– Você é a mulher mais linda que eu conheço – minha irmã falou enquanto me observava pelo reflexo do espelho – mas ainda acredito que ficaria mais linda usando o vestido vermelho. – Sorri.
Sim, sem dúvidas eu ficaria linda. Mas não era isso que eu queria. – Não quero causar uma boa impressão, vou assim mesmo. – Joguei minhas palavras no ar, realmente não me preocupando com minha aparência. Se ele gostasse, bem; se não gostasse, problema dele. – Humm… você não está feliz, né? Lembro-me bem que estava radiante com o seu noivado e do… – Mariana… – Repreendi-a com um olhar. Ainda doía falar nele, ainda doía pensar nele. E a maneira como ele me deixou me abala até hoje. Nunca mais o vi. Quando saiu a notícia do seu casamento, me recusei a ver. Eu não queria acreditar. No meu conto de fadas, ele ainda entraria por aquela porta me pedindo perdão por tudo que aconteceu. – Você ainda o ama, né? – minha irmã indagou. – Mais do que queria! – confessei. Seus olhos se arregalaram. – Meu Deus, Helena. Você não pode nem sonhar em falar uma coisa dessas perto de Alexander. – Ela suspirou. – Você tem que esquecer que um dia fizeram parte da vida um do outro. – Eu sei. Mas não quero. Me lembrar de Yago me faz lembrar de tudo que nos separou. Eu preciso me lembrar de todo mal que sofri para nunca mais passar pela mesma situação de novo. – Absurdos – garantiu. – Mudando de assunto – pedi. – Você já está sabendo que não levarei Lucas. Não por enquanto. Ela me olhou por alguns segundos, avaliando minhas palavras. – Não vai mesmo contar a ele? Não terá problemas futuros? – questionou. É claro que terei problemas futuros. Entretanto, ele não merece saber. Não depois de todo mal que me fez. Sorri para Mariana. – Vai ficar tudo bem. Preciso conhecê-lo primeiro. Se ele for bom o bastante comigo, aceitará Lucas. – Nessa parte você tem razão – concluiu. – Então vamos, eles já devem ter chegado. – Estendi minha mão para pegar a dela. – Eu ainda acho que ficaria radiante no vestido vermelho – confessou, me seguindo para fora do quarto. – Eu ainda acho que ele não merece tanto! – afirmei. Ele realmente não merece nada vindo de mim. Descendo as escadas, vi o movimento de poucas pessoas na sala. Somente os mais importantes foram convidados. O meu casamento com Alexander traria a tão sonhada aliança de paz que o conselho tanto desejava. Por esse motivo, eles não deixariam de estar presentes, o que me causava ainda mais náuseas. – Bando de puxa-saco – minha irmã sussurrou no meu ouvido. – Concordo. Chegando ao último degrau, avistei papai conversando com seu conselheiro. Ele nos viu e se aproximou. – Simples demais, não acha? – Falou, olhando para meu conjunto de alfaiataria esverdeado. – Você está indo para um negócio ou um noivado? – Brincou, mesmo sabendo a resposta. – Eu disse que o vestido vermelho ficaria melhor – Mariana cantarolou. – Eu estou ótima! – informei. – Você está! – meu pai confirmou. Olhei em volta e não vi o ilustre convidado. Pelo jeito, estavam atrasados. – Houve um pequeno problema na família, estão em reunião e vão demorar para chegar. Levantei uma sobrancelha, observando-o. Papai já estava tão íntimo assim de Alexander? – Posso esperar no escritório. Eu gostaria de conversar com ele antes do jantar. – Espiei minha irmã, que me olhava em expectativa. – Em particular. Papai sorriu. – É o certo a se fazer. Segui para o escritório. Coração a mil, mas nesta noite eu não seria tão covarde como da última vez. (๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑)✍️ Estava jogada no sofá olhando para o teto, quando ouvi um movimento do lado de fora… ele havia chegado. Me endireitei e esperei pacientemente. A porta se abriu e lá estava ele, imponente, com sua arrogância e frieza. Sua aura intimidadora preenchendo o lugar. Ele estava bonito em seu terno feito sob medida, um verdadeiro