Minha mãe sempre trabalhou fora e eu sempre estive ao cuidado de babás quando eu era criança. Esse cenário se repetiu até quando eu tinha uns 12 anos, quando ela decidiu que eu era grande o suficiente para não colocar fogo na casa. Aos quinze, o cenário parecia se repetir. Eu passei o domingo inteiro acompanhada por uma mulher que se dizia ser minha responsável. Na segunda, quando pensei que enfim me livraria daquela situação, recebi a notícias de que o colégio havia me dado alguns dias livres. Óbvio que não acreditei em nada do que Augusto disse, ele estava me mantendo trancada naquela casa por puro deleite e prazer. E eu era sua prisioneira. Nem mesmo meus seguranças, Wendy, Pablo ou Victor haviam ido ver como eu estava. Se fossem eu poderia pedir ajuda, mas sem poder fazer nada, eu desabafava minha raiva toda na guitarra. Passei a semana inteira trancada no quarto, eu não confiava em Augusto o suficiente para ficar no mesmo lugar que ele ou um de seus subordinados, e tentava, ao
Senti meus olhos arderem. Eu o assustei? Eu? Foi ele quem mandou cavar uma cova no quintal em frente à minha janela, foi ele quem veio atrás de mim quando um dos homens disse que eu havia visto eles conversarem. Eu o assustei? Eu choraria se pudesse. — Amanda. Diga o que está pensando. — Quero ir para casa. Para a minha casa. — Sabe que não posso permitir. Você é minha responsabilidade agora. — Não! Ricardo, ele tem a minha guarda. Ele é meu responsável, e é meu irmão. — Há uma controvérsia nisso. — O que? — Ricardo não é seu responsável legal. — Mas é claro que é. Ele é o meu irmão... — Sim, mas ele também confia em mim o suficiente para assinar qualquer papel que eu lhe der, principalmente se eu disser que é o melhor para você. Eu não acreditava no que estava ouvindo. Ricardo havia me deixado nas mãos de Augusto? Será que ele sabia da história toda? Da mulher do homem? Da morte dela? — Você não pode estar falando sério. — Veja. Ele me deu um envelope, contendo um docume
As reuniões com Hellen e Augusto em meu escritório estavam cada vez mais frequentes desde que minha doce irmãzinha se enclausurou na casa do velho. Pensei que logo ela voltaria, se não para casa, mas pelo menos para o colégio, visto que era o sonho dela estudar lá, mas quinze dias depois e era como se Amanda houvesse sumido do mapa, não fosse Augusto trazer atualizações diárias que em nada me animava.— Toca aquela coisa barulhenta o dia todo — Augusto falou assim que Hellen perguntou pela amiga —, enlouquecendo as empregadas.— Talvez Hellen possa falar com ela. Sei que não quer me ver, mas você...— Sem chance — Hellen respondeu. — Quando Amanda quer fingir que algo não existe, realmente não existe para ela. Afundei em minha poltrona, desanimado. Hellen pediu desculpa, estava ali já fazia um tempo considerável e precisava ir embora. Mandei Pablo a levar de volta para o internato e fiquei com Augusto, que me observava.— Dê mais um tempo a ela, Ricardo. Preocupe-se em encontrar as a
Dei a volta e me sentei como o homem sério de negócios que eu era.— Dizem que o chefe sanguinário quase meteu o pé na bunda do velho barrigudo hoje — Apollo falou assim que eu o fitei.— Isso porque a nova namorada do chefe está o distraindo demais, segundo as más línguas só nessa semana ela já veio aqui três vezes e só sai quando o advogado, que mais parece uma babá a expulsa daqui.Quem nos olhasse conversando pela janela, sérios e tensos, pensaria que provavelmente o chefe sanguinário estava extraindo um rim ou algo assim de seus funcionários mais próximos depois de falar com o advogado. Quando vi a nossa fofoqueira de plantão sair para fofocar em outro andar, voltei meu olhar aos dois.— Namorada nova é? — me peguei gargalhando junto aos dois. — Hellen é apenas uma amiga, que pelo que eu sei estuda no red academy, talvez você a conheça — falei para Apollo.— Por acaso sou o melhor amigo do namorado dela — ele respondeu. — Não brinca! — Anna falou. — Logo termos um caso de tria
