Augusto entrou no carro calado. Esperou que eu entrasse e deu partida, dois carros atrás de nós. Eu estava trêmula de raiva e ódio. O que aquela aproveitadora estava fazendo na minha casa? Como Ricardo pôde permitir que ela chegasse até lá quando estava tudo bem entre nós? Eu estava soando como uma maluca, eu sabia, mas aquela blogueira não me descia nem um pouco. Certo que no início eu até aprovava, mas algo mudou e embora eu não conseguisse explicar o porquê, sentia que ela não era de confiança, que estava com Ricardo apenas para prejudicá-lo. Claro que eu não disse nada a ele, minha mãe sempre disse que se você quer que uma pessoa insista no erro, basta apenas apontá-lo diretamente para ela, especialmente em relacionamentos.— Você precisa se acalmar, menina — Augusto falou depois de um tempo. — Não deveria colocar tudo a perder por uma coisa insignificante.— Uma promessa quebrada não é insignificante. É a segunda vez que ele me machuca, eu não sou uma marionete.— E ele ficará b
Observei o lugar com calma, era um lugar um tanto objetivo, não havia quadros, ou qualquer coisa que sugerisse que ali havia uma família.— Nunca pensei que morasse sozinho — falei puxando um assunto aleatório. — Eu já fui casado. Minha esposa e eu éramos felizes nesta casa, e depois que ela se foi não tive coragem de trazer outra mulher para morar aqui. Sente-se.— Ela deve ter sido uma pessoa incrível — comentei, porque ninguém tem tanto respeito assim por um falecido se não for assim. — Ela com certeza era. Essa casa tinha vida quando ela estava aqui. Você ainda era um bebê, mas quando vinha aqui, ela ficava com um brilho nos olhos tão grande que doía meu coração não poder dar um filho a ela. Então a tragédia aconteceu. Você foi atacada enquanto estava sob supervisão dela e Alice nunca se perdoou por isso. Quando você foi torturada em sua frente, quando ela os viu acabarem com o fio de vida que havia restado em você... o brilho dela se apagou.— Desculpa, eu não estou entendendo.
Minha mãe sempre trabalhou fora e eu sempre estive ao cuidado de babás quando eu era criança. Esse cenário se repetiu até quando eu tinha uns 12 anos, quando ela decidiu que eu era grande o suficiente para não colocar fogo na casa. Aos quinze, o cenário parecia se repetir. Eu passei o domingo inteiro acompanhada por uma mulher que se dizia ser minha responsável. Na segunda, quando pensei que enfim me livraria daquela situação, recebi a notícias de que o colégio havia me dado alguns dias livres. Óbvio que não acreditei em nada do que Augusto disse, ele estava me mantendo trancada naquela casa por puro deleite e prazer. E eu era sua prisioneira. Nem mesmo meus seguranças, Wendy, Pablo ou Victor haviam ido ver como eu estava. Se fossem eu poderia pedir ajuda, mas sem poder fazer nada, eu desabafava minha raiva toda na guitarra. Passei a semana inteira trancada no quarto, eu não confiava em Augusto o suficiente para ficar no mesmo lugar que ele ou um de seus subordinados, e tentava, ao
Senti meus olhos arderem. Eu o assustei? Eu? Foi ele quem mandou cavar uma cova no quintal em frente à minha janela, foi ele quem veio atrás de mim quando um dos homens disse que eu havia visto eles conversarem. Eu o assustei? Eu choraria se pudesse. — Amanda. Diga o que está pensando. — Quero ir para casa. Para a minha casa. — Sabe que não posso permitir. Você é minha responsabilidade agora. — Não! Ricardo, ele tem a minha guarda. Ele é meu responsável, e é meu irmão. — Há uma controvérsia nisso. — O que? — Ricardo não é seu responsável legal. — Mas é claro que é. Ele é o meu irmão... — Sim, mas ele também confia em mim o suficiente para assinar qualquer papel que eu lhe der, principalmente se eu disser que é o melhor para você. Eu não acreditava no que estava ouvindo. Ricardo havia me deixado nas mãos de Augusto? Será que ele sabia da história toda? Da mulher do homem? Da morte dela? — Você não pode estar falando sério. — Veja. Ele me deu um envelope, contendo um docume
