Alexander analisa cada detalhe da papelada com a mesma minúcia obsessiva que eu tive esta madrugada. Sua expressão permanece impassível, mas conheço meu irmão bem o suficiente para perceber o leve franzir de testa que surge quando algo o intriga.— Desirée é irmã de Felício. — Ele joga o papel sobre a mesa, inclinando-se para trás na cadeira enquanto me encara com um olhar pensativo. — Isso faz dela herdeira, já que o irmão foi morto e o posto assumido pelo primo.Respiro fundo, sentindo o peso dessa informação. O brilho em seus olhos não passa despercebido. Alexander está vendo as peças se encaixarem, enxergando a oportunidade de expandir nossa influência. É algo que ele sempre quis, mas que, por um tempo, havia ficado de lado.— E isso muda as coisas, não é? — pergunto, sabendo exatamente onde ele quer chegar.Ele não responde de imediato, apenas cruza os braços, pensativo. Desde que se casou com Helena, Alexander adiou qualquer plano envolvendo a Ndrangheta e tem focado em outras m
Otávio entra na sala e fecha a porta atrás de si com calma. Não consigo olhar diretamente em seus olhos, então desvio meu olhar para sua mesa, ocupando minha mente com qualquer outra coisa enquanto espero ele se acomodar.Ouço o som de tecido deslizando enquanto ele remove o paletó e o pendura no cabideiro próximo à cortina atrás de sua mesa. Com um gesto, Otávio pressiona um botão sobre a mesa, e as cortinas começam a se abrir lentamente. A luz do sol invade o espaço, preenchendo a sala enquanto as luzes artificiais se apagam. Meu olhar se fixa no mar de prédios visíveis através da janela de vidro que vai do chão ao teto, uma vista impecavelmente deslumbrante.Ele se senta, e seus olhos esverdeados se cravam em mim com uma intensidade que faz meu coração acelerar.— Então? — Ele pergunta, a voz baixa, quase casual, mas cheia de expectativa.Solto um suspiro pesado, fechando os olhos por um breve momento antes de encontrar coragem para falar. Ainda tinha até quarta-feira para responde
Otávio estende a mão, firme e decidida, seus olhos me encarando com uma intensidade que transmite não apenas autoridade, mas uma expectativa silenciosa. Respiro fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções dentro de mim, antes de segurar sua mão. O contato é instantâneo, a textura quente de sua pele contra a minha me faz sentir uma conexão quase elétrica. Ele me puxa delicadamente, me levantando com facilidade, e no movimento, sou envolvida pelo perfume marcante que carrega — amadeirado, intenso, com um toque de mistério.Cada detalhe ao seu redor parece cuidadosamente calculado, como se ele soubesse exatamente como me fazer sentir vulnerável e atraída ao mesmo tempo.Então, ele levanta a outra mão, e vejo que está segurando uma pequena caixinha preta. Meu coração dispara, e por um momento, o ar parece faltar. Já sei o que está prestes a acontecer. Ele abre a caixinha com um gesto suave, e meus olhos se fixam no anel solitário de ouro rosé que brilha sob a luz que entra pela janel
Rodolfo chegou de viagem hoje à tarde, então Alexander achou que seria uma boa ideia discutirmos os primeiros passos para uma aliança com a Ndrangheta. Estaciono o carro em frente à porta da mansão de Alexander, uma casa imponente que parece estar a quilômetros de distância da cidade. Olho ao redor, avaliando o cenário: as árvores são engolidas pela escuridão, e o breu lá no fundo parece engolir tudo, enquanto a mansão está banhada por luzes amarelas, criando um contraste surreal contra o escuro da noite. Suspiro, sentindo o primeiro floco de neve cair. Provavelmente teremos um Natal movimentado este ano. Essa ideia me faz sorrir, afinal, sempre quis ter uma família grande ao redor da mesa, celebrando a data. Conhecendo Helena, sei que ela não deixará passar em branco, como os outros anos em que simplesmente deixamos o Natal passar despercebido. Adentro a casa, sendo recebido por Cassandro e pelo cachorro de Alice. Me abaixo para alisar os pelos do pequeno animal, sentindo a leveza