homem de negócios. Estava mais alto do que eu me lembrava, seus olhos verde-claros mais frios e intensos, o cabelo bem penteado. Ele estava impecavelmente elegante e atraente com sua barba bem feita em seu rosto quadrado, que daria um belo quadro em uma exposição. Por fora, um deus. Por dentro, um monstro. Deve ser isso que faz dele o melhor chefe do submundo. Não me levantei para recebê-lo. Eu estava disposta a me casar com ele, mas não me renderia a ele. – Tenho certeza de que não preciso perder tempo me apresentando – ele disse, sentando-se ao meu lado, o que me fez levantar. Uma de suas sobrancelhas se ergueu, ele estreitou os olhos… seria um aviso? – Nem que se passasse 10 milhões de anos eu me esqueceria de você. Coisas ruins têm a mania de marcar a vida e alma de qualquer pessoa. – Torci o nariz enquanto falava, sentando-me na poltrona à frente. Ele me observou por alguns segundos. Olhar atento, astuto. Eu não teria medo dessa vez. Não era mais uma garota medrosa. Me tornei uma mulher sem a minha vontade, e o culpado está bem à minha frente. – Eu não vim até aqui discutir esse assunto – rosnou. – Veio fazer o que então? Acha mesmo que me receber como sua esposa vai apagar todo mal que me fez? Você pensa que eu vou esquecer do monstro que você é só pelo fato de colocar um anel em meu dedo e me proclamar sua? Vai para o inferno – bradei, toda a fúria exalando de mim. – Cuidado – alertou. – Eu estou tentando reparar um erro, e tocar nesse assunto neste momento não vai resolver nossos problemas pessoais. – Problemas pessoais? Você me estuprou! – Lágrimas faziam questão de descer por minhas bochechas. Eu as segurei, eu não iria chorar, não agora. Concentrei meu olhar nele. Ele estava pálido. Sua respiração parecia ter falhado. Ele pôs as mãos no rosto e as levou ao cabelo. E me olhou com um olhar mortal. – Nunca mais repita isso. Ri sem humor. – Eu passei esses últimos anos me escondendo de tudo e de todos, nunca disse nada a ninguém e me odeio por ter sido tão covarde. Eu me odeio só de pensar na maneira como você me tocou. Eu quero apagar você da minha vida, eu gostaria de ter parado de pensar em você porque, quando penso, só sinto dor. Confessei. Debrucei minha cabeça sobre o encosto do sofá, olhando o teto. Eu não queria mais vê-lo, eu queria que ele desaparecesse. – Eu pensei em você todos os dias e todas as noites. – Meu coração errou uma batida com suas palavras. – Não teve um maldito dia ou noite que eu não me perguntasse como você estaria. Eu sinto muito pelo que fiz, jamais conseguiremos apagar o passado, mas eu estou aqui para lhe oferecer um futuro. – Ele mexeu em seu terno, tirando uma caixinha. – Me dê sua mão. Estendi minha mão, olhando o anel deslizar sobre o meu dedo. Era dourado, com três pedras de quartzo rosa embutidas. – Cada uma das três pedras carrega uma interpretação – ele disse, segurando minha mão e apontando para as pedrinhas do anel. – A primeira, o passado: eu preciso dele para me redimir com você. A segunda, o presente: eu preciso dele para alcançar o seu perdão. E a terceira, o futuro: nós dois precisamos dele se quisermos seguir em frente. Um dia, te contarei o que me levou a fazer o que fiz, porém esse dia não será hoje. Ele me soltou, caminhando até a porta. Todavia, eu me encontrava congelada pelas suas palavras. – Helena – ele sussurrou, cansado. Saí do meu transe e fui até ele. Sua mão grande cobriu a minha. O calor da sua mão aqueceu a minha. Um sentimento de alívio quis se apoderar do meu peito, mas eu não deixei. Ele não merecia nenhum sentimento meu, a não ser o ódio.Mariana passou o jantar inteiro me olhando de canto de olho. Desde o momento em que pôs os olhos em Alexander, ela não me deixou em paz. Eu sei o motivo. Lucas é quase a cópia dele, a única diferença é a cor dos olhos que puxou os meus. O resto, cabelo, rosto, cor da pele… é o pai.Sinceramente, não sei como meu pai ou meu irmão ainda não perceberam. E se não perceberam, espero que não percebam. Se meu pai descobrir que Alexander é o pai de Lucas, tudo vai por água abaixo.