Capítulo 08

Damian

A zoeira não para nem quando saímos da cafeteria.

— Cara, Ken foi pesado — Nate ri, batendo no meu ombro enquanto caminhamos até o carro.

— Foi o melhor apelido que ela podia ter te dado — Owen acrescenta, segurando o riso. — Um loiro, cheio de músculos, metido a galã… mano, tu é o Ken.

Reviro os olhos, ignorando as risadas dos idiotas ao meu redor.

— Isso não vai pegar.

— Sei… — Nate debocha. — Como se a gente já não estivesse planejando mudar seu contato no grupo para “Ken Hayes”.

Eles caem na gargalhada de novo, e eu só balanço a cabeça.

Maldita Luna Navarro.

Ela sabia o que estava fazendo quando me chamou daquele jeito.

E eu odeio admitir, mas… a nerd metódica sabe provocar.

⛸️🏒📖❄️

O treino começa alguns minutos depois, e eu me forço a focar no que realmente importa: o jogo.

O barulho dos patins deslizando no gelo, os gritos do treinador e o impacto do puck contra os tacos ocupam minha mente, deixando pouco espaço para qualquer outra coisa. No gelo, eu não sou “Ken”, não sou o cara que foi zoado pelos amigos, e definitivamente não sou o cara que passou a noite pensando no sorriso convencido de Luna Navarro.

Aqui, sou apenas Damian Hayes.

O capitão.

O cara que precisa liderar esse time até o campeonato.

— Mais rápido, Hayes! — o treinador grita, e eu aperto o ritmo, disparando pelo gelo.

O treino é intenso, como sempre. O tipo de intensidade que deixa meus músculos queimando, meu peito subindo e descendo rápido, e minha cabeça limpa. Eu preciso disso.

Preciso lembrar quem eu sou.

⛸️🏒📖❄️

Depois do treino, estou no vestiário, terminando de me trocar, quando meu celular vibra com uma mensagem de número desconhecido.

Número desconhecido: Biblioteca. Agora.

Franzo a testa.

Antes que eu possa responder, outra mensagem chega.

Número desconhecido: Não faça essa cara de perdido. Sou eu. Luna.

Solto uma risada baixa.

É claro que ela escreveria desse jeito.

Sem paciência, sem rodeios, sem se importar em parecer simpática.

Guardo o celular no bolso e termino de vestir minha blusa antes de sair do vestiário. Meus amigos ainda estão por ali, mas ignoro as piadas deles e sigo para a biblioteca.

Chego alguns minutos depois e, como esperado, Luna já está lá, sentada em uma mesa no canto.

Ela está concentrada, folheando alguns papéis, e parece não ter me notado ainda.

Me aproximo devagar e cruzo os braços.

— Estressadinha.

Ela levanta o olhar na mesma hora, estreitando os olhos.

— Ken.

Minha mandíbula trava.

Ela não usou esse apelido de novo.

Luna sorri, claramente satisfeita com minha reação.

— Vai acostumando, Hayes. Eu sou ótima em guardar rancor.

Cruzo os braços, estreitando os olhos para ela.

— Eu não tenho cara de Ken.

— Hmm… deixa eu pensar… — Ela inclina a cabeça, fingindo estar em dúvida. — Loirinho, cheio de músculos, carinha de bom moço, só falta um carrinho rosa.

Reviro os olhos, jogando minha mochila na cadeira ao lado.

— Engraçadinha.

Ela dá um sorrisinho satisfeito e volta a encarar os papéis à sua frente.

— Podemos focar no trabalho agora, Ken?

Fecho os olhos por um segundo, respirando fundo.

Eu podia ignorar isso. Podia simplesmente fingir que não me incomoda. Mas o problema é que incomoda.

E ela sabe disso.

Puxo a cadeira e me sento, passando a mão pelos cabelos.

— Qual é o plano, estressadinha?

Luna solta um suspiro longo, como se estivesse reunindo paciência para lidar comigo.

— O plano é a gente dividir logo essa pesquisa para que eu não tenha que ficar te aturando mais do que o necessário.

— Nossa, que amor.

— Eu sou um doce — ela responde sem emoção, empurrando um papel na minha direção. — Aqui tem os tópicos que precisamos cobrir. Eu já separei alguns artigos, então você só precisa ler e me dizer quais partes podemos usar.

Olho para a folha.

— Isso significa que você fez a parte difícil e eu só tenho que ler?

Ela me encara, sem expressar nada.

— Sim. Porque eu sou inteligente.

Dou uma risada baixa, pegando os papéis.

— Ou porque você gosta de controle.

Luna não responde, mas o silêncio dela já me dá a resposta.

⛸️🏒📖❄️

O tempo passa rápido enquanto trabalhamos. Para minha surpresa, Luna não tenta me matar nenhuma vez — o que considero um avanço.

Ela se concentra fácil, os olhos varrendo cada linha com atenção, enquanto anota alguma coisa no caderno. Às vezes, murmura algo baixinho, provavelmente discutindo mentalmente um argumento.

Eu a observo por um momento.

Ela realmente leva isso a sério.

E, mesmo que eu nunca diga isso em voz alta… é admirável.

— Por que Literatura? — pergunto de repente.

Ela levanta o olhar, parecendo pega de surpresa pela pergunta.

— O quê?

Aponto para o livro aberto à frente dela.

— Você estuda Literatura. Por quê?

Luna pisca algumas vezes, como se não esperasse que eu realmente quisesse saber.

— Porque eu amo histórias — responde depois de um tempo. — Desde criança, sempre gostei de ler. Acho incrível a forma como palavras podem criar mundos inteiros na nossa cabeça.

Assinto, absorvendo sua resposta.

Ela não me devolve a pergunta, então eu mesmo respondo.

— Meu pai queria que eu fizesse Administração ou Direito. Alguma coisa séria.

Luna arqueia uma sobrancelha.

— E você escolheu Gestão Esportiva?

Dou de ombros.

— É o mais próximo do hóquei que consegui sem abandonar a faculdade.

Ela fica em silêncio por um momento, depois volta a encarar seus papéis.

— Faz sentido.

Não sei por quê, mas sinto que ela realmente entende.

E isso é estranho.

Porque ninguém nunca tenta entender.

⛸️🏒📖❄️

Depois de algumas horas, Luna suspira e se estica na cadeira.

— Acho que já fizemos bastante por hoje.

— Concordo. Meu cérebro já deu tilt.

Ela revira os olhos, mas começa a organizar suas coisas.

— Podemos terminar na quinta.

— Quinta? — arqueio a sobrancelha. — Você tem agenda lotada ou algo assim?

— Sim. Trabalho, estudos, vida. Essas coisas.

Cruzo os braços, fingindo estar pensativo.

— Interessante. E onde o Ken se encaixa nessa agenda?

Ela para, me olhando com pura indignação.

— Você não acabou de se chamar de Ken.

Dou um sorriso preguiçoso.

— Só queria ver se era verdade que você guardava rancor.

Luna me encara por um segundo antes de suspirar pesadamente.

— Quinta. Biblioteca. Não se atrasa.

Ela pega a mochila e se levanta, me deixando ali.

E, pela primeira vez, eu não me incomodo de ter que encontrá-la de novo.

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