Luna
O som abafado das conversas preenche a sala, criando um zumbido constante de vozes misturadas. Meu caderno está aberto sobre a mesa, mas minha mente está longe da matéria. O professor anda de um lado para o outro, os óculos escorregando pelo nariz enquanto ajeita alguns papéis. Sei o que está por vir – ele mencionou um trabalho importante na última aula, e agora é questão de tempo até que ele nos jogue em alguma atividade em dupla. E eu já sei exatamente com quem quero fazer. Zoe está sentada ao meu lado, tamborilando os dedos na mesa com impaciência. Ela lança um olhar sugestivo para mim, e eu reviro os olhos antes mesmo dela dizer qualquer coisa. — Só para garantir, caso role duplas, você vai comigo, né? — sussurra ela. — Óbvio — respondo, distraída. O professor pigarreia, chamando a atenção da turma. — Como mencionei na última aula, o trabalho que vocês farão valerá uma boa parte da nota do semestre. E, para garantir que tenham uma visão mais ampla sobre o tema… — Ele pausa, como se saboreasse o drama — … resolvi juntar essa turma com a turma de Gestão Esportiva. O burburinho cresce instantaneamente. Gestão Esportiva. Meu estômago afunda. Eu sei quem faz parte dessa turma. Meu coração b**e mais rápido enquanto o professor continua: — Eles já estão a caminho. Vamos organizar as cadeiras e formar os grupos. E antes que me perguntem: não, vocês não poderão escolher suas duplas. Eu já fiz a seleção. Eu e Zoe trocamos um olhar. — Acho que essa é sua deixa para sair correndo — ela brinca. — Tarde demais — murmuro. A porta se abre, e um grupo de alunos entra. Não preciso olhar para saber que entre eles está ele. O barulho das cadeiras se movendo, vozes animadas, e então… um perfume amadeirado e forte preenche o espaço ao meu redor. Não olho. Não preciso olhar. — Agora, vou chamar os nomes — continua o professor, sem dar tempo para ninguém protestar. Ele começa a listar as duplas. Pessoas comemoram, algumas resmungam. Então, meu nome soa no meio da confusão: — Luna Navarro e Damian Hayes. O ar some dos meus pulmões. Engulo em seco. Zoe faz uma careta exagerada, como se dissesse boa sorte. Eu continuo imóvel. — Você ouviu isso? — alguém cochicha mais atrás. — Quem é essa? — Ah, acho que ela é da turma de literatura. Ignoro os sussurros e respiro fundo antes de me obrigar a levantar. Se eu fingir que isso não é um grande problema, talvez meu cérebro realmente acredite nisso. Talvez. Meu olhar sobe devagar, e então encontro os olhos dele. Ele já está me observando. Verde intenso. Curioso. Por um segundo, Damian não diz nada. Só me avalia, como se tentasse decifrar se já me viu antes. Eu sei a resposta. Ele não viu. — Então, você é minha dupla — ele diz, e há algo quase provocador em seu tom. Cruzo os braços. — Pelo visto. — Não parece muito animada. — Você parece? A boca dele se curva em um meio sorriso. — Touché. Ele se j**a na cadeira ao meu lado com a mesma confiança preguiçosa de sempre. Como se o mundo fosse dele e ele estivesse apenas decidindo onde gastar seu tempo. O professor continua distribuindo as orientações do trabalho, mas eu mal escuto. Estou ocupada demais tentando ignorar o fato de que o cara mais popular do campus agora é minha dupla. E eu não tenho escapatória. --- Damian Eu não esperava por isso. Quer dizer, um trabalho em dupla? Ok. Mas com ela? A garota da cafeteria. A garota que não olhou para mim. Curioso. Parece que o destino tem um senso de humor esquisito. Enquanto o professor explica os detalhes do trabalho, eu apoio o braço na mesa e estudo minha nova dupla de canto de olho. Ela é diferente. Não do tipo que finge ser diferente para chamar atenção. Mas do tipo que realmente não se importa. O tipo que parece confortável em seu próprio mundo. — Você já entendeu o que a gente tem que fazer? — ela pergunta, sem me olhar. Sorrio de leve. — Por que, você não? Ela suspira, visivelmente irritada. — É um ensaio sobre a influência do esporte na sociedade. Precisamos dividir as pesquisas e criar um argumento sólido. — Hmm. Então você prestou atenção. Ela vira o rosto para mim, estreitando os olhos. — Você não prestou? Dou de ombros. — Eu estava ocupado tentando entender por que você parece tão incomodada com isso. Ela pisca, surpresa. — Eu não estou incomodada. Levanto