Eu estava jogada no sofá, deitada sobre as pernas de Otávio conversando sobre coisas do meu passado, enquanto seus dedos deslizavam pelos meus cabelos, desfazendo meus cachos com uma habilidade e paciência que me desconcertavam. Era estranho estar nessa situação com ele, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim não conseguia negar o quanto estava gostando. O conforto e a intimidade eram inesperados, mas inegavelmente presentes.— Quero marcar a data do casamento — sua voz calma e rouca preencheu a sala depois de alguns segundos de silêncio, fazendo meu coração saltar como se ele tivesse acabado de disparar um tiro.— Para quando exatamente? — perguntei, sentando-me de repente, tentando manter a calma enquanto meu corpo reagia de maneiras que eu não conseguia controlar.Otávio sorriu, mas não era um sorriso amplo. Era aquele sorriso torto que parecia carregar segredos, algo que ele nunca colocava em palavras, mas que dizia mais do que qualquer frase poderia.— Depois do aniversário do Gra
O problema era muito maior do que eu esperava. A gravidez de Marcela, em si, não era o verdadeiro problema, mas sim quem ela alegava ser o pai da criança.— É muito azar... ou até parece que você fez de propósito! — Acuso, meio sem pensar, deixando escapar a frustração. Marcela sempre teve uma fascinação por Saulo. Ela nunca escondia o quanto o achava bonito, com aquele sorriso irresistível, e ainda dizia que ele provavelmente seria um ótimo amante. Agora, na única noite em que conseguiu ir para a cama com ele, a camisinha estoura e... gravidez.— Tá maluca? Eu não sou doente a ponto de planejar algo assim! — Ela se defende, cruzando os braços. — Eu só queria sexo. Não tenho culpa de a camisinha ter estourado.— Sim, você não tem culpa... mas logo com ele? — Solto, ainda incrédula.— Parece que você gosta dele — Marcela rebate, a voz carregada de desconfiança.Meu estômago chega a embrulhar com a sugestão absurda.— Deus me livre! Esse homem me dá repulsa. Aliás, o tipo de homem como
Rastrear a verdadeira localização de Salma não foi uma tarefa fácil. Levei dias e noites, mas finalmente consegui colocar as mãos nela. Para isso, precisei inventar uma boa mentira para Desirée, justificando minha ausência de quase uma semana. Assim, na terça-feira de manhã, ao deixá-la no hotel, anunciei que ficaria fora por motivos de trabalho. O que me incomodou profundamente foi sua resposta:— Otávio, você não me deve satisfações da sua vida. Nossa união é apenas um acordo, e, embora esteja gostando de estar com você, isso não me dá o direito de interferir na sua vida.As palavras dela me seguiam como flecha em direção ao alvo enquanto eu me afastava. Não era apenas o que disse, mas a indiferença em seu tom que me atingiu. Ela não fazia ideia de que cada passo que eu dava era pensando no futuro dela, em protegê-la. Mas talvez fosse melhor assim. Menos riscos, menos chances de ela se machucar no processo.Entretanto, não consegui deixar de sentir o peso daquela conversa durante to
A conversa com Alexander foi tudo, menos agradável. Talvez porque, desta vez, sou eu quem está no centro da sua atenção. Voltei para o meu apartamento e tomei um banho demorado, tentando digerir suas palavras e entender seus verdadeiros motivos. Meu irmão sempre teve a ambição de ser o rei do submundo. Seu maior desejo era unir as máfias, um pensamento insano que ele justificava dizendo que manter um inimigo por perto era mais eficaz do que afastá-lo. Apesar de discordar de muitas coisas, nesse ponto, talvez ele tenha razão. Após o banho, vesti-me rapidamente. Não era uma noite para reflexões prolongadas. Antes que percebesse, estava de frente à porta de Desirée. Toquei a campainha, minha impaciência aumentando a cada segundo. Olhei para o relógio: 10h30 da noite. Quando a porta finalmente se abriu, lá estava ela, ajustando seus cachos perfeitos que caíam de forma desordenada, mas natural. Eles estavam levemente armados, conferindo-lhe uma aura selvagem. Isso foi suficiente para me