Saio da faculdade exatamente às dez da noite, e a primeira coisa que vejo ao pegar meu celular é uma enxurrada de mensagens da Marcela. Como tenho o costume de desligar o celular durante as aulas, percebo que vi suas mensagens tarde demais.Rolo a tela, tentando entender o que ela tanto quer dizer, até que uma mensagem específica chama minha atenção:"Eu tô grávida, amiga, pelo amor de Deus, o que eu faço?"Paro no lugar, sentindo as pernas falharem. Dizem que o que mais tememos acaba acontecendo, e Marcela agora é a prova disso. Ela sempre teve pavor da ideia de engravidar, mas eu sabia que os antibióticos que ela estava tomando poderiam interferir na eficácia dos anticoncepcionais.Respiro fundo e digito rapidamente uma resposta:"Vai para o meu apartamento, precisamos conversar."Não entro em detalhes. Esse assunto precisa ser discutido cara a cara.Guardo o celular na bolsa e caminho o mais rápido possível para a saída da faculdade. Avisto os grandes portões abertos e alguns aluno
Eu estava jogada no sofá, deitada sobre as pernas de Otávio conversando sobre coisas do meu passado, enquanto seus dedos deslizavam pelos meus cabelos, desfazendo meus cachos com uma habilidade e paciência que me desconcertavam. Era estranho estar nessa situação com ele, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim não conseguia negar o quanto estava gostando. O conforto e a intimidade eram inesperados, mas inegavelmente presentes.— Quero marcar a data do casamento — sua voz calma e rouca preencheu a sala depois de alguns segundos de silêncio, fazendo meu coração saltar como se ele tivesse acabado de disparar um tiro.— Para quando exatamente? — perguntei, sentando-me de repente, tentando manter a calma enquanto meu corpo reagia de maneiras que eu não conseguia controlar.Otávio sorriu, mas não era um sorriso amplo. Era aquele sorriso torto que parecia carregar segredos, algo que ele nunca colocava em palavras, mas que dizia mais do que qualquer frase poderia.— Depois do aniversário do Gra
O problema era muito maior do que eu esperava. A gravidez de Marcela, em si, não era o verdadeiro problema, mas sim quem ela alegava ser o pai da criança.— É muito azar... ou até parece que você fez de propósito! — Acuso, meio sem pensar, deixando escapar a frustração. Marcela sempre teve uma fascinação por Saulo. Ela nunca escondia o quanto o achava bonito, com aquele sorriso irresistível, e ainda dizia que ele provavelmente seria um ótimo amante. Agora, na única noite em que conseguiu ir para a cama com ele, a camisinha estoura e... gravidez.— Tá maluca? Eu não sou doente a ponto de planejar algo assim! — Ela se defende, cruzando os braços. — Eu só queria sexo. Não tenho culpa de a camisinha ter estourado.— Sim, você não tem culpa... mas logo com ele? — Solto, ainda incrédula.— Parece que você gosta dele — Marcela rebate, a voz carregada de desconfiança.Meu estômago chega a embrulhar com a sugestão absurda.— Deus me livre! Esse homem me dá repulsa. Aliás, o tipo de homem como
Rastrear a verdadeira localização de Salma não foi uma tarefa fácil. Levei dias e noites, mas finalmente consegui colocar as mãos nela. Para isso, precisei inventar uma boa mentira para Desirée, justificando minha ausência de quase uma semana. Assim, na terça-feira de manhã, ao deixá-la no hotel, anunciei que ficaria fora por motivos de trabalho. O que me incomodou profundamente foi sua resposta:— Otávio, você não me deve satisfações da sua vida. Nossa união é apenas um acordo, e, embora esteja gostando de estar com você, isso não me dá o direito de interferir na sua vida.As palavras dela me seguiam como flecha em direção ao alvo enquanto eu me afastava. Não era apenas o que disse, mas a indiferença em seu tom que me atingiu. Ela não fazia ideia de que cada passo que eu dava era pensando no futuro dela, em protegê-la. Mas talvez fosse melhor assim. Menos riscos, menos chances de ela se machucar no processo.Entretanto, não consegui deixar de sentir o peso daquela conversa durante to