Damian
A zoeira não para nem quando saímos da cafeteria. — Cara, Ken foi pesado — Nate ri, batendo no meu ombro enquanto caminhamos até o carro. — Foi o melhor apelido que ela podia ter te dado — Owen acrescenta, segurando o riso. — Um loiro, cheio de músculos, metido a galã… mano, tu é o Ken. Reviro os olhos, ignorando as risadas dos idiotas ao meu redor. — Isso não vai pegar. — Sei… — Nate debocha. — Como se a gente já não estivesse planejando mudar seu contato no grupo para “Ken Hayes”. Eles caem na gargalhada de novo, e eu só balanço a cabeça. Maldita Luna Navarro. Ela sabia o que estava fazendo quando me chamou daquele jeito. E eu odeio admitir, mas… a nerd metódica sabe provocar. ⛸️🏒📖❄️ O treino começa alguns minutos depois, e eu me forço a focar no que realmente importa: o jogo. O barulho dos patins deslizando no gelo, os gritos do treinador e o impacto do puck contra os tacos ocupam minha mente, deixando pouco espaço para qualquer outra coisa. No gelo, eu não sou “Ken”, não sou o cara que foi zoado pelos amigos, e definitivamente não sou o cara que passou a noite pensando no sorriso convencido de Luna Navarro. Aqui, sou apenas Damian Hayes. O capitão. O cara que precisa liderar esse time até o campeonato. — Mais rápido, Hayes! — o treinador grita, e eu aperto o ritmo, disparando pelo gelo. O treino é intenso, como sempre. O tipo de intensidade que deixa meus músculos queimando, meu peito subindo e descendo rápido, e minha cabeça limpa. Eu preciso disso. Preciso lembrar quem eu sou. ⛸️🏒📖❄️ Depois do treino, estou no vestiário, terminando de me trocar, quando meu celular vibra com uma mensagem de número desconhecido. Número desconhecido: Biblioteca. Agora. Franzo a testa. Antes que eu possa responder, outra mensagem chega. Número desconhecido: Não faça essa cara de perdido. Sou eu. Luna. Solto uma risada baixa. É claro que ela escreveria desse jeito. Sem paciência, sem rodeios, sem se importar em parecer simpática. Guardo o celular no bolso e termino de vestir minha blusa antes de sair do vestiário. Meus amigos ainda estão por ali, mas ignoro as piadas deles e sigo para a biblioteca. Chego alguns minutos depois e, como esperado, Luna já está lá, sentada em uma mesa no canto. Ela está concentrada, folheando alguns papéis, e parece não ter me notado ainda. Me aproximo devagar e cruzo os braços. — Estressadinha. Ela levanta o olhar na mesma hora, estreitando os olhos. — Ken. Minha mandíbula trava. Ela não usou esse apelido de novo. Luna sorri, claramente satisfeita com minha reação. — Vai acostumando, Hayes. Eu sou ótima em guardar rancor. Cruzo os braços, estreitando os olhos para ela. — Eu não tenho cara de Ken. — Hmm… deixa eu pensar… — Ela inclina a cabeça, fingindo estar em dúvida. — Loirinho, cheio de músculos, carinha de bom moço, só falta um carrinho rosa. Reviro os olhos, jogando minha mochila na cadeira ao lado. — Engraçadinha. Ela dá um sorrisinho satisfeito e volta a encarar os papéis à sua frente. — Podemos focar no trabalho agora, Ken? Fecho os olhos por um segundo, respirando fundo. Eu podia ignorar isso. Podia simplesmente fingir que não me incomoda. Mas o problema é que incomoda. E ela sabe disso. Puxo a cadeira e me sento, passando a mão pelos cabelos. — Qual é o plano, estressadinha? Luna solta um suspiro longo, como se estivesse reunindo paciência para lidar comigo. — O plano é a gente dividir logo essa pesquisa para que eu não tenha que ficar te aturando mais do que o necessário. — Nossa, que amor. — Eu sou um doce — ela responde sem emoção, empurrando um papel na minha direção. — Aqui tem os tópicos que precisamos cobrir. Eu já separei alguns artigos, então você só precisa ler e me dizer quais partes podemos usar. Olho para a folha. — Isso significa que você fez a parte difícil e eu só tenho que ler? Ela me encara, sem expressar nada. — Sim. Porque eu sou inteligente. Dou uma risada baixa, pegando os papéis. — Ou porque você gosta de controle. Luna não responde, mas o silêncio dela já me dá a resposta. ⛸️🏒📖❄️ O tempo passa rápido enquanto trabalhamos. Para minha surpresa, Luna não tenta me matar nenhuma vez — o que considero um avanço. Ela se concentra fácil, os olhos varrendo cada linha com atenção, enquanto anota alguma coisa no caderno. Às vezes, murmura algo baixinho, provavelmente discutindo mentalmente um argumento. Eu a observo por um momento. Ela realmente leva isso a sério. E, mesmo que eu nunca diga isso em voz alta… é admirável. — Por que Literatura? — pergunto de repente. Ela levanta o olhar, parecendo pega de surpresa pela pergunta. — O quê? Aponto para o livro aberto à frente dela. — Você estuda Literatura. Por quê? Luna pisca algumas vezes, como se não esperasse que eu realmente quisesse