Eu sentia as alterações em meu corpo. Havia um calor estranho, e eu podia jurar que até uma cólica junto a uma dor de cabeça que começou leve no primeiro dia, mas foi se intensificando conforme a semana ia passando. Eu sabia que não se tratava do meu ciclo menstrual, pois ainda faltava 15 dias para que ele chegasse. Na quinta à noite, a dor de cabeça piorou, embora a cólica houvesse diminuído, assim como o calor. Tomei um banho quente e voltei para o quarto. Vesti uma calça, uma blusa de manga comprida, penteei o cabelo, trançando-o para trás. Olhei-me no espelho e vi que já estava na hora de renovar a tinta do cabelo, mas vivendo como uma prisioneira, era quase impossível.Por um momento vi meu reflexo se mover em um ângulo estranho, como se estivesse se contorcendo. Pisquei confusa, mas tudo estava do mesmo jeito. As imagens ali só refletiam o exterior, nada além, como se magia fosse proibida naquela casa.Emily chegou e me chamou para jantar. Revirei os olhos e acompanhei minha "b
Assustei-me quando algo emitiu um som de bip ao lado. Olhei e um aparelho, que eu jurava que não estava lá antes, emitia uma luz vermelha, que piscava sem parar. Me aproximei receosa, e pressionei o único ícone que estava disponível no aparelho.— Não me casar está fora de questão. Amanda vai entender quando estiver pronta e pudermos conversar. Há uma criança, alguém que pode nos livrar dessa maldição em jogo e não vou abrir mão disso.A mensagem de voz era de Ricardo. Ele iria se casar? Com quem? Seria com a blogueira? E de que criança ele estava falando? Seria um filho dele?Como se algum deus quisesse que eu soubesse a resposta, o livro em minha mão começou a se folear sozinho. Olhei para o mesmo assustada, mas não me movi ou tentei atrapalhar sua tentativa de comunicação. Aparentemente aquele era o único lugar na casa que aceitava magia de bom grado e eu iria aproveitar. O livro parou, já quase no final, as mesmas palavras estranhas escritas, porém havia algo a mais.“Leia em voz
Sempre ouvi falar sobre o despertar das feiticeiras, que a depender do poder da pessoa, seria mais, ou menos doloroso. Eu sinceramente estava achando que era dor demais para magia de menos. Se ao menos estivesse no internato, teria professores aptos a me ajudar a lidar com toda a pressão, psicológica principalmente. Emily me ajudava. Estava todos os dias comigo, me observando tentar acender ou apagar velas, coisa que não havia conseguido ainda. Ela também levou algumas pedras para meu quarto, e me orientou a movê-las, depois trocou por penas, mas não havia conseguido nada. Eu já estava exausta e a ansiedade batia com tudo me deixando ainda mais agitada que de costume. Uma semana depois e eu estava ainda mais mal-humorada, descontando toda minha frustação na guitarra que Augusto me deu. Terminei o último acorde e desci para a cozinha, estava com fome. Quando entrei no amplo espaço, notei que algo estava errado. Eu podia não conseguir dominar os elementos ainda, mas sentia cheiros e
O homem queimava, suas facas estavam todas enfiadas em seu corpo. Eu gritei de novo. Em parte pela dor que me atingia com força enquanto as chamas cresciam cada vez mais, em parte pela cena horrível que eu via em minha frente. O cheiro de carne queimada subiu tão forte que me deu enjoo. A pele do homem, que antes era uma pele jovem e bonita, se transformou em carne negra em chamas. Eu não conseguia controlar aquele fogo todo. Emily não ousava se aproximar, mas eu sabia que ela gritava algo, embora não escutasse. O fogo me consumiria por inteiro, se ela não usasse de sua própria magia para me tirar daquele lugar.— Você está bem? — Ela me perguntou, tão logo o pesadelo acabou.— Você... Tem magia da agua. — respondi tossindo, ela quase me afogou.— Tenho. Sorte a nossa, não é? — Ela sorriu — É. Sorte a nossa. — Respirei fundo. Tão logo o choque passou, senti a tremedeira. — Eu matei um homem.— Amanda, olhe para mim — Emily pegou em meu ombro. — Você nos salvou da morte. Aquele homem