Luna
— Você não acha que está exagerando um pouco? A voz de Zoe corta minha concentração, me fazendo levantar os olhos da tela do laptop. Estamos sentadas na cafeteria do campus, no nosso canto habitual, e minha melhor amiga me observa com uma expressão meio divertida, meio curiosa. — Exagerando com o quê? — pergunto, franzindo a testa. — Com essa sua obsessão em planejar cada detalhe do trabalho com o loirão tatuado. Reviro os olhos. — Não é obsessão, Zoe. É organização. Ela se inclina para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — Tá bom. Então me explica por que você está anotando até as pausas que vão fazer no trabalho. — Porque eu gosto de ter controle das coisas. — Ou porque você está tentando desesperadamente fingir que esse projeto não vai ser uma grande distração. Eu paro. — Como assim? Ela sorri, apontando para mim com a colher do cappuccino. — Luna, amiga, eu te conheço. Sei que você não gosta de surpresas, nem de mudanças na sua rotina. E sei que você tá se convencendo de que esse trabalho com o Damian vai ser só mais uma tarefa acadêmica qualquer. Eu cruzo os braços. — Mas é. — Será? Ela me encara com aquele olhar de quem enxerga muito mais do que deveria. — Você nunca deu a mínima para os jogadores do time da faculdade. Sempre achou um saco todo esse frenesi em volta deles. Mas, de repente, você está passando horas com um deles, falando dele, pensando nele... — Eu não estou pensando nele. — Claro. Você só passou os últimos minutos com essa cara de quem tá perdida no próprio pensamento. Mordo o lábio, incomodada com o rumo da conversa. — Eu só quero que esse projeto seja feito direito. — Certo. E para isso você precisa saber que a tatuagem no braço dele cobre quase toda a pele? Minha boca se abre, mas eu não sei o que responder. Merda. Zoe solta uma risada vitoriosa antes de tomar um gole do cappuccino. — Enfim, mudando de assunto, você trabalha hoje? Agradeço silenciosamente pela mudança de tópico e dou um aceno. — Sim. Preciso passar em casa primeiro, tomar um banho e me trocar. Ela assente. — Bom, então não se atrasa. Sei que você odeia começar o expediente correndo. Me levanto, guardando o laptop na mochila. — Sei me organizar, Zoe. — Aham. E eu sou a rainha da Inglaterra. Reviro os olhos, mas sorrio antes de sair da cafeteria. ⛸️🏒📖❄️ O caminho até minha casa é tranquilo. O sol começa a se pôr no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados, e o clima frio dá um toque aconchegante ao fim do dia. Moro com meus pais, o que tem seus prós e contras. O maior pró? Não preciso me preocupar com aluguel. O maior contra? Minha mãe sempre quer saber cada detalhe da minha rotina. Assim que entro pela porta, a voz dela ecoa da cozinha. — Luna, querida, você já chegou? — Sim, mãe! — grito de volta, tirando os sapatos perto da entrada. Passo rapidamente pela cozinha, onde ela está terminando de preparar algo no fogão. — Como foi o dia? — Normal. Só vim me trocar antes do trabalho. Ela sorri, mas não resiste. — E esse projeto que você tá fazendo? Alguma novidade? — Nenhuma. — Respondo rápido demais. — Sei… — Ela me lança um olhar desconfiado, mas não insiste. Subo as escadas antes que ela resolva fazer mais perguntas e entro no meu quarto, soltando um suspiro. Preciso me focar no trabalho. Meu quarto é meu refúgio, um espaço organizado e acolhedor. Minha escrivaninha está repleta de livros e anotações, e minha cama tem um monte de almofadas que eu nunca uso, mas gosto de manter ali. Vou direto para o banheiro e tomo um banho quente e demorado. A água ajuda a relaxar meus músculos tensos, e eu deixo que o vapor alivie o peso do dia. Depois de me secar, visto meu uniforme: calça jeans preta, camiseta do trabalho e um suéter por cima para espantar o frio. Prendo meu cabelo em um coque alto e coloco os brincos pequenos que sempre uso. Dou uma última olhada no espelho antes de pegar minhas coisas e descer as escadas. Minha mãe me vê saindo e sorri. — Se cuida, filha. — Sempre. ⛸️🏒📖❄️ O café está movimentado quando chego. Alguns clientes estudam em seus laptops, outros conversam em tons baixos, enquanto o cheiro de café fresco e pão doce se espalha pelo ar. Eu gosto desse lugar. Da rotina. Da previsibilidade. — Luna, pode atender a mesa do canto? — O gerente me chama. Olho na direção indicada e sinto meu estômago afundar. Sentado no canto, com um casaco preto e um olhar tranquilo, está ninguém menos que Damian Hayes. E, claro, ele não está sozinho. Ao redor da mesa, três caras do time de hóquei conversam animadamente, mas param quando me aproximo. Damian levanta os olhos, e um sorriso lento surge no canto da boca. — Navarro. — Hayes. — Você trabalha aqui? Cruzo os