CAPÍTULO 05 Helena

– Você é a mulher mais linda que eu conheço – minha irmã falou enquanto me observava pelo reflexo do espelho – mas ainda acredito que ficaria mais linda usando o vestido vermelho. – Sorri.

Sim, sem dúvidas eu ficaria linda. Mas não era isso que eu queria.

– Não quero causar uma boa impressão, vou assim mesmo. – Joguei minhas palavras no ar, realmente não me preocupando com minha aparência. Se ele gostasse, bem; se não gostasse, problema dele.

– Humm… você não está feliz, né? Lembro-me bem que estava radiante com o seu noivado e do…

– Mariana… – Repreendi-a com um olhar. Ainda doía falar nele, ainda doía pensar nele. E a maneira como ele me deixou me abala até hoje.

Nunca mais o vi. Quando saiu a notícia do seu casamento, me recusei a ver. Eu não queria acreditar. No meu conto de fadas, ele ainda entraria por aquela porta me pedindo perdão por tudo que aconteceu.

– Você ainda o ama, né? – minha irmã indagou.

– Mais do que queria! – confessei.

Seus olhos se arregalaram. – Meu Deus, Helena. Você não pode nem sonhar em falar uma coisa dessas perto de Alexander. – Ela suspirou. – Você tem que esquecer que um dia fizeram parte da vida um do outro.

– Eu sei. Mas não quero. Me lembrar de Yago me faz lembrar de tudo que nos separou. Eu preciso me lembrar de todo mal que sofri para nunca mais passar pela mesma situação de novo.

– Absurdos – garantiu.

– Mudando de assunto – pedi. – Você já está sabendo que não levarei Lucas. Não por enquanto.

Ela me olhou por alguns segundos, avaliando minhas palavras. – Não vai mesmo contar a ele? Não terá problemas futuros? – questionou.

É claro que terei problemas futuros. Entretanto, ele não merece saber. Não depois de todo mal que me fez.

Sorri para Mariana. – Vai ficar tudo bem. Preciso conhecê-lo primeiro. Se ele for bom o bastante comigo, aceitará Lucas.

– Nessa parte você tem razão – concluiu.

– Então vamos, eles já devem ter chegado. – Estendi minha mão para pegar a dela.

– Eu ainda acho que ficaria radiante no vestido vermelho – confessou, me seguindo para fora do quarto.

– Eu ainda acho que ele não merece tanto! – afirmei. Ele realmente não merece nada vindo de mim.

Descendo as escadas, vi o movimento de poucas pessoas na sala. Somente os mais importantes foram convidados. O meu casamento com Alexander traria a tão sonhada aliança de paz que o conselho tanto desejava. Por esse motivo, eles não deixariam de estar presentes, o que me causava ainda mais náuseas.

– Bando de puxa-saco – minha irmã sussurrou no meu ouvido.

– Concordo.

Chegando ao último degrau, avistei papai conversando com seu conselheiro. Ele nos viu e se aproximou.

– Simples demais, não acha? – Falou, olhando para meu conjunto de alfaiataria esverdeado. – Você está indo para um negócio ou um noivado? – Brincou, mesmo sabendo a resposta.

– Eu disse que o vestido vermelho ficaria melhor – Mariana cantarolou.

– Eu estou ótima! – informei.

– Você está! – meu pai confirmou.

Olhei em volta e não vi o ilustre convidado. Pelo jeito, estavam atrasados.

– Houve um pequeno problema na família, estão em reunião e vão demorar para chegar.

Levantei uma sobrancelha, observando-o. Papai já estava tão íntimo assim de Alexander?

– Posso esperar no escritório. Eu gostaria de conversar com ele antes do jantar. – Espiei minha irmã, que me olhava em expectativa. – Em particular.

Papai sorriu. – É o certo a se fazer.

Segui para o escritório. Coração a mil, mas nesta noite eu não seria tão covarde como da última vez.

(๑๑⁠˙⁠❥⁠˙⁠๑๑⁠˙⁠❥⁠˙⁠๑๑⁠˙⁠❥⁠˙⁠๑๑⁠˙⁠❥⁠˙⁠๑๑˙⁠❥⁠˙⁠๑๑⁠)✍️

Estava jogada no sofá olhando para o teto, quando ouvi um movimento do lado de fora… ele havia chegado.

