CAPÍTULO 03 Helena

Acordei com meu corpo todo dolorido. Minha cabeça rodava e eu mal conseguia respirar. Onde eu estava?

Vagas lembranças da noite anterior vieram com tudo, e no mesmo instante que me lembrava, meu coração doía. Era Alexander. Alexander Cosa Nostra. Como ele pôde?

Eu preferiria mil vezes ter morrido do que passar por tudo que passei.

A porta do quarto foi aberta e logo minha irmã entrou, mas meu coração não estava preparado para a pessoa que estava logo atrás dela. Yago. Ele tinha um corte no canto do lábio esquerdo, e em seus olhos havia ódio, nojo. Ele mal me olhava.

– Helena, por Deus. Ainda bem que você acordou. – Ela disse em lágrimas, o que me fez chorar junto.

Ela me envolveu em seus braços, dizendo que tudo iria ficar bem, que papai e Leonardo já estavam tomando as providências e que os culpados por toda essa desgraça seriam punidos.

– Você tem que relatar tudo que aconteceu ao nosso pai, dizer como chegou naquele hotel e, o mais importante, quem te fez isso. – Ela dizia.

Mas eu não podia. Eu tinha medo de falar. Alexander era um magnata extraordinário no território empresarial, sem falar que sua família liderava o mundo da máfia. Até mesmo meu pai o respeitava. Quem faria justiça por mim?

Ninguém faria justiça por mim!

Os Gambinos massacrariam meu pai sem piedade.

Lembrei das ameaças que ele fez a Yago e meu corpo estremeceu. Isso foi o suficiente para começar a chorar.

Olhei para Yago, que estava à minha frente, enquanto eu era consolada por minha irmã.

Frio. Eu estava olhando para uma pedra de gelo, e aquilo me doía mais. Nem uma emoção, nem um sentimento eu conseguia enxergar em seus olhos.

– Mariana, me deixe sozinho com sua irmã. – Seu tom foi ríspido, desprovido de emoção, o que acendeu em mim um alerta. – Saia, Mariana. – Ele pediu impaciente.

Mariana me olhou preocupada, e eu pedi para que ela saísse.

Respirei pesadamente. Não tinha coragem de falar enquanto ele me olhava daquela maneira. Parecia ódio em seus olhos, desprezo em seu rosto. Ele me odiava, eu podia sentir isso.

– Eu cancelei o noivado, não haverá mais casamento. – Arfei. Isso foi como uma faca atingindo meu coração. Eu não conseguia respirar, a dor era demais. – Eu não posso levar uma mulher desonrada para dentro da minha casa. O conselho também não aceitaria, é contra as regras da máfia. Depois de uma breve reunião esta manhã, decidimos que seria melhor assim. Eu não saio perdendo, e nem seu pai.

Eu não acreditava nas palavras dele. Isso não podia estar acontecendo.

Desci da cama depressa, ignorando a dor que ainda sentia em meu corpo, e me ajoelhei aos seus pés. Eu chorava. Doía saber que eu o perdi, ainda mais dessa maneira.

– A culpa não foi minha. Você precisa ouvir o que eu tenho a dizer antes de tomar qualquer decisão. Eu amo você, Yago, não faça isso comigo.

Suas mãos agarraram minha nuca com força. Ofeguei de dor no mesmo instante. Ele me levantou e, ainda apertando minha nuca, despejou toda a sua mágoa.

– Você foi até lá, Helena. As câmeras de segurança não mentem. Só não conseguimos encontrar o desgraçado que estava com você naquele hotel, porque todas as câmeras misteriosamente foram desligadas, apagando todos os vestígios dele. Mas você foi por livre e espontânea vontade. Você estava lá, não foi arrastada, não foi obrigada, foi porque quis. Não venha se fazer de vítima por algo que você procurou. Se estivesse aqui dentro, trancada como deveria estar, nada disso teria acontecido. Você é a pior decepção que já me aconteceu. Do que adiantou eu ter esperado seis anos por você, Helena? Seis malditos anos para, no final, isso acontecer.

Ele me empurrou, e eu caí em cima da cama. Esse não era o Yago que eu conhecia, o homem pelo qual eu era extremamente apaixonada. Eu não poderia ter me enganado tanto com ele.

– Yago?

– Cala essa m*****a boca. Nunca mais pronuncie meu nome, porque a partir do momento que você estava com outro cara, você morreu completamente para mim. – Ele se afastou, dando uma risada amarga. – Eu desejava tanto você, tanto que ardia na alma. Eu sonhei com o dia em que iríamos nos casar, ter nossos filhos, nossa casa, nossa máfia, nossa vida, Helena... Você jogou fora a nossa vida.

– Yago! Pare!

– A verdade dói, não dói? De hoje em diante, eu vou viver a minha vida, mas não irei permitir que você viva a sua. Você pagará pelo que fez. – Ele me encarou, os olhos com lágrimas não caídas, contendo uma violência que nunca vi antes. – Você e Alexander.

