“Evie Ashford”Existem momentos em que precisamos escolher entre o medo e a coragem. Eu poderia ter desistido no início, mas agora, enquanto me preparo diante do espelho para o tribunal, percebo que desistir nunca foi uma opção.Meu olhar inevitavelmente percorre meu corpo. Com delicadeza, meus dedos deslizam pelo braço recém-liberto do gesso, subindo até a cicatriz na testa, que logo será disfarçada pela maquiagem. Tudo o que enfrentei até aqui moldou a mulher que sou hoje: alguém que não se deixa intimidar.— Já te disse o quanto você é linda?Henry me surpreende ao entrar no quarto, lutando contra o nó da gravata com dedos inquietos. Sua dificuldade com algo tão simples revela a mesma ansiedade que me incomoda profundamente.— Hoje, não — respondo, virando-me para ajudá-lo. — Mas não me importo se repetir.Quando termino o nó, ele segura minhas mãos e as leva aos lábios.— Você é linda, meu amor — murmura contra minha pele. — E mais forte do que imagina.O sorriso bobo que surge em
Kim se acomoda na cadeira, visivelmente desconfortável. Meu coração acelera e é difícil acreditar que ela seja a carta final mencionada por Benjamin. O juiz ajusta os óculos e inicia:— Srta. Burner, está ciente de que tudo o que disser aqui será considerado prova legal?— Sim, meritíssimo — ela responde, tentando manter a compostura.Benjamin se levanta com calma e começa:— Srta. Burner, o tribunal gostaria de ouvir sobre seu papel durante o período em que cuidou da Srta. Ashford. O que pode nos contar?Kim respira fundo antes de começar:— Fui contratada pelo Sr. Morgan para cuidar da Srta. Ashford após seu acidente. No início, parecia um trabalho de rotina, mas logo percebi que ele tinha outros planos. Ele me instruiu a administrar colírios que, em vez de tratar sua cegueira, pioravam sua condição.Um murmúrio percorre a sala. Sebastian mantém a expressão impassível, mas seus dedos apertam a mesa com força.— E quanto ao dia em que a Srta. Ashford assinou os documentos que transfe
O retorno ao tribunal é uma verdadeira tortura. Cada passo até a sala de audiências pesa como toneladas. Meus pensamentos giram em torno do que está por vir, carregados pelo medo de que algo possa dar errado. Percebendo meu silêncio, Henry entrelaça seus dedos aos meus e para diante da porta.— Vai dar tudo certo, meu amor — ele diz, acariciando meus dedos. — Mas, se por acaso não der, lembre-se: você ainda tem a mim.— Sempre — respondo, aproximando-me para um beijo calmo que me dá forças para continuar.Quando entramos, Sebastian já está em seu lugar. Sua postura mantém a habitual arrogância, mas algo mudou. Há um leve tremor em sua mandíbula, e o brilho de incerteza em seus olhos revela o que ele tanto tenta esconder: ele sabe que o cerco está se fechando.Pontualmente, o juiz retorna. O silêncio domina a sala quando ele começa a falar:— Após análise minuciosa das evidências apresentadas — o juiz faz uma pausa que parece durar uma eternidade — este tribunal chegou a uma conclusão.
