Meu coração dispara enquanto alterno o olhar entre o retrovisor e o para-brisa traseiro, notando um segundo carro nos seguindo. Henry permanece calmo ao meu lado, Benjamin mantém os olhos fixos na estrada, e Chloe me encara com as sobrancelhas franzidas, aparentemente a única que sente a mesma preocupação que eu.Henry, percebendo minha inquietação, entrelaça seus dedos aos meus e me dá um pequeno sorriso. Por acaso deram calmantes a ele no hospital?— Como você pode estar tão calmo? — indago, confusa.— Porque são apenas os seguranças que Benjamin solicitou enquanto estávamos no hospital — ele murmura, fazendo círculos suaves na minha mão. — Não vou dar chance para o azar enquanto Sebastian e Harper estiverem à solta.— Harper? — Franzo o cenho, já com a pergunta na ponta da língua, mas Henry se inclina e dá um beijo suave na minha têmpora, me calando gentilmente.— Sei que temos muito o que conversar — ele sussurra contra minha pele. — Mas não agora. Já tivemos emoções demais por um
Os seguranças nos acompanham como sombras desde que colocamos os pés na garagem até o momento em que entramos no café afastado da movimentação de Mayfair, atentos a qualquer sinal de ameaça. O local discreto foi totalmente reservado para nós, e logo avisto a enfermeira que concordou em testemunhar, sentada em uma mesa ao fundo.Henry e Benjamin me acompanham, enquanto os seguranças se espalham pelo ambiente, um lembrete constante de que não podemos facilitar. Respiro fundo ao me aproximar da mulher de meia-idade, com um semblante sério e cansado. Ela nos observa atentamente, como se ponderasse cada palavra que dirá.— Sra. Williams, muito obrigado por nos encontrar — Benjamin diz, sinalizando para que nos sentemos. Enquanto o chá é servido, tento esconder minha ansiedade, mas é em vão diante de sua expressão inalterada.— Vamos direto ao ponto — ela começa, olhando ao redor antes de fixar o olhar em nós. — O que tenho a dizer pode ajudá-los, mas é difícil relaxar diante dessa situação
“Sebastian Morgan”O conhaque em meu copo está quente. Não me lembro há quanto tempo estou segurando-o, encarando a vista do último andar da Majestic, enquanto Roger, um dos homens de Marco, me faz questionar se seus serviços realmente valem o dinheiro que estou investindo.A incompetência dele começou a me irritar semanas atrás, quando Henry saiu vivo daquela explosão. Agora, enquanto ele gagueja desculpas patéticas do outro lado da mesa, tudo o que sinto é uma vontade crescente de arremessá-lo pela janela. Quantos segundo levaria para um homem desse tamanho chegar lá embaixo?— Me deixa ver se entendi direito — digo, girando a cadeira lentamente para encará-lo. — Você está me dizendo que não conseguiu encontrar uma única brecha na segurança? É isso mesmo?— Sr. Morgan, eles estão em todo lugar — ele repete, como se eu fosse obrigado a aceitar isso. — Estou pedindo alguns dias para traçar outro plano. A enfermeira está protegida 24 horas, e quanto a Henry, a segurança foi…— Foda-se
“Henry Blackwood”Ainda digerindo tudo o que aconteceu ontem durante a conversa com a enfermeira, sou surpreendido pela entrada abrupta de Benjamin na minha sala, sem sequer bater. Seu rosto, normalmente tranquilo, está visivelmente tenso. Quando o vejo ajustar os óculos com pressa, largo a caneta imediatamente. Algo sério aconteceu.— Conseguiram achá-la, Henry — ele anuncia, num tom urgente.— Harper? — pergunto, enquanto me levanto tão rápido que a cadeira giratória bate na parede atrás de mim.— Sim! A encontraram perto da Albert Bridge. Descalça, chorando, gritando que ia se jogar no rio. Um pedestre a impediu e chamou os serviços de emergência… — diz ele, esboçando um sorriso confiante. — Sabe o que isso significa?— Que Sebastian provavelmente a abandonou.— Exato! — Benjamin exclama, gesticulando animadamente. — É só uma questão de tempo até que Harper o entregue!— Onde ela está? — pergunto.— Na delegacia central, esperando…Não o espero terminar. Saio da sala apressado e me