uma sobrancelha, desafiador. — Não? Ela aperta os lábios, claramente irritada. — Eu só quero fazer esse trabalho e seguir com a minha vida. — Então relaxa, estressadinha. O olhar dela fica afiado. — Estressadinha? Sorrio, satisfeito com a reação. — Se encaixa, não acha? Ela bufa, mas não rebate. Em vez disso, anota alguma coisa no caderno com força demais, como se estivesse tentando rabiscar minha existência junto. Eu deveria me concentrar no trabalho. Mas, por algum motivo, minha atenção está completamente presa nela. E algo me diz que essa dupla vai ser mais interessante do que eu imaginava.Luna Eu preciso de paciência. Muita paciência. Porque, honestamente, Damian Hayes é insuportável. Depois de quase trinta minutos tentando estruturar nosso trabalho, a única coisa que consegui foi um leve começo de dor de cabeça. Ele se recosta na cadeira como se não tivesse um pingo de preocupação no mundo, enquanto eu rabisco tópicos no meu caderno, tentando não surtar. - Você pode, por favor, focar nisso por cinco minutos? - peço, exasperada. Damian ergue a cabeça e pisca lentamente, como se tivesse acabado de ser acordado de um cochilo. - Eu estou focado. - Não, você não está. Você só tá sentado aí, olhando para mim como se isso fosse um reality show. Ele ri. - Você percebeu? Jogo a caneta sobre a mesa. - Claro que percebi! Dá para parar? - Eu só estou tentando entender você, estressadinha. Fecho os olhos e respiro fundo. - Primeiro: para de me chamar assim. Segundo: não tem nada para entender. Vamos só dividir as tarefas e fazer isso direito, ok? Ele me observa por
LunaA biblioteca está mais silenciosa do que o normal. Talvez porque seja sexta-feira e a maioria dos alunos tenha encontrado lugares melhores para estar do que enfiados entre estantes de livros acadêmicos.Eu, no entanto, não me importo. Esse sempre foi meu refúgio. O lugar onde posso existir sem que ninguém repare em mim.Ou, pelo menos, era.Porque agora, sentada em uma mesa no canto, estou esperando por ele.E, para piorar, me sinto nervosa.Isso é ridículo.Respire fundo, Luna. É só um trabalho.Estou no meio desse mantra interno quando Damian entra na biblioteca.E, claro, ele faz isso como se estivesse invadindo um território desconhecido.Ele passa os olhos pelo lugar, o cenho levemente franzido, como se não soubesse bem o que fazer ali. Seu cabelo está mais bagunçado que o normal, e ele usa um moletom escuro com a logo do time estampada no peito. Mesmo em um ambiente como esse, sua presença é impossível de ignorar.Quando finalmente me vê, ele sorri daquele jeito convencido.
DamianO frio do gelo é uma sensação que sempre me trouxe conforto. O som das lâminas cortando a superfície, o baque seco do puck contra o stick, a vibração dos gritos dos meus companheiros de time—tudo isso faz parte do que eu sou.Aqui, eu não preciso pensar. Não preciso questionar nada.No gelo, sou apenas eu e o jogo.— Bora, Hayes! Para de viajar! — Ryan grita, deslizando ao meu lado antes de roubar o puck da minha frente.Reajo no mesmo segundo, girando o corpo e esticando o stick para tentar recuperar o disco, mas ele já disparou para o outro lado da quadra.Merda.Meus músculos estão no automático, minha mente sabe exatamente o que fazer. Mas algo está diferente.Minha concentração não está onde deveria estar.E eu sei exatamente o motivo.Luna Navarro.Não faz sentido.Ela é só uma garota. Só uma nerd obcecada por organização e argumentos bem estruturados. Só uma pessoa que nem fazia parte do meu mundo até dois dias atrás.Então por que diabos eu passei a noite inteira pensan
Luna — Você não acha que está exagerando um pouco? A voz de Zoe corta minha concentração, me fazendo levantar os olhos da tela do laptop. Estamos sentadas na cafeteria do campus, no nosso canto habitual, e minha melhor amiga me observa com uma expressão meio divertida, meio curiosa. — Exagerando com o quê? — pergunto, franzindo a testa. — Com essa sua obsessão em planejar cada detalhe do trabalho com o loirão tatuado. Reviro os olhos. — Não é obsessão, Zoe. É organização. Ela se inclina para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — Tá bom. Então me explica por que você está anotando até as pausas que vão fazer no trabalho. — Porque eu gosto de ter controle das coisas. — Ou porque você está tentando desesperadamente fingir que esse projeto não vai ser uma grande distração. Eu paro. — Como assim? Ela sorri, apontando para mim com a colher do cappuccino. — Luna, amiga, eu te conheço. Sei que você não gosta de surpresas, nem de mudanças na sua rotina. E sei que você tá se co
