Luna
Eu preciso de paciência. Muita paciência. Porque, honestamente, Damian Hayes é insuportável. Depois de quase trinta minutos tentando estruturar nosso trabalho, a única coisa que consegui foi um leve começo de dor de cabeça. Ele se recosta na cadeira como se não tivesse um pingo de preocupação no mundo, enquanto eu rabisco tópicos no meu caderno, tentando não surtar. - Você pode, por favor, focar nisso por cinco minutos? - peço, exasperada. Damian ergue a cabeça e pisca lentamente, como se tivesse acabado de ser acordado de um cochilo. - Eu estou focado. - Não, você não está. Você só tá sentado aí, olhando para mim como se isso fosse um reality show. Ele ri. - Você percebeu? Jogo a caneta sobre a mesa. - Claro que percebi! Dá para parar? - Eu só estou tentando entender você, estressadinha. Fecho os olhos e respiro fundo. - Primeiro: para de me chamar assim. Segundo: não tem nada para entender. Vamos só dividir as tarefas e fazer isso direito, ok? Ele me observa por alguns segundos, como se avaliasse se vale a pena me contrariar mais um pouco. Então, finalmente, ergue as mãos em rendição. - Tá bom, tá bom. Como você quer fazer? Pego meu caderno e aponto os tópicos que já organizei. - A gente precisa de um argumento central. Algo que conecte o impacto do esporte na sociedade com um ponto relevante. Podemos falar sobre como ele serve como uma válvula de escape para jovens em situações difíceis, por exemplo. Damian assente devagar. - Isso faz sentido. O esporte pode mudar vidas. O tom despreocupado dele desaparece por um instante, e algo em sua expressão muda. Uma sombra. Uma seriedade que não estava ali antes. Antes que eu possa pensar muito nisso, ele se inclina sobre a mesa, analisando meu caderno. - Beleza. Se formos por esse caminho, eu posso pegar a parte sobre os benefícios psicológicos. Tenho algumas histórias que podem ajudar nisso. Levanto uma sobrancelha. - Histórias pessoais? Ele dá de ombros. - Talvez. A resposta vaga me faz querer perguntar mais, mas decido não forçar. Em vez disso, apenas anoto a divisão. - Ok. Eu fico com a parte da influência social. Podemos combinar de revisar juntos depois. Ele sorri. - Isso significa que vamos ter que nos encontrar fora da aula? Reviro os olhos. - Sim, Damian. É assim que trabalhos em dupla funcionam. - Hmm. Interessante. Ele está me provocando de novo. E eu me recuso a cair nessa. - Se quiser, podemos marcar na biblioteca. Assim você não vai se distrair. Ele ri. - Acha que eu me distraio fácil? Cruzo os braços. - Eu sei que você se distrai fácil. Damian apenas sorri mais, como se estivesse gostando do desafio. E, por algum motivo, isso me deixa ainda mais alerta. Porque algo me diz que ele não vai tornar esse trabalho nada fácil. --- Damian Eu não sei exatamente o que esperava quando descobri que minha dupla seria Luna Navarro. Talvez que ela fosse quieta e submissa, do tipo que eu poderia convencer a fazer todo o trabalho enquanto eu apenas aparecesse na apresentação. Mas Luna? Luna tem fogo. E isso me diverte mais do que deveria. Saio da sala junto com Ryan, que já está rindo antes mesmo de eu abrir a boca. - Então... Navarro, hein? - ele provoca. - Que foi? - Só achei engraçado você pegando uma dupla que claramente não te suporta. Dou um gole no meu energético. - Ela não não me suporta. Ela só finge. Ryan ri mais. - Certo. Boa sorte com isso, campeão. Ignoro o tom cético dele e puxo o celular do bolso. Já que esse trabalho significa que vamos ter que passar um tempo juntos, nada mais justo do que garantir que Luna não vai fugir disso. Com um sorriso, mando uma mensagem. [DM de Damian Hayes para Luna Navarro] Ei, estressadinha. Biblioteca amanhã às 18h. Sem desculpas. Segundos depois, a resposta chega. [Luna Navarro] 1. Para de me chamar assim. 2. Eu que deveria estar organizando isso. 3. Você tem certeza que consegue ficar na biblioteca sem enlouquecer? [Damian Hayes] Tenho. Desde que você não fique me analisando como se eu fosse um estudo de caso. Dessa vez, a resposta demora mais. E então, finalmente, aparece. [Luna Navarro] Nos vemos às 18h. Sorrio, satisfeito. Isso vai ser interessante.LunaA biblioteca está mais silenciosa do que o normal. Talvez porque seja sexta-feira e a maioria dos alunos tenha encontrado lugares melhores para estar do que enfiados entre estantes de livros acadêmicos.Eu, no entanto, não me importo. Esse sempre foi meu refúgio. O lugar onde posso existir sem que ninguém repare em mim.Ou, pelo menos, era.Porque agora, sentada em uma mesa no canto, estou esperando por ele.E, para piorar, me sinto nervosa.Isso é ridículo.Respire fundo, Luna. É só um trabalho.Estou no meio desse mantra interno quando Damian entra na biblioteca.E, claro, ele faz isso como se estivesse invadindo um território desconhecido.Ele passa os olhos pelo lugar, o cenho levemente franzido, como se não soubesse bem o que fazer ali. Seu cabelo está mais bagunçado que o normal, e ele usa um moletom escuro com a logo do time estampada no peito. Mesmo em um ambiente como esse, sua presença é impossível de ignorar.Quando finalmente me vê, ele sorri daquele jeito convencido.
