capítulo 02

Luna

O barulho dos meus próprios passos ecoa no corredor da biblioteca, abafado pelo tapete grosso que cobre o chão. O lugar está quase vazio, do jeito que eu gosto. Algumas poucas mesas ocupadas por alunos imersos nos estudos, pilhas de livros espalhadas e o farfalhar discreto de páginas virando. O cheiro de papel antigo e café requentado me envolve, uma mistura reconfortante que me acompanha desde o primeiro dia de faculdade.

Minha mesa habitual fica no canto, perto da estante de literatura clássica. Um refúgio silencioso. Deixo a bolsa cair sobre a cadeira e solto um suspiro. Meus ombros relaxam, minha mente encontra um fio de tranquilidade. A biblioteca é o único lugar onde o mundo lá fora não exige nada de mim.

Sento, tiro um livro da bolsa e o abro no meio, onde marquei com um post-it rosa. Mas antes que eu possa me perder na história, uma sombra se move na minha visão periférica.

— Luna Navarro.

Minha cabeça se ergue antes mesmo de processar a voz. Zoe.

Ela se j**a na cadeira à minha frente, espalhando suas coisas pela mesa. Seu cabelo tingido de azul está preso num coque bagunçado, os olhos brilhando com um interesse exagerado que significa problema.

— O que foi? — pergunto, fechando o livro devagar.

— Você. — Ela aponta um dedo na minha direção. — E seu crush secreto no atleta do ano.

Meu estômago dá um leve nó, mas minha expressão continua neutra.

— Você tá falando do quê?

— Do seu olhar de peixe morto para o Damian Hayes no estacionamento hoje cedo.

Reviro os olhos.

— Eu não tenho um crush nele.

— Não? Então qual é a desculpa para ficar hipnotizada toda vez que ele chega?

— Curiosidade — digo, simples. — Ele é um clichê ambulante. O bad boy popular, capitão do time, que todo mundo quer por perto. É só interessante ver como esse tipo de pessoa realmente existe.

— Sei…

Zoe apoia o queixo na mão e me encara como se pudesse arrancar a verdade de mim só com o olhar.

— Só digo que o universo tem uma mania engraçada de bagunçar as coisas — ela continua, um sorriso travesso nos lábios. — Cuidado, Luna. Às vezes, o destino adora brincar com pessoas que se acham invisíveis.

Dou de ombros.

— Eu não sou invisível. Só prefiro que as pessoas não olhem demais.

— E se ele olhar?

Solto uma risada curta.

— Ele nem sabe que eu existo.

Mas, no fundo, uma parte de mim se pergunta: e se um dia souber?

⛸️🏒📖❄️

Damian

A lanchonete do campus está cheia, como sempre. O cheiro de batata frita e café forte paira no ar, misturado com o burburinho de conversas e risadas. Meu corpo ainda sente o resquício do treino da manhã, os músculos tensos, mas nada que um hambúrguer e um milkshake de baunilha não resolvam.

— Cara, você jogou pra caralho hoje — Ryan diz ao meu lado, batendo no meu ombro antes de morder um pedaço enorme do sanduíche dele. — Matt quase chorou.

Dou de ombros.

— Ele precisa aprender a reagir mais rápido. Se fosse um jogo de verdade, teria levado uma surra.

— E você adoraria, né?

Ryan ri, me dando um olhar cúmplice.

— Admito, eu gosto de ver quem consegue me enfrentar.

Ele balança a cabeça.

— Você é um desgraçado competitivo, Hayes.

— E você não?

— Sou. Mas eu sei relaxar. Você, por outro lado…

— Eu relaxo.

Ryan me encara, levantando uma sobrancelha.

— Ah, é? Quando foi a última vez que você fez algo que não envolvesse hóquei?

Penso por um momento, mas nada me vem à mente. Ele ri, balançando a cabeça.

— Tá vendo? Você vive e respira isso.

— Eu preciso.

Ele não discorda, mas seu olhar me diz que ele acha que eu estou exagerando. Talvez eu esteja. Mas treinar, jogar, vencer… Isso é o que eu conheço. O que sempre conheci.

E falhar não é uma opção.

Meus olhos vagueiam pelo salão sem motivo, apenas por hábito. E então, por acaso, eu vejo.

Alguém que nunca vi antes.

Ela está sentada sozinha, lendo um livro. A pele rica em melanina contrasta com o cabelo volumoso, as ondas se espalhando em um caos perfeito ao redor do rosto. Ela usa um suéter grande, meio caído no ombro, e há algo nela que não combina com o resto do lugar. Como se estivesse em um mundo à parte.

Algo me faz encará-la um pouco mais.

— Tá olhando o quê? — Ryan pergunta, seguindo meu olhar.

— Nada — respondo automaticamente, desviando.

Mas por alguma razão, eu quero olhar de novo.

E eu olho.

Só por um segundo a mais do que deveria.

⛸️🏒📖❄️

Luna

Meus olhos captam o movimento antes do meu cérebro processar o que está acontecendo.

Damian Hayes está olhando na minha direção.

Por um instante, eu acho que estou imaginando coisas. Não faz sentido. Eu sou invisível. Sempre fui.

Mas não.

Seus olhos verdes estão fixos em mim, mesmo que apenas por um segundo.

E, então, como se nada tivesse acontecido, ele desvia.

Meu coração acelera, mas minha mente me diz para ignorar. Não significa nada. Pessoas olham umas para as outras o tempo todo. Ele provavelmente nem percebeu que olhou para mim.

Mesmo assim, há algo inquietante nisso. Algo que faz um arrepio subir pela minha espinha.

Algo me diz que esse não foi o último olhar.

E talvez, só talvez…

Isso seja o começo de algo que eu não posso evitar.

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