Dois anos já se passaram desde todo o inferno que vivi. Desde aquela noite, nunca mais saí de casa sozinha; quando saía, era de dia, acompanhada por minha irmã e seguranças.Nunca contei a ninguém quem era o homem daquela noite. Meu pai não aguentaria levantar uma guerra contra os Gambinos; a última nos custou muitas vidas e territórios. Não éramos fracos, mas os Gambinos eram numerosos, crescendo a cada dia. Agora, várias máfias tentam alianças, e meu pai é uma delas.Ele está tentando um acordo de paz, que tudo indica será através do casamento. Mariana foi escolhida para levar esse legado e firmar a aliança.Eu temo por minha irmã.Ainda não contei a ela; espero o momento certo. Primeiro, preciso saber quem será seu futuro marido. Desde que o antigo Dom foi brutalmente morto por Alexander, a família virou um caos, muitas guerras internas. Muitos morreram, e agradeço por não ter contado a meu pai na época; sabe Deus o que poderia ter acontecido.Depois de quase um ano de confusão, a
– Você é a mulher mais linda que eu conheço – minha irmã falou enquanto me observava pelo reflexo do espelho – mas ainda acredito que ficaria mais linda usando o vestido vermelho. – Sorri.Sim, sem dúvidas eu ficaria linda. Mas não era isso que eu queria. – Não quero causar uma boa impressão, vou assim mesmo. – Joguei minhas palavras no ar, realmente não me preocupando com minha aparência. Se ele gostasse, bem; se não gostasse, problema dele.– Humm… você não está feliz, né? Lembro-me bem que estava radiante com o seu noivado e do…– Mariana… – Repreendi-a com um olhar. Ainda doía falar nele, ainda doía pensar nele. E a maneira como ele me deixou me abala até hoje.Nunca mais o vi. Quando saiu a notícia do seu casamento, me recusei a ver. Eu não queria acreditar. No meu conto de fadas, ele ainda entraria por aquela porta me pedindo perdão por tudo que aconteceu.– Você ainda o ama, né? – minha irmã indagou.– Mais do que queria! – confessei.Seus olhos se arregalaram. – Meu Deus, Hel
Mariana passou o jantar inteiro me olhando de canto de olho. Desde o momento em que pôs os olhos em Alexander, ela não me deixou em paz. Eu sei o motivo. Lucas é quase a cópia dele, a única diferença é a cor dos olhos que puxou os meus. O resto, cabelo, rosto, cor da pele… é o pai.Sinceramente, não sei como meu pai ou meu irmão ainda não perceberam. E se não perceberam, espero que não percebam. Se meu pai descobrir que Alexander é o pai de Lucas, tudo vai por água abaixo.– Então… – ela me sondou, sentada na minha cama, me olhando como se eu fosse um bicho de sete cabeças. – Ele é o homem daquela noite, não é?! – Disse mais afirmando do que perguntando.– É! – confessei. Não iria mentir mais para ela, somente para ela. – Isso ainda é segredo, por favor não diga nada, principalmente ao nosso pai. – Pedi.Ela não disse nada. Parecia não saber como agir com aquela informação.Engoli em seco, vendo sua reação. – Mariana? – Chamei, mas ela não reagia.Me aproximei, pegando sua mão. – Me p
Eu não era o tipo de homem que pedia perdão. Eu abolia as regras com perversidade, sem me importar com quem estaria ferindo no processo. Eu queria resultado, queria o meu ganho, e coitado de quem entrasse em meu caminho.Eu não ficava remoendo o passado; eu olhava para o futuro. Eu tirava minhas cartas da manga e surpreendia meus adversários, fazendo-os recuar, ajoelhar e implorar misericórdia ao seu novo rei. Essa era a minha base.Não queria acabar com as máfias inimigas; eu os queria rendidos, curvados à mercê da minha autoridade. Meu plano de governo era esse: juntar e governar todos, não importa em que nação estivessem ou em que línguas falassem. Eu seria o rei da máfia, e eles, meus súditos fiéis.Só que ela atravessou o meu maldito caminho.E foi aí que tudo desandou.Quem cuida das mulheres em nosso território é Caio. Ele tem uma lábia terrível e sempre consegue o que quer. Já eu fico longe desses negócios. Acho que presenciar o que minha mãe passava nas mãos daquele caprula q