braços. — Além de atleta convencido, você também é mestre em fazer perguntas óbvias? Seus amigos explodem em risadas. — Ela te pegou, cara! Damian revira os olhos, ainda sorrindo. — Tá estressadinha hoje, hein? — Estressada, não. Só ocupada. Então, qual vai ser o pedido? Ele inclina a cabeça, me analisando. — O que você recomenda? — Que você peça logo antes que eu vá embora. Os amigos dele gargalham de novo, batendo na mesa. — Essa garota não te dá uma, Hayes. — Um cappuccino, sem açúcar — ele finalmente responde. Anoto e me viro para sair, mas ele me chama. — Ei, Luna. Paro, olhando por cima do ombro. — O quê? — Você não me respondeu. Franzo a testa. — Respondi o quê? — Se gosta de tatuagens. Seguro o suspiro e mantenho a voz neutra. — Eu gosto de silêncio. Os amigos dele riem ainda mais alto. — Cara, ela te deu outro fora! — É oficial, Hayes. Você tá ferrado. Ele apenas sorri, como se estivesse gostando da situação. Respiro fundo e sigo para o balcão, ignorando os olhares divertidos deles. Quando entrego o pedido e me preparo para sair, não resisto à provocação final. — Aqui está seu café, Ken da Barbie. O silêncio dura um segundo antes que os amigos dele explodam em gargalhadas. — MEU DEUS! — Ken da Barbie?! — Essa foi a melhor! Damian me olha, incrédulo. — Você não fez isso. Dou um sorriso inocente. — Acabei de fazer. Aproveite seu cappuccino, Ken. Os amigos dele quase choram de rir, enquanto Damian me encara, claramente indignado. Sim. Isso fez meu dia.Damian A zoeira não para nem quando saímos da cafeteria. — Cara, Ken foi pesado — Nate ri, batendo no meu ombro enquanto caminhamos até o carro. — Foi o melhor apelido que ela podia ter te dado — Owen acrescenta, segurando o riso. — Um loiro, cheio de músculos, metido a galã… mano, tu é o Ken. Reviro os olhos, ignorando as risadas dos idiotas ao meu redor. — Isso não vai pegar. — Sei… — Nate debocha. — Como se a gente já não estivesse planejando mudar seu contato no grupo para “Ken Hayes”. Eles caem na gargalhada de novo, e eu só balanço a cabeça. Maldita Luna Navarro. Ela sabia o que estava fazendo quando me chamou daquele jeito. E eu odeio admitir, mas… a nerd metódica sabe provocar. ⛸️🏒📖❄️ O treino começa alguns minutos depois, e eu me forço a focar no que realmente importa: o jogo. O barulho dos patins deslizando no gelo, os gritos do treinador e o impacto do puck contra os tacos ocupam minha mente, deixando pouco espaço para qualquer outra coisa. No gelo, eu não so
Luna on O frio da manhã me faz puxar o casaco ais para perto do corpo enquanto caminho pelo campus. O inverno ainda não chegou com tudo, mas a brisa gelada já avisa que não está longe. Meus dedos estão frios ao redor do copo de café que comprei antes da aula, e eu me pergunto por que diabos ainda não comprei uma luva decente. Ao meu lado, Zoe mastiga distraidamente um pedaço de bolo, a expressão sonolenta. — Você viu o cronograma de provas? — pergunto, tomando um gole do café. — Vi — ela resmunga. — E também vi minha vontade de viver indo embora junto com ele. Solto uma risada baixa, mas não posso discordar. O semestre está apertado, e minha rotina está cada vez mais cheia. Além das provas, tem o trabalho na cafeteria e, claro, o projeto com ele. Damian Hayes. O nome dele surge na minha mente antes que eu possa evitar. Faz dois dias desde que nos encontramos na biblioteca, e eu ainda não decidi se foi uma experiência ruim ou só… estranha. Ele não era o cara arrogante e insu
Luna OnA biblioteca está silenciosa, exatamente como eu gosto. O som baixo das páginas virando, os teclados sendo pressionados em um ritmo contínuo e o leve murmúrio de conversas abafadas criam um ambiente perfeito para se concentrar. Ou pelo menos deveriam criar.Se não fosse por ele.— Você tá realmente escrevendo tudo isso? — Damian questiona ao meu lado, inclinando-se sobre a mesa para espiar minhas anotações.Eu suspiro, sem tirar os olhos do caderno.— Sim, porque eu levo o trabalho a sério. Diferente de certas pessoas.Ele solta uma risada baixa.— Eu levo a sério. Só não vejo necessidade de escrever um livro inteiro de anotações.Reviro os olhos e continuo escrevendo. Mas ele não cala a boca.— Sua letra parece até fonte de computador. Tem certeza que você não é um robô?Solto a caneta e olho diretamente para ele.— Você realmente não consegue passar cinco minutos sem falar?Ele sorri.— Não quando tem alguém tão divertido pra provocar.Cruzo os braços.— Foco, Hayes. Se você
