Damian
O frio do gelo é uma sensação que sempre me trouxe conforto. O som das lâminas cortando a superfície, o baque seco do puck contra o stick, a vibração dos gritos dos meus companheiros de time—tudo isso faz parte do que eu sou. Aqui, eu não preciso pensar. Não preciso questionar nada. No gelo, sou apenas eu e o jogo. — Bora, Hayes! Para de viajar! — Ryan grita, deslizando ao meu lado antes de roubar o puck da minha frente. Reajo no mesmo segundo, girando o corpo e esticando o stick para tentar recuperar o disco, mas ele já disparou para o outro lado da quadra. Merda. Meus músculos estão no automático, minha mente sabe exatamente o que fazer. Mas algo está diferente. Minha concentração não está onde deveria estar. E eu sei exatamente o motivo. Luna Navarro. Não faz sentido. Ela é só uma garota. Só uma nerd obcecada por organização e argumentos bem estruturados. Só uma pessoa que nem fazia parte do meu mundo até dois dias atrás. Então por que diabos eu passei a noite inteira pensando nela? — Porra, Hayes! — Matt xinga quando um dos caras do time adversário atravessa minha defesa sem esforço. — Tá dormindo ou o quê? A frustração sobe quente no meu peito. Eu nunca sou distraído nos treinos. Aperto o maxilar, respiro fundo e me obrigo a focar. Preciso esquecer isso. Preciso jogar direito. E então, o instinto assume o controle. O próximo cara que tenta se aproximar já não tem a mesma sorte. Meu stick encontra o puck antes que ele possa reagir, e eu giro o corpo, deslizando rapidamente para a frente. Ryan se aproxima pelo lado, e eu finjo um passe antes de cortar para o outro lado. Dois defensores tentam me cercar. Não importa. Eu sei como sair dessa. Um segundo depois, o puck desliza entre as pernas do goleiro e b**e na rede. GOL. Os gritos explodem na arena, e eu deslizo para trás, respirando fundo. Isso. Isso é o que eu faço. Isso é o que eu sei fazer. Mas, enquanto os caras do time se reúnem ao meu redor, batendo os sticks no gelo e me dando t***s no ombro, a merda do pensamento volta. Porque, por mais que eu tente me enganar… Eu sei que algo mudou. ⛸️🏒📖❄️ No vestiário, o clima é o mesmo de sempre. Gritos, provocações, o cheiro de suor misturado com desodorante barato. Ryan j**a uma toalha molhada na minha direção, e eu a pego no reflexo, estreitando os olhos para ele. — Tá estranho hoje, Hayes. — Não tô, não. — Tá sim. — Ele se senta no banco à minha frente, cruzando os braços. — E eu sei exatamente por quê. Reviro os olhos. — Lá vem merda. — Você tá de olho na nerd. Isso pega a atenção dos outros caras. Matt assobia. — Espera, o quê? — Do que você tá falando? — pergunto, fingindo desinteresse. Ryan ri, claramente satisfeito por ter mexido comigo. — Luna Navarro. Você tava colado nela ontem na biblioteca. E, pelo visto, não tirou ela da cabeça até agora. Sinto meu maxilar travar. Não porque ele está errado. Mas porque eu odeio que ele tenha percebido. — Ela é minha dupla no trabalho. Só isso. — Sei. — Ele me encara por um segundo, depois j**a a toalha para o lado. — Só não esquece que você não é o tipo de cara que nerds como ela gostam. Minha expressão se fecha. — Que porra isso significa? — Significa que ela não faz parte do nosso mundo, cara. Você sabe como é. Você pode até achar bonitinho agora, mas e depois? Vai se cansar e seguir em frente, como sempre faz. O vestiário fica um pouco mais silencioso. E eu sinto uma irritação quente crescer dentro de mim. Porque ele está errado. Porque, pela primeira vez em muito tempo, eu não tenho certeza se quero seguir em frente. Mas não deixo isso transparecer. Só dou um sorriso de canto e dou um tapa no ombro dele. — Você fala como se me conhecesse tão bem, Ryan. Ele ri, mas eu percebo o jeito que ainda me observa quando saio do vestiário. E percebo que, talvez, ele tenha razão sobre uma coisa. Luna não faz parte do meu mundo. Mas, pela primeira vez, isso não me faz querer ficar longe. ⛸️🏒📖❄️ O treino terminou há mais de uma hora, mas o peso da sessão ainda gruda em cada músculo do meu corpo. Meu cabelo ainda está úmido do banho, e o cheiro de gelo e suor se mistura ao do desinfetante do vestiário. O time já foi embora, mas eu fiquei um pouco mais, alongando os ombros tensos e tentando acalmar minha mente. Eu deveria estar focado apenas no jogo da próxima semana, no campeonato que pode mudar tudo para mim. Mas, por algum motivo, minha cabeça continua voltando para Luna Navarro. A forma como ela parecia deslocada na lanchonete, o jeito como seus dedos corriam pelas páginas do livro, como se o mundo ao redor não existisse. Ela não parece do tipo que se importa com caras como