Acordo sentindo um braço ao meu redor. Sorrio ao me lembrar de Otávio, embora estranhe acordar assim. Mesmo sendo a primeira vez que desperto ao lado de um homem, gostei do calor que ele exala e de como isso me aquece. Tento me levantar devagar, retirando seus braços ao redor da minha cintura, mas meu toque o faz se remexer e me apertar ainda mais contra seu peito. Sinto seu abdômen, firme, e um suspiro involuntário escapa dos meus lábios. Nesse momento, Otávio afasta meu cabelo e deposita um beijo suave na minha nuca, arrepiando minha pele. — Planos para o seu domingo? — sua voz rouca e grave me causa um misto de nervosismo e encantamento. Não consigo entender como me sinto tão entregue a ele. Não era para ser assim. — Ficar em casa, estudar e descansar... essa é minha rotina de domingo — respondo, tentando soar casual. — Alguma matéria importante? — Não. — Então vamos sair. Viro-me para ele, encarando-o com surpresa. — Sair? — pergunto, franzindo a testa, ainda surpresa com
Mentiras e mais mentiras. Essa é a base do meu relacionamento, e isso não é certo.Estou no limite, quase dizendo a verdade, quase jogando tudo para o alto, mas não posso. Consertar essa bagunça em que me meti é mais difícil do que imaginei.Desirée é esperta. Ela não se contenta com meias palavras, e isso é um problema. Ao lado dela, não posso ser quem quero ser. Preciso viver como se estivesse pisando em um campo minado, sempre alerta, até Alexander conseguir o que quer.Observo enquanto ela sai pela porta do prédio, vestindo um casaco preto longo sobre um vestido colado ao corpo, que vai até os joelhos, também preto. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo elegante, e mesmo de longe, consigo sentir a confiança e o poder que ela carrega.É isso que me fez me apaixonar por ela. Seu poder como mulher. Desirée não se comporta como uma menina assustada; ela domina o ambiente apenas por existir. Odeio admitir, mas se ela tivesse crescido na máfia, provavelmente já seria uma assassina
Estou há quase uma hora em busca do vestido perfeito, não por mim, mas por Otávio. Não quero que algo dê errado nos seus negócios por causa de uma noiva que não está nem um pouco interessada no próprio casamento.Experimentei seis vestidos até agora, mas nenhum deles era o que realmente estávamos procurando.Digo "estávamos" , porque Otávio fez questão de opinar sobre todos, e, felizmente, ele também não gostou de nenhum.— Quem sabe seja a hora da senhora experimentar a minha primeira alternativa? — diz a vendedora, enquanto me observo no espelho.O vestido que ela nos apresentou no início era lindo, mas chamativo demais para o meu gosto.— Pegue ele. — Otávio, de forma quase autoritária, faz com que a vendedora abaixe a cabeça e saia. Eu o encaro pelo espelho, cruzando os braços.— Pega leve. Não é só você que está frustrado aqui.Ele se aproxima e, com um gesto preciso, abaixa o zíper do vestido estilo sereia. O vestido ficou perfeito no meu corpo, mas ainda não era "ele".— Vai te
— O casamento já está marcado para daqui a um mês.Faço um cálculo mental rápido: uma semana após a festividade da empresa. Será um pouco corrido para mim, mas nada que eu não possa lidar.— Tudo bem. — Sorrio, distraída, enquanto mexo na comida no meu prato sem muito interesse.Estamos no apartamento de Otávio, almoçando tarde, quase três da tarde. Optamos por resolver tudo sobre o casamento antes para nos livrarmos dessa "preocupação". Ou melhor, ele quer se livrar dessa preocupação. Eu, sinceramente, não me importo com nada disso. O que eu realmente quero será posto em minhas mãos muito em breve.Termino de comer, levanto com o prato e o copo, e vou até a pia, lavando-os automaticamente.— Eu quero saber daquele assunto. — Minha voz soa firme, sem rodeios.— Ok. — Otávio se levanta, parecendo levemente contrariado, mas não dou muita atenção. — Vamos ao escritório.Enxugo as mãos no pano de prato enquanto ele faz o mesmo. Ele sai à frente, sem dizer mais nada, e eu o sigo em silênci