saber. — Porque eu amo histórias — responde depois de um tempo. — Desde criança, sempre gostei de ler. Acho incrível a forma como palavras podem criar mundos inteiros na nossa cabeça. Assinto, absorvendo sua resposta. Ela não me devolve a pergunta, então eu mesmo respondo. — Meu pai queria que eu fizesse Administração ou Direito. Alguma coisa séria. Luna arqueia uma sobrancelha. — E você escolheu Gestão Esportiva? Dou de ombros. — É o mais próximo do hóquei que consegui sem abandonar a faculdade. Ela fica em silêncio por um momento, depois volta a encarar seus papéis. — Faz sentido. Não sei por quê, mas sinto que ela realmente entende. E isso é estranho. Porque ninguém nunca tenta entender. ⛸️🏒📖❄️ Depois de algumas horas, Luna suspira e se estica na cadeira. — Acho que já fizemos bastante por hoje. — Concordo. Meu cérebro já deu tilt. Ela revira os olhos, mas começa a organizar suas coisas. — Podemos terminar na quinta. — Quinta? — arqueio a sobrancelha. — Você tem agenda lotada ou algo assim? — Sim. Trabalho, estudos, vida. Essas coisas. Cruzo os braços, fingindo estar pensativo. — Interessante. E onde o Ken se encaixa nessa agenda? Ela para, me olhando com pura indignação. — Você não acabou de se chamar de Ken. Dou um sorriso preguiçoso. — Só queria ver se era verdade que você guardava rancor. Luna me encara por um segundo antes de suspirar pesadamente. — Quinta. Biblioteca. Não se atrasa. Ela pega a mochila e se levanta, me deixando ali. E, pela primeira vez, eu não me incomodo de ter que encontrá-la de novo.Luna on O frio da manhã me faz puxar o casaco ais para perto do corpo enquanto caminho pelo campus. O inverno ainda não chegou com tudo, mas a brisa gelada já avisa que não está longe. Meus dedos estão frios ao redor do copo de café que comprei antes da aula, e eu me pergunto por que diabos ainda não comprei uma luva decente. Ao meu lado, Zoe mastiga distraidamente um pedaço de bolo, a expressão sonolenta. — Você viu o cronograma de provas? — pergunto, tomando um gole do café. — Vi — ela resmunga. — E também vi minha vontade de viver indo embora junto com ele. Solto uma risada baixa, mas não posso discordar. O semestre está apertado, e minha rotina está cada vez mais cheia. Além das provas, tem o trabalho na cafeteria e, claro, o projeto com ele. Damian Hayes. O nome dele surge na minha mente antes que eu possa evitar. Faz dois dias desde que nos encontramos na biblioteca, e eu ainda não decidi se foi uma experiência ruim ou só… estranha. Ele não era o cara arrogante e insu
Luna OnA biblioteca está silenciosa, exatamente como eu gosto. O som baixo das páginas virando, os teclados sendo pressionados em um ritmo contínuo e o leve murmúrio de conversas abafadas criam um ambiente perfeito para se concentrar. Ou pelo menos deveriam criar.Se não fosse por ele.— Você tá realmente escrevendo tudo isso? — Damian questiona ao meu lado, inclinando-se sobre a mesa para espiar minhas anotações.Eu suspiro, sem tirar os olhos do caderno.— Sim, porque eu levo o trabalho a sério. Diferente de certas pessoas.Ele solta uma risada baixa.— Eu levo a sério. Só não vejo necessidade de escrever um livro inteiro de anotações.Reviro os olhos e continuo escrevendo. Mas ele não cala a boca.— Sua letra parece até fonte de computador. Tem certeza que você não é um robô?Solto a caneta e olho diretamente para ele.— Você realmente não consegue passar cinco minutos sem falar?Ele sorri.— Não quando tem alguém tão divertido pra provocar.Cruzo os braços.— Foco, Hayes. Se você
O estacionamento da faculdade estava mais vazio àquela hora da noite. A iluminação fraca dos postes criava sombras longas no asfalto, e o frio começava a se intensificar, formando pequenas nuvens de vapor sempre que algum dos garotos falava. O grupo estava reunido perto dos carros, encostados nas portas ou sentados nos capôs, esperando Damian finalmente sair da biblioteca. - Ele tá demorando. - O loiro resmungou, esfregando as mãos para se aquecer. - Será que a nerdzilla sequestrou ele? O ruivo riu. - Se sequestrou, a gente devia agradecer. Talvez ela ensine ele a usar o cérebro. - Qual é, ela nem é tão ruim assim. - O moreno, que até então só observava a conversa, comentou. O loiro e o ruivo trocaram olhares, surpresos. - O quê? Você gostou da garota, Logan? Ele deu de ombros. - Só acho que ela tem atitude. Não é todo dia que a gente vê alguém peitando o Damian sem medo. - Isso é verdade. - O ruivo cruzou os braços. - Mas agora fica a dúvida... O Damian só tá estudando com
