Assenti calada. Um turbilhão de pensamentos passou em minha mente, mas logo a ideia de perder a única família que me sobrou me deixou nervosa. — Se não fizer por ele, faça por si mesma, porque assim que Ricardo morrer, você também estará com os dias contados. Que maravilha. Jerrilly foi muito esperto, não? Um louco, mas um louco esperto.— Tudo bem, faremos o ritual amanhã. Hoje não estou preparada para lidar com Ricardo, Suellen ou o lobo...— Tem uma coisa que pode ajudar.— O que?— As alianças dos seus pais.— Minha mãe tinha uma aliança? — perguntei surpresa. — Como eu nunca a vi usando?— Não era para você saber, menina. O caso é que essas alianças foram enfeitiçadas, de forma que nenhum outro feitiço pode passar por elas.— Por que Ricardo não havia mencionado isso antes?— Porque ele não sabe onde as joias estão, mas acho que sei onde podem estar.— Onde?— Na caixa que sua mãe deixou com as cartas de seu pai para você. Nunca a abriu, não é?Neguei com a cabeça. Eu havia me
Abri a caixa, espalhei todos os envelopes com as cartas de Jerrilly, mas não havia alianças no meio. Senti-me frustrada por um momento, mas meu amigo falou:— Talvez estejam dentro de algum desses envelopes, não custa nada olhar.Assenti e passamos a olhar todos os envelopes, mas nenhum continha as alianças. Senti que apenas perdi um tempo precioso e que eu não tinha procurando algo que não estava ali. Juntei tudo e joguei novamente com pressa na caixa, mas antes de fechá-la, Wendy falou:— Há mais uma aqui, Manda. E está lacrada. Meu coração acelerou. Uma carta lacrada entre as outras, a última carta que meu pai escreveu. A última carta e passei nove meses sem vê-la. Olhei para Wendy, que tirou a caixa de minha mão e se aproximou de mim. Tomei coragem e abri o envelope. Tirei o papel dobrado de dentro e o abri com as mãos trêmulas. A caligrafia de Jerrilly estava lá, tão legível e bonita, que parecia ter sido bordada no papel.“Amanda;Esta é a última carta que escrevo para você, e
Mais uma vez minha noite não foi fácil. Amanda sabia sobre nós, ou pelo menos parte do nosso passado, mas não sabia tudo e isso era o que fazia a diferença. Cada mínimo detalhe da história contava e eu estava perdido. Mesmo que ela não tivesse atacado, mas fugido, não queria dizer que não faria isso na próxima vez que nos encontrássemos, ou pior, ela poderia me procurar e em uma luta mano a mano entre o lobo e a feiticeira, era óbvio quem morreria primeiro.Eu estava fraco, dentro de dois dias o pouco do feitiço que ainda restava em mim evaporaraia e naturalmente eu morreria. Augusto não me procurou a noite inteira, muito menos atendeu minhas ligações. Wendy e alguns de seus homens cuidavam de minha irmã, que também não tive notícias, e o lobo estava adormecido, então supus que estava tudo bem. Ainda assim passei a noite em claro. Um lobo, mesmo solitário, não podia vacilar. Assim que amanheceu, pedi a um dos meus homens a localização de Amanda e ao saber que ela estava no colégio f
Acordei com uma sensação estranha. Era como se algo estivesse me faltando. Passei a mão em meu pescoço e lá estava a fina corrente que Ricardo mandou fazer com a aliança de mamãe. Ainda assim, havia uma sensação de vazio em meu peito. Levantei-me e olhei pela janela, percebendo que já era noite.Durante a manhã do meu aniversário, ainda na madrugada, Ricardo e eu fizemos o ritual de sangue e foi nesse momento que descobrimos que deveríamos fazê-lo a cada 16 anos e enquanto o ciclo durasse, teríamos vida. Sempre pensei que essa coisa de imortalidade – embora não fôssemos imortais, mas quase isso – era para deuses e vampiros, não sabia que os feiticeiros podiam também desfrutar dessa dádiva.Por um momento imaginei o que aconteceria se minha mãe não tivesse morrido no acidente. Ela seria quase imortal também ou isso se aplicava apenas a mim por causa da minha peculiaridade com Ricardo?“A imortalidade não é garantida, então não vacilem em suas escolhas”, disse vovó antes de sangrar o m
