféricos não chegam nem perto, a não ser que fosse para limpar o chão ou engraxar os seus sapatos.Já está bem ta