Luna On O quarto de Luna era seu refúgio. As paredes estavam cobertas por pôsteres de livros e frases de autores que ela amava, e a pequena estante no canto transbordava de histórias que haviam sido seu abrigo ao longo dos anos. Mas naquela noite, nem mesmo as palavras impressas conseguiam prendê-la. Ela estava deitada de lado, abraçando um travesseiro, enquanto o abajur projetava uma luz suave pelo cômodo. O livro que tentara ler repousava aberto ao seu lado, as páginas estáticas, sem vida. Luna suspirou, rolando na cama. Havia algo errado com ela. Ou melhor, com sua mente. Porque, de alguma forma, contra toda a lógica do universo, um certo loiro irritante parecia ter se instalado ali. Ela tentou lutar contra isso. Tentou se convencer de que Damian Hayes era só mais um cara metido que achava que o mundo girava ao seu redor. Mas então se lembrou da maneira como ele a olhava quando ela falava sobre literatura. Como ele parecia realmente escutar. Como, ao invés de rir dos seus go
Damian On Damian Hayes sempre foi bom em manter o controle. No gelo, ele era rápido, calculista e feroz. Sabia exatamente como prever os movimentos do adversário, como virar o jogo a seu favor. Fora dali, não era tão diferente. Mantinha a confiança como uma armadura, o sorriso despreocupado como marca registrada e nunca — nunca — deixava ninguém ver quando algo o afetava de verdade. Então, por que diabos ele ainda estava pensando naquela mensagem? Era só uma mensagem. Ele não deveria ter ficado esperando a resposta. Ele não deveria ter sentido aquele aperto de expectativa. E, definitivamente, não deveria ter soltado um suspiro aliviado quando ela finalmente respondeu. Mas Luna Navarro estava conseguindo fazer algo que ninguém fazia há muito tempo. Bagunçá-lo. E ele não sabia se gostava ou odiava isso. ⛸️🏒📖❄️ Na manhã seguinte, Damian chegou cedo ao campus para o treino do time. O ringue estava vazio quando ele entrou, a luz fria refletindo no gelo impecável. Ele gostava
Luna On Luna gostava de rotina. Gostava de acordar cedo, preparar um café forte e sentar à mesa para revisar os textos da faculdade. Gostava de saber exatamente o que faria no dia, sem surpresas, sem mudanças repentinas. Mas, ultimamente, Damian Hayes estava bagunçando tudo. Ela percebeu isso quando, ao invés de focar no artigo que precisava terminar, pegou o celular e abriu a conversa com ele. Nenhuma mensagem trocada. O que significava que, para saber sobre o jogo, ela teria que perguntar. E isso já era irritante por si só. Mordeu o lábio, hesitante. Ela poderia simplesmente procurar a informação sozinha, mas... qual era o problema em perguntar diretamente? Com um suspiro pesado, digitou rápido: - Que horas é o jogo? A resposta veio em menos de um minuto. - Achei que não se importava, estressadinha. Ela revirou os olhos antes de responder: - E não me importo. Só preciso saber que horas não passar perto da arena pra não ter que ouvir gente gritando. - Claro. Acreditar
Luna não deveria ter ido à comemoração. Ela sabia disso. Tinha plena consciência de que sua presença ali só faria Damian se sentir mais convencido do que já era. Mas Zoe era uma força da natureza quando decidia algo. — Para de drama, Luna — a amiga disse, puxando-a pela mão. — É só uma festa. Você merece se divertir um pouco. — Eu me divirto perfeitamente bem com um bom livro e uma xícara de café — Luna resmungou. Zoe revirou os olhos. — E o que aconteceu depois do jogo? Você ficou calada o caminho inteiro. Luna hesitou. Ela não queria admitir que a troca de olhares com Damian ainda a incomodava. Havia algo nele que a deixava inquieta. Algo que fazia sua pele formigar e seu coração bater em um ritmo irritantemente irregular. — Nada demais — ela respondeu. Zoe arqueou uma sobrancelha, claramente não acreditando. — Ah, claro. Você só trocou olhares intensos com o capitão do time e quase entrou num jogo de sedução. Nada demais mesmo. Luna bufou. — Você exage
A biblioteca sussurrava em tons de papel antigo e madeira polida. O aroma de livros velhos e café requentado pairava no ar, uma mistura familiar e reconfortante para Luna Navarro. Enquanto o burburinho abafado de conversas acadêmicas ecoava ao fundo, ela se afundava cada vez mais em sua pesquisa, o lápis deslizando pelo caderno com anotações rabiscadas em sua caligrafia apertada. A mesa diante dela estava coberta por livros pesados de teoria literária, folhas destacadas com marcações coloridas e uma xícara de café frio esquecida ao lado do cotovelo. Ela mordia o lábio inferior, franzindo o cenho ao reler uma passagem densa sobre narrativas não-lineares. Ali, cercada por histórias e silêncio, Luna se sentia invisível. E gostava disso. O mundo ao seu redor podia girar em ritmo acelerado — os corredores lotados, os dramas universitários, a euforia dos jogos de hóquei que faziam a faculdade inteira vibrar — mas, naquele espaço entre estantes e conhecimento, nada disso importava. Ou pe