– Então… – ela me sondou, sentada na minha cama, me olhando como se eu fosse um bicho de sete cabeças. – Ele é o homem daquela noite, não é?! – Disse mais afirmando do que perguntando.– É! – confessei. Não iria mentir mais para ela, somente para ela. – Isso ainda é segredo, por favor não diga nada, principalmente ao nosso pai. – Pedi.Ela não disse nada. Parecia não saber como agir com aquela informação.Engoli em seco, vendo sua reação. – Mariana? – Chamei, mas ela não reagia.Me aproximei, pegando sua mão. – Me p
Eu não era o tipo de homem que pedia perdão. Eu abolia as regras com perversidade, sem me importar com quem estaria ferindo no processo. Eu queria resultado, queria o meu ganho, e coitado de quem entrasse em meu caminho.Eu não ficava remoendo o passado; eu olhava para o futuro. Eu tirava minhas cartas da manga e surpreendia meus adversários, fazendo-os recuar, ajoelhar e implorar misericórdia ao seu novo rei. Essa era a minha base.Não queria acabar com as máfias inimigas; eu os queria rendidos, curvados à mercê da minha autoridade. Meu plano de governo era esse: juntar e governar todos, não importa em que nação estivessem ou em que línguas falassem. Eu seria o rei da máfia, e eles, meus súditos fiéis.Só que ela atravessou o meu maldito caminho.E foi aí que tudo desandou.Quem cuida das mulheres em nosso território é Caio. Ele tem uma lábia terrível e sempre consegue o que quer. Já eu fico longe desses negócios. Acho que presenciar o que minha mãe passava nas mãos daquele caprula q
Jonas Gambino, meu querido pai, abriu o lençol de Helena no meio da sala cheia de homens. Várias risadas preencheram o ambiente. Eu os deixaria se divertirem um pouco; a hora de cada um aqui estava para chegar.— A menina deu trabalho? — Ele riu, vindo em minha direção. — Não é tão difícil pegar uma puta à força, né?Respondi a contragosto. — Não. Não é.— Exatamente, Alexander. Sabe, filho, eu criei você diferente dos seus irmãos e esse foi meu erro. — Ele suspirou olhando para o conselho. Nesta reunião, havia cerca de trinta homens. — Eu queria que você vivesse um pouco o mundo lá fora; assim, ficaria fácil cuidar das empresas e ampliar os negócios. Só que, você se apaixonou, se casou e me fez perder o controle sobre você. Eu odeio perder o controle das coisas.Observei enquanto ele se embebedava com um copo de Martini.— Eu preciso de um líder duro, Alexander. Eu sei que você é esse líder, mas há falhas em você, e precisamos corrigir isso o mais rápido possível. — Ele encheu novame
Cheguei ao hotel na hora marcada e, como esperado, minha entrada estava liberada. No elevador, fiquei lembrando de tudo que me ocorreu neste lugar dois anos atrás e me perguntei por que ele teria se hospedado aqui. Mas isso não era da minha conta; o meu assunto com ele era outro.As portas do elevador abriram quando chegaram na suíte principal. Dois guardas estavam de pé em frente à porta. Quando me viram, baixaram a cabeça em sinal de respeito. Nossa, isso é cômico.Bati na porta e segundos depois ela foi aberta. Ele estava perfeitamente vestido com roupas casuais, o que o fazia parecer mais jovem. Seu perfume tinha um cheiro levemente amadeirado com um toque cítrico. O cheiro era tão bom que me fez fechar os olhos por alguns instantes antes de voltar a encará-lo.– Você não vai entrar? – Sua voz firme e profunda me arrancou dos meus devaneios.– Sim. Claro.Passei por ele, segurando forte minha bolsa, como se alguém pudesse tirá-la de mim. A sala da recepção da suíte continuava do m
Um mês se passou em um piscar de olhos, e a única coisa que eu pensava era na nossa discussão. Um mês sem vê-lo, sem falar ou receber qualquer notícia dele.Conversei muito com minha madrasta nesses últimos dias e acabei contando a ela tudo sobre Alexander. Ela disse que eu deveria perdoá-lo e tentar entender seus motivos. Disse que ele era jovem, bonito, bem-sucedido e que era normal acontecer cenas de estupro no meio da máfia, mencionando que sua mãe e sua irmã mais velha passavam por isso. Algumas mulheres tinham sorte, outras nem tanto.Eu acho isso ridículo. Como mulheres podem perdoar um absurdo desses só porque o cara era bonito ou rico? Isso, na minha opinião, é desvio de caráter. A beleza de Alexander não esconde sua verdadeira identidade, e isso serve para qualquer homem.Depois da minha discussão com Alexander, passei a guarda de Lucas definitivamente para Leonardo. Se algo acontecesse comigo, meu filho estaria seguro com meu irmão. Lucas era a minha única preocupação, o me
Minha família estava toda reunida: meus irmãos, uns primos e amigos próximos. Minha filha estava linda vestida de dama de honra; seu olhar brilhava para mim e seu sorriso iluminava o lugar. Desde o momento em que soube que estávamos vindo para o meu casamento, ela não me deixou em paz, fazendo perguntas como:“Como ela é?”“Ela vai morar com a gente?”“Ela gosta de criança?”“A madrasta do meu amigo é uma pessoa ruim, ela vai ser ruim comigo?”“Vou ter um irmãozinho?”“Posso chamá-la de mamãe?”Admito que a última pergunta me deixou sem resposta. Helena havia me pedido para que depois de alguns anos eu a deixasse ir embora. Naquele momento, não estava nos meus planos abrir mão dela, mas depois de muito pensar, concordei que seria o melhor a fazer.Eu preciso de uma esposa de verdade. Quero ter minha família, meus filhos e uma boa mãe para Alice. Viver de fachada não é comigo; não consigo fingir algo por muito tempo, então o melhor a fazer é deixá-la ir.Depois que ela estiver bem e em
A música começou a tocar "A Thousand Years". Eu considero essa música perfeita.Sinto uma das mãos de Alexander tocando minha cintura, enquanto sua outra mão segura a minha, conduzindo a dança.Fecho meus olhos, escutando a canção que começava a tocar. Ela é linda, uma das minhas músicas preferidas. Tudo estaria perfeito se hoje não fosse uma noite imperfeita. Encosto minha cabeça no ombro de Alexander e sinto quando seu queixo paira sobre minha cabeça suavemente.*Coração acelerado... Cores e promessas.* *Como ser corajoso... Como posso amar.* *Quando tenho medo de me apaixonar,* *Mas ao assistir você sozinha* *Toda a minha dúvida de repente se vai.* *Um passo mais perto.*– Como uma música tão linda está sendo tocada nesse velório? – pergunto.Ele riu. – Eu morri todos os dias esperando você. – Ele disse junto com a música, o que me deixou sem fala, sem reação. Meu coração errou o compasso e eu me odiei por isso.*Querida, não tenha medo* *Eu te amei por mil anos.* *Eu te ama
Deixei Helena no quarto do hotel e segui para a suíte dos meus irmãos, no andar de baixo. Minha mãe e minha filha estavam hospedadas em um quarto ao lado do deles.Eu não estava bem. Precisava manter a calma até chegar em casa e pensar no que fazer.Helena tem toda razão: sou um crápula. Concordo porque sempre agi assim, cometi vilezas, fui um baita de um canalha, e isso nunca me incomodou até ouvir cada palavra odiosa vinda dela.Eu queria me redimir. Só de pensar que tive que forçá-la, me falta o ar. Odeio tocar nesse assunto; mantive-o enterrado desde o momento em que enterrei aquele infeliz que se dizia meu pai. Mas como tudo na vida, chegou o momento de arcar com a verdade.Sabendo que tudo à minha volta não seria simples, coloquei-a em um quarto longe do meu. Contudo, eu não queria distância. Queria-a perto, queria recomeçar, apagar a dor que lhe causei, mostrar que não era o monstro que ela viu. Pelo menos, não com ela.Pela segunda vez na vida, não sei como agir.É engraçado p