Me endireitei e esperei pacientemente. A porta se abriu e lá estava ele, imponente, com sua arrogância e frieza. Sua aura intimidadora preenchendo o lugar.

Ele estava bonito em seu terno feito sob medida, um verdadeiro homem de negócios.

Estava mais alto do que eu me lembrava, seus olhos verde-claros mais frios e intensos, o cabelo bem penteado. Ele estava impecavelmente elegante e atraente com sua barba bem feita em seu rosto quadrado, que daria um belo quadro em uma exposição.

Por fora, um deus. Por dentro, um monstro. Deve ser isso que faz dele o melhor chefe do submundo.

Não me levantei para recebê-lo. Eu estava disposta a me casar com ele, mas não me renderia a ele.

– Tenho certeza de que não preciso perder tempo me apresentando – ele disse, sentando-se ao meu lado, o que me fez levantar. Uma de suas sobrancelhas se ergueu, ele estreitou os olhos… seria um aviso?

– Nem que se passasse 10 milhões de anos eu me esqueceria de você. Coisas ruins têm a mania de marcar a vida e alma de qualquer pessoa. – Torci o nariz enquanto falava, sentando-me na poltrona à frente.

Ele me observou por alguns segundos. Olhar atento, astuto. Eu não teria medo dessa vez. Não era mais uma garota medrosa. Me tornei uma mulher sem a minha vontade, e o culpado está bem à minha frente.

– Eu não vim até aqui discutir esse assunto – rosnou.

– Veio fazer o que então? Acha mesmo que me receber como sua esposa vai apagar todo mal que me fez? Você pensa que eu vou esquecer do monstro que você é só pelo fato de colocar um anel em meu dedo e me proclamar sua? Vai para o inferno – bradei, toda a fúria exalando de mim.

– Cuidado – alertou. – Eu estou tentando reparar um erro, e tocar nesse assunto neste momento não vai resolver nossos problemas pessoais.

– Problemas pessoais? Você me estuprou! – Lágrimas faziam questão de descer por minhas bochechas. Eu as segurei, eu não iria chorar, não agora.

Concentrei meu olhar nele. Ele estava pálido. Sua respiração parecia ter falhado. Ele pôs as mãos no rosto e as levou ao cabelo. E me olhou com um olhar mortal.

– Nunca mais repita isso.

Ri sem humor. – Eu passei esses últimos anos me escondendo de tudo e de todos, nunca disse nada a ninguém e me odeio por ter sido tão covarde. Eu me odeio só de pensar na maneira como você me tocou. Eu quero apagar você da minha vida, eu gostaria de ter parado de pensar em você porque, quando penso, só sinto dor.

Confessei. Debrucei minha cabeça sobre o encosto do sofá, olhando o teto. Eu não queria mais vê-lo, eu queria que ele desaparecesse.

– Eu pensei em você todos os dias e todas as noites. – Meu coração errou uma batida com suas palavras. – Não teve um maldito dia ou noite que eu não me perguntasse como você estaria. Eu sinto muito pelo que fiz, jamais conseguiremos apagar o passado, mas eu estou aqui para lhe oferecer um futuro. – Ele mexeu em seu terno, tirando uma caixinha. – Me dê sua mão.

Estendi minha mão, olhando o anel deslizar sobre o meu dedo. Era dourado, com três pedras de quartzo rosa embutidas.

– Cada uma das três pedras carrega uma interpretação – ele disse, segurando minha mão e apontando para as pedrinhas do anel. – A primeira, o passado: eu preciso dele para me redimir com você. A segunda, o presente: eu preciso dele para alcançar o seu perdão. E a terceira, o futuro: nós dois precisamos dele se quisermos seguir em frente. Um dia, te contarei o que me levou a fazer o que fiz, porém esse dia não será hoje.

Ele me soltou, caminhando até a porta. Todavia, eu me encontrava congelada pelas suas palavras.

– Helena – ele sussurrou, cansado. Saí do meu transe e fui até ele.

Sua mão grande cobriu a minha. O calor da sua mão aqueceu a minha. Um sentimento de alívio quis se apoderar do meu peito, mas eu não deixei. Ele não merecia nenhum sentimento meu, a não ser o ódio.

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