Damian A zoeira não para nem quando saímos da cafeteria. — Cara, Ken foi pesado — Nate ri, batendo no meu ombro enquanto caminhamos até o carro. — Foi o melhor apelido que ela podia ter te dado — Owen acrescenta, segurando o riso. — Um loiro, cheio de músculos, metido a galã… mano, tu é o Ken. Reviro os olhos, ignorando as risadas dos idiotas ao meu redor. — Isso não vai pegar. — Sei… — Nate debocha. — Como se a gente já não estivesse planejando mudar seu contato no grupo para “Ken Hayes”. Eles caem na gargalhada de novo, e eu só balanço a cabeça. Maldita Luna Navarro. Ela sabia o que estava fazendo quando me chamou daquele jeito. E eu odeio admitir, mas… a nerd metódica sabe provocar. ⛸️🏒📖❄️ O treino começa alguns minutos depois, e eu me forço a focar no que realmente importa: o jogo. O barulho dos patins deslizando no gelo, os gritos do treinador e o impacto do puck contra os tacos ocupam minha mente, deixando pouco espaço para qualquer outra coisa. No gelo, eu não so
Luna on O frio da manhã me faz puxar o casaco ais para perto do corpo enquanto caminho pelo campus. O inverno ainda não chegou com tudo, mas a brisa gelada já avisa que não está longe. Meus dedos estão frios ao redor do copo de café que comprei antes da aula, e eu me pergunto por que diabos ainda não comprei uma luva decente. Ao meu lado, Zoe mastiga distraidamente um pedaço de bolo, a expressão sonolenta. — Você viu o cronograma de provas? — pergunto, tomando um gole do café. — Vi — ela resmunga. — E também vi minha vontade de viver indo embora junto com ele. Solto uma risada baixa, mas não posso discordar. O semestre está apertado, e minha rotina está cada vez mais cheia. Além das provas, tem o trabalho na cafeteria e, claro, o projeto com ele. Damian Hayes. O nome dele surge na minha mente antes que eu possa evitar. Faz dois dias desde que nos encontramos na biblioteca, e eu ainda não decidi se foi uma experiência ruim ou só… estranha. Ele não era o cara arrogante e insu
Luna OnA biblioteca está silenciosa, exatamente como eu gosto. O som baixo das páginas virando, os teclados sendo pressionados em um ritmo contínuo e o leve murmúrio de conversas abafadas criam um ambiente perfeito para se concentrar. Ou pelo menos deveriam criar.Se não fosse por ele.— Você tá realmente escrevendo tudo isso? — Damian questiona ao meu lado, inclinando-se sobre a mesa para espiar minhas anotações.Eu suspiro, sem tirar os olhos do caderno.— Sim, porque eu levo o trabalho a sério. Diferente de certas pessoas.Ele solta uma risada baixa.— Eu levo a sério. Só não vejo necessidade de escrever um livro inteiro de anotações.Reviro os olhos e continuo escrevendo. Mas ele não cala a boca.— Sua letra parece até fonte de computador. Tem certeza que você não é um robô?Solto a caneta e olho diretamente para ele.— Você realmente não consegue passar cinco minutos sem falar?Ele sorri.— Não quando tem alguém tão divertido pra provocar.Cruzo os braços.— Foco, Hayes. Se você
O estacionamento da faculdade estava mais vazio àquela hora da noite. A iluminação fraca dos postes criava sombras longas no asfalto, e o frio começava a se intensificar, formando pequenas nuvens de vapor sempre que algum dos garotos falava. O grupo estava reunido perto dos carros, encostados nas portas ou sentados nos capôs, esperando Damian finalmente sair da biblioteca. - Ele tá demorando. - O loiro resmungou, esfregando as mãos para se aquecer. - Será que a nerdzilla sequestrou ele? O ruivo riu. - Se sequestrou, a gente devia agradecer. Talvez ela ensine ele a usar o cérebro. - Qual é, ela nem é tão ruim assim. - O moreno, que até então só observava a conversa, comentou. O loiro e o ruivo trocaram olhares, surpresos. - O quê? Você gostou da garota, Logan? Ele deu de ombros. - Só acho que ela tem atitude. Não é todo dia que a gente vê alguém peitando o Damian sem medo. - Isso é verdade. - O ruivo cruzou os braços. - Mas agora fica a dúvida... O Damian só tá estudando com