Início / Oriental / Herança do Prazer / Capítulo 5: Desabafo
Capítulo 5: Desabafo

>ELIZABETH<

Assim que passo pela porta, vejo mamãe dar um pulo de susto no sofá e colocar a mão no peito quando vê que sou eu.

- Que susto, Liz - fala ofegante e depois me encara com o cenho franzido. - Você não ia chegar mais tarde?

- Você não vai acreditar, mãe! - falo toda esbaforida enquanto me jogo no sofá ao lado dela.

- O que aconteceu? - Ela perguntou olhando na minha direção.

Me levanto do sofá e sigo até a cozinha em busca de um copo d’água com minha mãe atrás de mim.

- Você quer a história resumida ou detalhada? - pergunto enquanto encho um copo.

- Detalhada? - diz na dúvida e quase me faz querer rir.

- Então vamos lá… - Puxo uma respiração profunda - Fui fazer uma surpresa pro meu digníssimo namorado e peguei ele com a Isabella.

- OH! - mamãe está literalmente de queixo caído.

- Peguei os dois no flagra

- Meu Deus, Liz! - mamãe vem até mim e me abraça apertado. - Eu sinto muito.

- Ah, por favor, não sinta. - Engulo a vontade de chorar novamente.

- Bem, pelo menos tem uma novidade boa.

- Qual? - Ela se afasta para me olhar.

Estou inconformada com o minha manhã extremamente agitada e como aquele babaca conseguiu acabar com meu momento.

Num momento estava feliz com minha nova oportunidade no outro estava fervendo de raiva e… decepção? Talvez, um pouco.

- Eu consegui uma entrevista para vaga de estágio! - Bufo cansada, porém satisfeita me sentando na banqueta.

- Meus parabéns, Liz! Isso é maravilhoso! - fala animada.

- Meu emprego não veio só para realizar sonhos, mas também para me tirar de um muleque - Dou um sorriso fraco.

- Se for considerar esse lado - Ela arqueia a sobrancelha, confusa.

- Acho que é um bom ponto! - dou de ombros

- Mas espera. - Balança a cabeça de um lado pro outro, como se tentasse organizar as informações.

- Pra começar, você está bem? Não está chateada? Fala comigo filha.

- Não, mãe. Eu estou bem! Só um pouco decepcionada com o Allan, confesso que esperava mais dele e daquela vadia. - Falo de uma só vez.

- " Pelo menos acho que só é isso" - digo a última parte baixinho mais para mim mesma.

- Então, Liz, me conta mais sobre esse estágio.

Sinto um apertozinho no peito e resolvo seguir com o pensamento da minha mãe e começar pela minha oportunidade de emprego, porque do meu dia essa realmente foi a melhor parte.

- Ok. - Me rendo. - É isso, eu tava com receio de não me aceitarem na vaga, mandei meu currículo apenas por mandar achei que seria mais uma negativa, eu nem acreditei quando recebi o email me notificando que fui selecionada.

- Por que não falou?

- Queria fazer surpresa para aquele traste primeiro.

- Entendo, filha...

- Eu estava com tanta raiva que quebrei o apartamento dele inteiro - Falei abruptamente

- Meu Deus - mamãe fala de queixo caído

- Botei aquela vagabunda para ir embora completamente nua

- Não acredito - mamãe j**a a cabeça para trás e gargalha alto enquanto b**e palmas. - Filha, isso é tão errado

- Eu sei. Foi apenas um ataque de fúria - dou de ombros

- Acho que você precisa arejar a cabeça

- Como?

- Ah, não sei, querida. Talvez sair com as meninas

- Sei lá… depois disso tudo estou sem ânimo.

- Não, não. Você precisa descontrair, quem sabe arrumar um novo namoradinho? - mamãe fala.

- É a resolução da minha vida. Nenhum homem presta! - falo com convicção.

- Nem o seu pai? - debocha e eu a olho com a testa franzida. - Apenas uma piada, Liz.

- Pelo menos eu me guardei, ele não merecia - falo aliviada.

- Realmente, não era pra ser com ele. - Mamãe me abraça e acaricia meus cabelos.

“Acho que foi ele mesmo me poupando de um arrependimento maior”. Penso.

- Que tal você ligar para as meninas e chamá-las para sair?

- Será que é uma boa ideia?

- Claro que é, você precisa disso.

- Mas…

- Mas nada, isso ajuda bastante.

Não aguento e começo a rir. Dona Glória é sempre tão positiva, buscando soluções para situações difíceis.

- Agora, vamos lá. Você já contou da oportunidade de emprego, agora conta do Allan. Não acredito que ele fez isso. Ele parecia ser tão bonzinho - fala, mostrando indignação.

- Tão bondoso ele.

Resumo para a minha mãe como foi encontrar o idiota do Allan na cama com a Isabella, e termino detalhando o grand finale com o murro na cara dele.

- Eu realmente pensava que ele era um cara legal... Lamento por ele ter feito isso com você - diz chateada. - Como você está? Isso deve doer

Mamãe parece se encolher ao me questionar. Solto um bufo alto e penso em como responder, no fundo não queria deixar minha mãe preocupada.

- Sabe, mãe, eu não posso te dizer que não doeu, é claro que sim... Mas não doeu do jeito que deveria doer, entende? - Penso em um jeito de explicar o turbilhão de sentimentos que estou sentindo. - Eu não estou com aquele sentimento característico de “perda” que imagino que toda namorada traída deve sentir. Eu estou com raiva. Raiva dele. Raiva dela. Raiva de mim por estar nessa situação.

- Como assim de você, querida?

- Será que eu fui tão cega que não notei o envolvimento dos dois? Há quanto tempo aqueles dois me fazem de trouxa?

- Ai, pelo amor de Deus! Você não vai se culpar por ser traída, vai?

- Ridículo, né? - Solto um riso amarelo.

- Você não tem culpa de nada, filha.

- No fim, ele só me deu aquilo que ele era capaz.

- De trair?

- É. - Dou de ombros. - As pessoas só oferecem aquilo que elas têm. Ele me deu o que ele tinha. Mau caráter. Enfim… Posso passar a noite enumerando as “qualidades” dele.

- Verdade. - Minha mãe acena com a cabeça, pensando no que eu acabo de dizer. - Mas precisa ser uma pessoa muito evoluída para aceitar assim.

- Talvez sim - esclareço. - Eu não vou gastar mais o meu tempo com o safado. Nem mesmo em pensamentos.

Mamãe fica calada ao meu lado, refletindo sobre o que eu acabei de falar, mas não me responde nada.

Fico pensando em tudo o que aconteceu, e a cena da Isabella correndo para fora do quarto me vem à mente e, sem que eu consiga controlar, começo a dar risada.

Talvez eu tenha sido um pouco malvada com ela, mas ela foi tão injusta comigo com a nossa amizade.

Me entrego à risada histérica, lembrando da cena cômica. Estou rindo tanto, que mamãe me acompanha na gargalhada.

Sinto minha barriga doer de tanto rir. Após um tempo, continuamos na mesma posição,ambas em silêncio encarando o vazio.

- Estou orgulhosa de você, querida!

- Por que?

- Pela força com que está lidando com tudo isso.

Não respondo, apenas continuo contemplando minhas novas opções...

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo