“Evie Ashford” Medo. Sempre odiei sentir medo, mas Sebastian parece provocá-lo facilmente em mim só pelo simples fato de existir. No entanto, o medo que senti há pouco não se compara ao que sinto enquanto meus olhos permanecem fixos na saída do corredor onde eu estava. As lágrimas escorrem silenciosamente enquanto choro baixinho. Pela raiva, pela humilhação e, principalmente, pela impotência. Odeio sentir tudo o que Sebastian me provoca. Odeio o fato de ele ainda ter esse poder sobre mim, de conseguir me desmontar com meia dúzia de palavras e um toque cruel. — Eu o odeio tanto… Sussurro, afundando as unhas nas palmas das mãos, como se tentasse fazer com que a dor me trouxesse de volta ao raciocínio. Chloe, ainda abraçada a mim, percebe rapidamente minha ação e segura minhas mãos, acariciando as marcas com delicadeza. — Ele já te machucou o suficiente. Não deixe que você mesma faça o resto — ela sussurra, soltando uma das minhas mãos para enxugar minhas lágrimas. Em seguida, p
“Henry Blackwood” A pergunta paira no ar úmido do banheiro enquanto minhas mãos traçam círculos em sua pele, tentando apagar não apenas as marcas que aquele desgraçado deixou, mas também minha própria culpa por perder o controle. O olhar de Evie permanece fixo no meu, esperando por uma resposta. Não é uma história que gosto de reviver, mas sei que ela merece saber o que aconteceu no passado. — Tínhamos alguns amigos em comum após Oxford — começo, escolhendo as palavras com cuidado. — Como estávamos fundando nossas empresas praticamente ao mesmo tempo, eu, na hotelaria, ele, na tecnologia, acabamos nos aproximando. Na época, eu o considerava… se não um amigo, pelo menos alguém confiável. — Pauso, sentindo o gosto amargo das lembranças. — Foi quando ele conheceu a Olivia. — Sua… irmã? — Evie sussurra, levando a mão à boca, surpresa. Assinto lentamente. — Infelizmente, sim. No começo, até apoiei. Que irmão mais velho não quer ver sua irmã com alguém do mesmo círculo social, aparen
“Sebastian Morgan”Minhas mãos apertam o volante com tanta força que os nós dos meus dedos estão brancos. Agora que a adrenalina diminui, meu rosto e minha barriga latejam, me lembrando da humilhação de momentos atrás, intensificando meu ódio.Eu deveria ter dado um fim a Henry há anos, quando ele quis interferir no meu relacionamento com Olivia, quando conseguiu fazê-la desistir de mim, de nós, e preferiu ir embora. Ou quando ele decidiu agir como o protetor de mocinhas indefesas, ajudando Evie a se reerguer.— Maldito Henry Blackwood! — vocifero, socando o volante inúmeras vezes.Respiro fundo, mas o ar parece insuficiente para conter o ódio que sinto. As imagens dele ao lado de Evie só pioram as coisas. Os sorrisos, os toques discretos, a maneira como ele a olhava, como se ela fosse dele… Henry sempre soube como provocar, como tirar o melhor de mim, e agora ele ousa tocar no que é meu.Sim, Evie sempre será minha, assim como cada uma que fiz questão de marcar, de me tornar inesquecí
Uma risada escandalosa ecoa pelo banheiro, e Harper larga o pedaço do espelho, ignorando o sangue que pinga de sua mão. Ela se aproxima de mim com um sorriso orgulhoso nos lábios, deslizando a outra mão pelo meu ombro.— Você me disse tantas vezes para não esperar por você para resolver meus problemas — Harper murmura, num tom orgulhoso, enquanto saio do banheiro. Ela me segue. — Decidi resolver meus problemas assim que saí da casa de Henry naquele dia.— Não me diga que foi você quem… — murmuro, relutando em completar a frase ao me virar novamente para encará-la. Ela sorri e balança a cabeça negativamente.— Eu? Não, bobinho. Não fui eu quem provocou aquele incêndio acidental, mas… — confessa, ampliando o sorriso. — Alguns milhares de dólares para o cara certo e... whoosh! Pena que aquela m*****a sobreviveu.A raiva explode em meu peito antes que eu possa me conter. Em um movimento, agarro Harper pelo pescoço e a pressiono contra a parede do quarto. Seus olhos se arregalam, e o sangue