O sol da tarde já se põe quando chegamos em casa. Durante todo o caminho, Henry permanece ao meu lado em silêncio, seu polegar traçando círculos suaves na minha mão, me ancorando no presente.Assim que entramos, deixo minha bolsa cair no sofá e caminho até a janela. A cidade se estende diante de mim, suas luzes começando a piscar uma a uma contra o céu alaranjado. Em algum lugar lá embaixo, Sebastian está sendo processado e fichado. Em breve, estará atrás das grades, exatamente onde merece estar.— Um drink? — Henry pergunta, caminhando para o bar.— Não. Hoje quero estar completamente sóbria para absorver cada segundo.Ele abandona o copo que estava prestes a servir e caminha em minha direção. Suas mãos encontram minha cintura com naturalidade, e ele descansa a cabeça no meu ombro.— Sabe o que mais me encanta em você? — murmura contra meu ouvido. — Sua capacidade de transformar dor em força. Você é extraordinária, Evie Ashford.Fecho os olhos por um momento, permitindo que suas pala
A campainha toca novamente, mais insistente desta vez. Contrariada, me levanto vagarosamente, enquanto Henry permanece sentado, me observando com uma expressão insatisfeita, mas cheia de desejo. Ele se ajeita, fechando os botões da camisa com uma lentidão proposital, como se quisesse provocar.— Pare de me olhar assim — advirto, sentindo meu rosto esquentar enquanto coloco meu vestido.— Assim como? — ele pergunta com falsa inocência, mordendo o lábio inferior enquanto fecha mais um botão. Torturantemente devagar.— Como se ainda quisesse me devorar.— Mas eu ainda quero te devorar — ele retruca, abrindo um sorriso malicioso.Reviro os olhos, pego sua mão e o puxo do sofá.— Vem, precisamos de um banho antes que Agnes traga quem quer que seja para a sala e nos encontre… assim.Henry me segue escada acima, com suas mãos firmemente agarradas à minha cintura. No corredor, ele me prensa contra a parede, roubando-me um longo beijo.— Henry… — tento soar severa, mas minha voz sai mais como
“Sebastian Morgan”A cela parece bem menor do que imaginei, e as paredes riscadas parecem se fechar cada vez mais. Duas semanas nessa maldita prisão. Quinze dias desde que a infeliz da Kim decidiu ignorar todos os perigos e ameaças, optando por falar tudo e foder minha vida.Quinze dias… e cada segundo parece uma eternidade. As noites, como agora, são as piores, pois, na escuridão, os ecos das risadas deles e a expressão de vitória de Evie quando o juiz deu o veredito me assombram.— Matarei todos eles — murmuro, cerrando os punhos enquanto encaro o teto sujo acima de mim. De repente, ouço passos se aproximando. Pesados. Os guardas não costumam vir aqui a essa hora, então… Meus pensamentos são interrompidos pelo som metálico de algo deslizando pelas grades da minha cela. Ergo o olhar, encontrando o rosto macabro de Marco.Marco inclina a cabeça, um sorriso sádico se formando enquanto brinca com um cigarro entre os dedos. O brilho fraco da lâmpada no corredor ilumina as cicatrizes em
“Evie Ashford”Duas semanas. Apenas duas semanas se passaram desde o julgamento, mas parece que vivi anos nesse curto intervalo. Tudo mudou tão rapidamente que ainda sinto a necessidade de me ajustar.Sebastian está morto. Quando soube, confesso que uma mistura de sentimentos tomou conta de mim: raiva, alívio e, talvez, até uma ponta de tristeza por quem ele poderia ter sido, mas escolheu não ser.Essa notícia, somada ao meu retorno à frente da Majestic, finalmente dissipou a insegurança, deixando em seu lugar uma sensação de satisfação. Pela primeira vez em meses, sinto que posso caminhar sem carregar o peso de mil incertezas nas costas.Imersa nesses pensamentos, sou interrompida pelo som da porta se abrindo e as vozes inconfundíveis de Lily e Chloe ecoando pela sala. Respiro fundo, lavo as mãos e saio do banheiro, encontrando as duas sentadas no sofá.— Você está pálida — Chloe diz, sem nem sequer me cumprimentar. — E magra demais.— Bom dia para você também — respondo, tentando pa
“Henry Blackwood”Já se passaram algumas semanas desde que Evie retomou a liderança da Majestic, e as coisas parecem estar voltando ao normal. Pelo menos, para ela. Para mim, bem… eu deveria estar mais calmo agora, mais seguro, mas, ao invés disso, algo parece terrivelmente errado. Ela está diferente. Não distante, mas… inquieta. Como se estivesse escondendo algo.Deixo a caneta de lado e passo a mão pelos cabelos, frustrado. Talvez eu esteja sendo um idiota. Talvez isso seja apenas paranoia. Mas a ideia de perdê-la… de que agora, com tudo em ordem, ela perceba que não precisa mais de mim…— Preciso resolver isso — resmungo, inclinando-me na cadeira. — Mas como fazer isso sem parecer um idiota ciumento e possessivo?Não posso ignorar o que está acontecendo. Não quero perdê-la por algo que sequer compreendo. Levanto-me de uma vez, decidido.— Preciso falar com ela, agora — afirmo, pegando minhas coisas.Minha pressa faz com que o caminho até o estacionamento provisório da empresa passe