O sol da tarde já se põe quando chegamos em casa. Durante todo o caminho, Henry permanece ao meu lado em silêncio, seu polegar traçando círculos suaves na minha mão, me ancorando no presente.Assim que entramos, deixo minha bolsa cair no sofá e caminho até a janela. A cidade se estende diante de mim, suas luzes começando a piscar uma a uma contra o céu alaranjado. Em algum lugar lá embaixo, Sebastian está sendo processado e fichado. Em breve, estará atrás das grades, exatamente onde merece estar.— Um drink? — Henry pergunta, caminhando para o bar.— Não. Hoje quero estar completamente sóbria para absorver cada segundo.Ele abandona o copo que estava prestes a servir e caminha em minha direção. Suas mãos encontram minha cintura com naturalidade, e ele descansa a cabeça no meu ombro.— Sabe o que mais me encanta em você? — murmura contra meu ouvido. — Sua capacidade de transformar dor em força. Você é extraordinária, Evie Ashford.Fecho os olhos por um momento, permitindo que suas pala
A campainha toca novamente, mais insistente desta vez. Contrariada, me levanto vagarosamente, enquanto Henry permanece sentado, me observando com uma expressão insatisfeita, mas cheia de desejo. Ele se ajeita, fechando os botões da camisa com uma lentidão proposital, como se quisesse provocar.— Pare de me olhar assim — advirto, sentindo meu rosto esquentar enquanto coloco meu vestido.— Assim como? — ele pergunta com falsa inocência, mordendo o lábio inferior enquanto fecha mais um botão. Torturantemente devagar.— Como se ainda quisesse me devorar.— Mas eu ainda quero te devorar — ele retruca, abrindo um sorriso malicioso.Reviro os olhos, pego sua mão e o puxo do sofá.— Vem, precisamos de um banho antes que Agnes traga quem quer que seja para a sala e nos encontre… assim.Henry me segue escada acima, com suas mãos firmemente agarradas à minha cintura. No corredor, ele me prensa contra a parede, roubando-me um longo beijo.— Henry… — tento soar severa, mas minha voz sai mais como
“Sebastian Morgan”A cela parece bem menor do que imaginei, e as paredes riscadas parecem se fechar cada vez mais. Duas semanas nessa maldita prisão. Quinze dias desde que a infeliz da Kim decidiu ignorar todos os perigos e ameaças, optando por falar tudo e foder minha vida.Quinze dias… e cada segundo parece uma eternidade. As noites, como agora, são as piores, pois, na escuridão, os ecos das risadas deles e a expressão de vitória de Evie quando o juiz deu o veredito me assombram.— Matarei todos eles — murmuro, cerrando os punhos enquanto encaro o teto sujo acima de mim. De repente, ouço passos se aproximando. Pesados. Os guardas não costumam vir aqui a essa hora, então… Meus pensamentos são interrompidos pelo som metálico de algo deslizando pelas grades da minha cela. Ergo o olhar, encontrando o rosto macabro de Marco.Marco inclina a cabeça, um sorriso sádico se formando enquanto brinca com um cigarro entre os dedos. O brilho fraco da lâmpada no corredor ilumina as cicatrizes em
Respiro fundo, ajustando o vestido Valentino azul royal em frente ao espelho antes de pegar a bolsa de mão e me virar para sair do quarto. Meu estômago se revira a cada passo, reclamando com a expectativa da noite que está por vir. Ao descer as escadas, encontro Sebastian Morgan, meu marido, digitando algo em seu celular. Alto, com cabelos loiros, um sorriso cativante e, o principal: meu. Com um sorriso bobo, me aproximo.— Estou pronta, meu am…— Não falei para você ir com o vestido vermelho? — Sebastian me interrompe, lançando um olhar avaliador enquanto guarda o celular no bolso.— Sim, falou, mas esse combina mais com o ambiente. Está ruim?— Não, querida — ele diz, finalmente segurando minha mão para me guiar até a saída da nossa casa. — Mas precisamos brilhar esta noite. Temos um prêmio para receber.— Não seja exagerado, meu amor. Nós nem sabemos se vamos ganhar aquele…— Óbvio que vamos, querida — ele me interrompe, abrindo a porta do carro com um sorriso confiante. — Com aquel
