“Sebastian Morgan”Minhas mãos apertam o volante com tanta força que os nós dos meus dedos estão brancos. Agora que a adrenalina diminui, meu rosto e minha barriga latejam, me lembrando da humilhação de momentos atrás, intensificando meu ódio.Eu deveria ter dado um fim a Henry há anos, quando ele quis interferir no meu relacionamento com Olivia, quando conseguiu fazê-la desistir de mim, de nós, e preferiu ir embora. Ou quando ele decidiu agir como o protetor de mocinhas indefesas, ajudando Evie a se reerguer.— Maldito Henry Blackwood! — vocifero, socando o volante inúmeras vezes.Respiro fundo, mas o ar parece insuficiente para conter o ódio que sinto. As imagens dele ao lado de Evie só pioram as coisas. Os sorrisos, os toques discretos, a maneira como ele a olhava, como se ela fosse dele… Henry sempre soube como provocar, como tirar o melhor de mim, e agora ele ousa tocar no que é meu.Sim, Evie sempre será minha, assim como cada uma que fiz questão de marcar, de me tornar inesquecí
Uma risada escandalosa ecoa pelo banheiro, e Harper larga o pedaço do espelho, ignorando o sangue que pinga de sua mão. Ela se aproxima de mim com um sorriso orgulhoso nos lábios, deslizando a outra mão pelo meu ombro.— Você me disse tantas vezes para não esperar por você para resolver meus problemas — Harper murmura, num tom orgulhoso, enquanto saio do banheiro. Ela me segue. — Decidi resolver meus problemas assim que saí da casa de Henry naquele dia.— Não me diga que foi você quem… — murmuro, relutando em completar a frase ao me virar novamente para encará-la. Ela sorri e balança a cabeça negativamente.— Eu? Não, bobinho. Não fui eu quem provocou aquele incêndio acidental, mas… — confessa, ampliando o sorriso. — Alguns milhares de dólares para o cara certo e... whoosh! Pena que aquela m*****a sobreviveu.A raiva explode em meu peito antes que eu possa me conter. Em um movimento, agarro Harper pelo pescoço e a pressiono contra a parede do quarto. Seus olhos se arregalam, e o sangue
“Evie Ashford”Após algum tempo ouvindo todo o relato sobre boa parte do passado de Sebastian — algo que, no fundo, nem sequer me surpreendeu —, saímos da banheira quando a água já estava fria.Envolta em um roupão, sento-me na cama enquanto Henry se afasta para pegar algo no banheiro. Ao voltar para o quarto, ele me puxa para perto, e seu maxilar se contrai quando seus olhos param em meus braços.Acompanho seu olhar e encontro o motivo de sua reação: as marcas em meus braços começam a escurecer. Com um suspiro, ele pega um frasco de hidratante e começa a aplicá-lo sobre a pele machucada. Seu toque, cuidadoso e lento, parece conseguir apagar não apenas a dor física, mas também as memórias desta noite.— Pronto — murmura, depositando um beijo suave sobre minha pele. Seus olhos encontram os meus, cheios de preocupação. — Melhor?Assinto, segurando suas mãos para beijá-las. É difícil acreditar que as mesmas mãos que fizeram um estrago em Sebastian possam me tocar com tanta delicadeza.Ele
“Alguns dias depois…”Meu olhar permanece fixo nos papéis espalhados sobre a mesa de centro, enquanto as lágrimas embaçam minha visão. A cada documento que releio, sinto como se o ar nos pulmões diminuísse.Prontuários inexistentes. Registros médicos apagados. É como se aqueles meses de escuridão nunca tivessem acontecido.Em seu lugar, fotos. Dezenas delas. Eu, supostamente viajando pelo mundo durante o período em que mal conseguia dar dois passos sem tropeçar. Check-ins em restaurantes, hotéis, países… Uma vida que nunca vivi, registrada em detalhes perturbadores.E então, a cereja do bolo: um acidente nos Alpes Franceses, cuidadosamente planejado e convincente, ocorrido poucos dias antes da minha ida à clínica de Adrian, justificando perfeitamente minha perda temporária de visão e invalidando de vez o argumento de que eu estava cega na data em que assinei todos aqueles documentos.Sinto como se estivesse me afogando em mentiras tão bem construídas que até começo a duvidar das minhas