O estacionamento da faculdade estava mais vazio àquela hora da noite. A iluminação fraca dos postes criava sombras longas no asfalto, e o frio começava a se intensificar, formando pequenas nuvens de vapor sempre que algum dos garotos falava. O grupo estava reunido perto dos carros, encostados nas portas ou sentados nos capôs, esperando Damian finalmente sair da biblioteca. - Ele tá demorando. - O loiro resmungou, esfregando as mãos para se aquecer. - Será que a nerdzilla sequestrou ele? O ruivo riu. - Se sequestrou, a gente devia agradecer. Talvez ela ensine ele a usar o cérebro. - Qual é, ela nem é tão ruim assim. - O moreno, que até então só observava a conversa, comentou. O loiro e o ruivo trocaram olhares, surpresos. - O quê? Você gostou da garota, Logan? Ele deu de ombros. - Só acho que ela tem atitude. Não é todo dia que a gente vê alguém peitando o Damian sem medo. - Isso é verdade. - O ruivo cruzou os braços. - Mas agora fica a dúvida... O Damian só tá estudando com
Luna On O quarto de Luna era seu refúgio. As paredes estavam cobertas por pôsteres de livros e frases de autores que ela amava, e a pequena estante no canto transbordava de histórias que haviam sido seu abrigo ao longo dos anos. Mas naquela noite, nem mesmo as palavras impressas conseguiam prendê-la. Ela estava deitada de lado, abraçando um travesseiro, enquanto o abajur projetava uma luz suave pelo cômodo. O livro que tentara ler repousava aberto ao seu lado, as páginas estáticas, sem vida. Luna suspirou, rolando na cama. Havia algo errado com ela. Ou melhor, com sua mente. Porque, de alguma forma, contra toda a lógica do universo, um certo loiro irritante parecia ter se instalado ali. Ela tentou lutar contra isso. Tentou se convencer de que Damian Hayes era só mais um cara metido que achava que o mundo girava ao seu redor. Mas então se lembrou da maneira como ele a olhava quando ela falava sobre literatura. Como ele parecia realmente escutar. Como, ao invés de rir dos seus go
Damian On Damian Hayes sempre foi bom em manter o controle. No gelo, ele era rápido, calculista e feroz. Sabia exatamente como prever os movimentos do adversário, como virar o jogo a seu favor. Fora dali, não era tão diferente. Mantinha a confiança como uma armadura, o sorriso despreocupado como marca registrada e nunca — nunca — deixava ninguém ver quando algo o afetava de verdade. Então, por que diabos ele ainda estava pensando naquela mensagem? Era só uma mensagem. Ele não deveria ter ficado esperando a resposta. Ele não deveria ter sentido aquele aperto de expectativa. E, definitivamente, não deveria ter soltado um suspiro aliviado quando ela finalmente respondeu. Mas Luna Navarro estava conseguindo fazer algo que ninguém fazia há muito tempo. Bagunçá-lo. E ele não sabia se gostava ou odiava isso. ⛸️🏒📖❄️ Na manhã seguinte, Damian chegou cedo ao campus para o treino do time. O ringue estava vazio quando ele entrou, a luz fria refletindo no gelo impecável. Ele gostava
Luna On Luna gostava de rotina. Gostava de acordar cedo, preparar um café forte e sentar à mesa para revisar os textos da faculdade. Gostava de saber exatamente o que faria no dia, sem surpresas, sem mudanças repentinas. Mas, ultimamente, Damian Hayes estava bagunçando tudo. Ela percebeu isso quando, ao invés de focar no artigo que precisava terminar, pegou o celular e abriu a conversa com ele. Nenhuma mensagem trocada. O que significava que, para saber sobre o jogo, ela teria que perguntar. E isso já era irritante por si só. Mordeu o lábio, hesitante. Ela poderia simplesmente procurar a informação sozinha, mas... qual era o problema em perguntar diretamente? Com um suspiro pesado, digitou rápido: - Que horas é o jogo? A resposta veio em menos de um minuto. - Achei que não se importava, estressadinha. Ela revirou os olhos antes de responder: - E não me importo. Só preciso saber que horas não passar perto da arena pra não ter que ouvir gente gritando. - Claro. Acreditar
Luna não deveria ter ido à comemoração. Ela sabia disso. Tinha plena consciência de que sua presença ali só faria Damian se sentir mais convencido do que já era. Mas Zoe era uma força da natureza quando decidia algo. — Para de drama, Luna — a amiga disse, puxando-a pela mão. — É só uma festa. Você merece se divertir um pouco. — Eu me divirto perfeitamente bem com um bom livro e uma xícara de café — Luna resmungou. Zoe revirou os olhos. — E o que aconteceu depois do jogo? Você ficou calada o caminho inteiro. Luna hesitou. Ela não queria admitir que a troca de olhares com Damian ainda a incomodava. Havia algo nele que a deixava inquieta. Algo que fazia sua pele formigar e seu coração bater em um ritmo irritantemente irregular. — Nada demais — ela respondeu. Zoe arqueou uma sobrancelha, claramente não acreditando. — Ah, claro. Você só trocou olhares intensos com o capitão do time e quase entrou num jogo de sedução. Nada demais mesmo. Luna bufou. — Você exage