Jonas Gambino, meu querido pai, abriu o lençol de Helena no meio da sala cheia de homens. Várias risadas preencheram o ambiente. Eu os deixaria se divertirem um pouco; a hora de cada um aqui estava para chegar.— A menina deu trabalho? — Ele riu, vindo em minha direção. — Não é tão difícil pegar uma puta à força, né?Respondi a contragosto. — Não. Não é.— Exatamente, Alexander. Sabe, filho, eu criei você diferente dos seus irmãos e esse foi meu erro. — Ele suspirou olhando para o conselho. Nesta reunião, havia cerca de trinta homens. — Eu queria que você vivesse um pouco o mundo lá fora; assim, ficaria fácil cuidar das empresas e ampliar os negócios. Só que, você se apaixonou, se casou e me fez perder o controle sobre você. Eu odeio perder o controle das coisas.Observei enquanto ele se embebedava com um copo de Martini.— Eu preciso de um líder duro, Alexander. Eu sei que você é esse líder, mas há falhas em você, e precisamos corrigir isso o mais rápido possível. — Ele encheu novame
Cheguei ao hotel na hora marcada e, como esperado, minha entrada estava liberada. No elevador, fiquei lembrando de tudo que me ocorreu neste lugar dois anos atrás e me perguntei por que ele teria se hospedado aqui. Mas isso não era da minha conta; o meu assunto com ele era outro.As portas do elevador abriram quando chegaram na suíte principal. Dois guardas estavam de pé em frente à porta. Quando me viram, baixaram a cabeça em sinal de respeito. Nossa, isso é cômico.Bati na porta e segundos depois ela foi aberta. Ele estava perfeitamente vestido com roupas casuais, o que o fazia parecer mais jovem. Seu perfume tinha um cheiro levemente amadeirado com um toque cítrico. O cheiro era tão bom que me fez fechar os olhos por alguns instantes antes de voltar a encará-lo.– Você não vai entrar? – Sua voz firme e profunda me arrancou dos meus devaneios.– Sim. Claro.Passei por ele, segurando forte minha bolsa, como se alguém pudesse tirá-la de mim. A sala da recepção da suíte continuava do m
Um mês se passou em um piscar de olhos, e a única coisa que eu pensava era na nossa discussão. Um mês sem vê-lo, sem falar ou receber qualquer notícia dele.Conversei muito com minha madrasta nesses últimos dias e acabei contando a ela tudo sobre Alexander. Ela disse que eu deveria perdoá-lo e tentar entender seus motivos. Disse que ele era jovem, bonito, bem-sucedido e que era normal acontecer cenas de estupro no meio da máfia, mencionando que sua mãe e sua irmã mais velha passavam por isso. Algumas mulheres tinham sorte, outras nem tanto.Eu acho isso ridículo. Como mulheres podem perdoar um absurdo desses só porque o cara era bonito ou rico? Isso, na minha opinião, é desvio de caráter. A beleza de Alexander não esconde sua verdadeira identidade, e isso serve para qualquer homem.Depois da minha discussão com Alexander, passei a guarda de Lucas definitivamente para Leonardo. Se algo acontecesse comigo, meu filho estaria seguro com meu irmão. Lucas era a minha única preocupação, o me
Minha família estava toda reunida: meus irmãos, uns primos e amigos próximos. Minha filha estava linda vestida de dama de honra; seu olhar brilhava para mim e seu sorriso iluminava o lugar. Desde o momento em que soube que estávamos vindo para o meu casamento, ela não me deixou em paz, fazendo perguntas como:“Como ela é?”“Ela vai morar com a gente?”“Ela gosta de criança?”“A madrasta do meu amigo é uma pessoa ruim, ela vai ser ruim comigo?”“Vou ter um irmãozinho?”“Posso chamá-la de mamãe?”Admito que a última pergunta me deixou sem resposta. Helena havia me pedido para que depois de alguns anos eu a deixasse ir embora. Naquele momento, não estava nos meus planos abrir mão dela, mas depois de muito pensar, concordei que seria o melhor a fazer.Eu preciso de uma esposa de verdade. Quero ter minha família, meus filhos e uma boa mãe para Alice. Viver de fachada não é comigo; não consigo fingir algo por muito tempo, então o melhor a fazer é deixá-la ir.Depois que ela estiver bem e em