“Alguns dias depois…”Meu olhar permanece fixo nos papéis espalhados sobre a mesa de centro, enquanto as lágrimas embaçam minha visão. A cada documento que releio, sinto como se o ar nos pulmões diminuísse.Prontuários inexistentes. Registros médicos apagados. É como se aqueles meses de escuridão nunca tivessem acontecido.Em seu lugar, fotos. Dezenas delas. Eu, supostamente viajando pelo mundo durante o período em que mal conseguia dar dois passos sem tropeçar. Check-ins em restaurantes, hotéis, países… Uma vida que nunca vivi, registrada em detalhes perturbadores.E então, a cereja do bolo: um acidente nos Alpes Franceses, cuidadosamente planejado e convincente, ocorrido poucos dias antes da minha ida à clínica de Adrian, justificando perfeitamente minha perda temporária de visão e invalidando de vez o argumento de que eu estava cega na data em que assinei todos aqueles documentos.Sinto como se estivesse me afogando em mentiras tão bem construídas que até começo a duvidar das minhas
“Henry Blackwood”Enquanto dou uma última olhada nos papéis sobre minha mesa, olho para o relógio e percebo que já passa das sete. Respiro fundo, deixando a caneta de lado para passar a mão nos cabelos.Assim como Evie, mergulhar no trabalho durante o dia foi minha única válvula de escape desde que descobrimos aquelas malditas provas falsas que os advogados de Sebastian apresentaram. Agora, com a chegada da noite, o cansaço e a necessidade se fazem presente.— Chega! — exclamo, esfregando os olhos cansados.Desligo o computador, pego minhas coisas e me levanto, decidido a buscar Evie em sua sala. Ela tem dormido comigo desde o coquetel, e a ideia de tê-la em meus braços novamente para nos acalmar é o único pensamento que me anima agora.Quando entro em sua sala, encontro-a arrumando sua mesa, guardando alguns papéis na gaveta. Concentrada, ela nem sequer percebe minha presença, e aproveito esse momento para admirar a mulher que ganhou de vez o meu coração.— Ficarei mal acostumada se
“Evie Ashford”A vida realmente tem o dom de nos surpreender. Num instante, eu estava na minha sala, me xingando por reagir mal à proposta de Henry. No instante seguinte, decidi correr atrás dele e abandonar de vez o medo. Então, uma explosão, o homem que amo usando o próprio corpo para me proteger… Me pergunto quando a vida parará de testar meus limites.Quando consigo recobrar os sentidos, minha cabeça lateja e um zumbido ensurdecedor toma meus ouvidos. Tento abrir os olhos, mas a fumaça os faz arder instantaneamente. O cheiro de metal queimado e combustível invade minhas narinas, revirando meu estômago.— Henry? — chamo, mas minha voz sai num sussurro.Estou no chão do estacionamento. A superfície áspera contra a minha pele confirma isso. Tentar me mover desencadeia uma dor aguda no braço esquerdo, arrancando um gemido dos meus lábios. Fecho os olhos por um segundo e, ignorando a ardência, os forço a abrir novamente, encontrando o caos ao meu redor.Os alarmes dos carros disparam, l
"Henry Blackwwod"Franzo as sobrancelhas e fecho os olhos, incapaz de esconder a confusão. “Ela só pode estar brincando”, penso, forçando os olhos fechados antes de finalmente abri-los novamente. Espero que ela sorria, dizendo que isso é só para amenizar a situação. Mas tudo que vejo são lágrimas acumulando em seus olhos e o rosto tenso, como se estivesse tentando se convencer de que está fazendo o certo.— Não — minha voz sai baixa, mas firme. Passo a mão pelo rosto, ignorando a dor na costela fraturada, e seguro sua mão antes que ela possa se afastar.— Henry, eu… — ela começa, mas levanto a mão, pedindo que me escute.— Evie, o que está acontecendo? — insisto, lutando para manter o controle. Há poucas horas, ela aceitou morar comigo. Agora, está dizendo que quer terminar?— Depois do que aconteceu, percebi que… — ela pausa, respirando fundo, os dedos inquietos brincando com a barra de sua saia. — Ainda sou muito nova e não posso… me prender assim, Henry.— Nova? — repito, incrédulo,