eu. Isso deveria ser um alívio. Mas não é. Dirijo para casa, tentando ignorar o cansaço que se acumula nos meus ombros. Quando entro, encontro minha mãe na cozinha, cortando legumes enquanto meu pai lê o jornal na mesa. — Oi, filho — minha mãe diz, sorrindo calorosamente. — Como foi o treino? — Foi bom — respondo, deixando minha mochila no canto. Meu pai abaixa o jornal. — Bom? Apenas bom? Pronto. Lá vamos nós. — Fiz três gols. — Poderia ter feito quatro. Minha mandíbula trava. Minha mãe solta um suspiro, revirando os olhos antes de bater a faca na tábua. — David, já chega. — Ele tem um futuro para garantir, Claire. — O futuro dele não se resume a um jogo. Ela sempre diz isso. E eu sempre me pergunto se, no fundo, sou apenas isso para ele. Meu pai se inclina para a frente, cruzando os braços. — Não deixe distrações te tirarem do foco, Damian. Minha mãe coloca um prato na minha frente antes de soltar: — David, cala a boca. Eu quase rio. Quase. — Filho, come alguma coisa — ela insiste, ignorando meu pai. — E nada de besteira, entendeu? Solto um riso curto, o primeiro da noite. — Sim, mãe. E enquanto como, minha mente me trai de novo. Porque, apesar de tudo que meu pai disse, de tudo que eu deveria estar focando... A única distração que realmente parece importar agora... É Luna Navarro.Luna — Você não acha que está exagerando um pouco? A voz de Zoe corta minha concentração, me fazendo levantar os olhos da tela do laptop. Estamos sentadas na cafeteria do campus, no nosso canto habitual, e minha melhor amiga me observa com uma expressão meio divertida, meio curiosa. — Exagerando com o quê? — pergunto, franzindo a testa. — Com essa sua obsessão em planejar cada detalhe do trabalho com o loirão tatuado. Reviro os olhos. — Não é obsessão, Zoe. É organização. Ela se inclina para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — Tá bom. Então me explica por que você está anotando até as pausas que vão fazer no trabalho. — Porque eu gosto de ter controle das coisas. — Ou porque você está tentando desesperadamente fingir que esse projeto não vai ser uma grande distração. Eu paro. — Como assim? Ela sorri, apontando para mim com a colher do cappuccino. — Luna, amiga, eu te conheço. Sei que você não gosta de surpresas, nem de mudanças na sua rotina. E sei que você tá se co
Damian A zoeira não para nem quando saímos da cafeteria. — Cara, Ken foi pesado — Nate ri, batendo no meu ombro enquanto caminhamos até o carro. — Foi o melhor apelido que ela podia ter te dado — Owen acrescenta, segurando o riso. — Um loiro, cheio de músculos, metido a galã… mano, tu é o Ken. Reviro os olhos, ignorando as risadas dos idiotas ao meu redor. — Isso não vai pegar. — Sei… — Nate debocha. — Como se a gente já não estivesse planejando mudar seu contato no grupo para “Ken Hayes”. Eles caem na gargalhada de novo, e eu só balanço a cabeça. Maldita Luna Navarro. Ela sabia o que estava fazendo quando me chamou daquele jeito. E eu odeio admitir, mas… a nerd metódica sabe provocar. ⛸️🏒📖❄️ O treino começa alguns minutos depois, e eu me forço a focar no que realmente importa: o jogo. O barulho dos patins deslizando no gelo, os gritos do treinador e o impacto do puck contra os tacos ocupam minha mente, deixando pouco espaço para qualquer outra coisa. No gelo, eu não so
Luna on O frio da manhã me faz puxar o casaco ais para perto do corpo enquanto caminho pelo campus. O inverno ainda não chegou com tudo, mas a brisa gelada já avisa que não está longe. Meus dedos estão frios ao redor do copo de café que comprei antes da aula, e eu me pergunto por que diabos ainda não comprei uma luva decente. Ao meu lado, Zoe mastiga distraidamente um pedaço de bolo, a expressão sonolenta. — Você viu o cronograma de provas? — pergunto, tomando um gole do café. — Vi — ela resmunga. — E também vi minha vontade de viver indo embora junto com ele. Solto uma risada baixa, mas não posso discordar. O semestre está apertado, e minha rotina está cada vez mais cheia. Além das provas, tem o trabalho na cafeteria e, claro, o projeto com ele. Damian Hayes. O nome dele surge na minha mente antes que eu possa evitar. Faz dois dias desde que nos encontramos na biblioteca, e eu ainda não decidi se foi uma experiência ruim ou só… estranha. Ele não era o cara arrogante e insu
