capítulo 07

Luna

— Você não acha que está exagerando um pouco?

A voz de Zoe corta minha concentração, me fazendo levantar os olhos da tela do laptop. Estamos sentadas na cafeteria do campus, no nosso canto habitual, e minha melhor amiga me observa com uma expressão meio divertida, meio curiosa.

— Exagerando com o quê? — pergunto, franzindo a testa.

— Com essa sua obsessão em planejar cada detalhe do trabalho com o loirão tatuado.

Reviro os olhos.

— Não é obsessão, Zoe. É organização.

Ela se inclina para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— Tá bom. Então me explica por que você está anotando até as pausas que vão fazer no trabalho.

— Porque eu gosto de ter controle das coisas.

— Ou porque você está tentando desesperadamente fingir que esse projeto não vai ser uma grande distração.

Eu paro.

— Como assim?

Ela sorri, apontando para mim com a colher do cappuccino.

— Luna, amiga, eu te conheço. Sei que você não gosta de surpresas, nem de mudanças na sua rotina. E sei que você tá se convencendo de que esse trabalho com o Damian vai ser só mais uma tarefa acadêmica qualquer.

Eu cruzo os braços.

— Mas é.

— Será?

Ela me encara com aquele olhar de quem enxerga muito mais do que deveria.

— Você nunca deu a mínima para os jogadores do time da faculdade. Sempre achou um saco todo esse frenesi em volta deles. Mas, de repente, você está passando horas com um deles, falando dele, pensando nele...

— Eu não estou pensando nele.

— Claro. Você só passou os últimos minutos com essa cara de quem tá perdida no próprio pensamento.

Mordo o lábio, incomodada com o rumo da conversa.

— Eu só quero que esse projeto seja feito direito.

— Certo. E para isso você precisa saber que a tatuagem no braço dele cobre quase toda a pele?

Minha boca se abre, mas eu não sei o que responder.

Merda.

Zoe solta uma risada vitoriosa antes de tomar um gole do cappuccino.

— Enfim, mudando de assunto, você trabalha hoje?

Agradeço silenciosamente pela mudança de tópico e dou um aceno.

— Sim. Preciso passar em casa primeiro, tomar um banho e me trocar.

Ela assente.

— Bom, então não se atrasa. Sei que você odeia começar o expediente correndo.

Me levanto, guardando o laptop na mochila.

— Sei me organizar, Zoe.

— Aham. E eu sou a rainha da Inglaterra.

Reviro os olhos, mas sorrio antes de sair da cafeteria.

⛸️🏒📖❄️

O caminho até minha casa é tranquilo. O sol começa a se pôr no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados, e o clima frio dá um toque aconchegante ao fim do dia.

Moro com meus pais, o que tem seus prós e contras. O maior pró? Não preciso me preocupar com aluguel. O maior contra? Minha mãe sempre quer saber cada detalhe da minha rotina.

Assim que entro pela porta, a voz dela ecoa da cozinha.

— Luna, querida, você já chegou?

— Sim, mãe! — grito de volta, tirando os sapatos perto da entrada.

Passo rapidamente pela cozinha, onde ela está terminando de preparar algo no fogão.

— Como foi o dia?

— Normal. Só vim me trocar antes do trabalho.

Ela sorri, mas não resiste.

— E esse projeto que você tá fazendo? Alguma novidade?

— Nenhuma. — Respondo rápido demais.

— Sei… — Ela me lança um olhar desconfiado, mas não insiste.

Subo as escadas antes que ela resolva fazer mais perguntas e entro no meu quarto, soltando um suspiro.

Preciso me focar no trabalho.

Meu quarto é meu refúgio, um espaço organizado e acolhedor. Minha escrivaninha está repleta de livros e anotações, e minha cama tem um monte de almofadas que eu nunca uso, mas gosto de manter ali.

Vou direto para o banheiro e tomo um banho quente e demorado. A água ajuda a relaxar meus músculos tensos, e eu deixo que o vapor alivie o peso do dia.

Depois de me secar, visto meu uniforme: calça jeans preta, camiseta do trabalho e um suéter por cima para espantar o frio. Prendo meu cabelo em um coque alto e coloco os brincos pequenos que sempre uso.

Dou uma última olhada no espelho antes de pegar minhas coisas e descer as escadas.

Minha mãe me vê saindo e sorri.

— Se cuida, filha.

— Sempre.

⛸️🏒📖❄️

O café está movimentado quando chego. Alguns clientes estudam em seus laptops, outros conversam em tons baixos, enquanto o cheiro de café fresco e pão doce se espalha pelo ar.

Eu gosto desse lugar. Da rotina. Da previsibilidade.

— Luna, pode atender a mesa do canto? — O gerente me chama.

Olho na direção indicada e sinto meu estômago afundar.

Sentado no canto, com um casaco preto e um olhar tranquilo, está ninguém menos que Damian Hayes.

E, claro, ele não está sozinho.

Ao redor da mesa, três caras do time de hóquei conversam animadamente, mas param quando me aproximo. Damian levanta os olhos, e um sorriso lento surge no canto da boca.

— Navarro.

— Hayes.

— Você trabalha aqui?

Cruzo os braços.

— Além de atleta convencido, você também é mestre em fazer perguntas óbvias?

Seus amigos explodem em risadas.

— Ela te pegou, cara!

Damian revira os olhos, ainda sorrindo.

— Tá estressadinha hoje, hein?

— Estressada, não. Só ocupada. Então, qual vai ser o pedido?

Ele inclina a cabeça, me analisando.

— O que você recomenda?

— Que você peça logo antes que eu vá embora.

Os amigos dele gargalham de novo, batendo na mesa.

— Essa garota não te dá uma, Hayes.

— Um cappuccino, sem açúcar — ele finalmente responde.

Anoto e me viro para sair, mas ele me chama.

— Ei, Luna.

Paro, olhando por cima do ombro.

— O quê?

— Você não me respondeu.

Franzo a testa.

— Respondi o quê?

— Se gosta de tatuagens.

Seguro o suspiro e mantenho a voz neutra.

— Eu gosto de silêncio.

Os amigos dele riem ainda mais alto.

— Cara, ela te deu outro fora!

— É oficial, Hayes. Você tá ferrado.

Ele apenas sorri, como se estivesse gostando da situação.

Respiro fundo e sigo para o balcão, ignorando os olhares divertidos deles.

Quando entrego o pedido e me preparo para sair, não resisto à provocação final.

— Aqui está seu café, Ken da Barbie.

O silêncio dura um segundo antes que os amigos dele explodam em gargalhadas.

— MEU DEUS!

— Ken da Barbie?!

— Essa foi a melhor!

Damian me olha, incrédulo.

— Você não fez isso.

Dou um sorriso inocente.

— Acabei de fazer. Aproveite seu cappuccino, Ken.

Os amigos dele quase choram de rir, enquanto Damian me encara, claramente indignado.

Sim. Isso fez meu dia.

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