Luna
A biblioteca está mais silenciosa do que o normal. Talvez porque seja sexta-feira e a maioria dos alunos tenha encontrado lugares melhores para estar do que enfiados entre estantes de livros acadêmicos. Eu, no entanto, não me importo. Esse sempre foi meu refúgio. O lugar onde posso existir sem que ninguém repare em mim. Ou, pelo menos, era. Porque agora, sentada em uma mesa no canto, estou esperando por ele. E, para piorar, me sinto nervosa. Isso é ridículo. Respire fundo, Luna. É só um trabalho. Estou no meio desse mantra interno quando Damian entra na biblioteca. E, claro, ele faz isso como se estivesse invadindo um território desconhecido. Ele passa os olhos pelo lugar, o cenho levemente franzido, como se não soubesse bem o que fazer ali. Seu cabelo está mais bagunçado que o normal, e ele usa um moletom escuro com a logo do time estampada no peito. Mesmo em um ambiente como esse, sua presença é impossível de ignorar. Quando finalmente me vê, ele sorri daquele jeito convencido. Eu já me arrependo disso. Ele caminha até mim, se j**a na cadeira à minha frente e solta um suspiro exagerado. — Uau. Então é assim que se sente estar no habitat natural de um nerd. — E é assim que se sente ser insuportável? — rebato, sem levantar os olhos do meu caderno. Ele ri. — Pronta para me ensinar como escrever um trabalho perfeito? — Você sabe escrever um trabalho, né? — Sei. Mas não tão bem quanto você. Reviro os olhos. — Vamos só começar. Ajeito meus papéis e começo a explicar a estrutura do que fizemos até agora. Damian me escuta, apoiando o queixo na mão, os olhos verdes fixos em mim. E isso é extremamente desconfortável. — Você precisa mesmo me encarar desse jeito? Ele sorri. — Você fala tão rápido quando está focada. Tá acostumada a trabalhar sozinha, né? A pergunta me surpreende. Pigarreio e tento parecer indiferente. — E qual o problema disso? — Nenhum. Só… curioso. Curioso? O que há para se ter curiosidade sobre mim? Balanço a cabeça, decidindo ignorar isso. — Podemos focar no trabalho? — Sim, senhora. Finalmente, conseguimos começar. E, para minha surpresa, Damian realmente colabora. Ele dá ideias boas, escreve trechos coerentes e não tenta fugir do assunto. Ele não só entende do impacto do esporte na vida das pessoas, como parece sentir isso. E é isso que me pega desprevenida. Porque, pela primeira vez, percebo que talvez Damian Hayes seja mais do que o clichê que imaginei. --- Damian Eu não esperava gostar disso. Trabalho em grupo nunca foi minha coisa. Normalmente, deixo os outros fazerem o que quiserem, enquanto faço minha parte do jeito mais rápido possível. Mas Luna? Luna faz questão de organizar tudo. Ela tem anotações detalhadas, argumentos sólidos e um jeito impaciente que é surpreendentemente divertido de provocar. E, acima de tudo, ela é intensa. Fala com paixão sobre o tema, defende suas ideias com firmeza e não tem medo de discordar de mim. Isso é… refrescante. E perigoso. Porque, pela primeira vez em muito tempo, estou interessado em algo fora do hóquei. E isso tem tudo a ver com ela. — Certo — ela diz, depois de um tempo. — Acho que avançamos bastante hoje. Olho para o relógio e percebo que já se passaram duas horas. Nem senti o tempo passar. — Parece que sim. Ela fecha o caderno, estalando os dedos levemente. — Podemos revisar amanhã? Quero garantir que a argumentação está bem amarrada antes de começarmos a apresentação. Apenas sorrio. — Tá tentando me fazer gostar de estudar, Navarro? Ela bufa. — Seria um milagre. Me inclino um pouco na mesa, sem perder o sorriso. — Você acredita em milagres? Ela hesita por um segundo. E então, em um tom mais baixo, diz: — Não. Algo na forma como ela responde me faz perceber que essa não é só uma resposta casual. Há algo mais ali. E, por algum motivo, quero saber o que é. Mas Luna já está guardando suas coisas, encerrando a conversa antes que eu possa continuar. Então, apenas observo enquanto ela se levanta e coloca a alça da bolsa no ombro. — Amanhã. Mesmo horário. — Claro, estressadinha. Ela lança um olhar mortal antes de sair da biblioteca. E eu fico ali, assistindo-a ir embora, me perguntando o que diabos estou fazendo. Porque sei que isso deveria ser só um trabalho de faculdade. Mas a verdade? Isso já está se tornando algo muito maior.DamianO frio do gelo é uma sensação que sempre me trouxe conforto. O som das lâminas cortando a superfície, o baque seco do puck contra o stick, a vibração dos gritos dos meus companheiros de time—tudo isso faz parte do que eu sou.Aqui, eu não preciso pensar. Não preciso questionar nada.No gelo, sou apenas eu e o jogo.