Luna OnA biblioteca está silenciosa, exatamente como eu gosto. O som baixo das páginas virando, os teclados sendo pressionados em um ritmo contínuo e o leve murmúrio de conversas abafadas criam um ambiente perfeito para se concentrar. Ou pelo menos deveriam criar.Se não fosse por ele.— Você tá realmente escrevendo tudo isso? — Damian questiona ao meu lado, inclinando-se sobre a mesa para espiar minhas anotações.Eu suspiro, sem tirar os olhos do caderno.— Sim, porque eu levo o trabalho a sério. Diferente de certas pessoas.Ele solta uma risada baixa.— Eu levo a sério. Só não vejo necessidade de escrever um livro inteiro de anotações.Reviro os olhos e continuo escrevendo. Mas ele não cala a boca.— Sua letra parece até fonte de computador. Tem certeza que você não é um robô?Solto a caneta e olho diretamente para ele.— Você realmente não consegue passar cinco minutos sem falar?Ele sorri.— Não quando tem alguém tão divertido pra provocar.Cruzo os braços.— Foco, Hayes. Se você
O estacionamento da faculdade estava mais vazio àquela hora da noite. A iluminação fraca dos postes criava sombras longas no asfalto, e o frio começava a se intensificar, formando pequenas nuvens de vapor sempre que algum dos garotos falava. O grupo estava reunido perto dos carros, encostados nas portas ou sentados nos capôs, esperando Damian finalmente sair da biblioteca. - Ele tá demorando. - O loiro resmungou, esfregando as mãos para se aquecer. - Será que a nerdzilla sequestrou ele? O ruivo riu. - Se sequestrou, a gente devia agradecer. Talvez ela ensine ele a usar o cérebro. - Qual é, ela nem é tão ruim assim. - O moreno, que até então só observava a conversa, comentou. O loiro e o ruivo trocaram olhares, surpresos. - O quê? Você gostou da garota, Logan? Ele deu de ombros. - Só acho que ela tem atitude. Não é todo dia que a gente vê alguém peitando o Damian sem medo. - Isso é verdade. - O ruivo cruzou os braços. - Mas agora fica a dúvida... O Damian só tá estudando com
Luna On O quarto de Luna era seu refúgio. As paredes estavam cobertas por pôsteres de livros e frases de autores que ela amava, e a pequena estante no canto transbordava de histórias que haviam sido seu abrigo ao longo dos anos. Mas naquela noite, nem mesmo as palavras impressas conseguiam prendê-la. Ela estava deitada de lado, abraçando um travesseiro, enquanto o abajur projetava uma luz suave pelo cômodo. O livro que tentara ler repousava aberto ao seu lado, as páginas estáticas, sem vida. Luna suspirou, rolando na cama. Havia algo errado com ela. Ou melhor, com sua mente. Porque, de alguma forma, contra toda a lógica do universo, um certo loiro irritante parecia ter se instalado ali. Ela tentou lutar contra isso. Tentou se convencer de que Damian Hayes era só mais um cara metido que achava que o mundo girava ao seu redor. Mas então se lembrou da maneira como ele a olhava quando ela falava sobre literatura. Como ele parecia realmente escutar. Como, ao invés de rir dos seus go
Damian On Damian Hayes sempre foi bom em manter o controle. No gelo, ele era rápido, calculista e feroz. Sabia exatamente como prever os movimentos do adversário, como virar o jogo a seu favor. Fora dali, não era tão diferente. Mantinha a confiança como uma armadura, o sorriso despreocupado como marca registrada e nunca — nunca — deixava ninguém ver quando algo o afetava de verdade. Então, por que diabos ele ainda estava pensando naquela mensagem? Era só uma mensagem. Ele não deveria ter ficado esperando a resposta. Ele não deveria ter sentido aquele aperto de expectativa. E, definitivamente, não deveria ter soltado um suspiro aliviado quando ela finalmente respondeu. Mas Luna Navarro estava conseguindo fazer algo que ninguém fazia há muito tempo. Bagunçá-lo. E ele não sabia se gostava ou odiava isso. ⛸️🏒📖❄️ Na manhã seguinte, Damian chegou cedo ao campus para o treino do time. O ringue estava vazio quando ele entrou, a luz fria refletindo no gelo impecável. Ele gostava
Luna On Luna gostava de rotina. Gostava de acordar cedo, preparar um café forte e sentar à mesa para revisar os textos da faculdade. Gostava de saber exatamente o que faria no dia, sem surpresas, sem mudanças repentinas. Mas, ultimamente, Damian Hayes estava bagunçando tudo. Ela percebeu isso quando, ao invés de focar no artigo que precisava terminar, pegou o celular e abriu a conversa com ele. Nenhuma mensagem trocada. O que significava que, para saber sobre o jogo, ela teria que perguntar. E isso já era irritante por si só. Mordeu o lábio, hesitante. Ela poderia simplesmente procurar a informação sozinha, mas... qual era o problema em perguntar diretamente? Com um suspiro pesado, digitou rápido: - Que horas é o jogo? A resposta veio em menos de um minuto. - Achei que não se importava, estressadinha. Ela revirou os olhos antes de responder: - E não me importo. Só preciso saber que horas não passar perto da arena pra não ter que ouvir gente gritando. - Claro. Acreditar