Capítulo 06

Damian

O frio do gelo é uma sensação que sempre me trouxe conforto. O som das lâminas cortando a superfície, o baque seco do puck contra o stick, a vibração dos gritos dos meus companheiros de time—tudo isso faz parte do que eu sou.

Aqui, eu não preciso pensar. Não preciso questionar nada.

No gelo, sou apenas eu e o jogo.

— Bora, Hayes! Para de viajar! — Ryan grita, deslizando ao meu lado antes de roubar o puck da minha frente.

Reajo no mesmo segundo, girando o corpo e esticando o stick para tentar recuperar o disco, mas ele já disparou para o outro lado da quadra.

Merda.

Meus músculos estão no automático, minha mente sabe exatamente o que fazer. Mas algo está diferente.

Minha concentração não está onde deveria estar.

E eu sei exatamente o motivo.

Luna Navarro.

Não faz sentido.

Ela é só uma garota. Só uma nerd obcecada por organização e argumentos bem estruturados. Só uma pessoa que nem fazia parte do meu mundo até dois dias atrás.

Então por que diabos eu passei a noite inteira pensando nela?

— Porra, Hayes! — Matt xinga quando um dos caras do time adversário atravessa minha defesa sem esforço. — Tá dormindo ou o quê?

A frustração sobe quente no meu peito.

Eu nunca sou distraído nos treinos.

Aperto o maxilar, respiro fundo e me obrigo a focar. Preciso esquecer isso. Preciso jogar direito.

E então, o instinto assume o controle.

O próximo cara que tenta se aproximar já não tem a mesma sorte. Meu stick encontra o puck antes que ele possa reagir, e eu giro o corpo, deslizando rapidamente para a frente. Ryan se aproxima pelo lado, e eu finjo um passe antes de cortar para o outro lado.

Dois defensores tentam me cercar.

Não importa.

Eu sei como sair dessa.

Um segundo depois, o puck desliza entre as pernas do goleiro e b**e na rede.

GOL.

Os gritos explodem na arena, e eu deslizo para trás, respirando fundo.

Isso. Isso é o que eu faço. Isso é o que eu sei fazer.

Mas, enquanto os caras do time se reúnem ao meu redor, batendo os sticks no gelo e me dando t***s no ombro, a merda do pensamento volta.

Porque, por mais que eu tente me enganar…

Eu sei que algo mudou.

⛸️🏒📖❄️

No vestiário, o clima é o mesmo de sempre. Gritos, provocações, o cheiro de suor misturado com desodorante barato.

Ryan j**a uma toalha molhada na minha direção, e eu a pego no reflexo, estreitando os olhos para ele.

— Tá estranho hoje, Hayes.

— Não tô, não.

— Tá sim. — Ele se senta no banco à minha frente, cruzando os braços. — E eu sei exatamente por quê.

Reviro os olhos.

— Lá vem merda.

— Você tá de olho na nerd.

Isso pega a atenção dos outros caras.

Matt assobia.

— Espera, o quê?

— Do que você tá falando? — pergunto, fingindo desinteresse.

Ryan ri, claramente satisfeito por ter mexido comigo.

— Luna Navarro. Você tava colado nela ontem na biblioteca. E, pelo visto, não tirou ela da cabeça até agora.

Sinto meu maxilar travar.

Não porque ele está errado.

Mas porque eu odeio que ele tenha percebido.

— Ela é minha dupla no trabalho. Só isso.

— Sei. — Ele me encara por um segundo, depois j**a a toalha para o lado. — Só não esquece que você não é o tipo de cara que nerds como ela gostam.

Minha expressão se fecha.

— Que porra isso significa?

— Significa que ela não faz parte do nosso mundo, cara. Você sabe como é. Você pode até achar bonitinho agora, mas e depois? Vai se cansar e seguir em frente, como sempre faz.

O vestiário fica um pouco mais silencioso.

E eu sinto uma irritação quente crescer dentro de mim.

Porque ele está errado.

Porque, pela primeira vez em muito tempo, eu não tenho certeza se quero seguir em frente.

Mas não deixo isso transparecer.

Só dou um sorriso de canto e dou um tapa no ombro dele.

— Você fala como se me conhecesse tão bem, Ryan.

Ele ri, mas eu percebo o jeito que ainda me observa quando saio do vestiário.

E percebo que, talvez, ele tenha razão sobre uma coisa.

Luna não faz parte do meu mundo.

Mas, pela primeira vez, isso não me faz querer ficar longe.

⛸️🏒📖❄️

O treino terminou há mais de uma hora, mas o peso da sessão ainda gruda em cada músculo do meu corpo. Meu cabelo ainda está úmido do banho, e o cheiro de gelo e suor se mistura ao do desinfetante do vestiário. O time já foi embora, mas eu fiquei um pouco mais, alongando os ombros tensos e tentando acalmar minha mente.

Eu deveria estar focado apenas no jogo da próxima semana, no campeonato que pode mudar tudo para mim.

Mas, por algum motivo, minha cabeça continua voltando para Luna Navarro.

A forma como ela parecia deslocada na lanchonete, o jeito como seus dedos corriam pelas páginas do livro, como se o mundo ao redor não existisse.

Ela não parece do tipo que se importa com caras como eu. Isso deveria ser um alívio.

Mas não é.

Dirijo para casa, tentando ignorar o cansaço que se acumula nos meus ombros.

Quando entro, encontro minha mãe na cozinha, cortando legumes enquanto meu pai lê o jornal na mesa.

— Oi, filho — minha mãe diz, sorrindo calorosamente. — Como foi o treino?

— Foi bom — respondo, deixando minha mochila no canto.

Meu pai abaixa o jornal.

— Bom? Apenas bom?

Pronto. Lá vamos nós.

— Fiz três gols.

— Poderia ter feito quatro.

Minha mandíbula trava.

Minha mãe solta um suspiro, revirando os olhos antes de bater a faca na tábua.

— David, já chega.

— Ele tem um futuro para garantir, Claire.

— O futuro dele não se resume a um jogo.

Ela sempre diz isso.

E eu sempre me pergunto se, no fundo, sou apenas isso para ele.

Meu pai se inclina para a frente, cruzando os braços.

— Não deixe distrações te tirarem do foco, Damian.

Minha mãe coloca um prato na minha frente antes de soltar:

— David, cala a boca.

Eu quase rio.

Quase.

— Filho, come alguma coisa — ela insiste, ignorando meu pai. — E nada de besteira, entendeu?

Solto um riso curto, o primeiro da noite.

— Sim, mãe.

E enquanto como, minha mente me trai de novo.

Porque, apesar de tudo que meu pai disse, de tudo que eu deveria estar focando...

A única distração que realmente parece importar agora...

É Luna Navarro.

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