“Evie Ashford”Após algum tempo ouvindo todo o relato sobre boa parte do passado de Sebastian — algo que, no fundo, nem sequer me surpreendeu —, saímos da banheira quando a água já estava fria.Envolta em um roupão, sento-me na cama enquanto Henry se afasta para pegar algo no banheiro. Ao voltar para o quarto, ele me puxa para perto, e seu maxilar se contrai quando seus olhos param em meus braços.Acompanho seu olhar e encontro o motivo de sua reação: as marcas em meus braços começam a escurecer. Com um suspiro, ele pega um frasco de hidratante e começa a aplicá-lo sobre a pele machucada. Seu toque, cuidadoso e lento, parece conseguir apagar não apenas a dor física, mas também as memórias desta noite.— Pronto — murmura, depositando um beijo suave sobre minha pele. Seus olhos encontram os meus, cheios de preocupação. — Melhor?Assinto, segurando suas mãos para beijá-las. É difícil acreditar que as mesmas mãos que fizeram um estrago em Sebastian possam me tocar com tanta delicadeza.Ele
“Alguns dias depois…”Meu olhar permanece fixo nos papéis espalhados sobre a mesa de centro, enquanto as lágrimas embaçam minha visão. A cada documento que releio, sinto como se o ar nos pulmões diminuísse.Prontuários inexistentes. Registros médicos apagados. É como se aqueles meses de escuridão nunca tivessem acontecido.Em seu lugar, fotos. Dezenas delas. Eu, supostamente viajando pelo mundo durante o período em que mal conseguia dar dois passos sem tropeçar. Check-ins em restaurantes, hotéis, países… Uma vida que nunca vivi, registrada em detalhes perturbadores.E então, a cereja do bolo: um acidente nos Alpes Franceses, cuidadosamente planejado e convincente, ocorrido poucos dias antes da minha ida à clínica de Adrian, justificando perfeitamente minha perda temporária de visão e invalidando de vez o argumento de que eu estava cega na data em que assinei todos aqueles documentos.Sinto como se estivesse me afogando em mentiras tão bem construídas que até começo a duvidar das minhas
Respiro fundo, ajustando o vestido Valentino azul royal em frente ao espelho antes de pegar a bolsa de mão e me virar para sair do quarto. Meu estômago se revira a cada passo, reclamando com a expectativa da noite que está por vir. Ao descer as escadas, encontro Sebastian Morgan, meu marido, digitando algo em seu celular. Alto, com cabelos loiros, um sorriso cativante e, o principal: meu. Com um sorriso bobo, me aproximo.— Estou pronta, meu am…— Não falei para você ir com o vestido vermelho? — Sebastian me interrompe, lançando um olhar avaliador enquanto guarda o celular no bolso.— Sim, falou, mas esse combina mais com o ambiente. Está ruim?— Não, querida — ele diz, finalmente segurando minha mão para me guiar até a saída da nossa casa. — Mas precisamos brilhar esta noite. Temos um prêmio para receber.— Não seja exagerado, meu amor. Nós nem sabemos se vamos ganhar aquele…— Óbvio que vamos, querida — ele me interrompe, abrindo a porta do carro com um sorriso confiante. — Com aquel
Acordo de repente, sentindo todo o meu corpo doer. A escuridão ainda me cerca, e me pergunto se ainda é noite. O silêncio é pesado, cortado apenas por um “bip” irritante. Tento me levantar, mas a dor rapidamente me atinge, provocando um gemido involuntário.Ao tentar mover o braço esquerdo, sou tomada por uma dor excruciante, acompanhada pelo peso desconfortável de algo que o imobiliza. Meu coração dispara, intensificando o “bip” que ecoa nos meus ouvidos. Então percebo: estou em um hospital.Com esforço, levanto o braço direito. Lentamente, toco meu rosto, tentando entender por que tudo continua escuro se estou acordada. Meus dedos encontram curativos sobre os olhos, e o pânico me atinge, frio e alucinante.Luto para me sentar na cama, ignorando a dor latejante. Meus dedos deslizam pelo lençol até o botão de chamada. Pressiono-o repetidamente, desesperada por respostas.Depois do que parece uma eternidade, ouço passos apressados se aproximando. A porta do quarto se abre e alguém se ap