— Já estou imaginando. Você de noiva com um vestido brilhoso entrando na igreja, vários fotógrafos e o gato do seu chefe esperando no altar. — Marcela suspira, arrancando de mim um sorriso sem graça.Sim, parece um sonho, mas a realidade está longe de ser um conto de fadas.Coloco os pés sobre a mesinha de centro e me acomodo no sofá, tentando ignorar o turbilhão de pensamentos que me invade.Assim que percebi que minha conversa com Otávio já havia ido longe demais, levantei, fui até o quarto, troquei de roupa e saí sem dizer nada. Simplesmente desapareci.É assustador estar nessa situação, mas, no fundo, sei que ele pode me ajudar. Só que há algo mais por trás daquela conversa, algo que ele não quis me contar. E isso está me corroendo por dentro.O problema é que o preço é alto demais. Um casamento sem amor.Eu sei que há uma possibilidade de me apaixonar por ele. Mas e ele?— Pare de queimar seus neurônios e apenas diga "sim". — Marcela me cutuca, quebrando minha linha de pensamento
Alexander analisa cada detalhe da papelada com a mesma minúcia obsessiva que eu tive esta madrugada. Sua expressão permanece impassível, mas conheço meu irmão bem o suficiente para perceber o leve franzir de testa que surge quando algo o intriga.— Desirée é irmã de Felício. — Ele joga o papel sobre a mesa, inclinando-se para trás na cadeira enquanto me encara com um olhar pensativo. — Isso faz dela herdeira, já que o irmão foi morto e o posto assumido pelo primo.Respiro fundo, sentindo o peso dessa informação. O brilho em seus olhos não passa despercebido. Alexander está vendo as peças se encaixarem, enxergando a oportunidade de expandir nossa influência. É algo que ele sempre quis, mas que, por um tempo, havia ficado de lado.— E isso muda as coisas, não é? — pergunto, sabendo exatamente onde ele quer chegar.Ele não responde de imediato, apenas cruza os braços, pensativo. Desde que se casou com Helena, Alexander adiou qualquer plano envolvendo a Ndrangheta e tem focado em outras m
Otávio entra na sala e fecha a porta atrás de si com calma. Não consigo olhar diretamente em seus olhos, então desvio meu olhar para sua mesa, ocupando minha mente com qualquer outra coisa enquanto espero ele se acomodar.Ouço o som de tecido deslizando enquanto ele remove o paletó e o pendura no cabideiro próximo à cortina atrás de sua mesa. Com um gesto, Otávio pressiona um botão sobre a mesa, e as cortinas começam a se abrir lentamente. A luz do sol invade o espaço, preenchendo a sala enquanto as luzes artificiais se apagam. Meu olhar se fixa no mar de prédios visíveis através da janela de vidro que vai do chão ao teto, uma vista impecavelmente deslumbrante.Ele se senta, e seus olhos esverdeados se cravam em mim com uma intensidade que faz meu coração acelerar.— Então? — Ele pergunta, a voz baixa, quase casual, mas cheia de expectativa.Solto um suspiro pesado, fechando os olhos por um breve momento antes de encontrar coragem para falar. Ainda tinha até quarta-feira para responde
Otávio estende a mão, firme e decidida, seus olhos me encarando com uma intensidade que transmite não apenas autoridade, mas uma expectativa silenciosa. Respiro fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções dentro de mim, antes de segurar sua mão. O contato é instantâneo, a textura quente de sua pele contra a minha me faz sentir uma conexão quase elétrica. Ele me puxa delicadamente, me levantando com facilidade, e no movimento, sou envolvida pelo perfume marcante que carrega — amadeirado, intenso, com um toque de mistério.Cada detalhe ao seu redor parece cuidadosamente calculado, como se ele soubesse exatamente como me fazer sentir vulnerável e atraída ao mesmo tempo.Então, ele levanta a outra mão, e vejo que está segurando uma pequena caixinha preta. Meu coração dispara, e por um momento, o ar parece faltar. Já sei o que está prestes a acontecer. Ele abre a caixinha com um gesto suave, e meus olhos se fixam no anel solitário de ouro rosé que brilha sob a luz que entra pela janel