As reuniões com Hellen e Augusto em meu escritório estavam cada vez mais frequentes desde que minha doce irmãzinha se enclausurou na casa do velho. Pensei que logo ela voltaria, se não para casa, mas pelo menos para o colégio, visto que era o sonho dela estudar lá, mas quinze dias depois e era como se Amanda houvesse sumido do mapa, não fosse Augusto trazer atualizações diárias que em nada me animava.— Toca aquela coisa barulhenta o dia todo — Augusto falou assim que Hellen perguntou pela amiga —, enlouquecendo as empregadas.— Talvez Hellen possa falar com ela. Sei que não quer me ver, mas você...— Sem chance — Hellen respondeu. — Quando Amanda quer fingir que algo não existe, realmente não existe para ela. Afundei em minha poltrona, desanimado. Hellen pediu desculpa, estava ali já fazia um tempo considerável e precisava ir embora. Mandei Pablo a levar de volta para o internato e fiquei com Augusto, que me observava.— Dê mais um tempo a ela, Ricardo. Preocupe-se em encontrar as a
Dei a volta e me sentei como o homem sério de negócios que eu era.— Dizem que o chefe sanguinário quase meteu o pé na bunda do velho barrigudo hoje — Apollo falou assim que eu o fitei.— Isso porque a nova namorada do chefe está o distraindo demais, segundo as más línguas só nessa semana ela já veio aqui três vezes e só sai quando o advogado, que mais parece uma babá a expulsa daqui.Quem nos olhasse conversando pela janela, sérios e tensos, pensaria que provavelmente o chefe sanguinário estava extraindo um rim ou algo assim de seus funcionários mais próximos depois de falar com o advogado. Quando vi a nossa fofoqueira de plantão sair para fofocar em outro andar, voltei meu olhar aos dois.— Namorada nova é? — me peguei gargalhando junto aos dois. — Hellen é apenas uma amiga, que pelo que eu sei estuda no red academy, talvez você a conheça — falei para Apollo.— Por acaso sou o melhor amigo do namorado dela — ele respondeu. — Não brinca! — Anna falou. — Logo termos um caso de tria
Eu sentia as alterações em meu corpo. Havia um calor estranho, e eu podia jurar que até uma cólica junto a uma dor de cabeça que começou leve no primeiro dia, mas foi se intensificando conforme a semana ia passando. Eu sabia que não se tratava do meu ciclo menstrual, pois ainda faltava 15 dias para que ele chegasse. Na quinta à noite, a dor de cabeça piorou, embora a cólica houvesse diminuído, assim como o calor. Tomei um banho quente e voltei para o quarto. Vesti uma calça, uma blusa de manga comprida, penteei o cabelo, trançando-o para trás. Olhei-me no espelho e vi que já estava na hora de renovar a tinta do cabelo, mas vivendo como uma prisioneira, era quase impossível.Por um momento vi meu reflexo se mover em um ângulo estranho, como se estivesse se contorcendo. Pisquei confusa, mas tudo estava do mesmo jeito. As imagens ali só refletiam o exterior, nada além, como se magia fosse proibida naquela casa.Emily chegou e me chamou para jantar. Revirei os olhos e acompanhei minha "b
Assustei-me quando algo emitiu um som de bip ao lado. Olhei e um aparelho, que eu jurava que não estava lá antes, emitia uma luz vermelha, que piscava sem parar. Me aproximei receosa, e pressionei o único ícone que estava disponível no aparelho.— Não me casar está fora de questão. Amanda vai entender quando estiver pronta e pudermos conversar. Há uma criança, alguém que pode nos livrar dessa maldição em jogo e não vou abrir mão disso.A mensagem de voz era de Ricardo. Ele iria se casar? Com quem? Seria com a blogueira? E de que criança ele estava falando? Seria um filho dele?Como se algum deus quisesse que eu soubesse a resposta, o livro em minha mão começou a se folear sozinho. Olhei para o mesmo assustada, mas não me movi ou tentei atrapalhar sua tentativa de comunicação. Aparentemente aquele era o único lugar na casa que aceitava magia de bom grado e eu iria aproveitar. O livro parou, já quase no final, as mesmas palavras estranhas escritas, porém havia algo a mais.“Leia em voz