Acordo de repente, sentindo todo o meu corpo doer. A escuridão ainda me cerca, e me pergunto se ainda é noite. O silêncio é pesado, cortado apenas por um “bip” irritante. Tento me levantar, mas a dor rapidamente me atinge, provocando um gemido involuntário.Ao tentar mover o braço esquerdo, sou tomada por uma dor excruciante, acompanhada pelo peso desconfortável de algo que o imobiliza. Meu coração dispara, intensificando o “bip” que ecoa nos meus ouvidos. Então percebo: estou em um hospital.Com esforço, levanto o braço direito. Lentamente, toco meu rosto, tentando entender por que tudo continua escuro se estou acordada. Meus dedos encontram curativos sobre os olhos, e o pânico me atinge, frio e alucinante.Luto para me sentar na cama, ignorando a dor latejante. Meus dedos deslizam pelo lençol até o botão de chamada. Pressiono-o repetidamente, desesperada por respostas.Depois do que parece uma eternidade, ouço passos apressados se aproximando. A porta do quarto se abre e alguém se ap
“Algumas semanas depois… Por Henry Blackwood”O céu londrino está particularmente cinzento hoje, embora isso dificilmente seja uma novidade. Após pegar um novo café — as duas últimas xícaras esfriaram enquanto eu lia relatórios — finalmente posso me dar ao luxo de parar por alguns minutos.Há sete anos, quando decidi me aventurar no mercado hoteleiro, tudo se resumia a um hotel caindo aos pedaços, comentários descrentes, risadas debochadas… Hoje, não só calei a boca de cada um, como fiz da All Seasons um dos maiores impérios da Europa. No auge dos meus 32 anos, me orgulho de tudo o que criei.Meus pensamentos são interrompidos pela vibração do celular sobre a mesa, me fazendo revirar os olhos.— Claro, eu não preciso de descanso, não é mesmo? — resmungo, girando a cadeira de volta para a mesa de mogno. Ao pegar o celular, encontro uma mensagem de Harper, minha noiva.“Não se esqueça do jantar na casa dos meus pais. Estou com saudades.”É inevitável não soltar uma risada ao ler a última
“Alguns dias depois… Por Henry Blackwood”Após três horas de reunião com os acionistas, permaneço na cadeira enquanto os outros membros deixam a sala. Junto o relatório em cima da mesa, observando Benjamin, que me lança o mesmo olhar de todo o tempo da reunião.— Então? — pergunto assim que a porta se fecha, deixando-nos a sós. Benjamin arqueia as sobrancelhas, fingindo não entender. — Você estava inquieto durante toda a reunião.— Estava ansioso para te mostrar isso — ele sorri, abrindo uma revista de negócios sobre minha mesa. — Parece que dessa vez você estava errado sobre Sebastian.Franzo o cenho ao ver as reportagens. São fotos de Evie Ashford em aparições recentes. Em uma delas, ela sorri em um café próximo à Torre Eiffel. Em outra, posa elegantemente diante da Galleria Vittorio Emanuele II, em Milão.— Paris, Milão… Talvez a pressão tenha sido demais, afinal — Benjamin comenta com um tom debochado. — E a querida CEO da Majestic decidiu se rebelar.— Interessante — murmuro, afas
“Evie Ashford”O som familiar dos passos de Sebastian no corredor me faz sorrir antes mesmo de ele entrar. Como todas as manhãs deste último mês, ele chega ao quarto trazendo meu café da manhã, mas desta vez, sua energia é contagiante: abre as cortinas, cantarola… Desde o acidente, Sebastian tem sido meu porto seguro, o único que permaneceu. Seguindo seu conselho, tenho evitado contato direto com as pessoas. A ideia de sentir a pena nos olhares alheios, mesmo sem poder vê-los, me sufoca.Mas, às vezes, no silêncio da casa, sinto falta das minhas amigas. Das risadas, das conversas, da cumplicidade. Sebastian diz que elas me mandam mensagens, sempre com desculpas elaboradas sobre compromissos inadiáveis. É mais fácil assim, suponho. Mais fácil para elas lidarem com minha ausência do que com minha nova realidade.Ao menos tenho Sebastian. Seu otimismo teimoso, sua presença constante. E, por enquanto, isso precisa ser suficiente.— Bom dia, querida — Sebastian me saúda com um beijo suave.