— Bora, Hayes! Para de viajar! — Ryan grita, deslizando ao meu lado antes de roubar o puck da minha frente.Reajo no mesmo segundo, girando o corpo e esticando o stick para tentar recuperar o disco, mas ele já disparou para o outro lado da quadra.Merda.Meus músculos estão no automático, minha mente sabe exatamente o que fazer. Mas algo está diferente.Minha concentração não está onde deveria estar.E eu sei exatamente o motivo.Luna Navarro.Não faz sentido.Ela é só uma garota. Só uma nerd obcecada por organização e argumentos bem estruturados. Só uma pessoa que nem fazia parte do meu mundo até dois dias atrás.Então por que diabos eu passei a noite inteira pensan
Luna — Você não acha que está exagerando um pouco? A voz de Zoe corta minha concentração, me fazendo levantar os olhos da tela do laptop. Estamos sentadas na cafeteria do campus, no nosso canto habitual, e minha melhor amiga me observa com uma expressão meio divertida, meio curiosa. — Exagerando com o quê? — pergunto, franzindo a testa. — Com essa sua obsessão em planejar cada detalhe do trabalho com o loirão tatuado. Reviro os olhos. — Não é obsessão, Zoe. É organização. Ela se inclina para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — Tá bom. Então me explica por que você está anotando até as pausas que vão fazer no trabalho. — Porque eu gosto de ter controle das coisas. — Ou porque você está tentando desesperadamente fingir que esse projeto não vai ser uma grande distração. Eu paro. — Como assim? Ela sorri, apontando para mim com a colher do cappuccino. — Luna, amiga, eu te conheço. Sei que você não gosta de surpresas, nem de mudanças na sua rotina. E sei que você tá se co
Damian A zoeira não para nem quando saímos da cafeteria. — Cara, Ken foi pesado — Nate ri, batendo no meu ombro enquanto caminhamos até o carro. — Foi o melhor apelido que ela podia ter te dado — Owen acrescenta, segurando o riso. — Um loiro, cheio de músculos, metido a galã… mano, tu é o Ken. Reviro os olhos, ignorando as risadas dos idiotas ao meu redor. — Isso não vai pegar. — Sei… — Nate debocha. — Como se a gente já não estivesse planejando mudar seu contato no grupo para “Ken Hayes”. Eles caem na gargalhada de novo, e eu só balanço a cabeça. Maldita Luna Navarro. Ela sabia o que estava fazendo quando me chamou daquele jeito. E eu odeio admitir, mas… a nerd metódica sabe provocar. ⛸️🏒📖❄️ O treino começa alguns minutos depois, e eu me forço a focar no que realmente importa: o jogo. O barulho dos patins deslizando no gelo, os gritos do treinador e o impacto do puck contra os tacos ocupam minha mente, deixando pouco espaço para qualquer outra coisa. No gelo, eu não so
Luna on O frio da manhã me faz puxar o casaco ais para perto do corpo enquanto caminho pelo campus. O inverno ainda não chegou com tudo, mas a brisa gelada já avisa que não está longe. Meus dedos estão frios ao redor do copo de café que comprei antes da aula, e eu me pergunto por que diabos ainda não comprei uma luva decente. Ao meu lado, Zoe mastiga distraidamente um pedaço de bolo, a expressão sonolenta. — Você viu o cronograma de provas? — pergunto, tomando um gole do café. — Vi — ela resmunga. — E também vi minha vontade de viver indo embora junto com ele. Solto uma risada baixa, mas não posso discordar. O semestre está apertado, e minha rotina está cada vez mais cheia. Além das provas, tem o trabalho na cafeteria e, claro, o projeto com ele. Damian Hayes. O nome dele surge na minha mente antes que eu possa evitar. Faz dois dias desde que nos encontramos na biblioteca, e eu ainda não decidi se foi uma experiência ruim ou só… estranha. Ele não era o cara arrogante e insu
