Acordei com meu corpo todo dolorido. Minha cabeça rodava e eu mal conseguia respirar. Onde eu estava?Vagas lembranças da noite anterior vieram com tudo, e no mesmo instante que me lembrava, meu coração doía. Era Alexander. Alexander Cosa Nostra. Como ele pôde?Eu preferiria mil vezes ter morrido do que passar por tudo que passei.A porta do quarto foi aberta e logo minha irmã entrou, mas meu coração não estava preparado para a pessoa que estava logo atrás dela. Yago. Ele tinha um corte no canto do lábio esquerdo, e em seus olhos havia ódio, nojo. Ele mal me olhava.– Helena, por Deus. Ainda bem que você acordou. – Ela disse em lágrimas, o que me fez chorar junto.Ela me envolveu em seus braços, dizendo que tudo iria ficar bem, que papai e Leonardo já estavam tomando as providências e que os culpados por toda essa desgraça seriam punidos.– Você tem que relatar tudo que aconteceu ao nosso pai, dizer como chegou naquele hotel e, o mais importante, quem te fez isso. – Ela dizia.Mas eu
Dois anos já se passaram desde todo o inferno que vivi. Desde aquela noite, nunca mais saí de casa sozinha; quando saía, era de dia, acompanhada por minha irmã e seguranças.Nunca contei a ninguém quem era o homem daquela noite. Meu pai não aguentaria levantar uma guerra contra os Gambinos; a última nos custou muitas vidas e territórios. Não éramos fracos, mas os Gambinos eram numerosos, crescendo a cada dia. Agora, várias máfias tentam alianças, e meu pai é uma delas.Ele está tentando um acordo de paz, que tudo indica será através do casamento. Mariana foi escolhida para levar esse legado e firmar a aliança.Eu temo por minha irmã.Ainda não contei a ela; espero o momento certo. Primeiro, preciso saber quem será seu futuro marido. Desde que o antigo Dom foi brutalmente morto por Alexander, a família virou um caos, muitas guerras internas. Muitos morreram, e agradeço por não ter contado a meu pai na época; sabe Deus o que poderia ter acontecido.Depois de quase um ano de confusão, a
– Você é a mulher mais linda que eu conheço – minha irmã falou enquanto me observava pelo reflexo do espelho – mas ainda acredito que ficaria mais linda usando o vestido vermelho. – Sorri.Sim, sem dúvidas eu ficaria linda. Mas não era isso que eu queria. – Não quero causar uma boa impressão, vou assim mesmo. – Joguei minhas palavras no ar, realmente não me preocupando com minha aparência. Se ele gostasse, bem; se não gostasse, problema dele.– Humm… você não está feliz, né? Lembro-me bem que estava radiante com o seu noivado e do…– Mariana… – Repreendi-a com um olhar. Ainda doía falar nele, ainda doía pensar nele. E a maneira como ele me deixou me abala até hoje.Nunca mais o vi. Quando saiu a notícia do seu casamento, me recusei a ver. Eu não queria acreditar. No meu conto de fadas, ele ainda entraria por aquela porta me pedindo perdão por tudo que aconteceu.– Você ainda o ama, né? – minha irmã indagou.– Mais do que queria! – confessei.Seus olhos se arregalaram. – Meu Deus, Hel
Mariana passou o jantar inteiro me olhando de canto de olho. Desde o momento em que pôs os olhos em Alexander, ela não me deixou em paz. Eu sei o motivo. Lucas é quase a cópia dele, a única diferença é a cor dos olhos que puxou os meus. O resto, cabelo, rosto, cor da pele… é o pai.Sinceramente, não sei como meu pai ou meu irmão ainda não perceberam. E se não perceberam, espero que não percebam. Se meu pai descobrir que Alexander é o pai de Lucas, tudo vai por água abaixo.– Então… – ela me sondou, sentada na minha cama, me olhando como se eu fosse um bicho de sete cabeças. – Ele é o homem daquela noite, não é?! – Disse mais afirmando do que perguntando.– É! – confessei. Não iria mentir mais para ela, somente para ela. – Isso ainda é segredo, por favor não diga nada, principalmente ao nosso pai. – Pedi.Ela não disse nada. Parecia não saber como agir com aquela informação.Engoli em seco, vendo sua reação. – Mariana? – Chamei, mas ela não reagia.Me aproximei, pegando sua mão. – Me p