Respiro fundo, ajustando o vestido Valentino azul royal em frente ao espelho antes de pegar a bolsa de mão e me virar para sair do quarto. Meu estômago se revira a cada passo, reclamando com a expectativa da noite que está por vir. Ao descer as escadas, encontro Sebastian Morgan, meu marido, digitando algo em seu celular. Alto, com cabelos loiros, um sorriso cativante e, o principal: meu. Com um sorriso bobo, me aproximo.— Estou pronta, meu am…— Não falei para você ir com o vestido vermelho? — Sebastian me interrompe, lançando um olhar avaliador enquanto guarda o celular no bolso.— Sim, falou, mas esse combina mais com o ambiente. Está ruim?— Não, querida — ele diz, finalmente segurando minha mão para me guiar até a saída da nossa casa. — Mas precisamos brilhar esta noite. Temos um prêmio para receber.— Não seja exagerado, meu amor. Nós nem sabemos se vamos ganhar aquele…— Óbvio que vamos, querida — ele me interrompe, abrindo a porta do carro com um sorriso confiante. — Com aquel
Acordo de repente, sentindo todo o meu corpo doer. A escuridão ainda me cerca, e me pergunto se ainda é noite. O silêncio é pesado, cortado apenas por um “bip” irritante. Tento me levantar, mas a dor rapidamente me atinge, provocando um gemido involuntário.Ao tentar mover o braço esquerdo, sou tomada por uma dor excruciante, acompanhada pelo peso desconfortável de algo que o imobiliza. Meu coração dispara, intensificando o “bip” que ecoa nos meus ouvidos. Então percebo: estou em um hospital.Com esforço, levanto o braço direito. Lentamente, toco meu rosto, tentando entender por que tudo continua escuro se estou acordada. Meus dedos encontram curativos sobre os olhos, e o pânico me atinge, frio e alucinante.Luto para me sentar na cama, ignorando a dor latejante. Meus dedos deslizam pelo lençol até o botão de chamada. Pressiono-o repetidamente, desesperada por respostas.Depois do que parece uma eternidade, ouço passos apressados se aproximando. A porta do quarto se abre e alguém se ap
“Algumas semanas depois… Por Henry Blackwood”O céu londrino está particularmente cinzento hoje, embora isso dificilmente seja uma novidade. Após pegar um novo café — as duas últimas xícaras esfriaram enquanto eu lia relatórios — finalmente posso me dar ao luxo de parar por alguns minutos.Há sete anos, quando decidi me aventurar no mercado hoteleiro, tudo se resumia a um hotel caindo aos pedaços, comentários descrentes, risadas debochadas… Hoje, não só calei a boca de cada um, como fiz da All Seasons um dos maiores impérios da Europa. No auge dos meus 32 anos, me orgulho de tudo o que criei.Meus pensamentos são interrompidos pela vibração do celular sobre a mesa, me fazendo revirar os olhos.— Claro, eu não preciso de descanso, não é mesmo? — resmungo, girando a cadeira de volta para a mesa de mogno. Ao pegar o celular, encontro uma mensagem de Harper, minha noiva.“Não se esqueça do jantar na casa dos meus pais. Estou com saudades.”É inevitável não soltar uma risada ao ler a última
“Alguns dias depois… Por Henry Blackwood”Após três horas de reunião com os acionistas, permaneço na cadeira enquanto os outros membros deixam a sala. Junto o relatório em cima da mesa, observando Benjamin, que me lança o mesmo olhar de todo o tempo da reunião.— Então? — pergunto assim que a porta se fecha, deixando-nos a sós. Benjamin arqueia as sobrancelhas, fingindo não entender. — Você estava inquieto durante toda a reunião.— Estava ansioso para te mostrar isso — ele sorri, abrindo uma revista de negócios sobre minha mesa. — Parece que dessa vez você estava errado sobre Sebastian.Franzo o cenho ao ver as reportagens. São fotos de Evie Ashford em aparições recentes. Em uma delas, ela sorri em um café próximo à Torre Eiffel. Em outra, posa elegantemente diante da Galleria Vittorio Emanuele II, em Milão.— Paris, Milão… Talvez a pressão tenha sido demais, afinal — Benjamin comenta com um tom debochado. — E a querida CEO da Majestic decidiu se rebelar.— Interessante — murmuro, afas