“Evie Ashford”Enquanto Henry e Benjamin conversam do outro lado do quarto, Chloe e Lily fazem o possível para me manter distraída, tentando aliviar a tensão. A conversa descontraída preenche o ambiente e, por um momento, quase me sinto em casa novamente. Lily está sentada ao meu lado no sofá, mexendo no meu cabelo, como fazia nos tempos de escola.— Juro, meninas, se ele pedir para mudar o tom de roxo de novo, vou deixar o olho dele roxo também — Chloe resmunga sobre um de seus projetos, arrancando uma gargalhada de Lily. Forço um sorriso, tentando corresponder ao esforço delas para suavizar o clima.— É só esconder o resto da paleta, vai te poupar um bom estresse — Lily sugere com um dar de ombros, antes de se virar para mim. — E você, amiga? Conseguiu se acalmar um pouco?— Vocês sempre são uma ótima distração — admito, sinceramente. — Mas foram tantas coisas em tão poucas horas que tudo o que quero é me livrar dessa roupa, tomar um banho e esquecer esse dia por um tempo.— Sorte s
Meu coração dispara enquanto alterno o olhar entre o retrovisor e o para-brisa traseiro, notando um segundo carro nos seguindo. Henry permanece calmo ao meu lado, Benjamin mantém os olhos fixos na estrada, e Chloe me encara com as sobrancelhas franzidas, aparentemente a única que sente a mesma preocupação que eu.Henry, percebendo minha inquietação, entrelaça seus dedos aos meus e me dá um pequeno sorriso. Por acaso deram calmantes a ele no hospital?— Como você pode estar tão calmo? — indago, confusa.— Porque são apenas os seguranças que Benjamin solicitou enquanto estávamos no hospital — ele murmura, fazendo círculos suaves na minha mão. — Não vou dar chance para o azar enquanto Sebastian e Harper estiverem à solta.— Harper? — Franzo o cenho, já com a pergunta na ponta da língua, mas Henry se inclina e dá um beijo suave na minha têmpora, me calando gentilmente.— Sei que temos muito o que conversar — ele sussurra contra minha pele. — Mas não agora. Já tivemos emoções demais por um
Os seguranças nos acompanham como sombras desde que colocamos os pés na garagem até o momento em que entramos no café afastado da movimentação de Mayfair, atentos a qualquer sinal de ameaça. O local discreto foi totalmente reservado para nós, e logo avisto a enfermeira que concordou em testemunhar, sentada em uma mesa ao fundo.Henry e Benjamin me acompanham, enquanto os seguranças se espalham pelo ambiente, um lembrete constante de que não podemos facilitar. Respiro fundo ao me aproximar da mulher de meia-idade, com um semblante sério e cansado. Ela nos observa atentamente, como se ponderasse cada palavra que dirá.— Sra. Williams, muito obrigado por nos encontrar — Benjamin diz, sinalizando para que nos sentemos. Enquanto o chá é servido, tento esconder minha ansiedade, mas é em vão diante de sua expressão inalterada.— Vamos direto ao ponto — ela começa, olhando ao redor antes de fixar o olhar em nós. — O que tenho a dizer pode ajudá-los, mas é difícil relaxar diante dessa situação
“Sebastian Morgan”O conhaque em meu copo está quente. Não me lembro há quanto tempo estou segurando-o, encarando a vista do último andar da Majestic, enquanto Roger, um dos homens de Marco, me faz questionar se seus serviços realmente valem o dinheiro que estou investindo.A incompetência dele começou a me irritar semanas atrás, quando Henry saiu vivo daquela explosão. Agora, enquanto ele gagueja desculpas patéticas do outro lado da mesa, tudo o que sinto é uma vontade crescente de arremessá-lo pela janela. Quantos segundo levaria para um homem desse tamanho chegar lá embaixo?— Me deixa ver se entendi direito — digo, girando a cadeira lentamente para encará-lo. — Você está me dizendo que não conseguiu encontrar uma única brecha na segurança? É isso mesmo?— Sr. Morgan, eles estão em todo lugar — ele repete, como se eu fosse obrigado a aceitar isso. — Estou pedindo alguns dias para traçar outro plano. A enfermeira está protegida 24 horas, e quanto a Henry, a segurança foi…— Foda-se