“Evie Ashford”Existem momentos em que precisamos escolher entre o medo e a coragem. Eu poderia ter desistido no início, mas agora, enquanto me preparo diante do espelho para o tribunal, percebo que desistir nunca foi uma opção.Meu olhar inevitavelmente percorre meu corpo. Com delicadeza, meus dedos deslizam pelo braço recém-liberto do gesso, subindo até a cicatriz na testa, que logo será disfarçada pela maquiagem. Tudo o que enfrentei até aqui moldou a mulher que sou hoje: alguém que não se deixa intimidar.— Já te disse o quanto você é linda?Henry me surpreende ao entrar no quarto, lutando contra o nó da gravata com dedos inquietos. Sua dificuldade com algo tão simples revela a mesma ansiedade que me incomoda profundamente.— Hoje, não — respondo, virando-me para ajudá-lo. — Mas não me importo se repetir.Quando termino o nó, ele segura minhas mãos e as leva aos lábios.— Você é linda, meu amor — murmura contra minha pele. — E mais forte do que imagina.O sorriso bobo que surge em
Kim se acomoda na cadeira, visivelmente desconfortável. Meu coração acelera e é difícil acreditar que ela seja a carta final mencionada por Benjamin. O juiz ajusta os óculos e inicia:— Srta. Burner, está ciente de que tudo o que disser aqui será considerado prova legal?— Sim, meritíssimo — ela responde, tentando manter a compostura.Benjamin se levanta com calma e começa:— Srta. Burner, o tribunal gostaria de ouvir sobre seu papel durante o período em que cuidou da Srta. Ashford. O que pode nos contar?Kim respira fundo antes de começar:— Fui contratada pelo Sr. Morgan para cuidar da Srta. Ashford após seu acidente. No início, parecia um trabalho de rotina, mas logo percebi que ele tinha outros planos. Ele me instruiu a administrar colírios que, em vez de tratar sua cegueira, pioravam sua condição.Um murmúrio percorre a sala. Sebastian mantém a expressão impassível, mas seus dedos apertam a mesa com força.— E quanto ao dia em que a Srta. Ashford assinou os documentos que transfe
O retorno ao tribunal é uma verdadeira tortura. Cada passo até a sala de audiências pesa como toneladas. Meus pensamentos giram em torno do que está por vir, carregados pelo medo de que algo possa dar errado. Percebendo meu silêncio, Henry entrelaça seus dedos aos meus e para diante da porta.— Vai dar tudo certo, meu amor — ele diz, acariciando meus dedos. — Mas, se por acaso não der, lembre-se: você ainda tem a mim.— Sempre — respondo, aproximando-me para um beijo calmo que me dá forças para continuar.Quando entramos, Sebastian já está em seu lugar. Sua postura mantém a habitual arrogância, mas algo mudou. Há um leve tremor em sua mandíbula, e o brilho de incerteza em seus olhos revela o que ele tanto tenta esconder: ele sabe que o cerco está se fechando.Pontualmente, o juiz retorna. O silêncio domina a sala quando ele começa a falar:— Após análise minuciosa das evidências apresentadas — o juiz faz uma pausa que parece durar uma eternidade — este tribunal chegou a uma conclusão.
O sol da tarde já se põe quando chegamos em casa. Durante todo o caminho, Henry permanece ao meu lado em silêncio, seu polegar traçando círculos suaves na minha mão, me ancorando no presente.Assim que entramos, deixo minha bolsa cair no sofá e caminho até a janela. A cidade se estende diante de mim, suas luzes começando a piscar uma a uma contra o céu alaranjado. Em algum lugar lá embaixo, Sebastian está sendo processado e fichado. Em breve, estará atrás das grades, exatamente onde merece estar.— Um drink? — Henry pergunta, caminhando para o bar.— Não. Hoje quero estar completamente sóbria para absorver cada segundo.Ele abandona o copo que estava prestes a servir e caminha em minha direção. Suas mãos encontram minha cintura com naturalidade, e ele descansa a cabeça no meu ombro.— Sabe o que mais me encanta em você? — murmura contra meu ouvido. — Sua capacidade de transformar dor em força. Você é extraordinária, Evie Ashford.Fecho os olhos por um momento, permitindo que suas pala