Assustei-me quando algo emitiu um som de bip ao lado. Olhei e um aparelho, que eu jurava que não estava lá antes, emitia uma luz vermelha, que piscava sem parar. Me aproximei receosa, e pressionei o único ícone que estava disponível no aparelho.— Não me casar está fora de questão. Amanda vai entender quando estiver pronta e pudermos conversar. Há uma criança, alguém que pode nos livrar dessa maldição em jogo e não vou abrir mão disso.A mensagem de voz era de Ricardo. Ele iria se casar? Com quem? Seria com a blogueira? E de que criança ele estava falando? Seria um filho dele?Como se algum deus quisesse que eu soubesse a resposta, o livro em minha mão começou a se folear sozinho. Olhei para o mesmo assustada, mas não me movi ou tentei atrapalhar sua tentativa de comunicação. Aparentemente aquele era o único lugar na casa que aceitava magia de bom grado e eu iria aproveitar. O livro parou, já quase no final, as mesmas palavras estranhas escritas, porém havia algo a mais.“Leia em voz
Sempre ouvi falar sobre o despertar das feiticeiras, que a depender do poder da pessoa, seria mais, ou menos doloroso. Eu sinceramente estava achando que era dor demais para magia de menos. Se ao menos estivesse no internato, teria professores aptos a me ajudar a lidar com toda a pressão, psicológica principalmente. Emily me ajudava. Estava todos os dias comigo, me observando tentar acender ou apagar velas, coisa que não havia conseguido ainda. Ela também levou algumas pedras para meu quarto, e me orientou a movê-las, depois trocou por penas, mas não havia conseguido nada. Eu já estava exausta e a ansiedade batia com tudo me deixando ainda mais agitada que de costume. Uma semana depois e eu estava ainda mais mal-humorada, descontando toda minha frustação na guitarra que Augusto me deu. Terminei o último acorde e desci para a cozinha, estava com fome. Quando entrei no amplo espaço, notei que algo estava errado. Eu podia não conseguir dominar os elementos ainda, mas sentia cheiros e
O homem queimava, suas facas estavam todas enfiadas em seu corpo. Eu gritei de novo. Em parte pela dor que me atingia com força enquanto as chamas cresciam cada vez mais, em parte pela cena horrível que eu via em minha frente. O cheiro de carne queimada subiu tão forte que me deu enjoo. A pele do homem, que antes era uma pele jovem e bonita, se transformou em carne negra em chamas. Eu não conseguia controlar aquele fogo todo. Emily não ousava se aproximar, mas eu sabia que ela gritava algo, embora não escutasse. O fogo me consumiria por inteiro, se ela não usasse de sua própria magia para me tirar daquele lugar.— Você está bem? — Ela me perguntou, tão logo o pesadelo acabou.— Você... Tem magia da agua. — respondi tossindo, ela quase me afogou.— Tenho. Sorte a nossa, não é? — Ela sorriu — É. Sorte a nossa. — Respirei fundo. Tão logo o choque passou, senti a tremedeira. — Eu matei um homem.— Amanda, olhe para mim — Emily pegou em meu ombro. — Você nos salvou da morte. Aquele homem
A maldição estava acabando comigo. Em menos de uma semana ela tomaria meu corpo por inteiro e minha vida se esvairia. Augusto me levou a uma feiticeira poderosa, sua fama era de que podia curar qualquer coisa, mas nem mesmo ela pôde conter a maldição. Foi uma semana de sessões de feitiços agoniantes e dolorosos, mas ela não podia chegar à raiz do mal, porque não pertencia à linhagem da feiticeira que iniciou o processo de cura. Isso significava que nenhuma outra feiticeira poderia me curar. — Vamos falar com a menina, Ricardo — Augusto falou no caminho de volta. — Ela deve despertar em poucos dias. Você precisa do sangue dela. — Tomara que dê certo.Não falamos mais nada durante o caminho. Eu sentia muita dor, não sabia de onde vinha tanto incômodo. Dois dias depois estávamos em frente à casa de Augusto, que estava em chamas. Augusto abriu a porta, dois de seus homens estavam caídos. Andando mais um pouco, antes de decidirmos subir para os quartos à procura de Amanda, escutamos s