Rodolfo chegou de viagem hoje à tarde, então Alexander achou que seria uma boa ideia discutirmos os primeiros passos para uma aliança com a Ndrangheta. Estaciono o carro em frente à porta da mansão de Alexander, uma casa imponente que parece estar a quilômetros de distância da cidade. Olho ao redor, avaliando o cenário: as árvores são engolidas pela escuridão, e o breu lá no fundo parece engolir tudo, enquanto a mansão está banhada por luzes amarelas, criando um contraste surreal contra o escuro da noite.Suspiro, sentindo o primeiro floco de neve cair. Provavelmente teremos um Natal movimentado este ano. Essa ideia me faz sorrir, afinal, sempre quis ter uma família grande ao redor da mesa, celebrando a data. Conhecendo Helena, sei que ela não deixará passar em branco, como os outros anos em que simplesmente deixamos o Natal passar despercebido.Adentro a casa, sendo recebido por Cassandro e pelo cachorro de Alice. Me abaixo para alisar os pelos do pequeno animal, sentindo a leveza do
🚦🚦Alerta de Gatilho Este livro contém temas sensíveis que podem ser perturbadores para alguns leitores. Elementos como violência, relacionamentos abusivos, traumas, conflitos familiares, temas de máfia e vingança são abordados. Recomendamos cautela ao prosseguir, especialmente para aqueles que possam ser afetados por esses temas.🚦🚦 Este é o terceiro livro da série. BOA LEITURA 📚📚📚💗 Desirée González Eu não tinha o melhor pai do mundo, mas tinha um que se esforçava para ser. Desde sua morte, me vi sozinha, andando em um labirinto de medo e injustiça. Foi injusto o que fizeram com ele, mas, de certa forma, eu sabia que seu vício em jogos o afundaria no lamaçal. Ainda assim, não consigo aceitar o destino que lhe foi concedido. Ainda me lembro do seu sorriso e do seu jeito brincalhão, mesmo quando me deixava zangada. Eu o amava e admirava. Ele era tudo o que eu tinha, o único que me aceitou como eu sou, já que minha mãe preferiu os prazeres do mundo do que a nós dois. Agora,
Nova York – 13 anos atrás...17, 18, 19, 20, 21... Parei de contar ao sentir alguém colocar as mãos sobre meu ombro esquerdo. Ao levantar a cabeça, vejo minha mãe, com os olhos arroxeados e inchados, um pequeno corte no lábio e os olhos vermelhos pelo choro. Ela olha fixamente para a cena diante de nós, e eu volto minha atenção para Alexander novamente. Ele está encolhido em um canto, eu vejo o chicote ser levantado e cair mais uma vez sobre ele. Dessa vez, perdi as contas. Fecho os olhos quando o olhar do meu pai se volta para mim.Eu sabia que Alexander estava apanhando por minha culpa. Viro a cabeça e vejo Rodolfo em outro canto do quarto; há sangue no canto de sua boca, e ele me olha com raiva. Os três apanharam por causa da minha falha. Eles estragaram mais uma apresentação da máfia porquê eu não consegui matar alguém. Eu não queria matar, mas ver minha família sofrer a cada erro meu dóia mais do que a própria morte.Meu pai caminha em minha direção, e sinto a mão da minha mãe
Um ano antes...— Pai? — franzi a testa, agoniada, ao ver meu pai caído no sofá, bêbado novamente. Ultimamente, tem sido mais frequente vê-lo assim, e isso me cansa tanto físicamente quanto psicologicamente.Eu só queria viver um dia tranquilo, apenas um, mas parece que isso é impossível.Eu só tenho ele... e minha amiga Marcela. Na verdade, eu só tenho Marcela, porque meu pai se perdeu nos jogos e nas bebidas. Por mais que eu tente, não consigo salvá-lo.— Ele está fedendo. — Marcela sussurra atrás de mim enquanto nos aproximamos dele. Coloco a mão em sua testa para ver se não está com febre, mas, honestamente, eu não sei o que fazer. — Ele parece morto.Lanço um olhar de reprovação para minha querida amiga.— Não diga besteira. — Suspiro, empurrando-a suavemente em direção à cozinha.O apartamento é pequeno, não tenho luxo, mas ao menos é confortável. A cozinha e a sala são conjugadas, há dois quartos e um banheiro simples. Para mim, é perfeito. Abro a geladeira e pego uma garrafa d