Me desesperei. Ele sabia que era Alexander? Mas as câmeras não estavam desligadas?

– Eu liguei para você, marquei de me encontrar naquele maldito hotel com você. Eu não saí da minha casa para me encontrar com outro homem. Se você não devesse à Cosa Nostra, isso não teria acontecido.

Ele riu sem humor. – Se você não se aguentasse, não teria marcado nenhum encontro em hotel nenhum. Como eles chegaram até você, eu não sei e também pouco me importa. De hoje em diante, Helena, eu vou me preocupar em fazer os dois pagarem.

Eu não conseguia mais falar, não conseguia pensar. A dor era demais para suportar. Eu o vi saindo do quarto. Eu sabia que, depois de tudo que ele falou, nunca mais o veria.

Acabou, e a culpa era minha.

(๑๑⁠˙⁠❥⁠˙⁠๑๑⁠˙⁠❥⁠˙⁠๑๑⁠˙⁠❥⁠˙⁠๑๑⁠˙⁠❥⁠˙⁠๑๑˙⁠❥⁠˙⁠๑๑⁠)✍️

Estou há quatro horas trancada aqui dentro, relembrando tudo que me aconteceu até aqui.

Eu perdi muito nessas últimas 21 horas. O golpe que recebi do destino é tão doloroso que não vejo saída. É um túnel sem fim, sem luz, sem esperança.

Não me pergunto o que foi que fiz para merecer tudo isso, porque no final eu sei. Yago tem toda razão. Se eu estivesse em casa, nada disso teria acontecido. Se eu não fosse tão teimosa, eu não estaria sofrendo tanto. É exatamente como minha avó Amélia falava: aqui se planta, aqui se colhe.

Estou colhendo a pior dor que já senti. Eu me pergunto quando tudo isso irá passar. A estrada parece ser longa, deserta e espinhosa.

Ouvi uma batida leve na porta. Era meu pai. Ele é o único que b**e para entrar.

Sua cabeça apontou e logo seu corpo. Ele fechou a porta atrás de si e me olhou com tristeza.

Se já estava ruim, agora ficou pior. A última vez que vi esse olhar nos olhos do meu pai foi no enterro da minha mãe, quando eu tinha nove anos, e contemplar novamente este mesmo olhar fere minha alma.

– Como você foi parar lá, Helena?

Eu não queria falar sobre isso. Eu não queria contar a ele quem foi. Ele não tinha força para vencê-los, estávamos perdidos de qualquer forma. O que adiantaria?

– Pai, por favor, eu não quero falar sobre isso. – Suspirei, derrotada, cansada...

– Do que você tem medo? Não confia em mim? Não acredita que eu possa te proteger? Quem fez isso com você, Helena? Quando chegamos no quarto, você estava desacordada. O quarto estava revirado. Seja lá quem fez isso, eu estou disposto a procurar e ter nossa vingança. – Ele bradou em um tom mais autoritário. Ele estava cansado, eu sentia em suas palavras.

– Esquece! – Pedi, tentando fazer com que ele esquecesse.

– Como? – Soou abalado. – Como esquecer o que fizeram com você? Eu irei procurar até no inferno enquanto eu estiver com vida. E seja quem for, Helena, irá pagar. Não adianta você tentar encobrir o que fizeram.

– Pai... – Sussurrei, mudando de assunto. – E o Yago?

Meu pai suspirou, passando a mão pelos cabelos levemente grisalhos. – Decidimos cancelar o noivado. Você está livre, a máfia não cobrará mais nada de você. O conselho pretende casar Mariana com Yago, mas eu e seu irmão não aceitamos. Procuraremos outro partido para sua irmã.

– Ele queria se casar com ela? – Perguntei com a voz embargada.

– Ele disse que não teria problemas. Disse que Mariana seria boa o suficiente para a família. Eu achei melhor encerrarmos por aqui.

Solucei. Eu não conseguia acreditar que ele se casaria tão facilmente com minha irmã depois de dizer tantas vezes que me amava.

Que droga de amor era esse.

– Não pense muito neste assunto. Ele já é passado e agora que a família te deixará de lado, você poderá viver sua vida à sua maneira. Eu estarei aqui para te apoiar em qualquer decisão. Leonardo quer que você termine a faculdade e eu apoio. Siga sua vida tranquilamente, sem responsabilidades com a máfia. Deixe essas preocupações para mim e Leonardo.

– Obrigada, pai.

Senti suas mãos afagarem meus cabelos e, logo depois, ele saiu do quarto, fechando a porta.

Eu fui rejeitada pela máfia por me tornar uma mulher desonrada.

Que hilário, não é?

Às vezes, a pior peça do xadrez se torna você.

E nesse momento, eu me tornei a peça inútil do xadrez deles.

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