Luna OnA biblioteca está silenciosa, exatamente como eu gosto. O som baixo das páginas virando, os teclados sendo pressionados em um ritmo contínuo e o leve murmúrio de conversas abafadas criam um ambiente perfeito para se concentrar. Ou pelo menos deveriam criar.Se não fosse por ele.— Você tá realmente escrevendo tudo isso? — Damian questiona ao meu lado, inclinando-se sobre a mesa para espiar minhas anotações.Eu suspiro, sem tirar os olhos do caderno.— Sim, porque eu levo o trabalho a sério. Diferente de certas pessoas.Ele solta uma risada baixa.— Eu levo a sério. Só não vejo necessidade de escrever um livro inteiro de anotações.Reviro os olhos e continuo escrevendo. Mas ele não cala a boca.— Sua letra parece até fonte de computador. Tem certeza que você não é um robô?Solto a caneta e olho diretamente para ele.— Você realmente não consegue passar cinco minutos sem falar?Ele sorri.— Não quando tem alguém tão divertido pra provocar.Cruzo os braços.— Foco, Hayes. Se você
O estacionamento da faculdade estava mais vazio àquela hora da noite. A iluminação fraca dos postes criava sombras longas no asfalto, e o frio começava a se intensificar, formando pequenas nuvens de vapor sempre que algum dos garotos falava. O grupo estava reunido perto dos carros, encostados nas portas ou sentados nos capôs, esperando Damian finalmente sair da biblioteca. - Ele tá demorando. - O loiro resmungou, esfregando as mãos para se aquecer. - Será que a nerdzilla sequestrou ele? O ruivo riu. - Se sequestrou, a gente devia agradecer. Talvez ela ensine ele a usar o cérebro. - Qual é, ela nem é tão ruim assim. - O moreno, que até então só observava a conversa, comentou. O loiro e o ruivo trocaram olhares, surpresos. - O quê? Você gostou da garota, Logan? Ele deu de ombros. - Só acho que ela tem atitude. Não é todo dia que a gente vê alguém peitando o Damian sem medo. - Isso é verdade. - O ruivo cruzou os braços. - Mas agora fica a dúvida... O Damian só tá estudando com
Luna On O quarto de Luna era seu refúgio. As paredes estavam cobertas por pôsteres de livros e frases de autores que ela amava, e a pequena estante no canto transbordava de histórias que haviam sido seu abrigo ao longo dos anos. Mas naquela noite, nem mesmo as palavras impressas conseguiam prendê-la. Ela estava deitada de lado, abraçando um travesseiro, enquanto o abajur projetava uma luz suave pelo cômodo. O livro que tentara ler repousava aberto ao seu lado, as páginas estáticas, sem vida. Luna suspirou, rolando na cama. Havia algo errado com ela. Ou melhor, com sua mente. Porque, de alguma forma, contra toda a lógica do universo, um certo loiro irritante parecia ter se instalado ali. Ela tentou lutar contra isso. Tentou se convencer de que Damian Hayes era só mais um cara metido que achava que o mundo girava ao seu redor. Mas então se lembrou da maneira como ele a olhava quando ela falava sobre literatura. Como ele parecia realmente escutar. Como, ao invés de rir dos seus go
Damian On Damian Hayes sempre foi bom em manter o controle. No gelo, ele era rápido, calculista e feroz. Sabia exatamente como prever os movimentos do adversário, como virar o jogo a seu favor. Fora dali, não era tão diferente. Mantinha a confiança como uma armadura, o sorriso despreocupado como marca registrada e nunca — nunca — deixava ninguém ver quando algo o afetava de verdade. Então, por que diabos ele ainda estava pensando naquela mensagem? Era só uma mensagem. Ele não deveria ter ficado esperando a resposta. Ele não deveria ter sentido aquele aperto de expectativa. E, definitivamente, não deveria ter soltado um suspiro aliviado quando ela finalmente respondeu. Mas Luna Navarro estava conseguindo fazer algo que ninguém fazia há muito tempo. Bagunçá-lo. E ele não sabia se gostava ou odiava isso. ⛸️🏒📖❄️ Na manhã seguinte, Damian chegou cedo ao campus para o treino do time. O ringue estava vazio quando ele entrou, a luz fria refletindo no gelo impecável. Ele gostava