Hellen me encarava visivelmente assustada. Me deu uma poção tão logo eu saí do banho e tratou de pentear meus cabelos que mais pareciam um ninho, de tão emaranhados que estavam.— Você nos assustou a todos nós. O mínimo que me deve é contar a história inteira e talvez assim eu te perdoe.— Estou com tanta raiva, Hellen — choraminguei. — Meu irmão é um idiota, mas o advogado dele...— Só conta a história, Amanda — ela disse, já sem paciência.— Tudo bem. — Respirei fundo, sentindo a raiva tentar me desanimar e o fogo correr por minhas veias. — Meu irmão e eu brigamos, mas não foi nada demais. Claro que eu fiquei com raiva na hora, e como o advogado dele estava lá, saí de casa com ele.— Com o advogado?— Sim, e foi a pior coisa que me aconteceu. Pensei que eu voltaria no mesmo dia para a escola, mas o infeliz me prendeu em sua casa e dispensou meus seguranças.— Está me dizendo que o bonitão 1 e 2 obedeceram um cara que nem é o patrão deles? — ela perguntou chocada.— Eu não sei como,
Eu nunca tinha escutado algo que parecesse tão perturbador. Sabia que meu histórico de amizades não era dos melhores, mas Hellen não me inspirou suspeita. Queria ouvir o que ela tinha a dizer e estava aberta a entender o seu lado, afinal ela havia me compreendido e não me julgava.— Diga, Hellen, vou te escutar. — Eu quebrei o sigilo da escola e descobri quem é o seu tutor. Eu fui atrás dele no dia em que você amanheceu no campus da faculdade.— Você o que? — perguntei incrédula.— Desculpa, Manda, mas eu estava preocupada com você. Fui até a Djovig Softwares, conversei com Ricardo e ele me contou tudo.— Tudo? — perguntei para ter certeza de que ela soubesse mesmo toda a verdade.— Tudo. Ele me pediu para cuidar de você, e mesmo que me odeie a partir de agora, foi o que eu fiz durante todo o tempo em que você saiu com Samara.— Você estava me espionando? — Senti minha raiva aumentar, mas a deixaria terminar antes de tomar alguma atitude precipitada. — Eu estava preocupada. Você fo
Senti meu pulso acelerar. Ricardo estava com Suellen e eu a odiava. Não suportava estar no mesmo ambiente que ela, mas precisava falar com meu irmão. Isso estava acima de qualquer ciúme bobo.— Ricardo vai se casar, já sei disso e a julgar pelo local onde estamos, eles estão juntos. — Sim, mas não é só isso, hoje é o dia em que ele a pedirá em casamento.Apertei minha mão na maçaneta do carro. Eu podia lidar com aquilo também. — Obrigado. Me espera aqui?— Claro. Não a deixarei mais, a não ser que me peça pessoalmente.Achei suas palavras tão fofas que o abracei. Saí do carro, respirei fundo e fui até o restaurante. Ao entrar, vi Ricardo e Suellen se beijando, mas não foi isso que fez meus sentidos apurarem e raiva tomar conta de mim.Ricardo me sentiu tão rápido quanto eu o senti. O lobo dentro dele se agitou e ele se levantou, deixando sua noiva confusa e provavelmente com muita raiva ao me ver. Eu não conseguia me aproximar, saber que todo meu pesadelo, meu trauma de infância não
Assenti calada. Um turbilhão de pensamentos passou em minha mente, mas logo a ideia de perder a única família que me sobrou me deixou nervosa. — Se não fizer por ele, faça por si mesma, porque assim que Ricardo morrer, você também estará com os dias contados. Que maravilha. Jerrilly foi muito esperto, não? Um louco, mas um louco esperto.— Tudo bem, faremos o ritual amanhã. Hoje não estou preparada para lidar com Ricardo, Suellen ou o lobo...— Tem uma coisa que pode ajudar.— O que?— As alianças dos seus pais.— Minha mãe tinha uma aliança? — perguntei surpresa. — Como eu nunca a vi usando?— Não era para você saber, menina. O caso é que essas alianças foram enfeitiçadas, de forma que nenhum outro feitiço pode passar por elas.— Por que Ricardo não havia mencionado isso antes?— Porque ele não sabe onde as joias estão, mas acho que sei onde podem estar.— Onde?— Na caixa que sua mãe deixou com as cartas de seu pai para você. Nunca a abriu, não é?Neguei com a cabeça. Eu havia me