DamianO frio do gelo é uma sensação que sempre me trouxe conforto. O som das lâminas cortando a superfície, o baque seco do puck contra o stick, a vibração dos gritos dos meus companheiros de time—tudo isso faz parte do que eu sou.Aqui, eu não preciso pensar. Não preciso questionar nada.No gelo, sou apenas eu e o jogo.— Bora, Hayes! Para de viajar! — Ryan grita, deslizando ao meu lado antes de roubar o puck da minha frente.Reajo no mesmo segundo, girando o corpo e esticando o stick para tentar recuperar o disco, mas ele já disparou para o outro lado da quadra.Merda.Meus músculos estão no automático, minha mente sabe exatamente o que fazer. Mas algo está diferente.Minha concentração não está onde deveria estar.E eu sei exatamente o motivo.Luna Navarro.Não faz sentido.Ela é só uma garota. Só uma nerd obcecada por organização e argumentos bem estruturados. Só uma pessoa que nem fazia parte do meu mundo até dois dias atrás.Então por que diabos eu passei a noite inteira pensan
Luna — Você não acha que está exagerando um pouco? A voz de Zoe corta minha concentração, me fazendo levantar os olhos da tela do laptop. Estamos sentadas na cafeteria do campus, no nosso canto habitual, e minha melhor amiga me observa com uma expressão meio divertida, meio curiosa. — Exagerando com o quê? — pergunto, franzindo a testa. — Com essa sua obsessão em planejar cada detalhe do trabalho com o loirão tatuado. Reviro os olhos. — Não é obsessão, Zoe. É organização. Ela se inclina para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — Tá bom. Então me explica por que você está anotando até as pausas que vão fazer no trabalho. — Porque eu gosto de ter controle das coisas. — Ou porque você está tentando desesperadamente fingir que esse projeto não vai ser uma grande distração. Eu paro. — Como assim? Ela sorri, apontando para mim com a colher do cappuccino. — Luna, amiga, eu te conheço. Sei que você não gosta de surpresas, nem de mudanças na sua rotina. E sei que você tá se co
Damian A zoeira não para nem quando saímos da cafeteria. — Cara, Ken foi pesado — Nate ri, batendo no meu ombro enquanto caminhamos até o carro. — Foi o melhor apelido que ela podia ter te dado — Owen acrescenta, segurando o riso. — Um loiro, cheio de músculos, metido a galã… mano, tu é o Ken. Reviro os olhos, ignorando as risadas dos idiotas ao meu redor. — Isso não vai pegar. — Sei… — Nate debocha. — Como se a gente já não estivesse planejando mudar seu contato no grupo para “Ken Hayes”. Eles caem na gargalhada de novo, e eu só balanço a cabeça. Maldita Luna Navarro. Ela sabia o que estava fazendo quando me chamou daquele jeito. E eu odeio admitir, mas… a nerd metódica sabe provocar. ⛸️🏒📖❄️ O treino começa alguns minutos depois, e eu me forço a focar no que realmente importa: o jogo. O barulho dos patins deslizando no gelo, os gritos do treinador e o impacto do puck contra os tacos ocupam minha mente, deixando pouco espaço para qualquer outra coisa. No gelo, eu não so