Era um final de tarde estranho, mais ainda do que o normal, porque estava acinzentado como se cinzas de fogo sujassem o ar, ao contrário do arroxeado-marrom que sempre estava presente naquela hora. Eu estava com minha amiga Ghenos na praia à espera de minha mãe, que estava mais de meia hora atrasada. Poderia ter considerado o fato como mal presságio, não fosse o chefe dela, Jerrilly Djovig, que raramente a deixava sair em seu horário normal de trabalho. Ainda assim, algo me dizia que não foi apenas trabalho que havia a atrasado.Eu conhecia o chefe dela o suficiente para ter uma relação de amor e ódio por aquele homem. Amor, porque havia algo nele, desde que eu era bem pequena, que me dizia que ele estava sempre por perto não apenas por causa do trabalho de minha mãe e no quesito figura masculina, era o mais perto de um tio para mim. E ódio porque minha amada mãe era uma profissional excelente, tudo o que eu havia aprendido no mundo da tecnologia, eu devia a ela, e mesmo assim pref
A Acaia não é um dos melhores países do mundo. Não, eu gostava mesmo era do bom café produzido em Beréia, do arroz branco e de outras delícias que só encontramos bem feito quando pelas mãos de nossos conterrâneos.Embora quisesse muito voltar à minha nação, e imaginava inúmeras formas de voltar para lá, nunca pensei que fosse com uma ligação de meu pai.Pela primeira vez na vida eu estava fazendo algo de útil: estudando para não levar bomba no último semestre da faculdade. Estava com a cara nos livros há tantas horas que tinha certeza que meus olhos estavam inchados. Eu estava querendo apenas uma desculpa para largar o material de estudo e me arrependi de pedir isso aos deuses assim que o pensamento terminou.O telefone tocou. Jerrilly Djovig ligava para mim. — Pai, eu não estou na balada — revirei os olhos ao atender o telefone, meu pai só me ligava para dar sermão, geralmente porque estava me divertindo em vez de estar estudando, mas isso geralmente acontecia nos finais de semana.
A assistente social foi ao quarto. Pediu informações sobre Amanda e o seu endereço. Eu não estava disposto a fornecer nenhum dos dois. Augusto entrou, falando sobre minha alta e sobre o que deveríamos fazer, mas parou assim que viu a mulher.— E quem é você? — ele perguntou com sua habitual carranca.— Rita Ecker, assistente social. — Ela lhe esticou a mão e ele a pegou. — Eu estava falando com o senhor Djovig, preciso dos dados e endereço da filha da assistente do seu patrão, mas ele insiste em se recusar a me fornecer.— Meu cliente tem suas razões para fazer isso, senhora. — Ele lhe entregou um envelope. — Jerrilly Djovig e Regina Wentz assinaram um seguro, onde diz que se acontecer qualquer coisa a ela, a custódia da filha, caso menor de idade e de todos os seus bens, ficam com Jerrrilly até que a garota complete 18 anos. Como ele não está disponível, a obrigação fica para seu herdeiro. Ele está agindo de acordo com a lei.A mulher observou os documentos e pareceu não gostar muit
Eu travei e olhei para o rumo do barulho. Com toda a agitação, nos esquecemos da mídia. As imagens do acidente estavam escancaradas e repórteres comentavam o tempo inteiro sobre o assunto.— Droga! — resmungou Augusto e saiu com o celular na mão, provavelmente para fazer ligações e calar as fofocas e insinuações, pois prejudicariam a investigação tanta desinformação andando por aí.Deixei que ele cuidasse do assunto. Meu único dever ali seria convencer Amanda a vir comigo. O resto poderia ficar para depois.— Ah, querida. Eu sinto muito — a mulher pegou em sua mão e a sentou no sofá, depois pegou o controle da televisão e desligou o aparelho.— Vão me levar para um abrigo? — perguntou ela, com receio, olhando para mim.— Não — falei no calor da emoção. — Você vem comigo.Rita me olhou irritada e ia falar dos direitos de Amanda em decidir e blábláblá, mas a garota foi mais rápida.— E quem é você?Ela não me reconheceu, isso poderia ser bom. Pensei que em algum lugar no seu íntimo, ela