Eu não era o tipo de homem que pedia perdão. Eu abolia as regras com perversidade, sem me importar com quem estaria ferindo no processo. Eu queria resultado, queria o meu ganho, e coitado de quem entrasse em meu caminho.Eu não ficava remoendo o passado; eu olhava para o futuro. Eu tirava minhas cartas da manga e surpreendia meus adversários, fazendo-os recuar, ajoelhar e implorar misericórdia ao seu novo rei. Essa era a minha base.Não queria acabar com as máfias inimigas; eu os queria rendidos, curvados à mercê da minha autoridade. Meu plano de governo era esse: juntar e governar todos, não importa em que nação estivessem ou em que línguas falassem. Eu seria o rei da máfia, e eles, meus súditos fiéis.Só que ela atravessou o meu maldito caminho.E foi aí que tudo desandou.Quem cuida das mulheres em nosso território é Caio. Ele tem uma lábia terrível e sempre consegue o que quer. Já eu fico longe desses negócios. Acho que presenciar o que minha mãe passava nas mãos daquele caprula q
Jonas Gambino, meu querido pai, abriu o lençol de Helena no meio da sala cheia de homens. Várias risadas preencheram o ambiente. Eu os deixaria se divertirem um pouco; a hora de cada um aqui estava para chegar.— A menina deu trabalho? — Ele riu, vindo em minha direção. — Não é tão difícil pegar uma puta à força, né?Respondi a contragosto. — Não. Não é.— Exatamente, Alexander. Sabe, filho, eu criei você diferente dos seus irmãos e esse foi meu erro. — Ele suspirou olhando para o conselho. Nesta reunião, havia cerca de trinta homens. — Eu queria que você vivesse um pouco o mundo lá fora; assim, ficaria fácil cuidar das empresas e ampliar os negócios. Só que, você se apaixonou, se casou e me fez perder o controle sobre você. Eu odeio perder o controle das coisas.Observei enquanto ele se embebedava com um copo de Martini.— Eu preciso de um líder duro, Alexander. Eu sei que você é esse líder, mas há falhas em você, e precisamos corrigir isso o mais rápido possível. — Ele encheu novame
Cheguei ao hotel na hora marcada e, como esperado, minha entrada estava liberada. No elevador, fiquei lembrando de tudo que me ocorreu neste lugar dois anos atrás e me perguntei por que ele teria se hospedado aqui. Mas isso não era da minha conta; o meu assunto com ele era outro.As portas do elevador abriram quando chegaram na suíte principal. Dois guardas estavam de pé em frente à porta. Quando me viram, baixaram a cabeça em sinal de respeito. Nossa, isso é cômico.Bati na porta e segundos depois ela foi aberta. Ele estava perfeitamente vestido com roupas casuais, o que o fazia parecer mais jovem. Seu perfume tinha um cheiro levemente amadeirado com um toque cítrico. O cheiro era tão bom que me fez fechar os olhos por alguns instantes antes de voltar a encará-lo.– Você não vai entrar? – Sua voz firme e profunda me arrancou dos meus devaneios.– Sim. Claro.Passei por ele, segurando forte minha bolsa, como se alguém pudesse tirá-la de mim. A sala da recepção da suíte continuava do m
Um mês se passou em um piscar de olhos, e a única coisa que eu pensava era na nossa discussão. Um mês sem vê-lo, sem falar ou receber qualquer notícia dele.Conversei muito com minha madrasta nesses últimos dias e acabei contando a ela tudo sobre Alexander. Ela disse que eu deveria perdoá-lo e tentar entender seus motivos. Disse que ele era jovem, bonito, bem-sucedido e que era normal acontecer cenas de estupro no meio da máfia, mencionando que sua mãe e sua irmã mais velha passavam por isso. Algumas mulheres tinham sorte, outras nem tanto.Eu acho isso ridículo. Como mulheres podem perdoar um absurdo desses só porque o cara era bonito ou rico? Isso, na minha opinião, é desvio de caráter. A beleza de Alexander não esconde sua verdadeira identidade, e isso serve para qualquer homem.Depois da minha discussão com Alexander, passei a guarda de Lucas definitivamente para Leonardo. Se algo acontecesse comigo, meu filho estaria seguro com meu irmão. Lucas era a minha única preocupação, o me