capítulo 03

Luna

O som abafado das conversas preenche a sala, criando um zumbido constante de vozes misturadas. Meu caderno está aberto sobre a mesa, mas minha mente está longe da matéria.

O professor anda de um lado para o outro, os óculos escorregando pelo nariz enquanto ajeita alguns papéis. Sei o que está por vir – ele mencionou um trabalho importante na última aula, e agora é questão de tempo até que ele nos jogue em alguma atividade em dupla.

E eu já sei exatamente com quem quero fazer.

Zoe está sentada ao meu lado, tamborilando os dedos na mesa com impaciência. Ela lança um olhar sugestivo para mim, e eu reviro os olhos antes mesmo dela dizer qualquer coisa.

— Só para garantir, caso role duplas, você vai comigo, né? — sussurra ela.

— Óbvio — respondo, distraída.

O professor pigarreia, chamando a atenção da turma.

— Como mencionei na última aula, o trabalho que vocês farão valerá uma boa parte da nota do semestre. E, para garantir que tenham uma visão mais ampla sobre o tema… — Ele pausa, como se saboreasse o drama — … resolvi juntar essa turma com a turma de Gestão Esportiva.

O burburinho cresce instantaneamente.

Gestão Esportiva.

Meu estômago afunda.

Eu sei quem faz parte dessa turma.

Meu coração b**e mais rápido enquanto o professor continua:

— Eles já estão a caminho. Vamos organizar as cadeiras e formar os grupos. E antes que me perguntem: não, vocês não poderão escolher suas duplas. Eu já fiz a seleção.

Eu e Zoe trocamos um olhar.

— Acho que essa é sua deixa para sair correndo — ela brinca.

— Tarde demais — murmuro.

A porta se abre, e um grupo de alunos entra. Não preciso olhar para saber que entre eles está ele. O barulho das cadeiras se movendo, vozes animadas, e então… um perfume amadeirado e forte preenche o espaço ao meu redor.

Não olho.

Não preciso olhar.

— Agora, vou chamar os nomes — continua o professor, sem dar tempo para ninguém protestar. Ele começa a listar as duplas. Pessoas comemoram, algumas resmungam. Então, meu nome soa no meio da confusão:

— Luna Navarro e Damian Hayes.

O ar some dos meus pulmões.

Engulo em seco.

Zoe faz uma careta exagerada, como se dissesse boa sorte. Eu continuo imóvel.

— Você ouviu isso? — alguém cochicha mais atrás.

— Quem é essa?

— Ah, acho que ela é da turma de literatura.

Ignoro os sussurros e respiro fundo antes de me obrigar a levantar. Se eu fingir que isso não é um grande problema, talvez meu cérebro realmente acredite nisso.

Talvez.

Meu olhar sobe devagar, e então encontro os olhos dele.

Ele já está me observando.

Verde intenso. Curioso.

Por um segundo, Damian não diz nada. Só me avalia, como se tentasse decifrar se já me viu antes.

Eu sei a resposta.

Ele não viu.

— Então, você é minha dupla — ele diz, e há algo quase provocador em seu tom.

Cruzo os braços.

— Pelo visto.

— Não parece muito animada.

— Você parece?

A boca dele se curva em um meio sorriso.

— Touché.

Ele se j**a na cadeira ao meu lado com a mesma confiança preguiçosa de sempre. Como se o mundo fosse dele e ele estivesse apenas decidindo onde gastar seu tempo.

O professor continua distribuindo as orientações do trabalho, mas eu mal escuto. Estou ocupada demais tentando ignorar o fato de que o cara mais popular do campus agora é minha dupla.

E eu não tenho escapatória.

---

Damian

Eu não esperava por isso.

Quer dizer, um trabalho em dupla? Ok. Mas com ela?

A garota da cafeteria.

A garota que não olhou para mim.

Curioso.

Parece que o destino tem um senso de humor esquisito.

Enquanto o professor explica os detalhes do trabalho, eu apoio o braço na mesa e estudo minha nova dupla de canto de olho.

Ela é diferente.

Não do tipo que finge ser diferente para chamar atenção. Mas do tipo que realmente não se importa. O tipo que parece confortável em seu próprio mundo.

— Você já entendeu o que a gente tem que fazer? — ela pergunta, sem me olhar.

Sorrio de leve.

— Por que, você não?

Ela suspira, visivelmente irritada.

— É um ensaio sobre a influência do esporte na sociedade. Precisamos dividir as pesquisas e criar um argumento sólido.

— Hmm. Então você prestou atenção.

Ela vira o rosto para mim, estreitando os olhos.

— Você não prestou?

Dou de ombros.

— Eu estava ocupado tentando entender por que você parece tão incomodada com isso.

Ela pisca, surpresa.

— Eu não estou incomodada.

Levanto uma sobrancelha, desafiador.

— Não?

Ela aperta os lábios, claramente irritada.

— Eu só quero fazer esse trabalho e seguir com a minha vida.

— Então relaxa, estressadinha.

O olhar dela fica afiado.

— Estressadinha?

Sorrio, satisfeito com a reação.

— Se encaixa, não acha?

Ela bufa, mas não rebate. Em vez disso, anota alguma coisa no caderno com força demais, como se estivesse tentando rabiscar minha existência junto.

Eu deveria me concentrar no trabalho.

Mas, por algum motivo, minha atenção está completamente presa nela.

E algo me diz que essa dupla vai ser mais interessante do que eu imaginava.

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