Luna on O frio da manhã me faz puxar o casaco ais para perto do corpo enquanto caminho pelo campus. O inverno ainda não chegou com tudo, mas a brisa gelada já avisa que não está longe. Meus dedos estão frios ao redor do copo de café que comprei antes da aula, e eu me pergunto por que diabos ainda não comprei uma luva decente. Ao meu lado, Zoe mastiga distraidamente um pedaço de bolo, a expressão sonolenta. — Você viu o cronograma de provas? — pergunto, tomando um gole do café. — Vi — ela resmunga. — E também vi minha vontade de viver indo embora junto com ele. Solto uma risada baixa, mas não posso discordar. O semestre está apertado, e minha rotina está cada vez mais cheia. Além das provas, tem o trabalho na cafeteria e, claro, o projeto com ele. Damian Hayes. O nome dele surge na minha mente antes que eu possa evitar. Faz dois dias desde que nos encontramos na biblioteca, e eu ainda não decidi se foi uma experiência ruim ou só… estranha. Ele não era o cara arrogante e insu
Luna OnA biblioteca está silenciosa, exatamente como eu gosto. O som baixo das páginas virando, os teclados sendo pressionados em um ritmo contínuo e o leve murmúrio de conversas abafadas criam um ambiente perfeito para se concentrar. Ou pelo menos deveriam criar.Se não fosse por ele.— Você tá realmente escrevendo tudo isso? — Damian questiona ao meu lado, inclinando-se sobre a mesa para espiar minhas anotações.Eu suspiro, sem tirar os olhos do caderno.— Sim, porque eu levo o trabalho a sério. Diferente de certas pessoas.Ele solta uma risada baixa.— Eu levo a sério. Só não vejo necessidade de escrever um livro inteiro de anotações.Reviro os olhos e continuo escrevendo. Mas ele não cala a boca.— Sua letra parece até fonte de computador. Tem certeza que você não é um robô?Solto a caneta e olho diretamente para ele.— Você realmente não consegue passar cinco minutos sem falar?Ele sorri.— Não quando tem alguém tão divertido pra provocar.Cruzo os braços.— Foco, Hayes. Se você
O estacionamento da faculdade estava mais vazio àquela hora da noite. A iluminação fraca dos postes criava sombras longas no asfalto, e o frio começava a se intensificar, formando pequenas nuvens de vapor sempre que algum dos garotos falava. O grupo estava reunido perto dos carros, encostados nas portas ou sentados nos capôs, esperando Damian finalmente sair da biblioteca. - Ele tá demorando. - O loiro resmungou, esfregando as mãos para se aquecer. - Será que a nerdzilla sequestrou ele? O ruivo riu. - Se sequestrou, a gente devia agradecer. Talvez ela ensine ele a usar o cérebro. - Qual é, ela nem é tão ruim assim. - O moreno, que até então só observava a conversa, comentou. O loiro e o ruivo trocaram olhares, surpresos. - O quê? Você gostou da garota, Logan? Ele deu de ombros. - Só acho que ela tem atitude. Não é todo dia que a gente vê alguém peitando o Damian sem medo. - Isso é verdade. - O ruivo cruzou os braços. - Mas agora fica a dúvida... O Damian só tá estudando com
Luna On O quarto de Luna era seu refúgio. As paredes estavam cobertas por pôsteres de livros e frases de autores que ela amava, e a pequena estante no canto transbordava de histórias que haviam sido seu abrigo ao longo dos anos. Mas naquela noite, nem mesmo as palavras impressas conseguiam prendê-la. Ela estava deitada de lado, abraçando um travesseiro, enquanto o abajur projetava uma luz suave pelo cômodo. O livro que tentara ler repousava aberto ao seu lado, as páginas estáticas, sem vida. Luna suspirou, rolando na cama. Havia algo errado com ela. Ou melhor, com sua mente. Porque, de alguma forma, contra toda a lógica do universo, um certo loiro irritante parecia ter se instalado ali. Ela tentou lutar contra isso. Tentou se convencer de que Damian Hayes era só mais um cara metido que achava que o mundo girava ao seu redor. Mas então se lembrou da maneira como ele a olhava quando ela falava sobre literatura. Como ele parecia realmente escutar. Como, ao invés de rir dos seus go